quarta-feira, 31 de outubro de 2007

A quinta frase da página 161

«Beauty.»

Pela minha saúde que não inventei isto. A quinta frase da página 161 do segundo livro mais próximo de mim (a página 161 do livro mais próximo de mim continha uma ilustração, sem frases) é esta. O livro é o Where the Stress Falls, de Susan Sontag.

O Coveiro

Esqueçam que este post existiu. O Coveiro convence ao primeiro take e faz lembrar outro rapazola que em tempos escreveu uma coluna tripartida. Arrisco a dizer que a partir de agora a Atlântico passará a ser conhecida como «a revista do Coveiro». Em mais lado nenhum se escrevem obituários assim.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

That is the sound of inevitability, Mr Anderson



Mas o que faz quem acha que o Tratado é ao mesmo tempo «contestável» e «inevitável»?

Na imagem, os senhores da Europa explicam-nos como nos devemos comportar perante a inevitabilidade do Tratado.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Ano bendito

(...) e um corpo que valha-me Santo Euplúsio santo & mártir (...)

Pedro Mexia num grande post sobre Adelaide de Sousa, que me ensinou que a senhora nasceu em 1969, ano bendito.

Elite

Certamente devido à gripe cometi um enorme erro ontem. Disse que a minha escola secundária estava a meio da tabela, isto sem ter visto bem de que tabela estava a falar. Bom, a coisa tem mais de 600 entradas, pelo que sou obrigado a dizer que fui educado numa escola que está na parte superior da tabela. Que é superior a mais de 90% das escolas (e colégios) portuguesas. Confesso que assim isto já não tem tanta graça.

Logo ao Luís Amado, pá



via O Insurgente

Não sei porquê, este gesto incomodou-me. Talvez seja porque tenho alguma estima por Luís Amado - gosto sinceramente dele - mas acho que isso não explica tudo. É algo de mais profundo. Dissequemos então a cena. Num primeiro momento vemos Sócrates à procura de alguém com quem falar, ou à espera que alguém lhe venha dizer qualquer coisa. Vê uma câmara apontada para ele e percebe nesse momento que é como Cristiano Ronaldo, parado não rende. Depois repara que está ali Luís Amado, mesmo à mão de semear, mas hesita. Valerá a pena interagir com este, como dizer, subalterno? Hesita mais um pouco até que a presença da câmara se tornar insuportável, sufocante. Aí Sócrates toma a decisão e cá vai disto, sempre dá para encher uns segundos. Estica a mão e, talvez pela quinta vez, endereça os parabéns a Amado. Amado, que estava também a olhar para o horizonte à procura de algum dinamarquês ou alemão ou alguém respeitável assim, vê aquela mão ali estendida e prepara-se para consumar o acto. Eis senão quanto, para gáudio de Sócrates, aparece um bife qualquer (não sei quem seja, ajudem-me) como resposta às preces de Sócrates uns segundos antes. A melhor parte é esta: o tipo ainda está uns bons metros atrás de Amado, pelo que daria tempo para apertar o bacalhau ao Ministro dos Negócios Estrangeiros antes de cumprimentar seja lá quem for. Mas não, Sócrates decide abortar a operação de cortesia com o seu ministro, e precipita-se nas costas deste (uma belíssima imagem) para um terceiro que apareceu no horizonte. Amado, porque é português, não ficará decerto melindrado com esta sacanice.

Esta é a metáfora aqui implícita que me chateia. Tudo é demasiado europeu, aqui. A prontidão com que se trai um compatriota para não causar um incidente protocolar é assustadora. E é isto que parece ser o Tratado: um fenómeno puramente protocolar que exige uma ou duas pulhices às gentes nacionais. Mas também, e acima de tudo, este vídeo incomoda porque revela bem a personalidade de Sócrates, mas isso já não nos surpreende.

Fernando Santos quis emprestar o Binya - que isto não caia no esquecimento

(...) Agora falta arranjar um semáforo. Di Maria é canhoto e tende a vir para a direita, mas cansa-se e fica-se pelo meio. O Cebola está na esquerda mas gosta de flectir para dentro. Já são dois no meio. Acrescentemos o Rui Costa - que vive lá - mais o Binya, que está em toda a parte, e temos a prova da necessidade de um semáforo.

Por Filipe Nunes Vicente, que está para o Benfica como José Pacheco Pereira para o PSD.

domingo, 28 de outubro de 2007

Tratado constitucional?



Tratado constitucional? Isso pouco interessa para quem é, cada dia que passa, cada vez mais atlantista.

Ranking

Fui ver em que lugar está a minha escola secundária no ranking e o resultado é desanimador: não é suficientemente baixo para que me possa vangloriar da minha resistência às más influências numa espiral egocêntrica de elogio da excepção que represento. É assim tipo meio da tabela, uma União de Leiria das escolas secundárias, situada num edifício de Ventura Terra.

E isto pega-se

Estou engripado: não liguem às vírgulas.

Óscar Cardozo

O Tiago Galvão vai aparecer na Atlântico. Espero interessadamente, embora ligeiramente preocupado com uma inquietação inevitável: poderá o Tiago sofrer do já conhecido como «síndrome de maradona»?. Quando o maradona começou a escrever para o papel notou-se uma falta de entrosamento com o meio, facto a que a ausência do palavrão não será alheia. Sem o palavrão, naqueles difíceis primeiros tempos numa nova equipa, o maradona parecia um jogador sul-americano recém-chegado à Europa: vinha avisado de que o jogo era diferente e tentou adaptar-se, prostituindo a sua maneira de jogar, sem que os resultados tenham aparecido. As suas crónicas do mundial foram um bom exemplo disso. Com o tempo, tal e qual o Cardozo, percebeu-se que o maradona estava a assentar o jogo, jogo a jogo, e hoje já poucos se lembram que nem sempre o maradona apresentava o talento que o permite, por exemplo, atacar as incoerência do discurso anti-ecologista de Rui Ramos com brilhantismo. «O maradona dos jornais», falava-se, «não é tão bom quanto o maradona do blogue». Nuvens negras cobriam o céu, o ar tornava-se pesado e as pessoas apressavam-se para casa. Não foram tempos memoráveis. Agora que o Tiago vai começar o mesmo caminho é inevitável que se especule. Irá ter sucesso sem a palavra «mamas»? Ou irá escrever sobre «mamas de pretas»? Irá vingar num mundo onde a masturbação ainda é tabu? Ou irá escrever sobre a masturbação? Estamos cá para ver, mas por agora a única atitude decente a fazer é endereçar os nossos parabéns e agradecimentos ao Paulo Pinto Mascarenhas, esse grande olheiro.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Isto tem de parar

Recuso-me a elogiar um template dum gajo por causa dumas flores. Recuso-me, isto tem de parar nalgum lado.

