segunda-feira, 30 de junho de 2008

Muito na moda

Um intelectual que «está muito na moda»? Bernard-Henri Lévy, obviamente. Ou então Salman Rushdie - até há sensivelmente um ano - mas nesse caso seríamos forçados a atribuir à expressão «estar muito» uma conotação não muito elegante.

Fight divers

Peço reacções à presença de Zizek na Cinemateca e sai-me isto. Galamba, meu, não é nada disso. A malta não quer saber de marxismos, psicanalismos, voluntarismos abstractos, críticas imanentes, e fantasias colectivas. A sério, pá, era mais saber quem marcou e não marcou presença; como se saiu o Pedro Mexia; houve Q&As?; se sim, o Ivan Nunes interveio?; miúdas, pá, miúdas giras?; como estava a sair a imperial?; o que bebeu Zizek?; deu autógrafos?; que dedicatória te fez ele? A sério, esta mania de brincar com coisas sérias deixa-me exasperado.

Pompous and boastful

What a dreadful and boring group of people in a thoroughly uninspired discussion. These folks' building creations are monuments of their pompous and boastful egos - no concern for people - and architecture should first of all have people in mind. If the building does not welcome us, embrace us and invite us with warmth - the architect has failed. Send these creatures into retirement.

Comentário de «Axel» a este vídeo (via atelier mob)

Preguiçosos

Mas o que é isto? E um youtubezito? Uma crónica? Uma foto? Nada? Tanto blogger junto e não há ninguém disposto a partilhar o Zizek?

Loirinho de olhos azuis

Xavi? Terá jogado contra Senna ser um naturalizado, ter 31 anos, ser trinco, e jogar no Villareal.

Afinal

Acho que sou um shyamalaniano heterodoxo: gostava, sobretudo, de Sinais e de A Vila. Do Sexto Sentido ficou-me a glória e o turn-off de ter «adivinhado o fim», não acompanhei o entusiasmo pelo Protegido e não vi A Senhora da Água. No meio de todas as fragilidades que podem ser identificadas no percurso de Shyamalan, nunca fui daqueles que rotulam o carácter monotemético e a parca palete de recursos como uma «fraude». Sim, Shyamalan faz mais ou menos sempre o mesmo filme, mas tem-no feito sempre muito bem (A Vila, sobretudo, é um filme magnífico.) Isto tudo para enquadrar devidamente o que me preparo para anunciar ao mundo: O Acontecimento é um dos piores filmes jamais apresentados aos meus olhos. Parece uma cópia de Bollywood de Shyamalan (o que é irónico), uma versão feita por um amador sem talento. O mais grave é que O Acontecimento começa bem. As primeiras cenas convencem com eficácia, um fenómeno que se vem depois a confirmar como uma péssima gestão de expectativas. Aquilo que Shyamalan sempre soube fazer bem - provocar e estimular o espectador até à última cena - é aqui invertido, e o mais triste é que isto parece uma tentativa de Shyamalan (gosto muito desta palavra) fazer outra coisa: em O Acontecimento torna-se evidente que o evento que está a ocorrer não é mais do que um suporte dramático para a reaproximação de um casal desavindo (uma estreia absoluta aqui no Complexidade e Contradição), numa trama secundária que é das coisas mais desinteressantes e ingénuas que já se viu no cinema (uma «sobremesa»? o que é isto?). E fica provado que Mark Wahlberg só dá mesmo para polícia (The Departed, We Own the Night). Talvez o génio de Shyamalan esteja numa fusão visionária entre forma e conteúdo: num filme que é sobre o suicídio (enfim), o filme suicida-se perante os nossos olhos. Afinal, é brilhante.

domingo, 29 de junho de 2008

Coldplay

Ando a acarinhar um profundo ódio ao tipo dos Coldplay e aos Coldplay propriamente ditos, e por alguma razão que ainda não me é evidente achei por bem retardar em 5 minutos a minha ida para a cama e vir aqui anunciá-lo. E, no que é o facto mais espantoso desta história toda, o casamento da criatura com Gwyneth Paltrow não é um elemento que tenho necessariamente em conta.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Literariamente apetecíveis

Pobres, honrados e literariamente apetecíveis, por Nuno Costa Santos.

