Por exemplo:
Quem não lê é como quem não vê
Vá lá pega num livro e desliga a têvê
Confessa lá agora que tu até te sentes mal
Por só leres as legendas e os títulos no jornal
Quem não lê é como quem não vê
E diz-me afinal o que é melhor que ler
Talvez comer, talvez beber, talvez...
Mas afinal a leitura dá-te alimento intelectual
Quem não lê é como quem não vê
Vai lá num instante à tua estante e pega no
Dante
Mas se o Inferno te der vontade de fugir
Ai pega na Bíblia pode ser que escapes de lá
Quem não lê é como quem não vê
junta a prosa à gasosa e mistura ainda um sofá
Deixa marinar e uma tarde bem passada é o que dá
O Pessoa pode te tornar noutra pessoa
Porque a poesia portuguesa tem tanta coisa boa
Mas e que tal prosa bíblica, ou um salmo, meu irmão?
Saramago é bom mas não te dá a salvação
Quem tem medo do Lobo Antunes devia ter temor a Deus (bis)
Quem tem medo,
do Lobo Antunes
do Lobo Antunes
do Lobo Antunes.
A dimensão pessoana da obra musical do Tiago Cavaco é algo a que devemos estar atentos, sob pena de estarmos a deixar passar em branco e mesmo por baixo dos nossos narizes a mais nobre manifestação de roque cristão que jamais se fez em Portugal. Começado com a punch-line, continuemos a falar mais a sério, para dizer que não é só de roque cristão que estamos a falar: é de roque, ponto. Primeiro, as letras. Em Portugal as letras são miseráveis, são péssimas, e ainda há as do Abrunhosa. As letras dos Ninivitas, ou dos Lacraus, ou do Guillul a solo (cito o já clássico A Isabel é Intelectual [porque perdeu a virgindade na Feira do Livro]) são a nossa reconciliação com a música portuguesa. A luz ao fundo do túnel (notem que eu vou de férias hoje, pelo que imaginam o que pode ter sido esta minha semana, estou aqui que nem posso). Fazer letras não é fácil. Eu toco numa banda e nunca escrevi uma letra, porque nunca consegui. É difícil encontrar o tom, porque se escreve algo que não é para ser lido mas para ser cantado e, no meu caso, sempre que tentei tudo se perdeu pelo caminho. Neste agrupamento baptista (cada vez que me cruzo com protestantes fico com vontade de me converter) a palavra toma a dianteira (cá está, são mesmo protestantes, os gajos) mas o que vem atrás não é para ignorar. O bom humor esconde uma instrumentação inventiva (como o maravilhoso oboé no refrão do não menos maravilhoso tema A esposa confessa) e trabalhada com dedicação. Centro-me nos Ninivitas, mas não quero relegar para segundo plano os Lacraus, cuja estética punk está, no entanto, um pouco mais distante de mim. O que o Tiago e os amigos andam a fazer é uma lição de bom gosto num meio com um espectro de João Pedro Pais a Blind Zero, de André Sardet a D'zrt (é assim que se escreve?) Afinal, há roque português, há música portuguesa contemporânea para lá dos Madredeus e do Rodrigo Leão, há, sobretudo, doses desmedidas de bom humor, inteligência, algum sarcasmo e muita evangelização. Eu sou católico. Sofro muito com a «música de igreja», sofre-se muito com a «música de igreja». Nós, católicos, sabemos escrever mas não sabemos cantar. E nós, os católicos, vamos cada vez menos à missa. Ora aqui está uma boa dica: ponham guitarras eléctricas no coro, ponham amplificadores Marshall na sacristia. Esta também é uma das lições da Flor Caveira.
Enfim, vou de férias, aqui fica o mar, usando o Complexidade e Contradição como janela.
sexta-feira, 20 de julho de 2007
Série frases que não se lêem em mais lado nenhum
Mais: o A Cidade e as Serras é quase melhor que a A Reliquia e o Fabio Coentrão juntos. Não vou voltar a este assunto.
Esta vai sem referência. Quem merece ler esta frase, sabe quem a escreveu, e vai à fonte se quiser. Quem não souber, sem hesitação, quem é o autor, não merece saber quem é. Chamem-lhe uma pescadinha de rabo na boca, chamem-lhe o que quiserem. Dica: corram-na pelo spellcheck.
Esta vai sem referência. Quem merece ler esta frase, sabe quem a escreveu, e vai à fonte se quiser. Quem não souber, sem hesitação, quem é o autor, não merece saber quem é. Chamem-lhe uma pescadinha de rabo na boca, chamem-lhe o que quiserem. Dica: corram-na pelo spellcheck.
Os meus amigos do CDS que me desculpem
Antes que comece a maledicência compulsiva, devo dizer que Júdice tem toda a razão. E se calhar vivemos hoje a oportunidade de corrigir um defeito de nascença da democracia portuguesa, dado o estado de extrema fragilidade a que chegaram o PSD e o CDS. Sim, defendo o sistema bipartidário: como se viu nas últimas intercalares, o aumento da oferta não é necessariamente benéfico para quem procura. Republicanos / democratas; trabalhistas / conservadores; PSOE / PP: é esse o meu modelo. Júdice tem razão.
quinta-feira, 19 de julho de 2007
Silly season
Ser ou não ser, eis a questão. E, ao mesmo tempo que confesso não resistir a alvos fáceis, espero que não seja. É uma questão de higiene, se é que me entendem.
Adenda: acabo de publicar o post e descubro isto. Estava plenamente convencido de que o blogue pedrosantanalopes.blogspot.com não pertencia ao próprio. No entanto, o estilo (leia-se: os pontapés na língua) é o mesmo. Há fortes hipóteses de estarmos perante uma coisa genuína. Pobre Pedro.
P.S: A 16 de fevereiro de 2005, escrevia PSL:
Pelo que tenho visto nestes dias, já vos posso dizer que considero que se está a criar um movimento de apoio ao PPD/PSD em todo o País, sem precedentes na história democrática portuguesa.
Adenda: acabo de publicar o post e descubro isto. Estava plenamente convencido de que o blogue pedrosantanalopes.blogspot.com não pertencia ao próprio. No entanto, o estilo (leia-se: os pontapés na língua) é o mesmo. Há fortes hipóteses de estarmos perante uma coisa genuína. Pobre Pedro.
P.S: A 16 de fevereiro de 2005, escrevia PSL:
Pelo que tenho visto nestes dias, já vos posso dizer que considero que se está a criar um movimento de apoio ao PPD/PSD em todo o País, sem precedentes na história democrática portuguesa.
Dá-lhes, Casanova
(...)
Começando por baixo, parece-me que Tintim no Congo é "racista, desumano e cruel" da mesma maneira que certas nuvens no céu se assemelham a ovelhas, saxofones ou cafeteiras Moulinex; é preciso tiranizar o ângulo de visão e estar à procura do que se quer ver.
(...)