Semântica

Foi preciso aparecer uma mulher para percebermos que o nome do jogador do Sporting Izmailov, quando relatado na TSF, soa exactamente igual a «is my love» como dito por um italiano. Foi preciso também uma mulher (embora não a mesma) para percebermos que os pais do menino Ángel Di María são provavelmente muito devotos, evidência semântica que nos tinha escapado por completo. Mas está bem visto, até por Ángel Di María está cada dia que passa a tornar-se ele próprio um objecto da mais fervorosa devoção.



Isto não é o resumo do Benfica. Isto é o resumo do AC Milan 4, Nhonhest 1. Isto é o resumo de um jogo normal do único candidato a vencer a liga dos campeões este ano. Kaká? Pirlo? Não. Super Seedorf, um holandês de 31 anos que já jogou a defesa-central (Ajax), a segundo avançado (Sampdoria), a médio-defensivo (Real Madrid), e que agora se sublimou para um estado de pura omnipresença em campo.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Óculos



Susan Sontag, por Annie Leibovitz. Gosto do pormenor dos óculos sobre a mesa.

Momento alarmista do dia

Às vezes esqueço-me que isto (isto, aqui à volta) não passa de um T1+1, com paredes pouco dadas ao isolamento acústico.

O post era exclusivamente sobre mim. A «ex-namorada» é aqui uma abstracção do conceito que, infelizmente para o caso, coincide com uma pessoa nada abstracta. Não acho que haja ali paternalismo: há apenas uma tentativa de perceber, à luz dos posts que citei do Vasco e do Tiago, com qual das duas atitudes me identifico. Como nada me leva a desejar o contrário, parece-me uma atitude bem cristã querer a felicidade dos outros - e este meu desejo, esse sim, é puramente abstracto. Ambrósia era apenas a palavra que se seguia na lista, teve de ser, como expliquei por vezes tem de se vestir o fato macaco. Como por exemplo agora, que te digo que a palavra que tenho de usar neste post é «apotegma» (e, com isto, já me safei).

NOTA: Reparo agora que há uma imprecisão no post. O que caiu no esquecimento não foi obviamente a pessoa, mas a relação. Espero que percebam a diferença.

Fato macaco

Como parece que ninguém está a reparar nesta minha odisseia, vou passar a torná-la um pouco mais óbvia. Relembro: estou a usar, por ordem alfabética, todas estas palavras em posts sucessivos. Estou nisto há 3 dias e ainda não saí do «a», mas não me vou amunhecar. Como festejo privado (género rebentar o foguete e ir apanhar a cana) passo a linkar as palavras para a respectiva lista. Uma apostasia? Não, apenas uma espécie de terceira via.

Uso metáfora futebolística para explicar algumas cedências no que ao estilo diz respeito: nem sempre a coisa sai como queremos, mas há alturas em que temos de vestir o fato macaco e lutar pelo resultado.

Paulo Coelho

A única diferença entre esta «crítica» do João Gonçalves (que entusiasmou o Vasco) e todas as outras é a sua honestidade. Ou seja, JG malha forte e feio para depois, quase amodorroado, afirmar que não leu aquilo que está a desconsiderar. Parece dizer: aquilo é tão mau que eu nem vou ler*. Ah, mas quantos de nós conseguem privar-se ao prazer de dizer uma coisa destas?

(Isto não quer dizer que partilhe da tese de JG. Li Equador, sim senhor, mas não li nenhum dos outros. Mas sei uma coisa: Rodrigo Guedes de Carvalho escreve bem - já lhe li coisas que não os romances que impressionam pelo seu domínio da língua. Não faço tensões de ler José Rodrigues dos Santos, e estou a tentar convencer a minha mulher a deixar entrar lá em casa o Rio das Flores, tarefa que não tem sido fácil.)

* Paulo Coelho, por exemplo. Tenho de ler Paulo Coelho?

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Flores

O maradona foi para o sapo, num blogue mais ambulacriforme.

Da felicidade das ex

Um diz que fica feliz quando vê uma ex-namorada infeliz. Outro diz o inverso, e pelo caminho cita Updike para dizer que «perceber que uma ex-namorada já não se quer deitar connosco é experimentar uma "pequena morte"». Não sei do que falam estes senhores porque, em bom rigor, só tenho uma ex-namorada. Que caiu no esquecimento. Percebam: quando digo que caiu no esquecimento não quero usar um eufemismo para esconder um trauma por resolver. A verdade é que o acontecimento (começar, disfrutar, acabar) foi há muito tempo e eu - e ela - era uma pessoa tão diferente daquilo que sou hoje que só nestas ocasiões o assunto me vem à memória. Feliz, ou infeliz, a verdade é que não me interessa. Não consigo sequer colocar-me numa posição em que tenha de escolher. Por altruísmo prefiro imaginá-la feliz num banho de ambrósia, mas até isso é uma perda de tempo. Isto, meus amigos, é que é uma pequena morte: perceber que uma relação e todas as memórias que ela produziu nem à prateleira mais inacessível da estante foi parar. Que se perdeu numa mudança qualquer e agora talvez pertença a outra pessoa, que viu na sua poeira algo que me escapou.

E depois querem que eu tenha boas recordações da «adolescência», que exalte a «juventude» como a melhor altura da vida, que seja nostálgico antes dos 30. Está tudo doido.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

E à cabra cega?

O almoxarifado do Vital Moreira não quer brincar aos referendos. Tudo bem. Sócrates precisa das suas amásias.

E nisto ninguém fala

As declarações de Watson têm a elevação intelectual de um alcouce, certo. E têm entretido muitos, que decerto assistem ao espectáculo acompanhados por cerveja e umas alcagoitas. Mas até agora ninguém tocou no ponto fundamental, na maior enormidade que disse Watson. Os argumentos têm balançado de um lado para o outro que nem alforrecas, relativamente disformes, centrados num só tema: o facto de um cientista acreditar que há raças superiores e inferiores, crença (porque não foi algo que Watson terá aprendido com a ciência, mas com a sua experiência - teve uma empregada preta que não era inteligente) disparatada e racista. Mas o que Watson alegou é mais grave do que isso: Watson afirmou que o problema do sub-desenvolvimento de África está no facto de nós, os brancos, partirmos do princípio que eles, os pretos, são tão inteligentes quanto nós. Isto pressupõe que se nós, os brancos, passássemos a considerar que eles, os pretos, nos são inferiores, África sairia da catástrofe em que se encontra, declarando por decreto essa relação de superioridade e arrogando-nos o direito da gestão territorial de toda a zona subsariana. É aqui, nesta lógica neo-colonial (ena, pareço o Boaventura), que Watson diz o seu verdadeiro disparate. E nisto ninguém fala.

