segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Ao fundo, D. Sebastião



Ao homem pacato é negado o luxo de não comemorar a «passagem de ano», de se deixar ficar quieto a olhar pela janela (na imagem: da janela, no meu outro blogue). Para isso o homem pacato teria de ser também um homem sem amigos, sem telefone, recolhido num canto esquecido da geografia, tão esquecido que nem está assinalado nos tomtoms. Como o homem pacato está inserido numa rede social, uma comunidade de pessoas de maioria não pacata, a recusa a convites para champanhe e passas - geralmente com muitos desconhecidos à mistura, nas passagens de ano há sempre muitos desconhecidos, gente que não conhece a nossa cara e que portanto está disposta a acreditar que o ano que se inicia trará «tudo de bom» para nós - é geralmente mal interpretada. Dia 1 de Janeiro é feriado, dia mundial da Paz, com maiúscula, numa escolha acertadíssima por parte de quem escolhe os feriados - haverá alguma Alta Autoridade para o efeito? A Paz, o sossego, o silêncio, uma ideia de continuidade versus esta ideia de ruptura total - não há quem não exclame que «este ano vai ser tudo diferente» - é uma ideia que agrada mais ao homem pacato, que apenas deseja um ano igualmente bom ao que passou, não pior, não melhor. Porque quem habitualmente junta os desejos de transformação ao champanhe só pode ser um homem pessimista, incapaz de acreditar num futuro melhor quando está sóbrio, que desconfia do mundo real e que se refugia na irrealidade do fogo de artifício desfocado pelo Raposeira. Dia 1, dia mundial da Paz, quanto tudo o que sobra da folia da noite passada é uma cefaleia filha da puta, já nada se apresenta com a mesma auréola divina, já tudo voltou ao mesmo de sempre, o mesmo de sempre de que pretendemos fugir, para onde?, ninguém sabe, bebe mais um copo, irmão. O mesmo de sempre que é exactamente aquilo que o homem pacato desejou mas a quem ninguém deu ouvidos. Ao homem pacato é exigido - exigem-lhe - que comemore a «passagem de ano», coisa de que desconfia: afinal, o que há para comemorar se um ano bom chegou ao fim e está aí à porta um ano desconhecido?

domingo, 30 de dezembro de 2007

Um agradecimento

O Pedro Mexia incluiu este blogue na sua lista de melhores do ano. Não vale a pena fingir que é mais uma lista como as outras: foi por causa do Pedro que eu comecei a escrever - A Coluna Infame, lembram-se? - e foi ao Pedro quem eu mais tentei copiar, sem sucesso. Não usarei nem falsa modéstia nem humor - enfim - para reagir. Serei sincero. Obrigado.

Embora fique claro que o «Pedro Mexia» da blogosfera não usa a mesma tabela crítica do «Pedro Mexia» crítico literário: é óbvio que on-line os critérios de qualidade são mais desleixados. Aliás, nem é de «qualidade» que se fala quando se avalia blogues mas de afinidades e cumplicidades mais ou menos acríticas, numa elevação do «gosto» a critério último de avaliação. Mas é assim que tem de ser.

SMS para «Rogério Casanova»

Que eu saiba, não.

SMS para Tiago Galvão

Sim, confirmo essa «felicidade».

The Ivo Canelas Show



Não devemos cair na tentação de esperar de Call Girl cinema de autor, a não ser se percebermos que uma das características de António-Pedro Vasconcelos é a sua aptidão para nos entreter e bem. Estamos perante um exemplo de cinema comercial português, uma categoria que não conta com muitos exemplares que se apresentem, situação que tem contribuído para o definhamento de uma suposta «indústria» cinematográfica portuguesa. Call Girl, que é honesto no seu pressuposto, funciona bem e não depende em exclusivo de Soraia Chaves para cativar o público - embora esta taxa seja muito alta no sector masculino da audiência, não há como negar esta evidência. Passemos às fragilidades: o argumento, ou se quisermos, o trabalho de escrita. Nem só de diálogos vive o argumentista, e se em Call Girl as palavras das personagens não nos envergonham - sobretudo no calão da gíria masculina - já a trama que lhe serve de base é algo simplista e pouco elaborada. Como o são também as personagens, e é aqui que Soraia Chaves sai a ganhar porque para além de Maria só a personagem do inspector da PJ interpretado por Ivo Canelas - já lá iremos - se pode orgulhar de não ser totalmente bidimensional. Até um certo ponto é pena que António-Pedro Vasconcelos denote uma tendência para mostrar e contar em demasia - e não falo da pele da protagonista que nunca chega a fartar - fazendo um filme que não dá espaço para a surpresa e que não convida o espectador a entrar no jogo: tudo é explicado como se faz às crianças. A única surpresa que o filme nos dá, uma espécie de twist sem consequências, é tão descabido que mesmo que se não fosse um spoiler não mereceria mais do que uma linha. Já o trabalho dos actores está uns furos acima do dos argumentistas. Nicolau Breyner é perfeito na pele do autarca simplório e bem intencionado mas muito permeável às pressões; Ana Padrão tem uma brevíssima passagem pelo ecrã que deixa saudades (é um crime contratá-la para aparecer 5 minutos, como disse ontem o Pedro Mexia no Público); José Raposo é consistente no papel de colega mais velho de Ivo Canelas, como o é Maria João Abreu no papel de amante quarentona e carente do autarca; até Sofia Grillo, cuja presença é ainda mais breve do que a de Ana Padrão, deixa boa impressão. Para esquecer só mesmo Joaquim de Almeida, e este é um dos poucos pontos em que estou de acordo com o Pedro Mexia. Aqui chegados, sobram Soraia Chaves e Ivo Canelas. Se de Soraia Chaves já muito se tem falado, já Ivo Canelas - que tem um nome que apetece repetir várias vezes, este Ivo Canelas - não tem tido a merecida projecção. E a verdade é que Ivo Canelas é o grande solista de Call Girl, com uma interpretação que rivaliza em magnetismo com Soraia Chaves, o que não é dizer pouco, num tipo de papel que costuma ser uma armadilha para os actores por ser uma personagem algo espalhafatosa, gingão, hiper-confiante e ruidoso. Canelas fá-lo com mestria. Por favor contratem este tipo para mais filmes. Numa nota um bocadinho mais geek, julgo que o apartamento de Maria se situa num edifício do Parque das Nações desenhado por Manuel Aires Mateus, pormenor que não posso garantir, mas que a ser verdade não deixa de ter o seu interesse.

