Esta notícia no PostHabitat. Charls Jencks, Iconic Building, Amazon. Não há como enganar.
A capa, essa, é muito, muito, muito boa.
sábado, 29 de outubro de 2005
sexta-feira, 28 de outubro de 2005
Já era para ter feito o copy paste de manhã, mas entretanto não fiz
E o João chegou-se à frente. De qualquer forma, o maradona fica desde já nomeado o meu porta-voz oficial sobre o qualquer assunto que inclua o conceito «Cavaco», ainda que apenas dispersa e vagamente.
(...) Sei que esta é uma preocupação, assim aradidamente (mas não erroneamente) descrita, considerada mesquinha por quelas bandas. Falamos de pessoas que lêem livros, sabem poesias de cór, vão à cinemateca; eles é só história, museus, viagens ao estrangeiro; mudam de casa porque, e passo a citar, "já não têm lugar para pôr os livros"; borbulham neles as últimas teorias de como organizar a sociedade, fumegam ferozes dialéticas entre justiça e igualdade, rabujam pelas péssimas traduções que se fazem em Portugal, vivem dilacerados pela paupérrima escolha de livros em língua estrangeira da Fnac (não se consegue encontrar um Poe), etc, etc, etc.
De facto, nós, os cavaquistas, pelo menos este tipo de cavaquista, não achamos que isso seja muito importante, não nos cabe na cabeça comprar uma casa sem lareira no topo da qual coloquemos um relógio ao estilo francês do século XVIII. Conquistada a liberdade, sem sabermos como nem por quem nem quanto custou, esquecidos e desinteressados de como foram as lutas pela liberdade e pela democracia, só nos interessamos por ter um granda carrão. Aliás, preferimos comer McDonald's todos os dias a não ter aquele carro. "Quanto é que ganhas?" é a única pergunta que nos liga ao próximo, a inveja domina-nos um pouco os dias e se nos levantamos de manhã é para mitigá-la fazendo com que sejam os outros a ter inveja de nós.
Sou eu, é o meu mundo, é onde vou votar, é onde mais gosto de viver. Não quero um político com ideias para o país; principalmente, não quero um político com ideias para mim; quero que me "deixem trabalhar", e achar-me sozinho, a mim, e ao meu país.
Cavaconomics, por maradona (aos 28 dias do mês de outubro)
(...) Sei que esta é uma preocupação, assim aradidamente (mas não erroneamente) descrita, considerada mesquinha por quelas bandas. Falamos de pessoas que lêem livros, sabem poesias de cór, vão à cinemateca; eles é só história, museus, viagens ao estrangeiro; mudam de casa porque, e passo a citar, "já não têm lugar para pôr os livros"; borbulham neles as últimas teorias de como organizar a sociedade, fumegam ferozes dialéticas entre justiça e igualdade, rabujam pelas péssimas traduções que se fazem em Portugal, vivem dilacerados pela paupérrima escolha de livros em língua estrangeira da Fnac (não se consegue encontrar um Poe), etc, etc, etc.
De facto, nós, os cavaquistas, pelo menos este tipo de cavaquista, não achamos que isso seja muito importante, não nos cabe na cabeça comprar uma casa sem lareira no topo da qual coloquemos um relógio ao estilo francês do século XVIII. Conquistada a liberdade, sem sabermos como nem por quem nem quanto custou, esquecidos e desinteressados de como foram as lutas pela liberdade e pela democracia, só nos interessamos por ter um granda carrão. Aliás, preferimos comer McDonald's todos os dias a não ter aquele carro. "Quanto é que ganhas?" é a única pergunta que nos liga ao próximo, a inveja domina-nos um pouco os dias e se nos levantamos de manhã é para mitigá-la fazendo com que sejam os outros a ter inveja de nós.
Sou eu, é o meu mundo, é onde vou votar, é onde mais gosto de viver. Não quero um político com ideias para o país; principalmente, não quero um político com ideias para mim; quero que me "deixem trabalhar", e achar-me sozinho, a mim, e ao meu país.
Cavaconomics, por maradona (aos 28 dias do mês de outubro)
quinta-feira, 27 de outubro de 2005
Why prostitutes earn more than architects
(...) an immutable law of labor: when there are a lot of people willing and able to do a job, that job generally doesn't pay well. This is one of four meaningful factors that determine a wage. The others are the specialized skills a job requires, the unpleasentness of a job, and the demand for services the job fulfills.