Nuno e José Mateus

Já está on-line a página do ARX Portugal.

Bruno Vieira do Amaral

Tenho três coisas a dizer sobre o novo blogue do Bruno Vieira do Amaral.

Primeira: Isso não é bem um blogue. É, como lhe chama e bem o maradona, uma «coisa». Um blogue para promover um bar? Nada contra. Mas, caro Bruno, o talento não pode ser todo reservado para a descrição do blogue. Por isso, vamos lá a escrever coisas enquanto se lava os tubos à máquina de imperiais.

Segunda: Alcochete? Mas o que é isto? Que aberração estatística é esta? Há alguma regra que diga que o talento blogosférico tem de vir todo da margem sul (não preciso de exemplificar, pois não)?

Terceira: Assim que for a Alcochete (aí para a inauguração do aeroporto) passarei pela Rua Comendador Estevão de Oliveira, como «futuro cliente» que sou, com muito gosto, talvez para comer uma sandes de albacora, apesar disso me parecer um sítio muito alapardado. Mas devo dizer que essa lista me constrange. Tanto bom gosto e eu lá no meio. Não digo que seja como o outro, que não quer ser membro de um clube que o aceite como membro, mas que isso tira algum encanto à coisa é incontornável. Vamos lá a ser mais criteriosos e barrar estes alarifes à porta.

domingo, 21 de outubro de 2007

(filha)

Isto é uma gaffe tremenda. Foram os CTT, e não a Amazon, que descobriram a tua morada. Os CTT são a melhor empresa portuguesa, de longe. Qualquer erro que aconteça num serviço prestado pelos CTT tem, com toda a certeza, origem milagrosa: só milagres impedem que as coisas cheguem aos sitios. Um amigo enviou da irlanda uma carta para uma tipa em portugal com o seguinte destinatário, "carla luis (filha), Sintra" e a carta chegou. Mais, se se telefonar para os ctt, a qualquer hora do dia ou da noite, atende uma pessoa a simpática com uma solução para o teu problema. Chega a ser assustador, hei-de experimentar a telefonar para saber como é que se programa a máquina de secar para camisas de seda para ver o que é que eles me dizem. foram os ctt que fizeram chegar o livro à tua morada. Experimenta enviar um envelope contendo 1000 euros em notas com o destinatário "eu" e vais ver se eles não contratam um grafologista (?) para identificar o autor e se, em dois dias, eles não te acham e te enregam a missiva.

é uma empresa que merecia um nobel. e quem diz um nobel diz uma review na New Criterion.

maradona, na caixa de comentários deste post do «Rogério Casanova», pondo um ponto de interrogação a seguir à palavra «grafologista», ou seja, mostrando que se deixou cair na acédia ao não confirmar no dicionário a existência da palavra «grafologista» (que existe), adstringindo-se (vale famílias de palavras) à sua memória lexicográfica, ainda assim atingindo com acutilância o seu objectivo.

A semana do abc



Um blogue quer ser espontâneo, sem agenda, semi à deriva. Pois esta semana introduziremos um objectivo claro e quantificável: utilizar, nestes próximos 8 dias, todas estas palavras que o Francisco José Viegas nos trouxe*. Vale notas de rodapé e citações externas. Mas têm de ser todas. Será isto uma gambérria? Vamos a isto.

No vídeo Erin McKean, uma lexicógrafa muito gira (assim num tipo nerdish), explica como a internet veio alterar a nossa ideia de dicionário, como podemos usar palavras que não estão no dicionário mas que têm todo o direito a existir, palavras dicionarizáveis, novas, usadas, perfeitas, insubstituíveis. Palavras como «lexicografar».

* E, para facilitar ou como método, vamos fazê-lo alfabeticamente. Isto tem de ser duro, nada de abemolar a cena.

sábado, 20 de outubro de 2007

Take that, Hitchens boy



Para os ateus a ciência explica este (estes) acontecimento(s). Triste vida a vossa.

(Via Trento na Língua)

Viva a venda de flores

Jogos de mesa e Jogos tradicionais portugueses; Espaço de Leitura - Hora do Conto e Ateliers; Cores e Formas em Eric Rohmer - 100 anos de cubismo; Venda de Flores, Venda de gelados, balões e farturas; Tai Chi Chuan e Chi Kung; Música tradicional Gnawa; Interpretação e teatralização dos temas mais conhecidos do Fado.

Assim a Baixa não morre. Não. Assim vamos atrair moradores. Vamos. Isto é diferente de um shopping. É. Com isto as pessoas vão voltar à Baixa. Vão. Agora é que vai ser. É. Que se fodam os moradores. Que se fodam. Carros são para capitalistas. Fascistas. A Gnawa Bambara atrai investidores. Atrai. Viva a cidade parque infantil. Viva. Viva Costa. Viva. Viva a Baixa. Viva.

Morra a Baixa.
Morra.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Fernando Guerra

Há coisas novas para ver no Últimas Reportagens do Fernando Guerra. Entre elas, mais uma das fantásticas casas de madeira de Carlos Castanheira (projecto 155.)

Belém Lima

(...) Cruz Abecassis, com visão política, percebeu que Siza cobriria o buraco. Passou por cima da questão de fazer concurso, de sr necessário ouvir todas as pessoas e foi o melhor bombeiro do Chiado.

António Belém Lima acaba assim a primeira resposta que dá na entrevista à Arquitectura e Vida 86. O que se segue é uma entrevista notável, que revela uma serenidade e um acerto de palavras surpreendente. Recomenda-se.

Por exemplo, esta pérola: «Não sou dos que pensam que todos os dias temos de mudar tudo... gosto de aprender com a The World of Interiors, uma carismática revista inglesa tradicionalista.»

O fabuloso Esteves Martins

As conferências de imprensa são um bom teste para se perceber a diferença entre o jornalismo português e o europeu. Na da hora do Telejornal, Esteves Martins faz uma fabulosa pergunta a José Sócrates sobre se os interesses nacionais, nesta cimeira tinham, finalmente, acabado por prejudicar a Europa. Os termos não foram bem assim, foram ainda para pior, porque Esteves Martins afirma sempre mais do que pergunta e espera ouvir o eco magistral da sua voz na do Presidente do Conselho. Vale a pena estarem atentos à performance se houver repetição.