Mas admito ter dúvidas sobre isto, o que me coloca em desvantagem imediata perante qualquer pessoa que não as tenha. O Comboio Azul não parece ter grandes dúvidas sobre isto. "Não tenho dúvidas", para não deixar dúvidas, é a primeira frase do post, o que me deixa algumas dúvidas.
(...)
Talvez isto não seja nada mais grave que uma falha nos circuitos de distribuição das dúvidas, porque é tristemente frequente eu sentir o peso de dúvidas a mais, o que me faz suspeitar que provavelmente ando por aqui há anos a sentir as dúvidas de terceiros, incluindo as do Comboio Azul.
(...)
É indiscutível que os africanos desenhados no livro são caricaturizados (os lábios grotescamente inchados, etc), mas, e porque nestas coisas é por vezes necessário reiterar o pateticamente óbvio, convém lembrar que estamos a falar de bonecos num livro de banda desenhada, e que a cabeça do próprio Tintim é um pêssego corado com dois furinhos no meio.
(...)
Porque a questão de fundo é essa: quem sucumbe à tentação estruturalista de olhar para um álbum de BD como um atalho para diagnosticar maleitas culturais arrisca-se a encontrar inúmeros elementos objeccionáveis.
(...)
Podia continuar, mas tenho de trabalhar. O que acabei de fazer foi escolher frases avulsas deste grande (nos dois sentidos) post do "Rogério Casanova". Foram escolhidas quase ao acaso. Saiam a correr para os quiosques de jornais, ou mesmo para as livrarias, e tragam-me, em 20 minutos, frases destas. Não conseguem. É o triunfo da blogosfera, vermes.
Começando por baixo, parece-me que Tintim no Congo é "racista, desumano e cruel" da mesma maneira que certas nuvens no céu se assemelham a ovelhas, saxofones ou cafeteiras Moulinex; é preciso tiranizar o ângulo de visão e estar à procura do que se quer ver.
(...)
Mas admito ter dúvidas sobre isto, o que me coloca em desvantagem imediata perante qualquer pessoa que não as tenha. O Comboio Azul não parece ter grandes dúvidas sobre isto. "Não tenho dúvidas", para não deixar dúvidas, é a primeira frase do post, o que me deixa algumas dúvidas.
(...)
Talvez isto não seja nada mais grave que uma falha nos circuitos de distribuição das dúvidas, porque é tristemente frequente eu sentir o peso de dúvidas a mais, o que me faz suspeitar que provavelmente ando por aqui há anos a sentir as dúvidas de terceiros, incluindo as do Comboio Azul.
(...)
É indiscutível que os africanos desenhados no livro são caricaturizados (os lábios grotescamente inchados, etc), mas, e porque nestas coisas é por vezes necessário reiterar o pateticamente óbvio, convém lembrar que estamos a falar de bonecos num livro de banda desenhada, e que a cabeça do próprio Tintim é um pêssego corado com dois furinhos no meio.
(...)
Porque a questão de fundo é essa: quem sucumbe à tentação estruturalista de olhar para um álbum de BD como um atalho para diagnosticar maleitas culturais arrisca-se a encontrar inúmeros elementos objeccionáveis.
(...)
Podia continuar, mas tenho de trabalhar. O que acabei de fazer foi escolher frases avulsas deste grande (nos dois sentidos) post do "Rogério Casanova". Foram escolhidas quase ao acaso. Saiam a correr para os quiosques de jornais, ou mesmo para as livrarias, e tragam-me, em 20 minutos, frases destas. Não conseguem. É o triunfo da blogosfera, vermes.
quarta-feira, 18 de julho de 2007
Quem tem medo do Lobo Antunes?
Chain reaction
1. Are you more engaged by sarcasm or gentility on the internet?
Sarcasm. I find those genitality things a little bit disgusting, and I'm all in favor of arresting those filthy bastards.
2. Do you believe your political views define you?
From my window I see a bullfight arena. Does that make me a traditionalist?
3. What makes someone worthy of a relationship?
I would say that being married to me is a good asset.
4. Do you find it hard to get up in the morning?
Yes. Occasionally, in the morning, it gets hard.
5. Why am I such a chicken about going to the doctor? And why am I dreading tomorrow as a result?
Religious belief: I don't go to doctors. I let myself deteriorate to a point where the doctor has to come to me.
6. What’s the last most beautiful thing you saw?
Lionel Messi's goal against Mexico, at the Copa America, on YouTube.
7. If you could meet any one person you don’t know, who would it be? Why?
How am I supposed to be interested in someone I don't even know? Are you stupid? Oh. Sorry. Like someone I don't know personally? Sorry about that. I'll go with Angelina Jolie. Pretty basic, huh?
8. Are you easy to love?
Ask my wife. She's the expert.
(Via Pedro M.)
Sarcasm. I find those genitality things a little bit disgusting, and I'm all in favor of arresting those filthy bastards.
2. Do you believe your political views define you?
From my window I see a bullfight arena. Does that make me a traditionalist?
3. What makes someone worthy of a relationship?
I would say that being married to me is a good asset.
4. Do you find it hard to get up in the morning?
Yes. Occasionally, in the morning, it gets hard.
5. Why am I such a chicken about going to the doctor? And why am I dreading tomorrow as a result?
Religious belief: I don't go to doctors. I let myself deteriorate to a point where the doctor has to come to me.
6. What’s the last most beautiful thing you saw?
Lionel Messi's goal against Mexico, at the Copa America, on YouTube.
7. If you could meet any one person you don’t know, who would it be? Why?
How am I supposed to be interested in someone I don't even know? Are you stupid? Oh. Sorry. Like someone I don't know personally? Sorry about that. I'll go with Angelina Jolie. Pretty basic, huh?
8. Are you easy to love?
Ask my wife. She's the expert.
(Via Pedro M.)
Aí está a pré-época
O Henrique Raposo acha que o Benfica vai ser campeão a jogar com o Rui Costa numa posição onde é preciso correr que se farta. Caro Henrique, vamos ser campeões, sim, mas não dessa maneira. Aí vai jogar o Katsouranis, que tem 3 pulmões, o que a juntar aos 2 do Manuel Fernandes e aos 8 do Petit resulta no meio-campo com mais brônquios da Europa. O Rui Costa vai para o banco, para jogar os últimos 18 minutos de todos os jogos e mesmo assim chegar ao fim do campeonato com o maior número de assistências da liga. E é por demais evidente que o Zoro vai jogar à direita, no lugar do Nélson, e o David Luiz será titular. Já na frente, algo me vai dizendo para desconfiar desse Bergessio. O chinês inspira-me mais confiança e sempre vende mais camisolas (há todo um mercado de mil milhões de almas para explorar.)
terça-feira, 17 de julho de 2007
P. G. Wodehouse no metrô
A sério? Um ateu, é o que ele é? Eu próprio nunca me interessei por esse tipo de coisa. Na verdade, na escola particular até cheguei a receber um prémio por Conhecimento da Bíblia.
Época de Acasalamento, P. G. Wodehouse, em tradução de Alexandre Soares Silva, com adaptação para português de Portugal de Carla Hilário Quevedo e Fernanda Mira Barros.