The delicate balance between these factors helps explain why, for instance, the typical prostitute earns more than the typical architect. It may seem as though she should. The architect would appear to be more skilled (as the word is usually defined) and better educated (again, as usually defined). But little girls don't go up dreaming of becoming prostitutes, so the supply of potencial prostitutes is relatively small. Their skills, while not necessarily "specialized", are practiced in a very specialized context. The job is unpleasent and forbidding in at least to significant ways: the likelihood of violence and the lost opportunity of having a stable family life. As for demand? Let's just say that an architect is more likely to hire a prostitute than vice versa.
Steven D. Levitt & Stephen J. Dubner, Freakonomics, ed. Allen Lane 2005
The delicate balance between these factors helps explain why, for instance, the typical prostitute earns more than the typical architect. It may seem as though she should. The architect would appear to be more skilled (as the word is usually defined) and better educated (again, as usually defined). But little girls don't go up dreaming of becoming prostitutes, so the supply of potencial prostitutes is relatively small. Their skills, while not necessarily "specialized", are practiced in a very specialized context. The job is unpleasent and forbidding in at least to significant ways: the likelihood of violence and the lost opportunity of having a stable family life. As for demand? Let's just say that an architect is more likely to hire a prostitute than vice versa.
Steven D. Levitt & Stephen J. Dubner, Freakonomics, ed. Allen Lane 2005
terça-feira, 25 de outubro de 2005
Não fui eu que disse
Last Days
Um pateta passeia-se pelo bosque até encontrar um casarão. Aí passa o tempo a esconder-se das pessoas (as pessoas aparecem geralmente com as caras cortadas ou desfocadas) e a comer corn flakes. Às tantas morre. (As pessoas põem-se a andar). Ouve-se um coro. Baixa o pano. Respira-se de alívio. (As pessoas que restam põem-se a andar).
Last Days (II)
- Então, o que é que achaste do filme?
- Bem ... podia ter menos duas horas.
- Mas foi só uma hora e meia.
- Exacto. Assim nem sequer tínhamos saído de casa.
Last Days (III)
Seria uma boa fita para dormir, não fosse o gajo lá para o meio arranhar uma guitarra.
Last Days (V)
- Quem é Michael Pitt? O irmão do Brad Pitt?
- Não, é o amigo do Gus Van Saint.
Foi o Eduardo.
Um pateta passeia-se pelo bosque até encontrar um casarão. Aí passa o tempo a esconder-se das pessoas (as pessoas aparecem geralmente com as caras cortadas ou desfocadas) e a comer corn flakes. Às tantas morre. (As pessoas põem-se a andar). Ouve-se um coro. Baixa o pano. Respira-se de alívio. (As pessoas que restam põem-se a andar).
Last Days (II)
- Então, o que é que achaste do filme?
- Bem ... podia ter menos duas horas.
- Mas foi só uma hora e meia.
- Exacto. Assim nem sequer tínhamos saído de casa.
Last Days (III)
Seria uma boa fita para dormir, não fosse o gajo lá para o meio arranhar uma guitarra.
Last Days (V)
- Quem é Michael Pitt? O irmão do Brad Pitt?
- Não, é o amigo do Gus Van Saint.
Foi o Eduardo.
Last Days, de Gus Van Sant
Se o nível é para manter, esperamos que tenham sido os últimos dias de Gus Van Sant.
Last Days, de Gus Van Sant
Nunca mais digo mal do cinema português*.
* E, pela mesma ordem de ideias, do cinema cipriota, do cinema gabonês, do cinema costa-riquenho, do cinema filipino, da TVI e do cinema francês.
* E, pela mesma ordem de ideias, do cinema cipriota, do cinema gabonês, do cinema costa-riquenho, do cinema filipino, da TVI e do cinema francês.
domingo, 23 de outubro de 2005
Aires Mateus e a agenda conceptual
Não se trata de uma mostra monográfica mas sim de uma escolha de trabalhos emblemáticos da agenda formal e conceptual dos arquitectos, pontos de partida e chegada da sua prática.
Diogo Seixas Lopes
O visitante mais distraído sairá certamente baralhado da exposição Aires Mateus: arquitectura. Ou, na melhor das hipóteses, ficará com a nítida sensação que entre esta arquitectura que se expõe nas salas de exposições e o seu mundo, pouco há de comum. A explicação é simples. Apesar do nome, traiçoeiro, esta não é uma exposição de arquitectura.