Contemplação carinhosa de Agustina (3)

Afinal os que dizem que sou difícil de ler não passam de poltrões; felizmente esse número tem diminuído muito, ou então cada vez mais se envergonham de se mostrar. Grande parte do êxito de qualquer talento depende da vergonha em parecer ignorante ou rude se não o compreender. A fama faz-se com o amor de muitos e o cepticismo silencioso da maioria.

«Conferência em Granada»

Contemplação carinhosa de Agustina (2)

Agora, o que se diz da Sibila surpreende-me bastante. Dividem-na em porções, como os mapas de campanha, e descobrem nela teoremas de Lacan e de Freud. Eu sempre pensei que a Sibila era a minha tia Amélia, vaidosa e com jeito para as coisas de tribunais, e que sabia como ninguém estufar um pato com pimenta, num lume de rama de pinheiro. A resina, ao arder, dava ao pato um sabor especial. Entre isso e Lacan não sei que relação haverá.

«Conferência em Granada»

(Como astutamente já repararam, esta não é uma «citação aforística». O blogue é meu, faço o que eu quiser.)

Kryptonite

Está visto: perante a Espanha, a Rússia regressa sempre ao estado Clark Kent.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

A Turquia

Se, depois da Grécia em 2004, a Turquia tivesse chegado à final do Euro 2008, eu juro que nunca mais veria um jogo de futebol na vida. A Turquia jogou melhor (como defendeu durante os 90 minutos o - ai ai - futuro adjunto do Benfica na Sporttv Diamantino)? Melhor? Mas desde quando é que o futebol se tornou num fenómeno que tem o direito de recorrer à justiça? Melhor? Não consigo - e vi o jogo inteiro - lembrar-me do nome de um único jogador turco, recuso-me a soletrar o nome de qualquer equipa turca, eu nem sei onde é a Turquia (ia jurar que não era na Europa). Com a eliminação da Itália, da França e da Holanda - e não nos esqueçamos da ausência da Inglaterra - a certeza de que a final se jogará com a presença da Alemanha é-me tão tranquilizadora como são os equipamentos brancos e mais aquelas merdas todas de Wimbledon para o João Carlos Espada. O europeu, e metam isso lá bem no fundo mais inacessível das vossas cabeças, é para ser sempre ganho por uma destas equipas:

- Alemanha
- Itália
- Holanda
- Inglaterra
- França
- Espanha

e exactamente por esta ordem. Por sermos portugueses incorremos no desplante de incluirmos o nome de Portugal na lista, mas aposto que os Turcos fazem o mesmo. Esta merda não é para brincar, e o Vasco Pulido Valente devia estar doido quando escreveu aquilo da democracia no futebol. Democracia? Gostaram da Grécia em 2004? Foi bonito? Foi. Muito bonito. Ao menos a União Europeia tem mais dignidade ao ameaçar expulsar a Irlanda do clube: recomendo à UEFA que ameace qualquer país que não se encontre na lista por mim elaborada ali em cima com a expulsão do euro em caso de vitória. E podiam ter já começado com a Grécia, sempre se poupavam os gregos à vergonha a que se submeteram este ano.

A única excepção é a Rússia: a Rússia pode ganhar o europeu quando quiser que nós deixamos. A começar já em 2008 (em 1960 foi a União Soviética, enciclopédicos.)

quarta-feira, 25 de junho de 2008

An Englishman in New York

«Muito simpáticos os americanos.»

Daniel Oliveira, que está nos EUA a caminho da conversão.

Contemplação carinhosa de Agustina*

Entre um homem de convicções e um louco, a linha divisória é difícil de distinguir.