Esse livrinho daí é perfeito. Pelo menos as primeiras 31 páginas - não escondo o meu entusiasmo. A verdade é que não estamos preparados para o humor. Ouvimos falar, as pessoas comentam, o Coutinho apregoa. Mas não estamos preparados, não com esta inteligência e elegância. E a edição é bonitinha, amarela, a capa é bonita e tem uma foto de P. G. Wodehouse na página 3 a escrever. Hoje, no metro, bem à minha frente, estava um sujeito igual ao Wodehouse, tirando os óculos, que não tinha. Eu segurei o livro à minha frente, aberto na página que tem a foto do escritor, braços esticados à altura dos olhos, e coloquei-me lado a lado com o meu colega de carruagem. E disse: «O senhor é igual a P. G. Wodehouse. Já alguém lhe tinha dito?» Ao que ele respondeu:
- Quem?
- P. G. Wodehouse.
- Não sei quem é.
- É um escritor.
- Nunca ouvi falar.
- Você não lê o João Pereira Coutinho?
- Quem?
- Se lesse já teria ouvido falar.
- Não ouvi.
- Mas você é impecavelmente parecido, curioso, não é?
- Curioso porquê?
- Porque ele acabou de ser traduzido pelo Alexandre Soares Silva, e eu acabei de comprar o livro, e você está aqui mesmo à minha frente.
- Alexandre quê?
- Soares Silva.
- Não conheço.
- Ele traduziu o P. G. Wodehouse.
- Pare de falar nesse homem, por favor.
E chegámos à estação do Campo Pequeno, pelo que saí.
Época de Acasalamento, P. G. Wodehouse, em tradução de Alexandre Soares Silva, com adaptação para português de Portugal de Carla Hilário Quevedo e Fernanda Mira Barros.
Esse livrinho daí é perfeito. Pelo menos as primeiras 31 páginas - não escondo o meu entusiasmo. A verdade é que não estamos preparados para o humor. Ouvimos falar, as pessoas comentam, o Coutinho apregoa. Mas não estamos preparados, não com esta inteligência e elegância. E a edição é bonitinha, amarela, a capa é bonita e tem uma foto de P. G. Wodehouse na página 3 a escrever. Hoje, no metro, bem à minha frente, estava um sujeito igual ao Wodehouse, tirando os óculos, que não tinha. Eu segurei o livro à minha frente, aberto na página que tem a foto do escritor, braços esticados à altura dos olhos, e coloquei-me lado a lado com o meu colega de carruagem. E disse: «O senhor é igual a P. G. Wodehouse. Já alguém lhe tinha dito?» Ao que ele respondeu:
- Quem?
- P. G. Wodehouse.
- Não sei quem é.
- É um escritor.
- Nunca ouvi falar.
- Você não lê o João Pereira Coutinho?
- Quem?
- Se lesse já teria ouvido falar.
- Não ouvi.
- Mas você é impecavelmente parecido, curioso, não é?
- Curioso porquê?
- Porque ele acabou de ser traduzido pelo Alexandre Soares Silva, e eu acabei de comprar o livro, e você está aqui mesmo à minha frente.
- Alexandre quê?
- Soares Silva.
- Não conheço.
- Ele traduziu o P. G. Wodehouse.
- Pare de falar nesse homem, por favor.
E chegámos à estação do Campo Pequeno, pelo que saí.
Anda aqui um gajo a esfalfar-se
Lamentável, João Miguel, lamentável. Essa do «Estádio da Luz», lamentável...
As manhãs
Caro Vasco,
Venho retratar-me da boca foleira e desse modo tentar apaziguar o teu espírito, na esperança que isto vá ao encontro do «consolo» que procuras. E digo-te porquê. Ganhaste a minha solidariedade à primeira frase, onde juntas a expressão «despedida tramada» e «aeroporto». Quem já passou por isso (mais do que uma vez) deve respeitar os seus semelhantes. E as manhãs são as mais fodidas, como sabemos. Quando a despedida se dá ao raiar do sol, espera-nos um longo dia de purgatório angustiante, provavelmente com compromissos não evitáveis e a todos os títulos indesejáveis. Do mal o menos: a noite sempre foi a melhor companheira para a solidão. Por isso te digo, camarada Vasco, não ligues ao que digo, ignora a minha voz. Mereces a tua paz. Um abraço.
Venho retratar-me da boca foleira e desse modo tentar apaziguar o teu espírito, na esperança que isto vá ao encontro do «consolo» que procuras. E digo-te porquê. Ganhaste a minha solidariedade à primeira frase, onde juntas a expressão «despedida tramada» e «aeroporto». Quem já passou por isso (mais do que uma vez) deve respeitar os seus semelhantes. E as manhãs são as mais fodidas, como sabemos. Quando a despedida se dá ao raiar do sol, espera-nos um longo dia de purgatório angustiante, provavelmente com compromissos não evitáveis e a todos os títulos indesejáveis. Do mal o menos: a noite sempre foi a melhor companheira para a solidão. Por isso te digo, camarada Vasco, não ligues ao que digo, ignora a minha voz. Mereces a tua paz. Um abraço.
Michael J. Fox
Hoje, ao ler o Metro (coisa que faço com regularidade eucarística às terças-feiras por causa do nosso maradona) reparo numa notícia que dá conta da eleição de Salma Hayek como a mais sexy de qualquer coisa. Até aqui, tudo bem. Mas o que assaltou o meu indefeso espírito foi a informação dada na notícia sobre a sua idade. 40 anos. Confesso que estremeci e desconfiei: afinal, tratava-se de um gratuito. O mais confiável IMDB deu a estocada final da confirmação do inevitável: Salma Hayek tem mesmo 40 anos. 40 anos, 41 a 6 de Setembro próximo. Notem, para mim uma actriz de 40 anos é, sei lá, a Kim Bassinger (isso mesmo, 53 anos). É o que dá ficar até às 3 da manhã a gravar o que pensávamos ser Rock e que afinal é Indie-Pop: ficamos presos na adolescência.
Outros já perderam a vergonha toda e citam cidadãs nascidas em 1990, ou seja, gente com idade para ser filha da Salma Hayek.
1ª lei da blogosfera: nunca desperdices uma oportunidade de postar uma foto da Salma Hayek.
segunda-feira, 16 de julho de 2007
Over and out
Só mais três notas finais, mesmo finais, bare with me:
- Fernando Negrão teve 15% dos votos. É isto que representa hoje o PSD: 15% dos eleitores (aqueles que votam sempre, e sob qualquer circunstância, no «partido»). Não acredito que Fernando Negrão tenha ganho um voto sequer.
- Há 1501 nacionalistas em Lisboa (estes não se abstêm) . Não parecem muitos, mas é imaginá-los todos juntos e o cenário mete medo.
- Na minha freguesia (Madalena, 396 inscritos, 173 votantes), Gonçalo da Câmara Pereira teve 1 voto (mas o nazi não teve nenhum). Ou seja, o bom do Gonçalo tem uma tia que é minha vizinha.
