O debate à volta destes «dois amantes», como lhes chama Wigley, é sobre duas visões que partem do mesmo princípio: a rejeição do modernismo. Eisenman adopta a incerteza como ideologia e, renegando todos os canones modernos, inventa o seu próprio cosmos, as suas próprias regras, tão mutáveis como qualquer outra coisa. Krier, face à evidência do falhanço tremendo do moderno*, adopta a certeza como ideologia, ou seja, recorre àquilo que entende ser os valores intemporais da arquitectura, ou seja, o classicismo. De qualquer das maneiras, salta a vista que este é um debate impossível em Portugal e, de certa maneira, um pouco por toda a Europa. Em Portugal a arquitectura que se ensina é sinónimo de arquitectura moderna. Este é um valor intocável. O preconceito formal, que ninguém admitirá, rege toda a aprendizagem arquitectónica. O que Krier defende e, em grande medida, o que é defendido pelo New Urbanism, é uma extravagência marginal não admitida nas universidades. Claro que isto tudo menoriza o debate intelectual na arquitectura portuguesa, se é que ele existe.
* (...) What at long last I got to take my parents to visit something modern, Le Corbusier's Marsseille block left us all speechless with shock. Not one of us, not even myself, could believe that this was what I have been admiring in pictures and texts for so long. For weeks I tried to overcome my anavoidable disappointment. I found myself for the first time in my life justifying to my parents something I deeply felt to be unacceptable. (...)
Leon Krier, «Coming to Terms with Janus», Eisenman Krier / Two Ideologies