«Van Gogh Escritor»


* Citações aforísticas de Contemplação Carinhosa da Angústia. Farei disto uma série.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Da igualdade de género

Descobri que o narcisismo é muito mais frequente (e tolerável) nos homens. É quase uma autorização tácita para a infantilidade. Isto chateia-me, claro, porque é um óbvio gesto paternalista por parte das mulheres. Estamos a perder a guerra.

Retrocesso



Com a chegada do sol e do calor confirmo a ideia de que um dos maiores retrocessos civilizacionais foi o desaparecimento do mapa da moda masculina respeitável do chapéu.

Simultaneamente aproveito para comemorar os 120 anos do nascimento de Fernando Pessoa e, dando uma de Ana Moura, declaro que gostaria que Fernando Pessoa mais a sua banda fossem vivos para me escreverem os posts, sobretudo os estrangeiros, para não andar por aí a fazer as figuras do Pedro Arroja.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

A rapariga



Com Ludivine Sagnier a fazer de Ludivine Sagnier, A Rapariga Cortada em Dois é um filme que feito pelo Woody Allen pós Match Point e com Scarlett Johansson a fazer de Scarlett Johansson seria um filme com mais probabilidades de não me deixar aquela sensação de desperdício de duas preciosas horas de domingo.

E mais nada

O sofrimento é como a liberdade: só aos corações de grande fortaleza pode aproveitar, aos outros humilha-os e corrompe-os, e mais nada.

Agustina, «Dostoievski e a Peste Emocional», Contemplação Carinhosa da Angústia

Obrigado à Optimus

É ir aqui e clicar em «ver concerto».

domingo, 22 de junho de 2008

Sal e pimenta

Não queria deixar passar em branco a estreia no Expresso do «Rogério Casanova», ali na secção dos livros, com uma crítica que eu achei absolutamente brilhante a um livro que não li escrito por um autor de que nunca tinha ouvido falar, e que me parece envolver o Peter Pan. Aproveito para enviar daqui com toda a amizade um grande abraço de parabéns ao José Mário Silva, e com isto meti dois links num só post que é como sal e pimenta para o Technorati.

Declaração

Acabei de ouvir e ver (um ano e meio depois, SicNotícias) o discurso de encerramento de Manuela Ferreira Leite, e estou em condições de afirmar que Manuela Ferreira Leite é ainda mais bonita do que o Arshavin.

sábado, 21 de junho de 2008

A Rússia acabou de marcar

E ainda não vi o Pacheco Pereira em Guimarães.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Mr Brown

Hoje de manhã cheguei ao meu carro e o carro não respondeu ao comando eléctrico da chave. Não era, obviamente, o meu carro, mas um carro igual estacionado muito perto do meu. Cheguei rapidamente a esta conclusão depois de uma espreitadela ao interior do dito, reparando logo que no banco de trás estava um exemplar de O Animal Moribundo, de Philip Roth, livro que não me pertencia e que não li, mas que carrega todo um potencial de vir a pertencer-me e de ser lido por mim num futuro próximo. Apesar de eu não ler traduções do inglês e julgar que o The Dying Animal ocupa já um lugar na estante lá de casa (a minha mulher tem ainda mais bom gosto do que eu) não escondo que este episódio me perturbou e ainda não lhe entendi o significado. Se eu fosse o Paul Auster tinha aqui material para dois anos e meio de trabalho.

Não está fácil

Não está de todo fácil: quarto tema, «42», canta Martin:

Those who are dead are not dead
They’re just living in my head

(...)

Time is so short and I’m sure
There must be something more

E, musicalmente, muito açúcar, muito açúcar, muito açúcar.

Já cá venho

A capa é ainda pior do que o nome, o single é uma espécie de Victoria Beckham - parca matéria prima, muita produção - mas ainda assim vou ali ouvir o último álbum dos Coldplay só para confirmar.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

O Euro ficou mais pobre



A Suécia foi eliminada.