O que é apresentado, de uma forma magnífica através de um espaço expositório desenhado pelos próprios que encerra em si mesmo alguns dos conceitos expostos, não é arquitectura mas um conjunto, extremamente limitado, de ideias sobre o espaço. Dir-se-ia que estamos perante um período artístico de uma dupla de autores (embora, e inevitavelmente, seja o nome de Manuel Aires Mateus que ocorre mais frequentemente), um conjunto de trabalhos quase monotemáticos. Mas não é tanto na selecção dos trabalhos que a recusa em mostrar arquitectura se faz (ainda que também), mas mais no modo como se decide seduzir o visitante: muito poucas fotografias (e quando elas aparecem não tencionam contar nenhuma história, mas antes ficar refém destes preconceitos), desenhos sem legendas nem informação (desenhos que pela sua coerência gráfica e poder de síntese formam um conjunto de obras em si mesmo) e, os actores principais da mostra, maquetes-esculturas, lisas, brancas, quase monolíticas (com algumas excepções, como a extraordinária maquete em corte do Centro Cultural de Sines).
Os irmãos Aires Mateus têm uma obsessão. Não é preciso saber qual é. À segunda obra que observamos ficamos com essa sensação. Uma obsessão, em primeiro lugar, em construir um percurso coerente, demasiado coerente. A arquitectura (pelo menos alguma dela, esta que é escolhida para expor) nas mão de Manuel e Francisco Aires Mateus transforma-se rapidamente num objecto fechado, numa abstracção poderosa de tudo aquilo que são os elementos exteriores à própria construção, a começar pelas pessoas. Tudo em nome do superior interesse da arte, do conceito, do tal espaço conceptual puro, intocado. Publicado.
A exposição divide-se, sabiamente, em dois capítulos: casas e obras públicas. E é na primeira parte, dedicada à encomenda unipessoal privada, que a instrumentalização (aparente, não sabemos, nem interessa saber, se o é de facto) do outro é mais óbvia. O cliente é visto como uma oportunidade e a encomenda como mais um opus desta carreira obsessiva. E que palavras poderíamos escolher para ilustrar esta obsessão? Uma série de binómios, sendo que o que caracteriza esta arquitectura é o que fica entre eles: cheio-vazio, positivo-negativo, forma-fundo, espaço-matéria, etc. É uma arquitectura que parece ser mais escavada do que desenhada, o que é transmitido pela definição claríssima, em quase todos os projectos, de um volume simples de origem, um paralelipípedo cheio e pesado, ao qual são retirados bocados, sempre de planta rectangular. Claro que há objectos que saem desta lógica, como a Casa em Azeitão, mas nessas a diferença entre estupefacção e o deleite espacial, e a adequação do trabalho à função que lhe está na origem ainda é maior. Sempre quis vez a Casa de Azeitão habitada, por uma família, com loiça suja na cozinha, cadeiras feias na sala, e um sistema de home-cinema que leva fios de um lado para o outro.
Quanto às obras públicas pego num exemplo para seguir do particular para o geral. Exemplo que demonstra claramente que esta não é uma exposição de arquitectura, mas mais uma exposição (e não consigo resistir ao apelido) mediática de um conjunto, insisto, limitado de conceitos arquitectónicos.
Visitei este verão o Centro Cultural de Sines. Sines é uma cidade que tem resistido muito bem ao desenvolvimento industrial que lhe é inerente. Resistido talvez não seja a melhor palavra. O que Sines tem feito é lidado muito bem com a condição simultânea de vila histórica e de cidade portuária estratégica. Ou seja, e trocando por miúdos, o centro histórico de Sines vale a pena. É neste centro histórico que se implanta a obra de Manuel e Francisco Aires Mateus. Mais uma vez é o noção de corpo estranho que salta primeiramente à vista. O Centro Cultural é um objecto, um objecto quase fechado, de linguagem autónoma, que agita Sines (ouvi duas velhotas comentar, e dizia a primeira velhota para a segunda velhota, «eu acho bonito, percebe, é muito bonito e moderno, mas acho que o deveriam ter posto noutro sítio, mais moderno, e não aqui, no centro histórico). No entanto, o maior gesto do projecto é, a meu ver, o atravessamento pedonal que permite, passagem pública que cose muito bem o novo edifício com a envolvente pré-existente. Esta é a glória do gesto arquitectónico, e o modo natural como esse atravessamento é feito (nem por um segundo duvidamos que aquele é um espaço puramente público) é o que justifica tudo o resto. O conceito, a estrutura, a linguagem: tudo se torna secundário perante a implantação urbana da coisa. Ora, na exposição decide-se não fazer referência a esta característica, fundamental, do projecto. Não é apresentado nenhum desenho de conjunto, não se tenta explicar esta envolvente, não há interesse nenhum em mostar a arquitectura: apenas se glorifica o conceito formal. Sines, ou Sagres, ou Sacavém: não interessa.