José Pacheco Pereira

Rodeia

A «tese»nunca chegou a ser baralhada.

A constituição



Aquilo que o cavalheiro levanta na mão esquerda chama-se «Constitución de la República Bolivariana de Venezuela».

Se mudam a capa e passa a dizer «Páginas Amarelas» ou «As Bacantes», continua a ser, no miolo, a «Constitución de la República Bolivariana de Venezuela».

Só mudando (e muito) o que está lá dentro é que passa a ser outra coisa. Uma coisa mais aceitável.

(Adaptado deste post do Gattopardo.)

Sorry, Haters

Sorry, Haters é um filme que leva ao extremo a relação entre a suposta mensagem moral e as qualidades puramente cinematográficas de um filme. Estamos habituados a separar as obras de arte do comportamento dos seus autores, o que nos permite admirar uma boa parte da arte contemporânea. No cinema habituámo-nos a tentar avaliar as fitas (é o meu momento Jorge Leitão Ramos) pelas suas virtudes artísticas, relegando para segundo plano as suas implicações morais. Pois bem, Sorry, Haters é um filme moralmente abjecto - dos mais feios que me lembro de ter visto - mas bem contado. Isto é, as personagens não são más, os twists são bons e inesperados mas bastante coerentes, e, para filme independente - ou seja, sem meios - não está mal de todo. Mas é impossível gostar desta coisa, daquilo que ela quer dizer, daquilo que proclama. Isto é, o discurso do «mas» no pós-11 de Setembro.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Nada de pastiches



O prémio Stirling é o mais prestigiado prémio britânico de arquitectura, e é atribuído anualmente a um edifício. O vencedor deste ano foi o Museu da Literatura Moderna, em Marbach am Neckar, Alemanha, obra desenhada por David Chipperfield. Para trás ficaram 5 outros edifícios, entre eles outra obra do mesmo Chipperfield, o espectacular edifício da America's Cup, ou a nossa Casa da Música. Pouco se tem falado deste prémio, que pode ser interpretado como um forte statement por parte do júri. Como qualquer outro prémio arquitectónico actual, o Stirling não tem conseguido evitar a sedução dos edifícios fotogénicos e ruidosos, dos ícones globais, dos edifícios que facilmente se podem identificar com a ideia de vanguarda arquitectónica. Prova disso é o facto de após terem sido conhecidos os 6 finalistas David Chipperfield ter-se assumido como favorito não com o edifício que acabou por ser premiado, mas com o edifício da America's Cup, formalmente mais ousado, mais vertiginoso, mais mediático. O edifício do Museu da Literatura Moderna é um edifício surpreendentemente silencioso e evocativo, que usa uma gramática arquitectónica quase clássica na sua proporção, da geometria básica e da simetria, do pilar cénico, etc (aqueles pilares não têm uma razão de ser estrutural, têm uma razão de ser puramente formal). Os materiais reforçam o conceito da materialidade e do peso, da resistência temporal à erosão, da solidez, do saber acumulado de séculos e séculos de construção. Tudo neste edifício evoca continuidade e evolução, e não ruptura e revolução, assumindo-se como herdeiro de um passado reconhecível, fazendo-o de um modo irremediavelmente moderno, contemporâneo, não deixando dúvidas sobre quem o fez e quando foi feito. Nada de pastiches, de mimetismos, de reproduções. É impossível não ver este prémio como uma reacção (e escolhi cuidadosamente a palavra). Que este edifício tenha sido construído para receber uma colecção de Literatura Moderna só reforça este seu carácter quase anti-moderno. O júri - e vamos nomeá-lo: Sunand Prasad, Alain de Botton (ah, ah, e esta?), Louisa Hutton, Tom Bloxham e Kieran Long - está de parabéns pela coragem. Porque foi preciso coragem, sem dúvida.

Temas fracturantes

[Q]uantos grãos de trigo fazem uma pilha de grãos de trigo?

Quantos grãos de trigo fazem uma pilha de grãos de trigo? Eu avançaria com 29. Acho importante ser um número ímpar, porque os pares cheiram mais a cena montada, e uma pilha é obviamente algo espontâneo e desordenado. Depois existe a quantidade que nos assombra da centena. Uma centena é um conjunto de cem qualquer coisa, e é sobre isso que devemos trabalhar. Seguindo esta lógica, parece-me que uma pilha não pode ser menos que um quarto de centena, como nos depósitos de gasolina: menos de um quarto já sabemos que é pouco, que a gasolina pode faltar a qualquer momento. Assim, uma pilha de grãos de trigo tem de conter mais do que 25 grãos de trigo e ser um número ímpar. 25 não pode ser, porque é um número demasiado redondo, vê-se mesmo que é 100 a dividir por 4. Ora, o próximo número ímpar é o 27, mas acho que 27 grãos de trigo não constituem uma pilha: 27 é divisível por 3 e por 9, e os números 3 e 9 são demasiado simbólicos para parecerem fruto do acaso. E assim chegamos ao 29. Que, além de não ter nenhuma relação com a centena, é, maravilha das maravilhas, um número primo, não é divisível por nenhum número que o precede, exceptuando o 1. Por isso uma pilha de 29 grãos de trigo não é uma pilha de outras pilhas mais pequenas - por exemplo, uma pilha de 30 grãos de trigo podia ser considerada como sendo 3 pilhas de 10 grãos, o que lhe retiraria esse carácter unitário. Uma pilha de grãos de trigo é um conjunto de 29 ou mais grãos de trigo. É o que proponho.

Vamos a eles

Nós somos o mais perfeito país da Europa: ouvimos falar com nojo dos negregados "interesses nacionais" da Polónia, do Reino Unido, da Itália, e nós, serenos e felizes, não temos nenhum "interesse nacional" a defender. Tudo que nos acontecer está bem. Assim, de facto, merecemos tudo o que nos aconteça.

Pacheco Pereira, que andará por estes dias a cascar na «Europa». Vamos a eles.

Doris Lessing

Prizing Doris Lessing - The Nobel committee finally gets it right, por Christopher Hitchens.

Para os puristas

Este vídeo é dedicado aos puristas, aos velhos, velhos do restelo, amarrados a uma caixinha de madeira húmida, que lançam juízos com a agilidade de uma G3, que constroem redomas atrás de redomas à volta do Fado, assim sempre com maiúscula, essa música que necessita de autorização, que só pode ser cantada pelo talento obscuro de quem nasce fadista, numa espécie de direito inato e aristocrático. Esta interpretação, que até é fraquinha, é dedicada àqueles para quem a Mariza não é fadista. Não é fadista? Então fiquem vocês com o fado, bom proveito.