- Fernando Negrão teve 15% dos votos. É isto que representa hoje o PSD: 15% dos eleitores (aqueles que votam sempre, e sob qualquer circunstância, no «partido»). Não acredito que Fernando Negrão tenha ganho um voto sequer.
- Há 1501 nacionalistas em Lisboa (estes não se abstêm) . Não parecem muitos, mas é imaginá-los todos juntos e o cenário mete medo.
- Na minha freguesia (Madalena, 396 inscritos, 173 votantes), Gonçalo da Câmara Pereira teve 1 voto (mas o nazi não teve nenhum). Ou seja, o bom do Gonçalo tem uma tia que é minha vizinha.
Exposição de arquitectura
Vi, ontem, a exposição da obra de Siza no Museu da Electricidade. E fiquei sem compreender as críticas que lhe têm sido feitas. Voltarei ao assunto.
Os espanhóis que o aturem
Saramago quer que Portugal seja uma província de Espanha. Ele já lá está, e parece que nos quer levar a todos. Pessoalmente preferia que Saramago renunciasse à nacionalidade e adoptasse a espanhola. Sempre nos livrávamos da mancha que é o seu Nobel.
O dia seguinte
Tiago Mendes, numa análise interessante e um pouco a contraciclo (afirmar que Costa «é o grande derrotado da noite», ou duvidar da condição de derrotados de Telmo Correia e Paulo Portas é, no mínimo, discutível.) Ainda assim, há um parágrafo aparentemente marginal que, no entanto, explica muita coisa acerca do CDS:
(...) [P]ouco mais restava a Portas que não acompanhar o seu candidato na limpeza de graffitis e nos beijinhos de rua. (Parece que Portas andava a dar dois e que Correia se terá esquecido de não manter o seu habitual protocolo, deixando uma senhora pendurada com um beijinho, o que dificilmente não será, no contexto, uma certa falta de educação, mas deixemos isso de lado.) (...)
O CDS, que teve até há bem pouco tempo uma das melhores pessoas em Lisboa (Nogueira Pinto), está cada vez mais fechado, em circuito interno. Fala sempre para dentro de si mesmo, escolhe sempre a posição de último reduto moral da sociedade, decide sempre pelos actos honrosos mas inúteis (como a demissão de Telmo Correia da vice-presidência, ele que é um dos portistas mais competentes - e talvez se explique por aqui a recusa de Nobre Guedes em ser o nº 1.) Reparem como ideologicamente eu não estou muito longe do CDS, e isso acontece sempre que o PSD se lembra de se colar ao centro. Para todos os efeitos, o CDS é o único partido ligeiramente liberal que temos (e a lei do trabalho de Bagão Félix é um bom exemplo daquilo que o partido pode trazer para o país). Infelizmente, é também um partido cheio de gente pouco qualificada e demasiadamente democrata-cristã para meu gosto: fica-se com a sensação de que o CDS gastou mais recursos no referendo ao aborto do que nestas eleições intercalares, o que é um disparate. Por tudo isto, não espanta que Telmo não tenha sido eleito e, para ser sincero, depois da campanha que dez duvido mesmo se fará falta.
(...) [P]ouco mais restava a Portas que não acompanhar o seu candidato na limpeza de graffitis e nos beijinhos de rua. (Parece que Portas andava a dar dois e que Correia se terá esquecido de não manter o seu habitual protocolo, deixando uma senhora pendurada com um beijinho, o que dificilmente não será, no contexto, uma certa falta de educação, mas deixemos isso de lado.) (...)
O CDS, que teve até há bem pouco tempo uma das melhores pessoas em Lisboa (Nogueira Pinto), está cada vez mais fechado, em circuito interno. Fala sempre para dentro de si mesmo, escolhe sempre a posição de último reduto moral da sociedade, decide sempre pelos actos honrosos mas inúteis (como a demissão de Telmo Correia da vice-presidência, ele que é um dos portistas mais competentes - e talvez se explique por aqui a recusa de Nobre Guedes em ser o nº 1.) Reparem como ideologicamente eu não estou muito longe do CDS, e isso acontece sempre que o PSD se lembra de se colar ao centro. Para todos os efeitos, o CDS é o único partido ligeiramente liberal que temos (e a lei do trabalho de Bagão Félix é um bom exemplo daquilo que o partido pode trazer para o país). Infelizmente, é também um partido cheio de gente pouco qualificada e demasiadamente democrata-cristã para meu gosto: fica-se com a sensação de que o CDS gastou mais recursos no referendo ao aborto do que nestas eleições intercalares, o que é um disparate. Por tudo isto, não espanta que Telmo não tenha sido eleito e, para ser sincero, depois da campanha que dez duvido mesmo se fará falta.
domingo, 15 de julho de 2007
Da irrelevância do PND
Há outro mini-facto particularmente interessante: o candidato xenófobo ficou acima de Manuel Monteiro.
Manuel Maria
Um facto incomodativo lembrado pelo João Miranda:
António costa teve menos votos de Manuel Maria Carrilho em 2005. António Costa teve 57 907. Carrilho em 2005 teve 75 022.
António costa teve menos votos de Manuel Maria Carrilho em 2005. António Costa teve 57 907. Carrilho em 2005 teve 75 022.
3 notas
- Os 5 mini candidatos tiveram, mais coisa menos coisa, 1000 votos. Ou seja, um quinto das assinaturas necessárias para concorrer.
- António Costa foi eleito com 60 mil votos, um Estádio da Luz. Ou seja, se Luís Filipe Vieira fosse candidato tinha fortes hipóteses de ganhar.
- À frente do Hotel Altis, em directo para a SIC, um grupo de idosos diz que não sabia para o que vinha quando saiu a «excursão» lá da aldeia. Uma vergonha.
- António Costa foi eleito com 60 mil votos, um Estádio da Luz. Ou seja, se Luís Filipe Vieira fosse candidato tinha fortes hipóteses de ganhar.
- À frente do Hotel Altis, em directo para a SIC, um grupo de idosos diz que não sabia para o que vinha quando saiu a «excursão» lá da aldeia. Uma vergonha.
Resumo
Ganhou a lista em quem votei. Não estou feliz por isso: encaro este voto como um investimento, uma participação. Quero ver resultados e vou estar atento. E anseio pelo side-effect mais importante, a demissão de Marques Mendes.
As autárquicas
Tenho pena que sucessivamente as eleições autárquicas não consigam mostrar-se importantes para a população. Numa democracia saudável quanto maior é o grau de proximidade da eleição,menor é abstenção. A eleição da Junta de Freguesia deveria ser muito mais participada do que a eleição para o parlamento europeu. Como dizia Miguel Esteves Cardoso naquele programa do Rui Ramos, o nosso problema é a incapacidade de pensar localmente, e de nos envolvermos localmente. Cá não. As autárquicas são uma espécie de legislativas B; tudo se mistura, todas as interpretações são legítimas. Fala-se mais do governo do que da APL. Enfim.