Ou seja, Call Girl é um filme bem conseguido que acrescenta aos pecados originais do cinema comercial mais uns quantos que lhe vêm da inexperiência portuguesa no campo, que não chegam apesar disso para ferir de morte o exercício. E Soraia Chaves assume-se por direito como o sex-symbol do cinema português, o que é muito agradável: já estávamos à demasiado tempo a viver às custas de Alexandra Lencastre.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Era só isto que eu precisava de ouvir

Mestre Alfred Hitchcock referiu-se a dado momento aos seus filmes como sendo fatias de bolo. Aproprio-me da formulação do saudoso Alfred para dizer que um bife por muito bom que seja nunca deixa de ser bife. Call Girl, claro está, é um bom naco: e isto, acreditem se quiserem, não pretende ter qualquer subentendido brejeiro aplicado à silhueta da protagonista. É filme de "gajo" para onde se deve ir com o espírito daquele que pega num jornal ou numa revista (num livro?) para passar o tempo. E é cinema na medida em que assim o definem as características de produção, distribuição e exibição, mas não quer ser sétima arte coisa nenhuma. Exibe razoável competência industrial (que não temos), personagens e situações credíveis e diálogos bem armados, carregados de vernáculo e chico-esperteza lusitana. Call Girl parece-me ter por principal modelo o Instinto Fatal, de Paul Verhoeven (APV fala antes em O Anjo Azul, de Sternberg...), que deu popularidade universal a Sharon Stone: a música é a esse nível esclarecedora. Trata-se claramente de uma fantasia masculina: tira o chapéu ao Cães Danados de Tarantino e a narrativa tem alguns condimentos bem pulpy. À nossa escala contribuirá para projectar a carreira de Soraia Chaves. E justifica tornar-se num sucesso de bilheteira. Até porque há dias em que um bom bife (em sangue) é a melhor coisa que nos podem dar.

Ricardo Gross

Юлія Тимошенко



No passado dia 18 de Dezembro Yulia Timoshenko assumiu o cargo de Primeira-Ministra da Ucrânia, facto que não poderíamos deixar passar em claro.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Do coração

Não entendo quem me lê. Há blogues em número suficiente para ocupar o que resta das vidas de todos aqueles que não são eremitas incomparavelmente melhores do que o meu. Ainda assim, as pessoas lêem-me. Notem, eu escrevo porque preciso. Não me lembro porque começou. Já só sei que preciso. Gosto que me leiam, não minto, mas o síndroma marxista de não querer ser sócio de um clube que me aceite com membro (ah, não era esse marxista, seu safado) assume-se sempre quando estou na presença de alguém que se diz meu leitor: não sei se quero ser lido por quem me lê. Porque quem lê uma linha escrita por mim decide, conscientemente e aparentemente de livre vontade, não ler outra coisa qualquer e eu tenho parca tolerância ao mau gosto. Para além da minha mãe, que se preocupa com o que eu faço, e da minha sogra, que se preocupa com o que eu faço à sua filha, não reconheço ao meu blogue a capacidade de atrair seja quem for. Se eu pudesse, não escrevia mais. Dedicava o meu tempo a ler mais ou a lavar mais vezes a casa-de-banho. Não que ela ande suja. Não anda. Era só uma figura de estilo cujo nome me escapa. Aliás, é um voto de fé que faço declarar isto uma figura de estilo, porque razão razão tinha a minha professora de português do 11º ano - não me lembro do seu nome, apenas recordo uma permanente de 80 centímetros de envergadura - que, ao entregar-me a prova global carimbada com um 16, soltou: «Não sei se o milagre foi seu ou se foi meu». Também não sei, era sobre Os Maias e eu tinha lido só 235 das 689 páginas. O livrinho amarelo da Europa-América fez o resto, o que serve de retrato do nosso sistema de ensino, da Europa-América e de mim próprio. Boa noite.

Had Napolean

Mrs Clinton leads her troops through the snow with such discipline that, had Napolean copied it, he might have conquered Russia.

The Economist, December 22nd 2007 - January 4th 2008, pag. 73

Estreia hoje



E a minha mulher já me deu autorização.

Mais que fazer

Absolutamente delicioso este troço de correspondência escola - setinha - família, aqui reproduzida no Abrupto, que reproduzo aqui:

De: Prof. de Ciências
Para: Enc. de Educ.

Mensagem: Informo que a sua educanda não realiza os trabalhos de casa pela 3ª vez, prejudicando a sua avaliação.
Agradecia que a chamasse à atenção.
Sem outro assunto, XXX.

De: Encargado de Educação
Para: Senhora de Ciências

Mensagem: Venho por este meio que eu como encargada de educação. Sei que por lei os alunos não são obrigados a trazer trabalhos de casa, pelo horário que tem de sair as 18 horas e 30 minutos da Escola. E os pais quando chegão a casa tem mais que fazer do que saber se eles tem trabalhos ou não.
Maria.

Como é óbvio a razão - apesar de não acompanhada pela ortografia - está toda do lado da «encarregada de educação».

Deixa que eu te mostre a minha conta bancária e depois falamos

(...) Todos estes nomes têm uma particularidade: são pessoas de sucesso. (...)