O que justifica esta exposição é a qualidade destes conceitos, desta obessão. É impossível ficar indiferente a força gráfica e formal desde conjunto de obras. Manuel e Francisco Aires Mateus apresentam uma obra do seu tempo, o tempo da rápida comunicação das coisas. Um conceito, uma ideia, um gesto. Ponto final, está feita a obra. Nada pode ser supérfluo, nada pode ser redundante, nada pode ser desperdiçado, nada pode ser marginal. O que resulta nos tais objectos fechados, puros, intocados, museológicos. Esta escolha tão radical é simultanemente a maior força e a maior fragilidade da obra arquitectónica da dupla Aires Mateus.
Diogo Seixas Lopes
O visitante mais distraído sairá certamente baralhado da exposição Aires Mateus: arquitectura. Ou, na melhor das hipóteses, ficará com a nítida sensação que entre esta arquitectura que se expõe nas salas de exposições e o seu mundo, pouco há de comum. A explicação é simples. Apesar do nome, traiçoeiro, esta não é uma exposição de arquitectura.
O que é apresentado, de uma forma magnífica através de um espaço expositório desenhado pelos próprios que encerra em si mesmo alguns dos conceitos expostos, não é arquitectura mas um conjunto, extremamente limitado, de ideias sobre o espaço. Dir-se-ia que estamos perante um período artístico de uma dupla de autores (embora, e inevitavelmente, seja o nome de Manuel Aires Mateus que ocorre mais frequentemente), um conjunto de trabalhos quase monotemáticos. Mas não é tanto na selecção dos trabalhos que a recusa em mostrar arquitectura se faz (ainda que também), mas mais no modo como se decide seduzir o visitante: muito poucas fotografias (e quando elas aparecem não tencionam contar nenhuma história, mas antes ficar refém destes preconceitos), desenhos sem legendas nem informação (desenhos que pela sua coerência gráfica e poder de síntese formam um conjunto de obras em si mesmo) e, os actores principais da mostra, maquetes-esculturas, lisas, brancas, quase monolíticas (com algumas excepções, como a extraordinária maquete em corte do Centro Cultural de Sines).
Os irmãos Aires Mateus têm uma obsessão. Não é preciso saber qual é. À segunda obra que observamos ficamos com essa sensação. Uma obsessão, em primeiro lugar, em construir um percurso coerente, demasiado coerente. A arquitectura (pelo menos alguma dela, esta que é escolhida para expor) nas mão de Manuel e Francisco Aires Mateus transforma-se rapidamente num objecto fechado, numa abstracção poderosa de tudo aquilo que são os elementos exteriores à própria construção, a começar pelas pessoas. Tudo em nome do superior interesse da arte, do conceito, do tal espaço conceptual puro, intocado. Publicado.
A exposição divide-se, sabiamente, em dois capítulos: casas e obras públicas. E é na primeira parte, dedicada à encomenda unipessoal privada, que a instrumentalização (aparente, não sabemos, nem interessa saber, se o é de facto) do outro é mais óbvia. O cliente é visto como uma oportunidade e a encomenda como mais um opus desta carreira obsessiva. E que palavras poderíamos escolher para ilustrar esta obsessão? Uma série de binómios, sendo que o que caracteriza esta arquitectura é o que fica entre eles: cheio-vazio, positivo-negativo, forma-fundo, espaço-matéria, etc. É uma arquitectura que parece ser mais escavada do que desenhada, o que é transmitido pela definição claríssima, em quase todos os projectos, de um volume simples de origem, um paralelipípedo cheio e pesado, ao qual são retirados bocados, sempre de planta rectangular. Claro que há objectos que saem desta lógica, como a Casa em Azeitão, mas nessas a diferença entre estupefacção e o deleite espacial, e a adequação do trabalho à função que lhe está na origem ainda é maior. Sempre quis vez a Casa de Azeitão habitada, por uma família, com loiça suja na cozinha, cadeiras feias na sala, e um sistema de home-cinema que leva fios de um lado para o outro.
Quanto às obras públicas pego num exemplo para seguir do particular para o geral. Exemplo que demonstra claramente que esta não é uma exposição de arquitectura, mas mais uma exposição (e não consigo resistir ao apelido) mediática de um conjunto, insisto, limitado de conceitos arquitectónicos.
