sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

18 anos

No Metro, um grupo de adolescentes conversa mais alto do que os outros viajantes. Percebo que falam sobre «fazer 18 anos na sexta-feira». Fico, por uns momentos, intrigado: aqueles miúdos e miúdas não me parecem ter 18 anos. Será que já não consigo distinguir um pré-adulto (18 anos) de uma criança (14)? Por este motivo fico de olho neles, à caça da gralha interpretativa. Pesco uma referência ao hi5, duas ou três outras coisas sem importântica, até que surge a chave do enigma: eles falam sobre que dia da semana acolherá os respectivos décimos oitavos aniversários. Eu faço 18 anos numa sexta, dizia um deles, isso dá imenso jeito, dizia outro, falando ambos de um futuro mais ou menos longínquo ao abrigo da ideia de imortalidade tão própria da idade pré-consciente. Fazer 18 anos exige festa grossa e, apesar de continuar a surpreender-me com a inutilidade da adolescência, percebo a angústia deles: fazer 18 anos à sexta-feira é certamente um plus. Uma espécie de sinal de uma predestinação da malta cool, inevitável que parece sempre ser aquela separação das águas que se dá no liceu (agora são ébês dois mais três, ou lá o que é). De um lado, os tipos que fazem 18 anos à sexta-feira (ou, se não fazem, que merecem fazer); do outro, os tipos que atingem a maioridade (puramente estatística, apesar de tudo) ao, digamos, domingo, por entre matinés e ressacas e lojas fechadas. 
Fui confirmar e não me espantei: fiz 18 anos num domingo.