Manuel Salgado
Cá vamos então. Hoje é o dia zero para Manuel Salgado. Há muito que Salgado quer ir para a câmara e que está motivado para isso. Há muito que defendo que é o homem certo para o lugar, por isso votei na lista que integrava, por coerência). Salgado conhece a cidade como poucos, tem aquilo que todos apregoam mas nunca provam (uma «visão estratégica»), tem capacidade de gestão urbanística, e já provou que se dá bem a liderar equipas grandes e multi-disciplinares. Amanhã começa o fogo cruzado: a distrital do PS e o aparelho vão começar a fazer telefonemas e a empurrar por todos os lados. Salgado ou resiste e ganha a hipótese de ficar na história de Lisboa, ou decide que «não está para isto» e invoca, daqui a 3 meses, «motivos pessoais» para a demissão. O que, confesso, acho que é o mais provável. Espero estar enganado.
Uma palavra para Helena Roseta
Está de parabéns pelo resultado. Tinha uma tarefa difícil: roubar votos ao PS e António Costa. Consegui-o (Sá Fernandes e Ruben Fonseca não foram afectados). Eu não gosto da arquitecta; fez um péssimo lugar como presidente da Ordem dos Arquitectos; é, de certo modo, demasiado ingénua e populista como política; a sua campanha foi péssima. Ainda assim, o resultado aí está, e o grupo Manuel Alegre mostrou mais uma vez a sua força.
Na TVI
Constança Cunha e Sá foi substituída por Helena Matos. Houve aqui qualquer coisa que se perdeu.
A Assembleia Municipal
A Assembleia Municipal mantém-se com maioria PSD, liderada por Paula Teixeira da Cruz, a partir de hoje a principal candidata às eleições 2009.
O Táxi
Vejo Pedro Feist na sede de Carmona. Some-se Maria José Nogueira Pinto e está explicada a votação de Telmo.
Sá Fernandes
Quer «baixar o preço das casas». Falou em «cotas». Os estúpidos que compraram casa que se lixem. O mercado é mau, é quase tão mau como a Bragaparques.
1 + 1
Obviamente (e confirmados os votos) que as candidaturas de Helena Roseta e de Carmona Rodrigues nada têm de «independente»: votaram em Roseta os socialistas descontentes com Sócrates; votaram em Carmona os sociais-democratas descontentes com Marques Mendes.
Multimedia
Estou a ver Pacheco Pereira na SIC e à espera de vê-lo carregar no enter a meio de uma frase para publicar um post pendente.
O conto do vigário
Um dos problemas de alguma arquitectura contemporânea (por exemplo, os Super Dutch) é a sua fealdade (reparem, por exemplo, a inanidade que é este alçado de topo). Felizmente não é algo que seja estruturalmente errado, e é facilmente corrigível. Infelizmente não é facilmente ignorável. Viva o 73/73.
Isto promete
O clima pôs-se de luto, como convém, para ajudar no combate à abstenção. Saramago dá uma entrevista onde diz que Portugal deveria ser absorvido por Espanha. É meio dia; a afluência às urnas aqui em casa está nos 0%.
sábado, 14 de julho de 2007
Mortiço, morticito
Já tinha reparado nos autocolantes e no poster com a cara do candidato. Mas como as portas estavam sempre fechadas e nunca lá vi ninguém por perto, não liguei. Hoje, ao chegar a casa, reparei nos carros da SIC. Fui a internet e confirmei: a sede de candidatura de José Sá Fernandes é na minha rua, a um quarteirão de distância. Só hoje me apercebi disso: é o que se chama uma campanha dinâmica.
sexta-feira, 13 de julho de 2007
Bah
Estacionamento selvagem? Bah. Está para durar; há cada vez mais carros em Lisboa e Lisboa está cada vez mais selvagem. Lixo acumulado? Bah. Os bairros de Lisboa, quando está sem chover por mais de um mês, são um contentor de lixo, detritos empurrados pelo vento, matéria suja ou orgânica deitada para a rua pelos queridos munícipes e pelas obras que nunca páram e ocupam a via pública como se todos tivessem de suportar a massa do cimento. Grafiti? Bah. Os meninos são protegidos pela ideia obtusa que vê naquilo uma «arte urbana» que tem o direito de sujar paredes públicas & privadas, granitos e gessos, tudo o que aparece à frente – sem serem punidos por atentado contra a propriedade e o bem público (a paisagem é um bem público). Jardins desleixados? Bah. Só uma parte ínfima dos senhores munícipes aproveita realmente os jardins; a partir das oito da noite, os jardins ficam sem luz e sem animação, entregues à fauna nocturna, porque os senhores munícipes ou estão sitiados pela selva e por essa fauna, ou não gostam de apanhar ar nem de contacto com «legumes» (é uma maneira de dizer) ou flores ou plantas que estejam vivas. Prédios em ruínas? Bah. Ouviram falar de arrendamento urbano? Não me refiro à construção de condomínios de luxo que continuarão a despovoar a cidade. Descargas de mercadorias a qualquer hora? Bah. Quem se dispõe a multar as carrinhas de distribuição que páram onde podem ou querem, em ruas estreitas ou nas «tão típicas travessas» de empedrado irregular que nos impede de dar dois passos seguidos, quando toda a gente estaciona onde pode, e o pequeno comércio não está disposto a receber mercadorias às horas que deviam ser estabelecidas (e são) para o efeito? Merda canina e columbófila? Bah. Os cãezinhos defecam às ordens dos seus donos em tudo o que é passeio e praça; quanto aos pombos, ah quanto aos pombos, eu nem sei o que diga e o mais suave seria dizer que são uma praga. Portanto, caro Pedro, ou esperas pela redenção dos senhores munícipes ou, aos poucos, teremos de procurar os lugares ainda não infectados por obras que se prolongam indefinidamente, pela fauna que anda de spray em punho a fazer «arte urbana» (coitadinhos dos «artistas»), pelas ruínas que se espalham pela cidade. Lisboa está suja porque Lisboa é suja ou porque os lisboetas a sujam?
Francisco José Viegas
Francisco José Viegas
quinta-feira, 12 de julho de 2007
Intercalares
Vale o que vale, sublinho, mas quero deixar a ligação para a declaração de Manuel Salgado, datada de 30 de Maio. É uma clarificação da sua posição, algo que qualquer candidato deveria fazer, e que Salgado faz na sequência de inúmeras suspeitas que se vão lançando sobre si, e que são legítimas. Há nesta declaração um ponto de partida que é tornado público e que será de fácil monitorização. Os críticos não verão a sua tarefa dificultada. É claro que há aqui pontos questionáveis e que se devem, julgo, a um relativo desconhecimento por parte de Salgado dos mecanismo internos do departamento de Urbanismo da CML: quando diz que não terá «qualquer intervenção» nos processos em curso do RISCO, apesar de ser uma boa intenção, poderá ser de difícil cumprimento. No entanto a declaração de princípios está feita, numa linguagem escorreita e limpa. Eu aplaudo e não caio no facilitismo da má-língua conspirativa: estou disposto a acreditar, por enquanto, que Manuel Salgado fará tudo aquilo a que se propõe.