Visitei este verão o Centro Cultural de Sines. Sines é uma cidade que tem resistido muito bem ao desenvolvimento industrial que lhe é inerente. Resistido talvez não seja a melhor palavra. O que Sines tem feito é lidado muito bem com a condição simultânea de vila histórica e de cidade portuária estratégica. Ou seja, e trocando por miúdos, o centro histórico de Sines vale a pena. É neste centro histórico que se implanta a obra de Manuel e Francisco Aires Mateus. Mais uma vez é o noção de corpo estranho que salta primeiramente à vista. O Centro Cultural é um objecto, um objecto quase fechado, de linguagem autónoma, que agita Sines (ouvi duas velhotas comentar, e dizia a primeira velhota para a segunda velhota, «eu acho bonito, percebe, é muito bonito e moderno, mas acho que o deveriam ter posto noutro sítio, mais moderno, e não aqui, no centro histórico). No entanto, o maior gesto do projecto é, a meu ver, o atravessamento pedonal que permite, passagem pública que cose muito bem o novo edifício com a envolvente pré-existente. Esta é a glória do gesto arquitectónico, e o modo natural como esse atravessamento é feito (nem por um segundo duvidamos que aquele é um espaço puramente público) é o que justifica tudo o resto. O conceito, a estrutura, a linguagem: tudo se torna secundário perante a implantação urbana da coisa. Ora, na exposição decide-se não fazer referência a esta característica, fundamental, do projecto. Não é apresentado nenhum desenho de conjunto, não se tenta explicar esta envolvente, não há interesse nenhum em mostar a arquitectura: apenas se glorifica o conceito formal. Sines, ou Sagres, ou Sacavém: não interessa.
O que justifica esta exposição é a qualidade destes conceitos, desta obessão. É impossível ficar indiferente a força gráfica e formal desde conjunto de obras. Manuel e Francisco Aires Mateus apresentam uma obra do seu tempo, o tempo da rápida comunicação das coisas. Um conceito, uma ideia, um gesto. Ponto final, está feita a obra. Nada pode ser supérfluo, nada pode ser redundante, nada pode ser desperdiçado, nada pode ser marginal. O que resulta nos tais objectos fechados, puros, intocados, museológicos. Esta escolha tão radical é simultanemente a maior força e a maior fragilidade da obra arquitectónica da dupla Aires Mateus.
sábado, 22 de outubro de 2005
airesmateus.com
Museu da Arquitectura de Lisboa, 2001
Agora que toda a gente fala na exposição dos senhores, é uma boa altura para dar um saltito ao recém-inaugurado sítio oficial.
sexta-feira, 21 de outubro de 2005
Na margem certa
O rio também pode ser apenas o tempo. Talvez nem seja preciso o casamento para impor essa sensatez que se sobrepõe ao romantismo. Basta uma série de dias, uns seguidos aos outros, de convivência mútua. Gostava de acreditar que sim, que o único rio que realmente importa é o tempo. E, nesse caso, não é sem orgulho que percebo que ainda estou deste lado. Sem perspectivas de mudar de margem, mesmo (ou especialmente) quando há perspectivas para tudo o resto.
Já descobriram a vacina para a gripe das aves
Tenho, mormente, uma série de textos sobre arquitectura que esperam por uma folha em branco, dez minutos de repouso, e um bom copo de vinho para ameaçarem ver a luz do dia. Como de momento essas condições não estão reunidas, aproveito para recordar o golo do Manuel Fernandes no encontro da passada terça-feira no El Madrigal, a contar para o grupo D da Liga dos Campeões, que a UEFA decidiu descrever do seguinte modo (e passo a citar):
A sloppy challenge only makes the ball jump up to Manuel Fernandes, who controls on his chest and volleys first time, catching Viera slightly off his line with a dipping effort from 35 metres. Fantastic response by the visitors.
A sloppy challenge only makes the ball jump up to Manuel Fernandes, who controls on his chest and volleys first time, catching Viera slightly off his line with a dipping effort from 35 metres. Fantastic response by the visitors.
quinta-feira, 20 de outubro de 2005
Mas é que é pena
«Estou a ser apertado.»
Outro, não o mesmo, jornalista da SIC, igualmente abalrroado pela comitiva cavaquista
Outro, não o mesmo, jornalista da SIC, igualmente abalrroado pela comitiva cavaquista
Olha que chato
«Assim vou cair, e é bom que ninguém caia.»
Jornalista da SIC, albarroado pela comitiva cavaquista
Jornalista da SIC, albarroado pela comitiva cavaquista
Este homem sabe muito
«Pedi a suspensão da minha militância no PSD.»
Presi... Prof. Cavaco Silva, agora mesmo
Presi... Prof. Cavaco Silva, agora mesmo
O blogger a recibos verdes
Subscrevo:
Houve uma altura, não muito longínqua, em que ignorava horários e mesmo assim tinha dinheiro suficiente. Hoje em dia, para ter dinheiro suficiente, já só posso desrespeitá-los timidamente. Isto sim é precariedade.