Complicado

Numa entrevista que lhe li Ricardo Araújo Pereira falou filhas e do amor paternal. Disse uma coisa que me marcou: que vivia assustado por ver nas filhas um potencial enorme para a infelicidade e desgraça. É algo muito violento para se dizer, mas ao mesmo tempo de um inegável acerto. Para um pai o inferno existe: a ideia de que pode acontecer alguma coisa a um filho, uma coisa que o pai não hesitaria em sofrer se isso poupasse o filho. No limite, até a morte. Pensei nisto ao ver, mais uma vez, Lisboa a acordar vestida com tops e t-shirts e bandeirinhas e cachecóis e toalhas e óculos e bonés da selecção. O povo português, o mesmo povo que passa o resto do biénio a tecer considerações sobre «este país», decidiu adoptar a selecção portuguesa de futebol profissional masculino como o filho que carrega o tal potencial de felicidade infinito. Mas esqueceu-se, no caminho, de avaliar as consequências e não percebeu que o mata-mata também se pode dizer morre-morre. E não há pior situação para uma nação deprimida do que a adição de mais um motivo para não se sair da depressão. Aquele olhar de vazio que costumamos ver na televisão do lado dos adeptos vencidos vai ser mais pesado desta vez. Oxalá ganhemos a taça, senão isto vai ser complicado.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Nem idade, nem percurso profissional, nem posição social

(...) Meta-se com gente do seu tamanho e haja respeitinho por quem não tem nem idade, nem percurso profissional, nem posição social para gastar mais cera com tão ruim defunta.

João Bénard da Costa, num artigo publicado hoje no Público em resposta a Isabel Pires de Lima, com extractos no Da Literatura

Assembleia de Deus-style

Não é raro ir no carro sozinho, Marginal fora, de braço levantado Assembleia de Deus-style. Sei que me torno simultaneamente um alvo próximo do escárnio e distante da compreensão. Mas, ó avassaladora qualidade dos que se deixam arrebatar: estamos nas tintas para o mundo.

Tiago Cavaco

Como preferir

Um dos convidados era um "gestor de marcas"; tinha o aspecto de uma axila bem-comportada que passou a vida inteira a ouvir conferências do Bob Proctor, e mostrou-se indignado com o que entende ser uma das maiores lacunas dos currículos escolares nacionais: o ensino do impossível. Aparentemente, não vamoms a lado nenhum enquanto a escolaridade obrigatória não for reorientada para o impossível. Para ilustrar o que era possível quando se é ensinado a tentar o impossível falou de uma bebida energética associada ao nome de Cristiano Ronaldo. Depois contou uma história apócrifa sobre D. João I. Depois referiu-se ao candidato Democrata à Presidência dos Estados Unidos como "Obana". Depois insurgiu-se contra a falta de onanismo dos portugueses. Fátima Campos Ferreira emendou-lhe a insurgência para "unanimidade". Ele concordou: "Sim, unanimidade ou onanismo, como preferir".

Há mais texto antes e depois disto.

terça-feira, 17 de junho de 2008

The PM & RAP Show

Acabei de comprar bilhetes para aquela coisa do Ricardo Araújo Pereira a solo no São Luiz. Ao que pude apurar, trata-se de uma adaptação de uma série de conferências dos anos 50 proferidas por Jane Austin em Harvard sobre a linguagem, traduzidas pelo Pedro Mexia e adaptadas para palco pelo mesmo Pedro Mexia e pelo Ricardo Araújo Pereira, interpretadas a solo pelo Ricardo Araújo Pereira. Highly anticipated.

Leituras em lugares públicos (III)

As pessoas exibem muita coisa: a roupa, os relógios, os telemóveis, os leitores de mp3, as carteiras, sapatos, cintos, óculos, etc. Exibem-nas de um modo explícito, basta andar de metro. Mas raramente escondem o que lêem, o que é profundamente contraditório (no mau sentido).

Leituras em lugares públicos (II)

Se alguém der por um leitor que segura nas mãos o Contemplação Carinhosa da Angústia com um ar tristíssimo, sou eu. Estou tristíssimo porque é violento sermos confrontados de um modo tão evidente com a nossa mediocridade, e isto não é falsas modéstias não é nada. Vão ler.

