Aquelas pessoas que têm a infelicidade de não dispor dos 5€ mensais para a LER talvez não saibam que estão a perder - entre outras coisas, e cito outra vez uma pessoa - a melhor coluna do Pedro Mexia, intitulada Biblioteca Fútil, que versa sobre a literatura que, eufemizemos, cai fora do cânone. Que me lembre, já fomos agraciados com apreciações à colectânea de poemas de Billy Corgan, ao romance «não-autobiográfico apesar de ser sobre uma jovem estrela de hollywood que conhece a fama em criança e cuja adolescência vem estragar tudo» de Macaulay Culkin, a outro romance «não autobiográfico apesar de bla bla» de Pamela Anderson, ao livro com que Octávio Machado pretendeu demolir o edifício do futebol mas que surpreendentemente o deixou intacto ou, o mais recente, a autobiografia - esta sim!, finalmente - de David Hasselhoff. Os textos têm um objectivo claro: dar ao Pedro Mexia o pretexto de os ler (quem não gostaria de ler a autobiografia de Hasselhoff, quem gostaria de ser apanhado a ler a autobiografia de Hasselhoff?). A ralé agradece e vai acompanhando. Mas se escrevo hoje sobre esta coluna é porque lhe senti uma especificidade: enquanto que a regra geral tem vindo a ser o - incontornável - sarcasmo lúdico, David Hasselhoff arranca de Mexia uma - incontornável - homenagem, e isto não deixa de ser comovente. «Portanto estejam caladinhos», diz Mexia a propósito dos milhões de espectadores que Hasselhoff coleccionou ao longo dos anos. Portanto estejam caladinhos, Baywatch, fim de conversa. Portanto estejam caladinhos, porque sem David Hasselhoff eu teria sido obliterado de boa parte da adolescência e de toda - toda - a minha infância: