quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Manoel
Tenho com Manoel de Oliveira uma relação semelhante à que tenho com Lobo Antunes (o médico, quer dizer, o escritor, quer dizer, o romancista): alimento uma desassombrada ignorância em relação à «obra» ao mesmo tempo que me submeto a uma devoção quase incondicional em relação às coisas que eles dizem nas entrevistas. Por razões diametralmente (interessante esta relação entre a geometria e a linguagem; a que se deve, por exemplo, esta coincidência entre os nomes de figuras geométricas e de figuras de estilo?) opostas, claro. As entrevistas de Manoel de Oliveira são sempre um festival de politicamente incorrectos que sobrevivem graças ao estatuto de ancião que Oliveira conquistou. O mais interessante é que, ao contrário de Lobo Antunes (o médico, quer dizer, o escritor, quer dizer, o romancista), não parece haver em Manoel de Oliveira um esforço de patrulhamento sobre o que diz: podemos até arriscar a palavra sinceridade. É isso, e a inveja. Não acarinho a ideia de sobreviver até ao século, mas se lá chegar gostava de lá chegar assim.