Leituras em lugares públicos*

No café, ao balcão, o colega do lado lia a Economist enquanto trincava uma merenda.

* Copyright

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Estamos nisto

Estou neste preciso momento à espera que um técnico do Clix me venha cá a casa fazer umas coisas técnicas. Marcaram das 9 às 11. São 11, como já devem ter reparado pela caligrafia, e o técnico acabou de tocar à campainha de um modo muito técnico para me informar que estava a dar voltas ao quarteirão há uma hora porque não arranja lugar para estacionar. Disse-lhe que tinha a opção do parque ao fundo da rua, ao que ele ripostou alegando que o parque era «um balúrdio» e que «eles não pagam o parque». Estamos nisto. Mas eu já formei uma opinião: «eles» estão a dar cabo disto tudo.

domingo, 15 de junho de 2008

O fim da UE?

A Irlanda vai ter de decidir rapidamente se quer sair da União Europeia (UE) depois de ter recusado o Tratado de Lisboa, ou se prefere voltar a submeter o texto aos eleitores mediante certos ajustamentos. Esta é a opção posta implicitamente na mesa por vários líderes europeus, que, embora tenham afirmado respeitar o veredicto negativo do referendo da passada quinta-feira, recusam que menos de um milhão de irlandeses travem a vontade de governos representativos de 490 milhões. "Em caso algum a dinâmica da União pode ser parada", defendeu ontem Yves Leterme, primeiro-ministro da Bélgica.

in Público 15-06-2008

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Uma pele, uma noite

Estou desde ontem a preparar uma defesa a isto. Não que o Ricardo não tenha razão - o Ricardo, anotem, tem sempre razão - mas acho que há atenuantes. Não chegam para desculpabilizar Moon, mas julgo que podem ser a base para o diálogo. Voltaremos.

Mal acostumado

Você mi deixouuuu, mau acostumaaado. Dia 11 de Maio, The National. Dia 11 de Junho, Feist. E ainda dizem que há para aí uma «crise»?

A sauna magna

Não há mais ninguém no mundo que use saltos altos e toque guitarra daquela maneira. Ontem, numa Aula Magna com uma temperatura e níveis de concentração de oxigénio no ar a gritarem pela ASAE, Feist deslumbrou. A minha mulher disse que não lhe conhece bem a cara mas que a imagina (ontem estávamos longe) muito bonita. Feist não é muito bonita, mas é impossível para quem gosta de música não a imaginar muito bonita. E a noite de ontem foi, acima de tudo, muito bonita.

(O Gonçalo diz que no Porto se «bateu o record de maior concentração de franjinhas por metro quadrado». Esse record deve ter durado um dia.)

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Saramago on Agustina

Na última LER Saramago é entrevistado (um dos truques já apreendidos pelos jogadores de futebol da selecção nacional para dar uma aparência mais complexa a frases banais consiste em trocar a ordem natural dos elementos da frase). Li a LER mas não li a entrevista (estou para o Saramago como os camionistas para o trabalho: em bloqueio), falha que a minha mulher tentou corrigir lendo ela a dita, fazendo-me o resumo, e realçado o pormenor que mais a estimulou: às tantas Saramago fala de Agustina para dizer que ficou muito ofendido (mais ou menos isto) quando a escritora disse em entrevista que só havia dois escritores portugueses dignos do Nobel: Virgílio Ferreira e ela própria. Há nesta reacção de Saramago deselegância, sobranceria, e uma falta de astúcia intelectual gritante. É deselegante referir-se a Agustina quando sabe que Agustina não está em condições de responder (e não é possível que Saramago não o saiba); é sobranceira esta sua obsessão pelo Nobel, esta insegurança permanente e infantil, estes amuos; e é profundamente obtuso não perceber que Agustina não se leva tão a sério como o exilado de Lanzarote (apesar de ter razão).

Porque escreve?

Francamente - porque pensam que eu escrevo? Para incomodar o maior número de pessoas, com o máximo de inteligência. Por narcisismo, que é um facto civilizador.