Officially

Colbert 08.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

O que é

Mas o que é um «branco»? Ou um «negro»?

Cromossoma

Contaram-me. Eu acreditei mais por fé do que por adesão racional à tese. Entretanto fiz umas pesquisas que pareceram confirmar a ideia. Diz-me tu, que és cientista, se há algum fundo de verdade nesta coisa: a calvície (tive de ir ao dicionário, não me envergonho por isso) é hereditária pelo lado materno? É o cromossoma X responsável pela escassez de couro cabeludo nos homens? A observação estatística da minha família parece confirmar essa hipótese. Portanto, e ainda que possas ter tido acesso a uma fotografia do meu pai, o que duvido, acho que não terás essa sorte: daqui a 30 anos terei o aspecto do Lévy, se Deus quiser.

P.S: Podes elaborar, mas para a história contam os resultados. Marcaste um golo mais bonito? Talvez. Mas a encimar a lista estará o meu, o primeiro. O resto é o efeito bola-de-neve.

Apartment Story

so worry not
all things are well
we’ll be alright
we have our looks and perfume

terça-feira, 16 de outubro de 2007

O utilitarista

A minha mulher deduziu que eu sou um católico utilitarista. Isto porque acredito que a crença no Deus cristão é benéfica para a sociedade, quer Ele exista, quer não exista. À primeira vista pareceu-me uma coisa crua e pouco abonatória de se dizer (e ela disse-o com essa intenção). Mas, pensando melhor, haverá melhores razões para se ser católico? Isto é, claro, para quem precisa de razões.

2:18 am



O template do Gattopardo omite a hora das postangens, sabiamente. Mas toda a gente sabe que aquele texto sobre a constituição deve ter sido escrito às 2:18 am. A questão é: respeitamos mais um texto sobre a constituição escrito às 2:18 am, ou um texto sobre a constituição escrito às 2:18 pm? As coisas não são inocentes. Estejamos atentos.

(Na imagem: Claudia Cardinale, obviamente.)

Again



Will it be McEwan again?

A Europa



(...) Houve tempo em que o referendo não era decisivo, hoje é. Hoje é, porque, todas as vezes que se leva um documento aprovado pelos governos a voto referendário, ele, ou passa à tangente, ou é recusado. Isso criou um ponto sem retorno que torna obrigatória a legitimação do processo por via referendária. Não é um problema legal, é um problema político. (...)

Este parágrafo de Pacheco Pereira, apesar das vírgulas, é da maior importância. Há dias perguntava à minha mulher se ela achava que os gajos se estavam a preparar para aprovar o novo tratado sem referendo - nós falamos destas merdas, e muito mais, somos pessoas extraordinariamente interessantes - e ela respondeu-me, sem hesitar, «claro que sim». Ora isto é nojento e demasiado socrático para ser verdade. A Europa é muito bonita, paz e tal, multiculturalismo e fronteiras abertas. Tudo bem. Mas a Europa precisa de europeus que gostem da Europa. E se esta merda continua assim, ainda acaba tudo na Bastilha.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Sale della terra

Gattopardo, o novo blogue de Pedro Mexia e de Pedro Lomba.

Adenda: E como oportunamente lembra o Tiago, o primeiro post da Coluna Infame faz hoje 5 anos. Cinco anos.

Filhos e enteados

Vinha na capa do Expresso: Jardim Gonçalves, confrontado com o perdão da dívida ao seu filho, pronunciou-se dizendo que «as questões com clientes não passaram» por ele, portanto nada sabe. Podia ter dito isto ou outra coisa qualquer, como por exemplo «nunca gostei de tomar banho com patinhos amarelos», ou «ontem comi uma goiabada que nem vos conto». Se era para fazer uma afirmação sobre a estupidez de quem lê o Expresso, mais valia tê-lo feito com estilo. Mas o que me incomodou não foi isto, foi a naturalidade com que um homem que é um símbolo de uma das organizações religiosas mais moralistas e arrogantes que existem relegou um filho a um mero «cliente», numa tentativa cobarde de salvar a face. Nunca tive ilusões sobre o carácter mal-formado do Opus Dei, mas às vezes as coisas aparecem revestidas de uma dose de realidade incontornável e, não sei porquê, afectam-me. Enfim.

Caça

Alvíssaras a quem encontrar a dita.

domingo, 14 de outubro de 2007

O nó inglês nas gravatas

E agora, um post soberbo do Pedro Mexia, autor da melhor crónica sobre casamentos da história da crónica portuguesa:

Um colega diz-me que este blogue fala «excessivamente» de mulheres. Excessivamente? Mas qual é o outro tema relevante? A estrutura do ADN? Bola na mão ou mão na bola? Quem foi Charlotte Corday? As virtudes do sufrágio directo? A diferença entre as filosofias da natureza em Demócrito e Epicuro? A expressão «romance caleidoscópico»? As trufas? A Unesco? O Quinteto de Cordas opus 111 de Brahms? A torneira mal fechada que pinga pinga pinga noite dentro? O nó inglês nas gravatas? O apara-lápis? Os generais da Birmânia? A couve de Bruxelas?

Também falo dessas coisas às vezes. Mas é para disfarçar.

O casamento (6)

Voltei a falar de religião, como já vem sendo hábito. Lá estava eu, alguém que sabe que é cristão mas não tem a certeza que é crente, em amena cavaqueira com a esposa, uma agnóstica que acredita na superioridade civilizacional do cristianismo, e com um amigo ateu, anti-deísta, anti-qualquer coisa que cheire levemente a incenso. Sempre edificante, como são todas as conversas à volta do copo de uísque.

O casamento (5)

Eu não danço. Danço pouco, e em condições especiais. Isto é, preciso que algo me leve a dançar, ou seja, a música. Para que eu me submeta a essa violência é necessário que goste (muito) da música que estou a ouvir, o que raramente acontece em casamentos. Assim, não danço. Será isto falta de educação? Será isto um sinal de que não estou a gostar da festa? Devo levantar-me e ir para a pista de dança simular apreço pela Shakira? Paula Bobone, onde estás tu?

O casamento (4)

Fiquei na mesa de um dos Lobos. Só me disseram depois. Pareceu-me uma pessoa normal. Assim articulada.

O casamento (3)

Quase um ano depois, ainda caibo dentro do fato do meu casamento. Oh, glória.