Ahahahahahahahahahah, ai, uhuhuhuhuhuhu, eheheheheh, iii... ahahahahahahah, eheheh, cum cara... ahahahahah, aii, ai. Valeu.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Redacted



Redacted, de Brian de Palma, é um exercício formal interessantíssimo. Tem como ponto de partida a construção de uma narrativa com recurso a uma espécie de manta de retalhos em forma de vídeo, uma aglutinação coerente de vários suportes, quase todos mimetizando o vídeo amador. Os eventos que se passaram antes, durante e depois de um incidente que ficou famoso são contados através do vídeo amador de um soldado, de um pseudo-documentário francês, notícias de telejornal, vídeos no YouTube das mulheres dos soldados, etc. A agarrar todo o filme está a ideia fortíssima de que a câmara nunca é anónima. Ou seja, sabemos sempre quem está a filmar e em que condições o está a fazer. Mesmo quando De Palma precisa de recorrer a uma câmara anónima - ou seja, nas cenas em que foi preciso mostrar eventos cujos protagonistas não poderiam estar conscientes do observador - sabemos sempre de onde nos vêm as imagens: ora de uma câmara de segurança ou de uma câmara dissimulada num capacete. Formalmente irrepreensível, tudo o resto é propagandístico e até certo ponto sem muito sentido. De Palma, como todo o profissional de Hollywood, vê na guerra do Iraque uma espécie de Vietname II, uma mania pela sequela muito típica daquela classe profissional, e não quis perder a oportunidade de nos deixar o seu grito de alerta. O problema é que escolheu um motivo errado: não faz sentido por em causa uma guerra recorrendo aos seus crimes. A existência de crimes de guerra não compromete a validade ou necessidade da mesma, e o que De Palma faz neste Redacted é a denúncia de um determinado crime - hediondo - da guerra do Iraque, omitindo, como sempre o faz Hollywood, o facto de os seus suspeitos - enfim - terem sido formalmente acusados e esperarem o desfecho do processo que os pode levar à pena de morte. Pelo que nos é contado no filme, ficamos com a sensação de que a culpa morre solteira, o que é desonesto e compromete a seriedade da obra.

Uma última nota: o filme é produzido por Joana Vicente, filha do «nosso» Manuel Vicente, que é já um dos principais nomes do cinema digital americano.

Efeméride

Entretanto ontem comemorou-se mais um aniversário de um almoço de Natal que despoletou na minha mãe um acontecimento caracterizado na gíria como «rebentamento de águas», que levou a que no dia posterior a esse - cá estamos - viesse a nascer aquele que viria a ser o seu primogénito. Yours truly.

Uma evidência que é evidência

O Tiago Cavaco - que está em analepse youtubística num post imperdível intitulado «Uma prenda de Natal», vão ver - fala bem sobre uma evidência que é evidência para todos os que têm os olhos abertos:

Blogosfericamente falando
Dois mil e sete foi do Casanova. Por muito mas sobretudo por isto: num país em que a cultura pertence a gente que mais facilmente adormece a fazer amor que a ler um livro, o Pastoral Portuguesa é um abrigo e uma desculpa para a esperança.

O Maniche

Acabei de ver um indivíduo igualzinho ao Maniche de fato de treino na fila para comprar o passe do Metro. Apesar de saber que o Maniche recebeu recentemente guia de marcha do Atlético de Madrid e que portanto deve estar a precisar de poupar porque o subsídio de desemprego não dá para grandes luxos, acho que não era o Maniche mas apenas alguém muito parecido com o Maniche, que por sinal tem aspecto de quem vai de fato de treino para o Metro renovar o passe, embora acredite que não vá.

Bento XVI

Joseph Ratzinger, aliás, Bento XVI escreve como um académico (que é). Ao lê-lo, naquilo que é essencial e não dogmático, começamos a dar o benefício da dúvida ao Espírito Santo. Afinal, parece que este era mesmo o homem certo na altura certa. A cada um os seus méritos: Ratzinger nunca chegará a gerar um décimo da simpatia que Wojtyla gerava, mas chegará muito mais longe para aqueles que sempre desconfiaram de grandes multidões. João Paulo II falava para a grande família católica e não precisava que a comunidade deixasse de cantar para o ouvir; Bento XVI fala directamente ao nosso ouvido e exige silêncio e atenção. Mas não nos pede para concordarmos com ele, o que é um sinal da mais elevada maturidade intelectual. E de respeito pelo leitor também.

A propósito de uma encíclica e de um livro cuja leitura iniciei há dias.

«o nunca ter fumado um charro emergiu, nos círculos onde me movo, como uma excentricidade prestigiante»

Porque nunca fumei um charro, por Bruno Sena Martins:

1- É ilegal (começo com uma piada)
2- "A minha cultura é a do álcool" (com as devidas distâncias, permitam-me que me sinta em casa na frase lapidar de Vasco Pulido Valente)
3- Sou dado a vícios e uma vez neles entrado estou desgraçado. Por isso dou corda a poucas coisas com reconhecível compleição de vício (p. ex. nunca instalei jogos no meu pc, não vejo séries que agarrem (com excepções), deixei de ver novelas antes de deixar de gostar delas, raciono a compra de caju nos 3 quilos por mês).
4- Escolho os vícios em vez de os acumular (tampouco tenho pretensão de os extirpar)
5- Por nunca me ter iniciado no tabaco nunca aprendi a "travar" (parece que para os charros é um "gesto anatómico" basilar)
6- Por nunca ter aprendido a travar, sempre contei com o espectro do ridículo a adjuvar-me quando era o momento de dizer "passo"
7- Numa inversão dramática, a partir de certo momento, o nunca ter fumado um charro emergiu, nos círculos onde me movo, como uma excentricidade prestigiante comparável a saber a Odisseia de cor (sou muito sensível a glórias imerecidas).

sábado, 22 de dezembro de 2007

Bom Natal

(...)