O Silva
Houve uma altura, não muito longínqua, em que ignorava horários e mesmo assim tinha dinheiro suficiente. Hoje em dia, para ter dinheiro suficiente, já só posso desrespeitá-los timidamente. Isto sim é precariedade.
O Silva
quarta-feira, 19 de outubro de 2005
Gostamos da vida como ela tem de ser para poder passar a toda a hora nas televisões sem ser censurada por uma lei qualquer que nos impede de dizer f*
A nova campanha da TMN tem por slogan «gostamos da vida como ela é». Ou algo do género, cito de memória. A ideia é associar a marca à constância do quotidiano, como algo quase omnipresente. Para isso produziu uma série de spots onde retrata cenas perfeitamente naturais e banais. Perfeitamente? Não. Serei o único a estranhar que aquele tipo que simula a falta durante o jogo de futebol com os amigos diga «fogo» e «gatuno»?
Fruta fresca
Se, de facto, a música influencia o tipo de arquitectura que é feita, então esta gente que se cuide: passa Marco Paulo no sound system do atelier.
terça-feira, 18 de outubro de 2005
Há coisas que me chateiam, nomeadamente haver pessoas que, por contingências da vida, nunca verão o golo do Manuel Fernandes
E queria também lembrar, aos quiçá mais distraídos, que aquela equipa de amarelo não era, apesar de poder parecer, o Paços de Ferreira.
segunda-feira, 17 de outubro de 2005
Conjunto de apartamentos na Calçada dos Barbadinhos
Fotografia de Fernando Guerra
Gostava de vos chamar a atenção para esta obra. Eu ando há dias com isto na mão (arquitectura ibérica, [habitar] nº 10), para trás a para a frente. Literalmente. Tem-me dado um gozo que não vos conto. É este tipo de arquitectura que surpreende. Pela discrição, pelo acerto, pela beleza, pela serenidade, pela elegância. E, sobretudo, pela ausência de tiques ou de maneirismos formais. Assim sim.
sexta-feira, 14 de outubro de 2005
terça-feira, 11 de outubro de 2005
Dá saúde e faz crescer
Dizemos mais disparates, somos mais imponderados, sentimo-nos imortais. I know that feeling. Só que, no meu caso, pela primeira vez sinto-me adulto.
segunda-feira, 10 de outubro de 2005
Se está na televisão deve ser verdade
Acabo de descobrir, através da SIC, que está uma grua de obra a tombar na minha rua. Eu juro-vos que quando vi a polícia e o troço cortado mesmo em frente a minha casa pensei que era apenas uma betonagem. Afinal não. Parece que aquilo está em riscos de cair. Pelas minhas contas não me acerta.
domingo, 9 de outubro de 2005
Não fazer a mínima do que é perder
Conclusões da tentativa de declaração digna de Manuel Maria Carrilho: ele devia ter ganho, os lisboetas queriam que ele ganhasse e só não ganhou porque o dout... hã, professo... hã, engenheiro Carmona Rodrigues cometeu o desplante de ter mais votos do que ele. Que grande ordinário.
E a esta hora ainda sou indeciso
Mais uma vez saio de casa mais para cumprir um dever do que para exercer um direito.
sábado, 8 de outubro de 2005
Early morning com isto já é meio dia
Um gajo levanta-se Sábado bem cedinho (10:00 da manhã) porque decidiu e muito bem ir passear para um local que inclusive é património mundial, pega numa revista para companhia de actividade matinal se é que me entendem bem, e leva com coisas destas:
«A mais célebre foi um episódio em que uma "dominatrix" francesa lhe pregou (literalmente) o escroto numa tábua de madeira. Tudo em frente às câmaras.» (p. 36)
«(...) "parar com o processo de privatizações, levando o Estado a reapropriar-se do controlo bancário e dos sectores estratégicos da vida económica; para com o processo de falências e de encerramento de empresas; revogar o Código de Trabalho e defender a Segurança Social e todos os serviços públicos". Em suma, "romper com um ciclo de destruição do país iniciado há mais de 20 anos", diz-nos.» (Diz-nos Carmelinda Pereira, p. 48)
«Sentado no público está o apresentador Júlio Isidro e família. Lembra que foi ele a lançar o mágico [Luís de Matos] para os focos da TV.» (p. 51)
«Um apoiante comentou: "Eu voto no PS. Pela senhora... e pelo senhor... Mas mais pela senhora.» (Sendo a senhora a Bárbara e o senhor o Manuel Maria, p. 53)
Enfim, adequado.