O casamento (2)

Quando falo em «fim da liberdade» generalizo e não me incluo na consideração. Voyeurs, daqui não levam nada.

O casamento (1)

As novas tecnologias introduziram um novo flagelo no vulgarmente denominado «copo de água»: o vídeo. Não há casamento que não tenha o seu. O ritual é o da praxe: findo o café, servido o digestivo, e lá está o amigo da noiva a colocar o computador em posição. O resultado é sempre o mesmo, ou seja, uma elegia funerária. Fotos dele em bebé, fotos dela em bebé, fotos dele em criança, fotos dela em criança, fotos dele com os amigos, fotos dela com as amigas. Depois conhecem-se e o vídeo acaba. Ponto final, história contada, história fechada. O que se diz durante aqueles minutos é o que se diz numa cerimónia de casamento, mas condensado: a liberdade chegou ao fim, a vida de solteiro acabou. Os amigos e as amigas despedem-se, em fade out, com banda sonora apropriada. Nada disto é triste porque está tudo demasiado bêbado. É hora de festejar os noivos, de glorificar a sua eterna felicidade. A sua nova etapa, o caminho que maravilhosamente decidiram percorrer de mão dada. Mas o raio do vídeo volta para nos assombrar com as suas recordações. Viagens de finalistas, festas de adolescentes, jogatanas de futebol. A partir desse dia tudo passa e estar arrumado no passado. No passado irrecuperável e feliz. Viva os noivos.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Oh Christ

O tédio passeando pelo arvoredo

The Inner Life of Martin Frost fez-me lembrar outro martírio em forma de película a que me submeti nos últimos tempos, cujo tema parecia ser também o tédio passeando pelo arvoredo: Last Days.

Às 19.00

Hoje há Descubra as Diferenças vintage: Pedro Mexia sobre Agustina.

Raios partam a Academia

O primeiro Nobel da Paz atribuído a um powerpoint

Al Gore, prémio Nobel da Paz 2007.

(...) On Oct. 12, we shall hear again from Oslo, and I will be very surprised indeed if the peace prize is not awarded to Albert Gore Jr. (...)

É oportuno lembrar, pois, este texto de Christopher Hitchens.

Bola preta

The Inner Life of Martin Frost é um filme que queremos rapidamente esquecer porque expõe cruelmente todas as fragilidades que julgávamos (ou queríamos acreditar) não existir na escrita de Paul Auster. É um filme sobretudo mal feito e muito mal contado, pretensioso e mal interpretado. A ingenuidade do argumento revela-se na incapacidade de construir personagens de carne e osso, na incapacidade de meter vida naquilo tudo. Tudo se passa, percebemos, num universo austeriano idílico, sem o contacto do «mundo exterior», como às tantas é dito por Martin Frost. O problema é que a breve aparição do «mundo exterior» é a única coisa que não se deita fora no filme: a personagem de Michael Imperioli, um canalizador trotskista aspirante a escritor que pensa que Nova Iorque é uma ilha ao largo da costa europeia. Isso e Sophie Auster, a verdadeira salvadora do filme, emprestando a sua «voz de anjo» e os seus olhos azuis aos últimos 10 minutos deste desastre cinematográfico, numa cena final que parece ser um acto de contrição de Auster. Felizmente, já li tudo o que tinha para ler de Paul Auster, porque acho que depois disto não conseguiria ler mais nada. Bola preta.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

1,1 milhões de euros

O que escreveu parece ser sempre mais urgente do que como escreveu. Podemos não saber porque razão ganhou alguém o Nobel, mas ficamos sempre a saber os temas e as agendas e as geografias. Não saindo ainda do capítulo das informações irrelevantes, ficamos a saber, por exemplo, através de Hélder Macedo - que é «amigo pessoal» da escritora - que Doris Lessing é «muito amável e generosa» e que «dá muito apoio» aos «escritores mais novos», apaziguando assim as almas de quem não conhece Doris Lessing, lançando para cima da mesa as suas qualidades humanas. Também por parte da academia há sempre a necessidade de explicar o que um determinado escritor representa, ou seja, de justificar o prémio através daquilo que é representado e que não tem necessariamente a ver com literatura - por exemplo e neste caso, o feminismo. Nada disto tem a ver com Doris Lessing, a quem nunca li uma linha. Mas, a continuar assim, a nossa relação vai mesmo ficar por aqui.

Escusas de ficar assim



Filipe, pá, para o ano não foge. Garantido, estou-te a dizer. Mas, pelo sim pelo não, bem que podias escrever qualquer coisa sobre África, ou o aquecimento global, ou, melhor ainda, sobre o aquecimento global em África, um romance grandalhudo sobre uma família de aldeões nativos que morrem afogados com a subida das águas do mar, melhor, sobre uma família só de mulheres africanas que morre afogada pela subida das águas do mar, todas pertencentes a uma organização não governamental dedicada à luta contra a mutilação genital feminina. Só mesmo para dormirmos descansados.

Afinal

Afinal não foi o José António Saraiva.

Doris Lessing



É Doris Lessing, um inglesa nascida no que é hoje o Irão e que passou a infância no que é hoje o Zimbabwe.

Go Roth

O Pedro Mexia publica o ranking da Ladbrokes no que toca às apostas para o Nobel que é hoje anunciado. Philip Roth - uma das razões pela qual a academia tem vindo a ser desconsiderada - lidera uma lista onde não figura António Lobo Antunes. Eu achava alguma graça que Thomas Pynchon ganhasse, para ver como lidaria a academia com um laureado ausente da cerimónia - ou com uma recusa, possivelmente - embora faça parte da claque de Roth. Só falta acrescentar que no ano passado a Ladbrokes acertou em cheio em Pamuk, salvo seja. É ao meio-dia.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Beware of the architect



In spite of initial protests from the Savoyes, Le Corbusier insisted – supposedly on technical and economic grounds alone – that a flat roof would be preferable to a pitched one. It would, he assured his clients, be cheaper to construct, easier to maintain and cooler in summer, and Madame Savoye would be able to do her gymnastic exercises on it without being bothered by damp vapours emanating from the ground floor. But only a week after the family moved in, the roof sprang a leak over Roger’s bedroom, letting in so much water that the boy contracted a chest infection, which turned into pneumonia, which eventually required him to spend a year recuperating in a sanatorium in Chamonix.

(...)