Porque se desviaram de Deus?

Exacto. Porque, repare: Deus é ateu. Deus não coloca a questão de Deus. Na autêntica perspectiva religiosa, e nomeadamente no cristianismo, Deus manifesta-se não por causa dele mas por causa das mulheres e dos homens, da sua felicidade. E por isso remete o homem também para a autonomia. As Igrejas têm dificuldade em aceitar a autonomia dos seres humanos. Falar de outro Deus é poder e domínio. Ora, uma religião ou é liberdade ou não serve para nada. É a isso que se chama salvação. Então, os crentes só têm que fazer o que Deus fez: interessarem-se pela Humanidade. E este é que é o grande culto a prestar a Deus.

E é neste paradigma que situa também o cristianismo.

Uma religião opressora, que humilha o Homem, interpreta-se mal a si própria. Repare que Jesus, no capítulo 25 do evangelho de Mateus, diz que no «Juízo Final» - quando se refere à realidade última de cada pessoa e da História - não se perguntará por actos religiosos, por actos de culto, mas si por coisas corpóreas, materiais: «Deste-me de comer, foste visitar-me à cadeia, vestiste-me...» Portanto, a relação do crente com Deus só se torna autêntica se efectivamente for uma dignificação de todos os seres humanos.

(...)

Entrevista a Anselmo Borges, Actual 22.12.07

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

2007 (6)

A Pastoral Portuguesa.

Runners-up, ou A Lista de Blogues Cujo Fim Me Deixaria Profundamente Contrariado: A Causa Foi Modificada, Devaneios, Diário, Estado Civil, hARDBLOG, A Memória Inventada, A Origem das Espécies e Voz do Deserto. Para 2008 prometo começar a ler mais blogues, até porque já descobri uma série deles que só por preguiça ainda não fazem parte da minha rotina.

2007 (5)

2007 (4)




2007 (3)

2007 (2)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Sinais dos tempos

«A sua opinião é soberana, ainda não chegámos à Venezuela.»

(Um operador de telemarketing, agora mesmo, tentando convencer-me a receber o «delegado comercial» de um banco para 10 minutos de conversa sobre um cartão qualquer.)

2007 (1)

Serviço público

www.fhm.pt

Zapping 2

Na TVI:

- Ohohohohohohoh, sou o Pai Natal e trago bué de prendas!
- És mesmo estúpido, o Pai Natal não diz «bué».
- Como é que sabes?

Entretanto, da Wikipedia:

A razão para tanto sucesso é simples: é impossível não ficar contagiado com tanta boa disposição! Cada programa é recheado de anedotas, contadas por uma excelente equipa de actores, onde os mais de 350 cenários não passam despercebidos. Do manicómio à prisão, dos amigos pescadores aos alentejanos, as situações criadas fazem rir o país inteiro. Gargalhadas e bom humor estão sempre presentes neste programa que, todos os dias, nos diverte até à exaustão.

10 euros em como o IP que escreveu isto é de Carnaxide, ou Outurela, ou lá onde é que aquilo é.

Por exemplo, «Os blogues do ano», ou assim

Quero começar a trabalhar mas está difícil:

«Pedro Mexia» apareceu hoje no concurso televisivo do Malato como uma das hipóteses de resposta. O concorrente escolheu precisamente essa hipótese. Era a resposta errada.

Pedro Mexia

Eu tinha um gerador de gráficos no meu ZX Spectrum que fazia umas coisas daquelas, mas com mais variáveis.

maradona

E mesmo ao lado, no estaminé das novidades, um belíssimo paperback do Against the Day! Tomei a liberdade de lá enfiar um papelinho com o meu nome e número de telefone, na eventualidade de o comprador querer esclarecer alguma dúvida, ou simplesmente ser meu amigo.

«Rogério Casanova»

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Excessiva

Brasília



Brasília tem asas? Terá, mas não tem patas. E assim fica difícil de equilibrá.

Paris

Conheço gente que flanou em Paris, precisamente na ocasião de um Erasmus de Direito. Gente que me arrastou até às portas da Sorbonne; até aos crepes do bexigoso da esquina - ainda que um belo crepe, reconheça-se; até Saint Germain des Prés, passando por Saint Michel, indo até à Rue de Rivoli, ao Pompidou (embora aqui os papéis se tenham invertido) e, claro, ao Jardin du Luxembourg, e mais uma série de pontos de um mapa de recordações mais ou menos enigmático. Gente que é boa gente, sem dúvida, diria mesmo excepcional. Gente que, Gonçalo, ficou agarrada a Paris como um Maradona à cocaína, é este o aviso que te deixo.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Parem as rotativas, ou Da superioridade da civilização francesa



Sarkozy, primeiro entre iguais.

Deitar o menino fora para ficar com a água do banho

À nossa volta (falo por nós, leitor) as pessoas lamentam-se sobre a perda de significado do Natal; como a quadra já não é o que era; como tudo parece ser um grande aborrecimento; como até o «estar com a família» já não é o que era. As «famílias» também já não são o que eram, as pessoas divorciam-se, voltam a casar, emigram, uma chatice. Compreendo o lamento mas, se me permitem, avanço com a causa. O pecado capital. A raiz do mal. E como hoje vai chover e eu estou bem disposto disponho-me a partilhar convosco o segredo: o Natal é uma festa religiosa. Um feriado cristão, uma celebração que não é só deste mundo. O Natal é a festa que assinala o nascimento de Jesus Cristo, um judeu de Nazaré que se disse Filho de Deus e alguns acreditaram. Os descendentes desses e os descendentes destes foram perpetuando a tradição: dia 25 de Dezembro, a data que se escolheu, celebra-se o dia do nascimento do Salvador, que nasceu filho de Maria e de pai incógnito. Isto, meus amigos, é o Natal. Não tem nada a ver com sonhos, filhoses, prendas, pais natal e bacalhau. Nem tem, na essência, a ver com a «família». O que tem acontecido nos últimos tempos é uma purga do significado religioso do Natal, do significado religioso da nossa existência, valha-nos Hitchens. Uma preguiçosa atitude que deita fora o menino mas que quer ficar com a água do banho porque ela é quentinha. O resultado está à vista: o «esvaziamento» do Natal. Lamento, mas não há volta a dar. Ou se é cristão ou então o Natal é perfeitamente dispensável e apenas e só mais um aborrecimento. Uma despesa. Uns dias infernais, de centros comerciais e cartão de crédito. Se querem paz e sossego ignorem-no. É assim.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Da série Se Sá Carneiro chegasse hoje a Portugal