Agustina Bessa-Luís, «Porque escreve?», A Contemplação Carinhosa da Angústia, selecção de ensaios da autora, reunidos para a Guimarães por Pedro Mexia

O «vício»

Apostei hoje no Bwin 3,5 euros em como David Villa marcava o primeiro e em como a Espanha ganhava 4-0. A aposta pagava 101 vezes. Ficou 4-1, cabrão do russo, nunca mais jogo na vida. Isto é perigoso.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Sobre a «raça»

Tudo o que havia para dizer sobre a disparatada reacção da esquerda às disparatadas palavras de Cavaco sobre a «raça» foi dito e muito bem pelo Nuno Miguel Guedes.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Futebol

Ténis em vez de futebol? O que querem, ainda estou chocado pelo facto de os dois melhores jogadores em campo no jogo de sábado terem sido o Petit e o Nuno Gomes. Falar do Euro e falar da «nossa selecção» seria comprar guerras que não posso alimentar, portanto fico-me por aqui.

Terra batida: uma vergonha

Que um jogador como Rafael Nadal acabe de ganhar (outra vez) a Roger Federer por 6-1, 6-3, e 6-0, só prova que a terra batida devia ser eliminada de uma vez por todas da lista dos pisos oficiais para se jogar ténis. Não digo que Nadal seja medíocre (mas sem o dizer já o disse), ou que seja o melhor dos medíocres (mas sem o dizer, bla bla bla), mas peço-vos que vos lembreis dos especialistas de terra batida dos últimos anos e procurem nessa lista jogadores memoráveis. Não há. Há sim jogadores memoráveis que também foram memoráveis na terra batida (Borg, Lendl, e já vamos nos anos 80). Mas o especialista da terra batida, aquele jogador que volta não volta vem dizer que já ganhou tudo o que havia para ganhar mas mesmo assim não chega a número 1 (Muster), esquecendo convenientemente que o ténis não se joga só sobre o saibro, é um jogador que vinga por tirar partido das características do pó-de-tijolo: ressaltos nas linhas, jogo lento, mais pernas do que o adversário, gostar do vento, buracos a meio do court, mais vento, mais ressaltos, mais bolas rápidas que puxam do travão de mão mal tocam no chão, mais vento, etc. A terra batida julga ser o mais democrático dos pisos, mas só o é na asserção comunista de democracia: igualdade em vez de liberdade. A terra batida nivela por baixo, reduz tudo à semi-mediocridade, e vai tornar-se responsável por nunca ter dado um Grand Slam aos dois maiores jogadores de ténis da história da humanidade. É uma vergonha.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Skoda-se

(...) O encerramento, ainda que temporário, da Praça das Flores, alugada, mercantilizada, a uma marca de fabricante de automóveis, é simbólica do desprezo que é concedido ao espaço público. E da sujeição da política – polis – aos interesses privados, ainda que legítimos. O desdém institucional pelos cidadãos não é, também, de menor gravidade. Se a ideia de V. Excia. de “democracia participativa” passa pela exclusão dos cidadãos das decisões, creio que labora num erro que fere a cidade e a política. Se o conceito de V. Excia de cidade e cidadania passam pela segregação e pelo ressentimento – que na prática é o resultado imediato desta decisão de vender por trinta dinheiros a Praça das Flores – é lamentável. E politicamente hipócrita. (...)

O João escreve uma carta aberta a Sá Fernandes sobre o aluguer da Praça das Flores à Skoda

Bolinha

Parece que um tribunal aí mandou dizer que touradas só com bolinha e depois das 22.30. A «notícia» foi tratada com o merecido silêncio, mas os blogues estão cá para tapar os buracos. E que tenho eu a dizer sobre isto? Que, número um, não me podia estar mais nas tintas se a tourada dá com bolinha ou quadradinho e às 22.30 ou às 02.45; e, número dois, que acho muito mal na medida em que coloca em «horário nobre» uma programação lamentável e que dificulta a vida de quem só tem quatro canais. Talvez por isso já tenha assinado a televisão paga, até porque não sou burro: ao assinar agora oferecem-me a Sporttv durante o primeiro mês, e em que mês é que estamos? (O tribunal que se deixe é de merdas, porque aquele torso nu do Cristiano Ronaldo pode muito bem passar por pornografia, e se vamos levar esta coisa do ambientalismo* até ao fim acabamos todos a ver a Rua Sésamo à meia-noite só porque está lá a Alexandra Lencastre.)

