(...) Ora Soares “não sabe de finanças”, mas tem biblioteca, o que significa que a sua ignorância de economia e finanças, proclamada face ao seu adversário, tem outro sentido político: é que o problema não é Soares não ser professor de economia, mas não dar importância real à economia na crise. Na verdade nem sequer é à “economia” abstracta, porque a ela faz lip service habitual. É à economia real, ao capitalismo, ao mercado, tal como ele funciona, e à economia portuguesa tal como é. E aqui há ideologia, há socialismo, há estatismo, e há, acima de tudo, jacobinismo. E há um preço enorme que pagamos por estas ideias. Esse preço é a crise em que vivemos.
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O problema não é Soares não saber de economia, é que ao se vangloriar de não o saber, está a dizer-nos que a economia não é um factor ou um revelador fundamental na crise . Aliás não custa perceber que se Soares fosse PM não daria prioridade ao controlo do défice (sim Soares pronunciou-se sobre a governação e não vi ainda ninguém protestar sobre isso). Frases como esta – “a economia está ao serviço das pessoas e não as pessoas da economia” – em Portugal não significam outra coisa. Não será dele que virá qualquer apoio ao governo para reformas difíceis, bem pelo contrário. Às ideias jacobinas como as de Soares devemos muito da crise, não se espera que delas venha a solução.
MÁRIO SOARES, JESUS, FINANÇAS E BIBLIOTECAS, JPP in Abrupto