Estamos nisto

Há minutos ouvi José Miguel Júdice dizer que se Sá Carneiro chegasse hoje a Portugal não fundaria o PSD porque o actual PS é um modelo de «sá-carneirismo». E acabo de ouvir um jornalista no mesmo Rádio Clube dizer que António José Teixeira é um «moderado», embora tenha feito uma declaração de interesses onde se declarava «amigo» de Teixeira. Estamos nisto. Sócrates equiparado a Sá Carneiro, António José Teixeira apresentado como «moderado». Moderado, ou seja, equidistante de Soaristas, Guterristas, Coelhistas, António-José-Seguristas, Socratistas, Costistas, Sampaiistas, Almeida-Santistas...

Sexiest



«Architects 'are sexiest', but they prefer Lawyers.» É este o mote do Registo Civil. Claro que devemos estar na presença de um advogado, porque não há nenhuma base de dados empírica que sugira e sustente uma afirmação destas e cujo pressuposto me parece falacioso. Ou seja, ganhamos menos, mas temos mais glamour. E se me dão licença, vou ali para o canto acreditar no Pai Natal.

Na imagem: um arquitecto.

(Na versão original surge um dado interessante: enquanto que os arquitectos masculinos aparecem no topo da lista das preferências femininas, o mesmo não acontece com as mulheres: «However, female members of the profession fared less well and did not feature in the top 10 of male preferences.» Sobre isto não faço comentários. Considerem isto um «silêncio corporativista.»)

domingo, 16 de dezembro de 2007

Do insulto

Tu até és parecido com o António José Teixeira.

Topava-se que era um académico

Tinha a Bíblia sublinhada e anotada.

sábado, 15 de dezembro de 2007

A ilustre casa de Casanova

Não fosse a lista que antecede «o Complexidade» tão ilustre e eu teria de me chatear com esse «mais ou menos por esta ordem». Desta vez escapaste, Casanova.

Há muito que decidi - um blogger semi-profissional é um blogger preparado - eleger «o Pastoral» como o melhor blogue de 2007. Portanto, quanto eu o fizer oficialmente não venham para aqui dizer que isto é retribuição de favores, ou assim. Aliás, gente que não percebe que o Pastoral Portuguesa é o melhor blogue de 2007 não merece que se continue a dialogar.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

By the way

Visit X09.eu

Adenda: Escreve Eduardo Pitta:

(...) Porém, em matértia de referendo, ou seja, da exigência de referendo, convinha que fossem mais claros, dizendo, de uma vez por todas, que não querem a Europa. Mas ainda não vi nenhum com tomates para o fazer.

Com tomates ou sem tomates, com todo o respeito, não é essa a questão. Eu desejo um referendo mas não quero Portugal fora da Europa. Eu desejo um referendo porque entendo que este é o momento de haver uma legitimação popular da «Europa», coisa que nunca houve na maior parte dos estados membros (como por exemplo Portugal). Eu desejo um referendo e, provavelmente, votaria «sim», como espero que a maioria votasse. Não quero inviabilizar o crescimento desta inevitabilidade, nem quero abrandar o comboio. Quero, sim, que a Europa perceba que já deixou de ser há muito uma simples organização de estados, uma simples cooperação estratégica (económica e política) supra-nacional. Temo que cada passo que se dá à revelia do povo seja uma perigosa fuga em frente. Aqueles que temem a expressão do voto popular - que são aqueles que consideram que tudo isto são matérias que o «povo» não entende - esperam vencer pelo cansaço, depositando no tempo a esperança de que este todas as feridas sarará. É uma posição optimista e, de certo modo, arriscada. Eu percebo a inquietação: deixar que a aprovação de um Tratado Constitucional dependa de uma dada conjuntura em 27 estados é difícil de aceitar. Concedo. Então que se dê liberdade aos diversos estados membros de realizar o referendo quando bem entenderem, fazendo uma ratificação parcial, estado a estado, como se fez no Euro, por exemplo. Deixar que isto ande para a frente sem referendo não devia ser uma opção. É uma atitude perigosa e cobarde. Ou seja, sem tomates.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Spick and span



Bom gosto

Ora, o José Mário Silva passou a ser o Bibliotecário de Babel, um espécie de blogue profissional não institucional sobre livros, que se põe debaixo da asa de Borges e que abre com referências a Miguel Esteves Cardoso, para nos fazer lembrar que o José Mário, além de escrever bem, tem um bom gosto invulgar e ideologicamente desempoeirado.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Sentido de humor

Volta não volta lá aparece numa das revistas semanais uma reportagem sobre o Opus Dei, os seus membros, as suas práticas, as suas bizarrias. Desta feita foi na Sábado, mas fico com a sensação de que a reportagem é sempre a mesma, mais vírgula, menos vírgula. E fico também com a sensação de que os tipos do Opus Deis são uns caras gozados (não com esse sentido, galera) e que toda aquela informação é falsa, uma espécie de troça que eles fazem com os nossos preconceitos e fantasmas. Por exemplo, alguém acredita que uma organização adulta diz a um membro adulto que este precisa de aconselhamento ou autorização para ler Eça? Ou Paul Auster? Eu não acredito. Acho que é o Opus Dei a brincar com os leitores. No fundo, como todos sabemos, o apurado sentido de humor é a característica mais evidente nos membros (não esses) do Opus Dei.

