quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Forrest Gump
Há pelo menos uma pessoa que partilha comigo a área territorial de Lisboa compreendida entre a Baixa e o Campo Pequeno. Quem anda a pé na cidade (nós conhecemo-nos todos, costumamos ir ao cinema à terça-feira e partilhamos o táxi) também o conhecerá certamente: trata-se de um sem-abrigo de aparência rasta-albino, uma espécie de Bob Marley que caiu no caldeirão da lixívia em pequeno mas com ligeiramente melhor aspecto. Outra característica distingue-o dos demais: está sempre a correr. Ele é ágil e está em óptima forma (não vai para novo) e sempre que o vejo - sempre - está a executar um slalom entre transeuntes a uma velocidade que eu já não atinjo desde 1999. Não se pense que é só doideira - apesar de ser inegável que há ali matéria para diagnóstico de internamento -, o homem tem uma missão. No outro dia vi-o gesticular uma reprovação a um gordo que por ele passava. Juro. Aquele homem não corre apenas porque não tem mais nada que fazer; aquele homem corre porque isso parece emprestar sentido à vida dele. Não deixa de ser triste e cómico ao mesmo tempo. E profético, talvez: um desempregado que faz do jogging religião? Bem-vindos a Portugal, v.José Sócrates.