*«I came out here to enjoy nature. Don't talk to me about the environment.» Danny Crane, claro.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Estamos

em 2048 e Osvaldo Manuel Silvestre escreveu o obituário de Pedro Mexia.

Psst

Há vida ali.

You've done it again, Virginia



Se eu disse que isto não me foi entregue agora mesmo estaria a mentir. Voltarei para a review.

Pergunta retórica

Mais alguém adora esta batalha de egos entre Lobo Antunes e Saramago?

segunda-feira, 2 de junho de 2008

«Dançar»

Há pessoas que não dizem os 'R's; eu não danço. Minto: danço. Danço se. Das duas uma: ou estou emocionalmente alterado (o álcool pode ajudar) ou danço por aquela canção me faz dançar. Acontece em festas: há um DJ que mete música (geralmente e quase sempre de mau gosto) e as pessoas dançam. Não dançam aquele tema, não dançam porque estão a comemorar seja o que for. Dançam porque lhes apetece dançar e o pretexto surgiu. Acho isto muito estranho. Nunca me apetece dançar, mesmo quando estou a dançar. Se - suponhamos - estou a ouvir Vampire Weekend e o pezinho começa a balançar, não o impeço, mas não me orgulho. E sei que estou a fazer má figura (danço mal, como toda a gente que dança pouco.) Em geral os homens fazem má figura a dançar, e quando não fazem geralmente ou são gays ou engatatões. Feliz e infelizmente (respectivamente) nunca foi nenhuma das duas, pelo que costumo optar pela abstinência. Foi o Pedro Mexia que disse uma vez que quem gosta muito de dançar gosta muito de sexar. Estou de acordo, mas há que respeitar a nuance de o inverso não ser necessariamente verdade e seguirmos em frente com as nossas vidas sem preconceitos nem discriminações.

domingo, 1 de junho de 2008

Indesmentível

- Epá, isso filosoficamente e doutrinariamente é indesmentível...
- Pois pá, ...

Dois senhores que se cruzaram comigo ali na Rua da Conceição.

Manuela (III)

Ora, há também a satisfação de perceber - finalmente - que as directas são boas. Acredito filosofica e doutrinariamente - nas directas, mas até agora os exemplos assustavam um bocadinho. Com a eleição de Manuela Ferreira Leite ficou provado que as bases não são parvas e que o povo não se deixa levar. E não será destituído falar-se na boa e má moeda.

Manuela (II)

Escrevi no post anterior que Manuela Ferreira Leite vai ter muito trabalho pela frente. Vai deparar com gente rancorosa e com gente subtil. Uma mulher divorciada, avó, quase com 70 anos e a quem em tempos os adoráveis estudantes universitários brindaram com cartazes que diziam "Ó vaca: dá cá o leite!" , ultrapassará esses obstáculos.
MFL entrou como luva de lã em mão gelada. A sua liderança resulta do abandono do líder anterior e foi desejada: isto é cimento natural. A partir daqui, sem projectos megalopatas ou de ocupação de trincheiras, e não sendo delfim de Cósimo, MFL poderá falar para o país.
As próximas eleições são no Inverno e uma voz franca e calorosa será certamente ouvida.

Filipe Nunes Vicente

Manuela (I)

Antes de outras observações, o seguinte: Manuela Ferreira Leite é a primeira mulher líder de um partido político com expressão parlamentar em Portugal. Sem quotas.

Francisco José Viegas, como sempre a separar-nos o trigo do joio.

Comic relief

É supersticioso?

Acredito em Deus, acredito nas coisas positivas (...)

Luís Figo, em entrevista à Única