quarta-feira, 11 de julho de 2007
Isto está muito mal
Tem sido interessante conversar com pessoas da área do centro-direita sobre estas intercalares (exceptuando os militantes do CDS, que devem estar relativamente pacificados com a opção Telmo Correia, e que até têm razões sólidas para votar no candidato - as salas de chuto, os grafitis, a vídeo-vigilância, tudo argumentos que apelam ao voto do conservador). Ninguém sabe em quem votar, todos ameaçam o branco. Sentem-se órfãos e a precisar de mama. O mais curioso tem sido observar as razões que invocam para ter mais simpatia (ou, neste caso, antipatia) por A ou por B. Quase sempre são baseadas em preconceitos ou impressões de carácter. Nunca têm a ver com o programa ou com as ideias. Não ir com a cara de um candidato parece ser a razão mais sólida para não se votar nele. Quando falo em António Costa (conto deixar até ao fim da semana - de preferência no dia de reflexão, em protesto - a minha declaração de voto) a reacção é sempre epidérmica: «não gosto dele», «fala mal», «tem cara de -censurado-», «é socialista», «arrogante», «mau ar», «má pessoa», «deve cheirar mal da boca». Percebo. Ninguém tem paciência para ler programas ou ideias e, fundamentalmente, ninguém acredita neles. No fundo quer-se uma cara que seja da nossa confiança, do nosso bairro, um conhecido. Isso é pena. Com estes critérios de escolha não admira que os políticos menosprezem as campanhas e as ideias. Pura economia de oferta-procura.
terça-feira, 10 de julho de 2007
O debate 2
Um a um:
António Costa - É o meu candidato, por isso sou parcial. Tem a seu favor a sua ambição pessoal: nunca larga a pose de estado. É simpático, sem ser charmoso. Tem a lição mais ou menos bem estudada. Um grande contra: será a cara de Sócrates em Lisboa. Valha-nos, outra vez, a sua ambição e hipotética vontade de fazer alguma oposição interna ao licenciado da UnI.
Fernando Negrão - Faz lembrar aqueles miúdos populares do liceu que passavam de ano à custa da simpatia que geravam junto das professoras. Ganha votos sempre que se cala.
Carmona Rodrigues - É bom nos debates. Calmo, sereno, consegue enganar-se a si próprio. Se não tem razão, parece sempre que a tem. É, de certo modo, muito ingénuo. Dará um bom vereador.
José Sá Fernandes - Está cada vez mais colado ao Bloco e isso prejudicou-o. Está mais moralista (característica que abomino nos políticos), mais ressentido, mais indignado. Já ninguém aguenta o seu «plano verde». Não fosse Helena Roseta tão má candidata e não seria eleito.
Helena Roseta - É uma figura arrogante que se tenta vender sob o manto do consenso técnico. Acha que as suas ideias são óbvias e urgentes. Despreza a política, não gosta de discutir ideias. E, surpreendentemente, parece que descobriu o liberalismo (concorrência nos autocarros, bairros sociais geridos pelos moradores, etc.)
Telmo Correia - A maior desilusão (tinha-o em alguma conta). Só fala das salas de chuto e na vídeo-vigilância. Um candidato cinzento e demasiado ideológico mas que apresentou uma das poucas boas ideias do debate: a gestão inter-municipal ao nível metropolitano dos transportes.
Ruben de Carvalho - É um comunista perigoso: gera simpatia e quase que nos esquecemos do partido que o suporta, por causa desse conveniente eufemismo que é «a CDU». Está mais cansado e envelhecido, caiu muito nestes dois anos.
Garcia Pereira - O candidato com o melhor vocabulário. Ninguém sabe para onde vai: tanto diz uma coisa como o seu contrário, desde que produza um bom sound-byte. Tem o melhor sentido de humor (involuntário?) de todos os candidatos.
Quartin Graça - Passo.
Pinto Coelho - Conseguiu esta proeza: às tantas tive pena dele.
Câmara Pereira - O bobo da corte.
Manuel Monteiro - Publiquei o post e verifiquei que só tinha onze entradas. Esquecera-me dele. Ponto final.
António Costa - É o meu candidato, por isso sou parcial. Tem a seu favor a sua ambição pessoal: nunca larga a pose de estado. É simpático, sem ser charmoso. Tem a lição mais ou menos bem estudada. Um grande contra: será a cara de Sócrates em Lisboa. Valha-nos, outra vez, a sua ambição e hipotética vontade de fazer alguma oposição interna ao licenciado da UnI.
Fernando Negrão - Faz lembrar aqueles miúdos populares do liceu que passavam de ano à custa da simpatia que geravam junto das professoras. Ganha votos sempre que se cala.
Carmona Rodrigues - É bom nos debates. Calmo, sereno, consegue enganar-se a si próprio. Se não tem razão, parece sempre que a tem. É, de certo modo, muito ingénuo. Dará um bom vereador.
José Sá Fernandes - Está cada vez mais colado ao Bloco e isso prejudicou-o. Está mais moralista (característica que abomino nos políticos), mais ressentido, mais indignado. Já ninguém aguenta o seu «plano verde». Não fosse Helena Roseta tão má candidata e não seria eleito.
Helena Roseta - É uma figura arrogante que se tenta vender sob o manto do consenso técnico. Acha que as suas ideias são óbvias e urgentes. Despreza a política, não gosta de discutir ideias. E, surpreendentemente, parece que descobriu o liberalismo (concorrência nos autocarros, bairros sociais geridos pelos moradores, etc.)
Telmo Correia - A maior desilusão (tinha-o em alguma conta). Só fala das salas de chuto e na vídeo-vigilância. Um candidato cinzento e demasiado ideológico mas que apresentou uma das poucas boas ideias do debate: a gestão inter-municipal ao nível metropolitano dos transportes.
Ruben de Carvalho - É um comunista perigoso: gera simpatia e quase que nos esquecemos do partido que o suporta, por causa desse conveniente eufemismo que é «a CDU». Está mais cansado e envelhecido, caiu muito nestes dois anos.
Garcia Pereira - O candidato com o melhor vocabulário. Ninguém sabe para onde vai: tanto diz uma coisa como o seu contrário, desde que produza um bom sound-byte. Tem o melhor sentido de humor (involuntário?) de todos os candidatos.
Quartin Graça - Passo.
Pinto Coelho - Conseguiu esta proeza: às tantas tive pena dele.
Câmara Pereira - O bobo da corte.
Manuel Monteiro - Publiquei o post e verifiquei que só tinha onze entradas. Esquecera-me dele. Ponto final.
segunda-feira, 9 de julho de 2007
O debate
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Cheguei a uma triste constatação: a Igreja de Santa Engrácia (o Panteão Nacional), ali à esquerda de São Vicente de Fora, não está iluminada.
Cheguei a uma triste constatação: a Igreja de Santa Engrácia (o Panteão Nacional), ali à esquerda de São Vicente de Fora, não está iluminada.