You have

jesus christ you have confused me
cornered, wasted, blessed and used me
forgive me girls i am confused
stiff and pissed and lost and loose

Cardinal Song, The National

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Terry Jones passa o Natal em Lisboa

Ricardo Araújo Pereira entrevista Terry Jones, amabilidade de Francisco Mendes da Silva.

O soviético Óscar



Comovo-me com quem se comove com Niemeyer. Não falo dos seus edifícios - porque a arte pela arte é sempre inimputável - nem do seu urbanismo - ainda que bastante mais discutível - falo sim do homem, do velhinho de 100 anos que impressiona pela sua vitalidade. Intelectual, também, apontam-nos. Eu, se me permitem, dispenso. Na entrevista publicada na edição deste sábado do Expresso, o bom Óscar diz-nos que a «débâcle soviética» foi o fim trágico de uma maravilhosa revolução que estava em curso, e acrescenta que o seu maior sonho é uma «sociedade igualitária». Noutra entrevista, aqui, afirma sobre Fidel: «Creo que el ejemplo de coraje y patriotismo de Fidel estará siempre en el corazón del pueblo cubano.» Tudo isto seria perdoável se a senilidade o tivesse tornado inválido. Mas não. Cuidado. O homem está em «óptimo estado» e trabalha como se tivesse 30 anos. Tenham medo.

Se é para entrar no jogo d'O meu velhinho de 100 anos é melhor do que o teu, então eu cito a entrevista de Manuel de Oliveira ao mesmo Expresso. Ganhei.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Apontamentos para uma auto-biografia



Ontem estive a 15 metros de distância de Terry Jones.

A sala do S. Luiz estava às moscas. Deixo-me de moralismos fatalistas, resisto ao impulso insultuoso e fico apenas melancolicamente deprimido: eles não sabem o que fazem, Terry.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Magia



A verdade é que já não estávamos preparados para gostar de um novo álbum de Bruce Springsteen.

Serviço público

O Público de hoje traz uma recensão ao livro de Ricardo Araújo Pereira feita por Miguel Esteves Cardoso. No meu quiosque ainda sobravam dois ou três exemplares, fica ali na esquina da Elias Garcia com a Defensores de Chaves.

Separata

Omissão grave: não queria deixar passar em claro que me esqueci de mencionar o Ricardo Gross neste post. O Ricardo Gross é talvez a pessoa que melhor escreve sobre música (e cinema) aqui no rectângulo, uma escrita que é clara e solta, apaixonada e comprometida, desassombrada e de certo modo independente. Seria ingratidão nossa esquecer que é a Atlântico que lhe dá guarida.

Road trip

O João tem andado pelos interstícios do país, o espaço que sobra entre Lisboa e Porto e que não se vê da A1, locais onde a nossa falta de atenção tem permitido uma genuinidade desconcertante, uma espécie de território em auto-gestão. A ler.

Choque de civilizações

Ao meu lado, no café, uma mulher escolheu para pequeno-almoço um café e uma chamuça.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Ouroussoff



Writing about your employer’s new building is a tricky task. If I love it, the reader will suspect that I’m currying favor with the man who signs my checks. If I hate it, I’m just flaunting my independence. So let me get this out of the way: As an employee, I’m enchanted with our new building on Eighth Avenue. (...)

What's in a name

«Agora vamos mudar para o Chiado, para aquele edifício do Siza Vieira. Aquele do Siza Vieira, que é do Siza Vieira. Na rua do Alecrim, aquele novo do Siza Vieira. Um que fizeram agora, do Siza Vieira, do lado esquerdo de quem desce para o Cais do Sodré. Pessoalmente acho aquilo feiíssimo.»

A EN1

A geografia da EN1 é o compêndio do nosso desprezo pela paisagem num comércio demagógico pelo progresso.

João Miguel Amaro Correia

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

1 para 3

Podias ter avisado. Teríamos feito umas sessões de leituras comparadas, ou lá ou que é.

Porque dá-se a coincidência de ter sido esta novela umas das poucas que eu levei até ao fim. Devo andar num ratio de 1/3, ou similar.

Meets

Foi com alguma surpresa que vi o nome do Pedro Mexia no novo conselho editorial da Atlântico. Surpresa positiva, claro, a que se deve juntar Maria de Fátima Bonifácio (não sei se já pertencia a este conselho ou não) e João Pereira Coutinho (embora este último julgo que já lá estava). Se a isto lembrarmos o Pedro Lomba, juntarmos José Miguel Júdice, António Carrapatoso ou Alexandre Relvas, por exemplo, percebemos que este conselho editorial é uma espécie de Coluna Infame meets gente respeitável, o que não deixa de ter a sua graça. A revista, essa, mudou outra vez de grafismo, embora o resultado não me entusiasme, mas também não atrapalha. Quanto ao conteúdo está mais ou menos na mesma e isto é uma boa notícia. Uma revista onde escrevam regularmente o Rui Ramos, o João Pereira Coutinho, o maradona, o Tiago Cavaco, o Franscisco Mendes da Silva e o Tiago Galvão será sempre uma borla, mesmo a 4 euros. Ah, e de vez em quando lá aparecem Vasco Pulido Valente e Maria Filomena Mónica, embora sempre em edições separadas, vá-se lá saber porquê.

Por assim dizer

A Origem das Espécies deslocou-se.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Lisboa, ou o caciquismo supra-municipal



Depois queixem-se de que no «Sul» o «Norte» seja mal visto.