«A mais célebre foi um episódio em que uma "dominatrix" francesa lhe pregou (literalmente) o escroto numa tábua de madeira. Tudo em frente às câmaras.» (p. 36)
«(...) "parar com o processo de privatizações, levando o Estado a reapropriar-se do controlo bancário e dos sectores estratégicos da vida económica; para com o processo de falências e de encerramento de empresas; revogar o Código de Trabalho e defender a Segurança Social e todos os serviços públicos". Em suma, "romper com um ciclo de destruição do país iniciado há mais de 20 anos", diz-nos.» (Diz-nos Carmelinda Pereira, p. 48)
«Sentado no público está o apresentador Júlio Isidro e família. Lembra que foi ele a lançar o mágico [Luís de Matos] para os focos da TV.» (p. 51)
«Um apoiante comentou: "Eu voto no PS. Pela senhora... e pelo senhor... Mas mais pela senhora.» (Sendo a senhora a Bárbara e o senhor o Manuel Maria, p. 53)
Enfim, adequado.
quinta-feira, 6 de outubro de 2005
quarta-feira, 5 de outubro de 2005
Bestseller
Um aviso, desde logo: o texto que se segue é embaraço para a escritora e penoso para os leitores em geral. Margarida Rebelo Pinto repete-se imoderadamente, copia frases de uns para outros livros, utiliza por vezes citações de escritores sem lhes atribuir a origem, tem deslizes de ortografia e comete erros gramaticais, as personagens, as situações, os temas e a estrutura narrativa são sempre os mesmos, as vidas que relata são homogéneas e monótonas, há incongruências catastróficas no vocabulário dos narradores, retirando-lhes toda a credibilidade, as representações dos homens e das mulheres são padronizadas, estereotipadas e simplistas, a escrita toca as raias do mau gosto e do anedótico, o estilo é uniforme e preguiçoso. Tudo considerado, livros deploráveis, falhados e vulgares. Não é fácil afirmar estas coisas, no início senti-me inclusivamente desapontado. É que o fenómeno Margarida Rebelo Pinto era-me simpático. Quando a comecei a ler até estava predisposto a gostar dela.
João «Bulldozer» Pedro George
João «Bulldozer» Pedro George
terça-feira, 4 de outubro de 2005
É que não há revogações que aguentem
Não esquecer que estes senhores tem o poder discricionário de aprovar ou desaprovrar projectos a seu bel-prazer.
Outra vez o setenta e três setenta e três
O que se passa é muito simples. O que se passa é que o parágrafo que se segue é a mais pura das verdades:
O problema é simples: Há um conjunto de engenheiros, desenhadores, etc., que são capazes de produzir projectos com a legalidade e qualidade suficiente para serem aprovados pelos mesmíssimos arquitectos das autarquias e estruturas consultivas que subscrevem o manifesto da OA onde alegam o contrário dos seus pareceres: que apenas os arquitectos são capazes de produzir arquitectura.
Manuel Pinheiro
Acontece que o território nacional se encontra num estado perfeitamente execrável, e acontece também, sem medos, que isso se deve aos "projectos" que foram sendo aprovados (os legais e os menos legais) desta gente que possui essa extraordinária habilidade que é cumprir os mínimos para que um conjunto de plantas, cortes e alçados seja licenciado junto da autarquia. Como não acredito que mais leis ou melhores leis mudem alguma coisa, parece-me que só há uma solução para a coisa: a mudança radical da exigência do consumidor. Ou seja, o impossível. Cada um tem a merda que merece, e nós merecemos a merda que temos, porque somos um país pobre e entre um apartamento de 60 metros quadrados no Cacém com garagem que custa 20 mil contos e um apartamento de 50 metros quadrados nos Terraços de Brangança que custa 45 mil contos só podemos escolher o primeiro, a arquitectura que se lixe. É um beco sem saída, lamento, o mercado não resolve a situação. Nem tão pouco é legítima essa comparação entre os gestores e os arquitectos porque a actividade de gestão diz apenas respeito aos directamente envolvidos na coisa, enquanto que a arquitectura é quase sempre uma actividade com um altíssimo impacto público. Há um interesse colectivo (o chamado "território nacional") que não pode ser deixado à mercê da selvagem colecta do metro quadrado por parte do construtor. E é por isso que assinarei quantas vezes forem precisas para que o decreto seja revogado. Por muita merda que os arquitectos façam é sempre melhor do que a "arquitectura" do desenhador a contracto com a Simões e Orlando Construções (nome fictício). A situação é dramática e exige uma porrada valente. Ou seja, obrigatoriedade dos projectos de arquitectura serem assinados por arquitectos. Há um potencial enorme que anda a ser desperdiçado (centenas e centenas de arquitectos à espera de uma oportunidade) e só uma sociedade egoísta e mal-encarada não fará os possíveis para rentabilizar esse capital humano. Só assim podemos nós (como se chama agora, a sociedade civil) ter uma réstia de esperança em como o gajo que desenhou o prédio que vai ser construído do outro lado da rua tem o mínimo de sensibilidade para aquilo a que chamamos de espaço público.