Joga bonito
Como se explica que os jogadores de ténis sejam em regra muito mais giros do que os praticantes de outras modalidades? Alguém tem uma teoria? Uma sugestão: apesar do esforço de democratização, o ténis continua a ser um desporto para as elites e as elites são, em regra, mais esbeltas que a plebe. Isto revolta-me, sou um gajo de esquerda.
Concordamos na análise. Discordamos no juízo. Sou um gajo de direita.
domingo, 8 de julho de 2007
Gambrinus
Lembro-me bem da única vez que jantei no Gambrinus (voltei lá duas ou três vezes mas ao balcão, para beber imperiais que são mais baratas que no Bairro Alto). Pedi um bitoque, com ovo a cavalo. Um senhor vestido de branco e com um chapéu alto veio à sala queimar qualquer coisa e fazer acrobacias com comida em chamas. Eu estava de boca aberta, pasmado. O bife estava bom. Devo ter bebido Coca-Cola. Não tinha mais de 10 anos e fui levado pelo meu avô materno, durante um período de convalescença de uma operação delicada (minha). O meu pai, quando tinha mais ou menos a idade que eu tenho hoje, ia para lá fora de horas, em época de exames, depois do estudo. Acabava a jogar futebol de salão na sala do restaurante com os empregados.
Os monumentos do povo
Ainda mais idiota do que escolher as novas maravilhas do mundo (onde lá acabou o Corcovado, como bem avisava a minha mulher) é escolher as sete maravilhas de Portugal. E, como quase sempre acontece quando o povo se manifesta, deu disparate: o Convento de Cristo e o Convento de Mafra passaram a ser monumentos de segunda ordem. Mais valia não terem convidado especialistas para elaborar a shortlist dos 21 finalistas: a votação das 7 deveria ter sido livre, e era ver o Estádio da Luz eleito. Sempre era mais «democrático».
Adenda: Pelo CAA fico a saber que o público vaiou a Estátua da Liberdade. É triste, mas é o que temos.
Adenda: Pelo CAA fico a saber que o público vaiou a Estátua da Liberdade. É triste, mas é o que temos.
sexta-feira, 6 de julho de 2007
Vital Moreira explica
Fontão de Carvalho não vai ser condenado, mas devia. Portanto, quer dizer, lá está.
E assim um gajo fica desmoralizado na véspera de um concerto
O Victor Wooten já conhecia, cortesia de David Matthews. Mas esse cara aí, o Stanley Jordan, faz-nos esquecer que já não temos idade para vibrar com os tappings.
Pedido
Pedia à população em geral que deixasse de me dizer que o concerto dos Arcade Fire foi «um espectáculo» e mais não sei o quê e que eu «perdi o concerto do ano», coisas dessas. Obrigado.
Yeah baby
Parece que o filho de Al Gore foi apanhado em velocidades desenfreadas na autoestrada e com marijuana na bagageira. Eu não o condeno: se o meu pai estivesse constantemente a dizer que o mundo ia acabar, eu também viveria cada dia como se fosse o último.
quinta-feira, 5 de julho de 2007
Festivais
Digo às pessoas que não gosto de concertos rock. Sobretudo de festivais, sobretudo no verão. É uma fraqueza minha: não tolero multidões superiores a 50 pessoas fora do Estádio da Luz. Gosto de ouvir música, gosto muito de ouvi-la em casa, adoro ouvi-la sozinho, com phones. Há quem estranhe, dado que eu próprio mutilo uma guitarra em palco de vez em quando (a próxima será já neste sábado, em Santos, apareçam). Mas se calhar é por isso mesmo: para quem já esteve do outro lado do palco, ainda que muito modestamente e em palcos muito duvidosos, a magia do artista não é assim tão mágica. Como dizia o Groucho, «I don't want to belong to any club that will accept me as a member». No entanto, arranjem um festival dentro de uma sala com ar condicionado, cadeiras confortáveis e meninas a servir às mesas e eu estou lá. Ah, sim, com uma capacidade máxima de 20 lugares.
Bryan Devendorf
A convite do Ricardo Gross na Atlântico, ouvi Boxer com especial atenção ao baterista, Bryan Devendorf. Não me surpreendi, mas fiquei a perceber melhor o porquê deste álbum estranhamente discreto ser um dos melhores do ano até agora.
quarta-feira, 4 de julho de 2007
Momento Geninha Melo e Castro
Sempre achei deprimente ouvir portugueses cantar temas brasileiros com sotaque do Brasil. Enfim, sempre achei deprimente ouvir portugueses cantar. No fundo sempre achei deprimente ouvir portugueses.
Nota: Não aponto. A ideia do título é que esta (primeira) frase podia ter sido dita, em espírito, por ela.
Nota: Não aponto. A ideia do título é que esta (primeira) frase podia ter sido dita, em espírito, por ela.
Quando ninguém sabia quem era o Pedro Lomba
Nas últimas entrevistas que tenho ouvido sobre blogues começa a ser raro ouvir referências à Coluna Infame. Isto porque a maioria dos actuais bloggers não sabem o que foi, ou sabem mas já não se lembram (o que é mais grave). Ao fim de quatro anos nisto (pertenço à tal geração do verão de 2003), começam a aparecer os primeiros sinais de falta de identificação com o fenómeno. Eu comecei a escrever um blogue por causa da Coluna, por causa do João Pereira Coutinho, do Pedro Lomba, e sobretudo do Pedro Mexia; mas também por causa do Ricardo Araújo Pereira; e dos Marretas; e do José Mário Silva. E percebo que sou um elitista desavergonhado: isto era muito mais giro quando ninguém sabia quem era o Pedro Lomba.
Por falar em Pedro Lomba: circula por aí um sketch sobre um blogodependente. A coisa até tem graça, mas eu quero lembrar que só pode achar piada àquilo (nunca tinha escrito a palavra «àquilo» num post e sempre quis escrever «àquilo») quem não é da geração do verão de 2003 (além de elitista, sou ressabiado). Em jeito de homenagem recupero um post escrito pelo Pedro Lomba que foi publicado no Marretas, no dia seguinte a eu ter escrito o primeiro post:
UM BLOGODEPENDENTE EM RECUPERAÇÃO
Uma semana sem postar e os achaques aparecem. Acordamos de noite. Suores frios. Pesadelos. Uma indisposição permanente. Tomamos comprimidos mas não vale a pena. Não melhoramos. Estamos pior cada dia que passa. A melancolia ganha terreno. Toma-nos os dias, a vontade. Ficamos mais fracos. Mais bárbaros, mais susceptíveis. A inveja visita-nos. Tornamo-nos leitores de blogs que não conhecíamos, de blogs que não líamos e de blogs que nos insultam. As horas de dependência não diminuem. Aumentam. E depois relemos o que escrevemos. E reprovamos o que escrevemos. E lamentamos o dia em que postámos pela primeira vez. O dia em que o vício começou. O dia de não-retorno. Consultamos especialistas. Consultamos familiares. Consultamos quem não quer ser consultado. E pensamos que só há uma maneira de pôr termo a isto. De acabar com este sofrimento. Pensamos em voltar. Pensamos em voltar com pequenos e tímidos comentários. Que se lixe a doença. Que se dane a dependência. Os blogues são o nosso mundo, a nossa verdade. Não podemos e não queremos fugir-lhes. São só uns postezitos e já voltamos à cama.