(A imagem é de uma extrema violência e pode impressionar os leitores mais sensíveis.)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Problemas

Portugal tem problemas. Um deles é a diferença de tom de voz e de atitude que Fátima Campos Ferreira apresenta quando fala com o senhor ministro da Segurança Social ou com o senhor presidente da Câmara de Murça. Eu vi, de dedo apontado, a criatura dizer a um autarca que conseguiu a enorme proeza de inverter a lógica de desertificação do chamado interior do país que este «tinha de mudar isso», sendo «isso» um subsídio que a autarquia dá aos casamentos, porque «isso» prejudica as mães solteiras. Não é só a incomensurável estupidez desta asserção que me lançou ao post, foi sobretudo a evidência de que Fátima Campos Ferreira julgava estar a representar uma espécie de comportamento bem pensante cosmopolita face a um labrego do interior que lá por acaso foi eleito presidente de câmara, buscando com o seu sorriso irónico afinidades com a plateia de Lisboa, provavelmente integralmente constituída por pessoas que votaram sim no aborto, que são a favor de casamentos entre pessoas do mesmo sexo, que acham que uma união de facto é equiparável a um casamento, que são ateias, que falam inglês, que têm tv cabo, que, que, que. Este problema é como a santíssima trindade, tem três realidades distintas: (1) é um problema em si mesmo o facto de Fátima Campos Ferreira existir; (2) é um problema alguém ter tido a ideia de lhe oferecer um prime-time; (3) é um problema eu estar aqui a dar atenção a isto, sendo que esta última dimensão é a que me afecta mais.

Uma nova forma de escrita musical

Não fora estas modernices da interpretação e do carácter ahistórico e não literal dos textos e estavam reunidas as condições para garantir que o que eu vou dizer a seguir é tão verdadeiro quanto a Bíblia: a transcrição que o maradona fez da letra desta música cantada pela Aretha Franklin tem a exactidão de uma partitura manuscrita por Johann Sebastian Bach, letra a letra.

Bonito de se ver

Está bonito de se ver a esquerda a dizer, a propósito da derrota de Chávez no referendo que lhe daria o poiso de presidente até 2050, que afinal a Venezuela ainda é uma democracia, ao contrário do que esses tipos mal intencionados da direita insistem.

Acho que isso tem um nome

Sobre o que se passa na Atlântico eu tenho uma tese: o Tiago Galvão roubou a password ao Tiago Mendes.

O Abrupto ilustrado pelo Complexidade e Contradição



Duas notinhas: isto tudo porque adquiri um aparelho de tirar retratos digitais que me deixou muito orgulhoso. É da Pentax, e é a terceira do meu historial, sendo também a terceira marca, depois da Canon e da Nikon, e não foi nenhuma insatisfação que quebrou a minha fidelidade a estes fabricantes, foi mesmo capricho. Ou seja, nestas coisas sou promíscuo.

Segunda notinha: Mas só nestas coisas. Esta mão, que eu não nego que me pertence, será toda a pele própria que aparecerá por aqui antes da minha senilidade. Senilidade pela qual, aproveito a oportunidade que me dão, eu anseio desesperadamente. Estou aqui que nem um Nuno Gomes à espera dos golos. Claro está, se eu mantiver um blogue na senilidade será compreensivelmente rated R e não prometo que honrará os meus netos, naquilo que será uma falta de solidariedade institucional familiar intergeracional mas ao contrário: manchar o nome por cima e não por baixo como costuma ser apanágio destas coisas.

Olha que me sujas o estuque, pá

Naomi Watts

(...) Nesse sentido, Naomi Watts não tem felizmente nada a ver com a mulher concreta ou inventada dos tempos moderníssimos, como a «feminista capitalista» das séries televisivas ou a inocente vestida à puta dos videoclips. Naomi sofre e sente, como toda a gente, mas não tem medo de sentir e sofrer à frente dos outros. Essa coragem é que nos comove, porque a vemos tão pouco. E poucas vezes treme assim nuns olhos tão azuis e tão líquidos.

Pedro Mexia

domingo, 2 de dezembro de 2007

On Chesil Beach



A lista de melhores romances de 2007 começa daqui para baixo.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Desvantagens de ter um blogue individual

Não poder, sem cair no ridículo, usar o plural.

Por isso vou andar também por aqui, devidamente acompanhado, provavelmente com a assiduidade e empenho do Gattopardo.

Jesualdo

Leio nas secções desportivas dos jornais decentes - isto porque mesmo estando o Miguel Esteves Cardoso na primeira página d'O Jogo resisti e poupei assim uns 90 cêntimos, ou lá o que aquilo custa, que vou já aplicar no meu recém-criado PPR - que o Benfica vai entrar hoje em campo com o mesmo onze que humilhou - eerr... - o A.C. Milan. À partida acho bem, em equipa que ganha - eerr... - não se mexe, princípio que não me envergonha. Mas há qualquer coisa que me deixa intranquilo, que nem mesmo a boa exibição contra a melhor equipa do mundo há 3 dias apazigua. Contra o Porto as regras mudam no estádio da luz, é assim há demasiado tempo. Não falo só das arbitragens, falo de uma incapacidade que se apodera dos gémeos e das coxas dos nossos jogadores, um atrofio dos respectivos cérebros, uns sururus que vêm das bancadas. Não, não estou optimista, não faço ideia se vamos ganhar mesmo considerando Jesualdo. Jesualdo, já que aqui estamos, que é o cidadão português que apresenta o maior diferencial entre as suas capacidades e o modo peculiar como o próprio as avalia, resultando isto num homem que é todo um convite à agressão violenta. Ou seja, era importante para o país que o Benfica ganhasse hoje, mas não sei.