O problema é simples: Há um conjunto de engenheiros, desenhadores, etc., que são capazes de produzir projectos com a legalidade e qualidade suficiente para serem aprovados pelos mesmíssimos arquitectos das autarquias e estruturas consultivas que subscrevem o manifesto da OA onde alegam o contrário dos seus pareceres: que apenas os arquitectos são capazes de produzir arquitectura.
Manuel Pinheiro
Acontece que o território nacional se encontra num estado perfeitamente execrável, e acontece também, sem medos, que isso se deve aos "projectos" que foram sendo aprovados (os legais e os menos legais) desta gente que possui essa extraordinária habilidade que é cumprir os mínimos para que um conjunto de plantas, cortes e alçados seja licenciado junto da autarquia. Como não acredito que mais leis ou melhores leis mudem alguma coisa, parece-me que só há uma solução para a coisa: a mudança radical da exigência do consumidor. Ou seja, o impossível. Cada um tem a merda que merece, e nós merecemos a merda que temos, porque somos um país pobre e entre um apartamento de 60 metros quadrados no Cacém com garagem que custa 20 mil contos e um apartamento de 50 metros quadrados nos Terraços de Brangança que custa 45 mil contos só podemos escolher o primeiro, a arquitectura que se lixe. É um beco sem saída, lamento, o mercado não resolve a situação. Nem tão pouco é legítima essa comparação entre os gestores e os arquitectos porque a actividade de gestão diz apenas respeito aos directamente envolvidos na coisa, enquanto que a arquitectura é quase sempre uma actividade com um altíssimo impacto público. Há um interesse colectivo (o chamado "território nacional") que não pode ser deixado à mercê da selvagem colecta do metro quadrado por parte do construtor. E é por isso que assinarei quantas vezes forem precisas para que o decreto seja revogado. Por muita merda que os arquitectos façam é sempre melhor do que a "arquitectura" do desenhador a contracto com a Simões e Orlando Construções (nome fictício). A situação é dramática e exige uma porrada valente. Ou seja, obrigatoriedade dos projectos de arquitectura serem assinados por arquitectos. Há um potencial enorme que anda a ser desperdiçado (centenas e centenas de arquitectos à espera de uma oportunidade) e só uma sociedade egoísta e mal-encarada não fará os possíveis para rentabilizar esse capital humano. Só assim podemos nós (como se chama agora, a sociedade civil) ter uma réstia de esperança em como o gajo que desenhou o prédio que vai ser construído do outro lado da rua tem o mínimo de sensibilidade para aquilo a que chamamos de espaço público.
segunda-feira, 3 de outubro de 2005
domingo, 2 de outubro de 2005
«Um contabilista que se queixa de que já não há valores»
(...) O casamento é a única festa que tem dois lados. Duas tropas, às vezes bastante fandangas. Os do lado dela e os do lado dele. Isso faz com que a boda seja também um constante estudo e enfrentamento. As pessoas exibem status. Exibem esposas troféus. Testam piadas. Comentam cós e alinhavos. Há sempre três casais (geralmente amigos da noiva) cuja relação está colada com cuspo., o que se nota tão penosamente que apetece organizar ali mesmo uma festa de divórcio. Depois, há os engates. Há sempre duas meninas (geralmente amigas da noiva) que têm uns decotes do outro mundo e a quem os amigos solteiros (e alguns casados) perguntam coisas que não lhes interessam nada. Depois, há os tipos que discutem política, e que dizem que a culpa de todo é do Costa Gomes ou do Gomes da Costa. Há os literatos, que recitam Omar Khayyam enquanto debicam azeitonas. Há os cépticos, que repetem o dito segundo o qual uma pessoa na China comunista pode sair de casa mas não do país e uma pessoa casada pode sair do país mas não de casa. Há gente gargalhando a bandeiras despregadas. Há gente com uma expressão obstipada. Clichés sobre a noiva como estava linda e como ela teve muita sorte porque o Rodrigo é uma jóia de moço tão diferente do Vasco que não valia mesmo nada e já anda com uma vadia e fez mesmo sofrer a Joaninha que é amorosa o Vasco tinha era uns olhos verdes muito giros lá isso benza-o Deus. (...)
Pedro Mexia, «As Bodas», Grande Reportagem 247
Pedro Mexia, «As Bodas», Grande Reportagem 247
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