‘After innumerable demands on my part, you have finally accepted that this house which you built in 1929 is uninhabitable,’ admonished Madame Savoye in the autumn of 1937. ‘Your responsibility is at stake and I have no need to foot the bill. Please render it habitable immediately. I sincerely hope that I will not have to take recourse to legal action.’ Only the outbreak of the Second World War and the Savoye family’s consequent flight from Paris saved Le Corbusier from having to answer in a courtroom for the design of his largely uninhabitable, if extraordinarily beautiful, machine-for-living.

Alain de Botton, no cada página mais imprescindível The Architecture of Happiness

José Rodrigues dos Santos

Apesar dos bestsellers não há razão nenhuma para menosprezarmos José Rodrigues dos Santos. O processo em que se viu envolvido, na sequência de declarações suas numa entrevista de domingo, não pode ser inocente. O tempo está propício para mártires, aqueles imolados no fogo da liberdade de expressão. Rodrigues dos Santos terá percebido isso, estará farto da RTP, quererá uma mudança profissional e, em vez de se demitir, contra-ataca com meia dúzia de declarações que exteriorizaram o que lhe vai na alma, ao mesmo tempo que provoca uma guerra que sabe não ter hipóteses de o dar como vencido. O povo estará com ele, e ele sabe-o. Há que tirar o chapéu.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Uma espécie

Ando há uns tempos a alimentar a tese de que Portugal precisa de uma catástrofe forte. Pode ser o terramoto de Lisboa (ainda que isso signifique ficar sem casa), pode ser uma guerra (improvável), pode ser qualquer coisa. Mas do que já estou farto é de pessoas com gel na cabeça, telemóvel 3g e carros tdi, a queixarem-se de que «este país não vai a lado nenhum». É uma espécie de incompetência dormente e inimputável, aquilo que vivemos.

Qual Menezes qual quê

O esvaziamento do PSD.

Caramba

Sim, eles são muito tolerantes, muito a favor dos gays e das igualdades de género e dos povos oprimidos em geral e dos palestianos em particular e do ar limpo de fumos e da saúde por decreto e da paz mundial e da Aliança das Civilizações e dos bichinhos todos incluídos os emigrantes sem papéis e que se estudem todas as religiões na escola menos a católica e que as meninas usem o véu e não façam ginástica e das manifestações contra a guerra do Iraque e do buen rollo universal. A direita, essa, é composta por uma cambada de betos taurinos homofóbicos belicistas ultracatólicos incultos e poucos viajados que sonham ser o Jose Maria Aznar e cuja única preocupação é a marca da roupa, as mamas das mulheres e não perder uma manifestação organizada pelo Foro da Família. Ao Bambi Zapatero, fazendo uso do seu já conhecido sentido de Estado, o vídeo pareceu-lhe "simpático e útil". Se a discussão passa pela radicalização do discurso, para ZP no pasa nada, tronco, e também não faz mal que se queimem fotos dos Reis de Espanha nem a bandeira de Espanha nem que se chame filho da puta aos líderes do PP porque também é simpático e útil. "Educação para Cidadania" tentará ensinar valores como a tolerância, a igualdade e o respeito pelo outro. Nota-se o que significa repeito para esta Esquerda Lacoste que acha que todos temos que ter amigos paneleiros, odiar os fumadores e gostar imenso de música árabe para ser tolerantes, boas pessoas e modernos. E são os que estão no Governo, hay que joderse.

Rititi
, pois

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Avistamentos

Pois eu cá cruzei-me com Manuel Maria Carrilho (sem Bárbara, lamentável) e, um quarteirão mais à frente, Luís Fazenda e uma senhora de cabelo branco muito curto que também devia ser do Bloco, passe o pelonasmo (acho que era aquela que fez o documentário sobre o não-arrastão de Carcavelos, essa tinha cabelo curto?)

O Douro e as suas vinhas

O Douro e as suas vinhas é onde Deus passa as férias. Pelo menos é o que eu faria se fosse omnipotente.

On Chesil Beach

Ok, eu ainda devo estar no «início fortíssimo e violento», mas depois conto como foi.

Diz quem lá esteve que vale a pena



Um dos melhores concertos do ano passado está já em DVD. É uma dica, como outra qualquer.

Tu quoque, Brute, fili mi?

O Francisco José Viegas rendeu-se à Bimby.

Publique-se

[...]A existência de constrangimentos na operacionalização do regime de permeabilidade estabelecido pelo Despacho n.º 14387/2004 (2.ª Série), de 20 de Julho, bem como os ajustamentos de natureza curricular efectuados nos cursos científico-humanísticos criados ao abrigo do Decreto-Lei n.º 74/2004, de 26 de Março, implicaram a necessidade de se proceder ao reajuste do processo de reorientação do percurso escolar do aluno no âmbito dos cursos criados ao abrigo do mencionado Decreto-Lei n.° 74/2004, de 26 de Março. Desta forma, o presente diploma regulamenta o processo de reorientação do percurso formativo dos alunos entre os cursos científico-humanísticos, tecnológicos, artísticos especializados no domínio das artes visuais e dos audiovisuais, incluindo os do ensino recorrente, profissionais e ainda os cursos de educação e formação, quer os cursos conferentes de uma certificação de nível secundário de educação, quer os que actualmente constituem uma via de acesso aos primeiros, criados ao abrigo do Decreto-Lei n.° 74/2004, de 26 de Março, rectificado pela Declaração de Rectificação n.° 44/2004, de 25 de Maio, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.°24/2006, de 6 de Fevereiro, rectificado pela Declaração de Rectificação n.º 23/2006, de 7 de Abril, e pelo Decreto-Lei n.° 272/2007, de 26 de Julho, e regulamentados, respectivamente, pelas Portarias n.° 550-D/2004, de 22 de Maio, alterada pela Portaria n.° 259/2006, de 14 de Março, n.° 550-A /2004, de 21 de Maio, com as alterações introduzidas pela Portaria n.° 260/2006, de 14 de Março, n.° 550-B/2004, de 21 de Maio, com as alterações introduzidas pela Portaria n.° 780/2006, de 9 de Agosto, n.° 550-E/2004, de 21 de Maio, com as alterações introduzidas pela Portaria n.° 781/2006, de 9 deAgosto, n.° 550-C/2004, de 21 de Maio, com as alterações introduzidas pela Portaria n.° 797/2006, de 10 deAgosto, e pelo Despacho Conjunto n.° 453/2004, de 27 de Julho, rectificado pela Rectificação n.°1673/2004, de 7 de Setembro. Assim, nos termos da alínea c) do artigo 4.° e do artigo 9º do Decreto-Lei n.° 74/2004, de 26 de Março, rectificado pela Declaração de Rectificação n.°44/2004, de 25 de Maio, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.° 24/2006, de 6 de Fevereiro, rectificado pela Declaração de Rectificação n.°23/2006, de 7 de Abril, e pelo Decreto-Lei n.° 272/2007, de 26 de Julho, determino:

O que se segue é indiferente. São onze páginas do mesmo teor. Uma linguagem obscura e burocrática, ao serviço da megalomania centralizadora. Uma obsessão normativa e regulamentadora, na origem de um afã legislativo doentio. Notem-se as correcções, alterações e rectificações sucessivas. Medite-se na forma mental, na ideologia e no pensamento que inspiram este despacho. Será fácil compreender as razões pelas quais chegámos onde chegámos. E também por que, assim, nunca sairemos de onde estamos.