Por falar em Pedro Lomba: circula por aí um sketch sobre um blogodependente. A coisa até tem graça, mas eu quero lembrar que só pode achar piada àquilo (nunca tinha escrito a palavra «àquilo» num post e sempre quis escrever «àquilo») quem não é da geração do verão de 2003 (além de elitista, sou ressabiado). Em jeito de homenagem recupero um post escrito pelo Pedro Lomba que foi publicado no Marretas, no dia seguinte a eu ter escrito o primeiro post:
UM BLOGODEPENDENTE EM RECUPERAÇÃO
Uma semana sem postar e os achaques aparecem. Acordamos de noite. Suores frios. Pesadelos. Uma indisposição permanente. Tomamos comprimidos mas não vale a pena. Não melhoramos. Estamos pior cada dia que passa. A melancolia ganha terreno. Toma-nos os dias, a vontade. Ficamos mais fracos. Mais bárbaros, mais susceptíveis. A inveja visita-nos. Tornamo-nos leitores de blogs que não conhecíamos, de blogs que não líamos e de blogs que nos insultam. As horas de dependência não diminuem. Aumentam. E depois relemos o que escrevemos. E reprovamos o que escrevemos. E lamentamos o dia em que postámos pela primeira vez. O dia em que o vício começou. O dia de não-retorno. Consultamos especialistas. Consultamos familiares. Consultamos quem não quer ser consultado. E pensamos que só há uma maneira de pôr termo a isto. De acabar com este sofrimento. Pensamos em voltar. Pensamos em voltar com pequenos e tímidos comentários. Que se lixe a doença. Que se dane a dependência. Os blogues são o nosso mundo, a nossa verdade. Não podemos e não queremos fugir-lhes. São só uns postezitos e já voltamos à cama.
Agenda
O Pedro Mexia e o Pedro Lomba vão estar novamente na Rádio Europa na sexta-feira. Fica a nota.
terça-feira, 3 de julho de 2007
Luís de Freitas
A última edição da revista Atlântico tem uma gralha (duas, se decidirmos contabilizar a inclusão de um texto de António Carrapatoso numa revista sobre «ideias» como uma gralha) impagável: na página 51, a crónica de Francisco Sassetti, que versa sobre Luís de Freitas Branco, aparece sob o título «Freitas Lobo», numa óbvia alusão subliminar do subconsciente do editor (ou do próprio Sassetti, menos provável) a Luís Freitas Lobo, o guru do comentário intelectualizado futebolístico em Portugal. Ou é gralha ou é uma subtileza literária que eu ainda não atingi.
segunda-feira, 2 de julho de 2007
Segunda-feira, 2 de Julho
O dia de hoje, como foi amplamente noticiado, marca o início de mais uma etapa importante das nossas aspirações na Europa: começa a pré-época do Benfica.
- como si el Partenón fuese estúpido -
R. No hay nada más caro que la ecología. Sólo los suizos pueden ser ecológicos. Uno que construye allí un edificio está obligado a instalar un sistema que trate y recicle las aguas grises del baño. Pero preparar un edificio para acumular las aguas grises, bombearlas, depurarlas y reciclarlas es muy poco sostenible, consume una cantidad de energía brutal. No tiene sentido. Esta preocupación sólo la puede tener Suiza.
P. ¿Piensa que la sostenibilidad es un problema de ricos?
R. Es un problema de malos arquitectos. Los malos arquitectos se organizan siempre con temas secundarios. Dicen cosas del tipo: la arquitectura es sociología, es lenguaje, semántica, semiótica. Inventan la arquitectura inteligente -como si el Partenón fuese estúpido- y ahora, lo último es la arquitectura sostenible. Todo eso son complejos de la mala arquitectura. La arquitectura no tiene que ser sostenible. La arquitectura, para ser buena, lleva implícito el ser sostenible. Nunca puede haber una buena arquitectura estúpida. Un edificio en cuyo interior la gente muere de calor, por más elegante que sea será un fracaso. La preocupación por la sostenibilidad delata mediocridad. No se puede aplaudir un edificio porque sea sostenible. Sería como aplaudirlo porque se aguanta.
Souto de Moura em entrevista ao El País.
P.S: E mesmo no fim da entrevista, Souto de Moura deixa um recado aos "jovens arquitectos":
P. ¿La escala cambia a los arquitectos?
R. Y la edad. Cuando era más joven estaba preocupado por el estilo, por la elegancia. Y hoy valoro más la naturalidad. Para poder resistir, para que los edificios permanezcan, es importante que las cosas se vivan como naturales. Un poco como ocurre con los animales, que cuando nadan mucho pierden las manos que se transforman en aletas. La naturaleza responde siempre de la manera más natural, con lógica. Y creo que antes yo hacía una arquitectura muy preocupada por ser coherente y que, sin embargo, respondía a un campo muy limitado de la realidad. Hoy he ido perdiendo el miedo a hacer cosas feas. No es que nadie quiera hacer algo feo de entrada. Es que para hacer cosas bonitas hay que perder el miedo a hacerlas feas.
P. ¿Piensa que la sostenibilidad es un problema de ricos?
R. Es un problema de malos arquitectos. Los malos arquitectos se organizan siempre con temas secundarios. Dicen cosas del tipo: la arquitectura es sociología, es lenguaje, semántica, semiótica. Inventan la arquitectura inteligente -como si el Partenón fuese estúpido- y ahora, lo último es la arquitectura sostenible. Todo eso son complejos de la mala arquitectura. La arquitectura no tiene que ser sostenible. La arquitectura, para ser buena, lleva implícito el ser sostenible. Nunca puede haber una buena arquitectura estúpida. Un edificio en cuyo interior la gente muere de calor, por más elegante que sea será un fracaso. La preocupación por la sostenibilidad delata mediocridad. No se puede aplaudir un edificio porque sea sostenible. Sería como aplaudirlo porque se aguanta.
Souto de Moura em entrevista ao El País.
P.S: E mesmo no fim da entrevista, Souto de Moura deixa um recado aos "jovens arquitectos":
P. ¿La escala cambia a los arquitectos?
R. Y la edad. Cuando era más joven estaba preocupado por el estilo, por la elegancia. Y hoy valoro más la naturalidad. Para poder resistir, para que los edificios permanezcan, es importante que las cosas se vivan como naturales. Un poco como ocurre con los animales, que cuando nadan mucho pierden las manos que se transforman en aletas. La naturaleza responde siempre de la manera más natural, con lógica. Y creo que antes yo hacía una arquitectura muy preocupada por ser coherente y que, sin embargo, respondía a un campo muy limitado de la realidad. Hoy he ido perdiendo el miedo a hacer cosas feas. No es que nadie quiera hacer algo feo de entrada. Es que para hacer cosas bonitas hay que perder el miedo a hacerlas feas.
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