segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Dia da Imaculada Conceição de Maria Santíssima (3)

A mãe, que é a figura central no catolicismo português, e uma das fontes dos meus atritos (Fátima, não obrigado.) Durante a adolescência fiz parte de uma organização católica juvenil de inspiração mariana que, como todas as organizações juvenis (para jovens) em Portugal, confundia a «juventude» com a «infância» e reduzia o cristianismo a um conjunto de imperativos morais mais ou menos ingénuos. Tive sorte com o grupo que me calhou, e fui ficando. Um dia quis falar ao país. Havia um jornal, impresso e tudo - agora deve ser um blogue ou assim - que nos chegava a casa pelo correio e que nos solicitava permanentemente artigos, pois aquilo era um órgão que servia para «dar voz» a todos nós. Escolhi o tema, esmerei-me na retórica, e fiz o send, não sei antes consultar um amigo que fazia parte da equipa editorial sobre a viabilidade da publicação (era um tema inocente mas fora do abc do missal). Ele hesitou - verdade - mas anuiu. Chegado o dia, nada do artigo do Lourenço, mas lá vinha outra vez o pedido de ajuda para mais artigos. Estranhei, e voltei à carga, com outro tema, com uma gramática ainda mais impecável. O resultado foi o mesmo. Passados uns dias alguém me disse que tinham «mandado dizer» que os meus artigos não podiam ser publicados porque «iam contra a opinião da Igreja» (sic), e que a serem publicados teriam de ser acompanhados por um artigo gémeo assinado por um «padre» (sic) a «defender» (sic) a «opinião da Igreja» (sic sic). Porquê? Porque havia muita gente influenciável a ler aquilo (a organização era para pessoas com mais de 16 anos, espante-se). Lá disse que o meu objectivo era mesmo «influenciar», mas eles não se influenciaram. Mais tarde vim a saber que eu era considerado um «herege» e tudo. Um tipo sensibiliza-se. Agora, olhando para trás, imagino que esses textos fossem algo de que eu me envergonharia e agradeço ao lápis azul a protecção que fez da minha biografia.