António Barreto, no Público de 7 de Outubro, citado no Sorumbático, via Blasfémias

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Drive



Jack Nicholson a bater bolas na sua casa de Mulholland Drive, apanhado (a cena não é montada) por Annie Leibovitz, que o fora procurar devido à sua ausência prolongada do interior da casa, onde estavam a ser montadas as luzes.

Unfruitful and childish

What is a beautiful building? To be modern is to experience this as an awkward and possibly unanswerable question, the very notion of beauty having come to seem like a concept doomed to ignite unfruitful and childish argument. How can anyone claim to know what is attractive? How can anyone adjudicate between the competing claims of different styles or defend a particular choice in the face of the contradictory tastes of others? The creation of beauty, once viewed as the central task of the architect, has quietly evaporated from serious professional discussion and retreated to a confused private imperative.

Alain de Botton, The Architecture of Happiness

O bom filho à casa torna*

Falar para Dentro, um blogue de Nuno Costa Melancómico Santos.

* Cachecol que uma senhora segurava nas bancadas do Estádio da Luz, ontem, alusivo ao regresso de Rui Costa

Sobre o jogo de ontem

Aquela rapaziada do Shakhtar Paranaense é boa de bola.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Baú

Maravilhoso.

Crianças

No Reservations tem três motivos de interesse: Zeta-Jones (ainda que a apresentar os primeiros sinais de que já não é tão jovem quanto isso - uma magreza que não lhe assenta tão bem, por exemplo); Nova Iorque com a sua cara mais cool, o Greenwich Village, que chega a concorrer com Zeta-Jones para o prémio de menina mais gira da festa; e a fabulosa Abigail Breslin, a criança mais prodigiosa desde o miúdo do Sexto Sentido. Pena é que o filme desperdice aquilo que é uma boa ideia, e que decida cedo demais começar a tratar os espectadores como crianças. Mau, mauzinho.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Sacana

O Luís Miguel Oliveira chegou lá antes de nós, e sacou-nos o título que todos queríamos: UM BLOGUE NATIONALISTA. Sacana.

Junta a tua voz à nossa

Há uma vaga de fundo a varrer a Baixa de Lisboa, e não é um maremoto.

Lamentável, censurável, deplorável e lastimável

Um pequeníssimo parêntesis, sobre Luís Filipe Menezes. O recém-eleito líder da oposição anunciou que se vai manter na liderança da Câmara Municipal de Gaia. Ora, é a todos os títulos lamentável (mesmo censurável, deplorável e lastimável) que em Portugal se considere que a presidência de um dos maiores municípios do país e a liderança do maior partido da oposição sejam actividades que se possam fazer em part-time. Embora, e pensado melhor, talvez seja preferível ter LFM em part-time do que em full-time, seja no que for, pelo que esta é uma notícia a todos os títulos memorável, notável, apreciável e louvável.

Facial hair

O Benicio fica bem de barba? Ficará. Mas quem fica mesmo bem sou eu. É mais ou menos consensual, exceptuando a minha avó que diz que eu, e cito, «era bonito» antes da barba.

Do vocábulo

Um dos aspectos que a blogosfera devia agradecer a Vital Moreira é o seu constante esforço por colorir o espectro lexical do meio. Talvez seja apenas mais uma manifestação da sua crença numa certa superioridade linguística coimbrã, mas só um insensível não se comove com alguém que nos oferece, por exemplo, uma aleivosia.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Ai a nossa vida

Ainda na Atlântico (esta que é umas das suas melhores edições) Pulido Valente escreve sobre As Vidas dos Outros, um filme de que gostei muito e do qual Pulido Valente não gostou nada, tendo escrito precisamente sobre isso e aparentemente para quem, como eu, gostou do filme. Devo dizer que acertou em cheio: pela minha parte vou ali para o canto em penitência, envergonhado e arrependido.

As mesmas mulheres

(...) O facto de não termos gostado dos mesmos livros (e, presumo, das mesmas mulheres) não invalida uma vénia de cortesia.

João Pereira Coutinho, na Atlântico, numa das melhores homenagens a Eduardo Prado Coelho

O Vasco Valente



Esta é sem dúvida a melhor capa de sempre da Atlântico. Mas não pela imagem - que é muito boa - nem pelo que ela anuncia - um artigo de Rui Ramos intitulado Heil Che, algo que devia só por si elevar o preço de capa para o dobro - mas pelo que está lá em cima: reparem, se Vasco Pulido Valente assinasse só Vasco Valente, não restam dúvidas de que o seu nome superaria em tamanho o próprio nome da revista. Isto sim, é respeito.

Adenda: Acabo de comprar a revista e, como sempre, a minha primeira paragem foi o Jorge Madeira. Atenção: acaba de ser desmistificada a ideia de que o maradona é melhor do que o Jorge Madeira, ou melhor, de que o Jorge Madeira não é tão bom como o maradona. E tornou-se também óbvio que o título da sua coluna - O Homem da Margem - não tem anda a ver com o facto de o Jorge Madeira - bem como o maradona - morar do outro lado do rio.

Bom gosto

Vá lá. Não custa nada: perguntem-me o que estou a ler. Perguntem. Vamos. É só um instantinho. Vá vá, vá lá. Perguntem. O que é que vos custa? Perguntem-me o que estou a ler! Também é preciso ter má vontade para... ah! O que estou a ler? Ainda bem que perguntam:

1. On Chesil Beach, Ian McEwan
2. The Architecture of Happiness, Alain de Botton
3. Where the Stress Falls, Susan Sontag

Caramba. Há muito tempo que não apresentava uma lista assim tão irrepreensível. Isto é que é bom gosto.

Adenda: E a Amazon, pressentindo este post, acaba de me entregar Churchill, de John Keegan, um livro que me custou 0.01£ mais portes. Portanto, além de bom gosto tenho olho para o negócio.