Vêm aí os Hunos, por Filipe Nunes Vicente, o blogger mais subvalorizado do mundo

(I)

O árbitro de Sábado é da Associação de Futebol do ...Porto.. Tanto melhor: sempre se recordam os bons tempos. Pode ser que jogue o Stepanov. Para compensar.

(II)

Átila trouxe Rúgios, Hérulos, Turíngios, Saxões, Alanos e Burgúndios. E também o Lisandro Lopez . Nós só temos o Cardozo.

(III)

A táctica. A gente faz alinhar de início o Cardozo disfarçado de Adu para entreter os bárbaros. A cinco minutos do fim, quando os gajos estiverem a mudar o óleo ao Stepanov, a gente mete o Adu disfarçado de Cardozo. É tiro e queda.

(IV)


O mundo seria melhor sem eles ? Talvez. Mas derrotá-los faz o mundo ainda melhor.

(V)

Amanhã recebemos na Luz gente estranha. Os hunos reverenciam o seu chefe e seguem-no cegamente, como é próprio dos bárbaros. Se o chefe se apaixona por uma lavadeira da Ribeira adoram-na como se da princesa Honória se tratasse; quando a lavadeira cai em desgraça é vítima dos mais variados impropérios. Não têm personalidade.

(VI)

O Cardozo tem de ser neutralizado. Pode parecer esquisito, tratando-se de um jogador nosso, mas é mesmo assim. Outra possibilidade é enfiar-lhe duas botas esquerdas nos pés.

(VII)

A única vantagem de receber a trupe do sobrinho de Roas reside no facto de o Cardozo poder aprender com o Lisandro.

(VIII)

Manhã da batalha. Céu carregado como as chuteiras do Petit, ameaços de água. Pode ser que o Luís Filipe se constipe. Não vou poder ver o jogo em casa. Não é conveniente enfiar-me debaixo da mesa em casa de terceiros.

No Mar Salgado.

10 dos 12

Li no Expresso de hoje - não sei em que página, o primeiro caderno acabou de ser sequestrado pelas separatas de Natal, uma operação concertada com a edição de sábado do Público, pelo que só depois de esgotar o plafond do meu cartão de crédito para o mês de Dezembro os rebeldes prometem libertar os reféns - uma notícia que era mais ou menos isto: «Na escola da CGTP 83% dos professores são precários», ou isso. Na notícia ficamos a saber que 10 dos 12 professores da tal escola da CGTP estão a recibos verdes, não têm subsídios de férias, e são contemplados ao final do mês com um salário baixíssimo. Pondo de lado a minha solidariedade com os 10 dos 12, esta notícia fez-me o dia.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Já agora



(Já que aqui estamos, peço esta imagem emprestada à Bomba-Inteligente.)

Chame-se a ASAE

Dois acidentes graves na recepção ao caloiro

Nunca mais se acaba com esta vergonha?

Eastern Promises



David Cronenberg usa a mesma receita de A History of Violence: passados violentos que se atravessam no caminho de nice people. Viggo Mortensen está ainda melhor, Maria Bello é substituída por Naomi Watts (let's call it a tie) o interior remoto dos Estados Unidos é substituído por um submundo russo de Londres. O resultado é igualmente bom, mas fica a faltar-lhe o elemento surpresa - percebe-se que é uma variação sobre o mesmo tema e que Cronenberg está com a mão quente. A construção desta pequena máfia russa - ao jeito dos Sopranos, mas com outro sotaque - é requintada e subtil. E parece que a cada fotograma, um por um, se vai reconstruindo as personagens (dos russos, porque as nice people são sempre nice people) nunca deixando o espectador inteiramente confortável, permanentemente desconfiado sobre as consequências físicas e morais daquilo que se vai passando. Pelo meio, uma das melhores cenas de violência dos últimos tempos. Ou seja, um dos filmes do ano.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Do Sucesso

Do Sucesso, por Pedro Lomba, um indivíduo que, além de ter sucesso, já flanou pela advocacia portuguesa. Papinha toda feita, é o que eu digo.

Como não sou

Se eu fosse do Sporting, como diria o Joel Neto, e tivesse estado ontem o Sporting em campo frente ao A.C. Milan e tivesse o jogo decorrido tal e qual decorreu ontem, então este seria um post de resignação orgulhosa, de transferência de culpas para um fatalismo sobrenatural, de elogios desmedidos aos «nossos rapazes». Porque a verdade é que o A.C. Milan foi ontem vulgarizado pelo Benfica. Tirando os primeiros 15 minutos, onde, de facto, a coisa se enegreceu, a equipa transalpina (toda uma carreira como comentador desportivo que me passou ao lado) foi um conjunto de homens embasbacados com Maximiliano Pereira. Não estava Inzaghi, facto, e não estava Ambrosini, facto, mas estava o trio maravilha - Pirlo, Seedorf e Kaká - como sempre carregado às costas pelo outro trio maravilha - Gennaro Ivan Gattuso. Ora, Pirlo pareceu o tempo todo o Hugo Viana a mandar bolas lá para a frente; Gattuso apresentou-se em campo com a velocidade do Miguel Veloso e a garra do Nuno Gomes; Kaká, enfim, Kaká e Seedorf nunca jogam mal, mas a verdade é que foi só depois da saída de - vénia, vénia, hossanas, vénia - David Luiz que Kaká apareceu isolado à frente de Quim. Nunca tinha visto tamanha diferença de qualidade entre uma equipa portuguesa e uma italiana, e estou a incluir o jogo do Porto de Jardel em San Ciro, 3-2 para o Porto, bis de Jardel e golo de Artur, se não me falha a memória. Se eu fosse do Sporting, estaria hoje falsamente desiludido e verdadeiramente exultante, colocando mais uma cruzinha na tabela das vitórias morais e elevando David Luiz a melhor defesa central do século - que é. Como não sou, puta que pariu o Nuno Gomes.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Ainda assim agradecido

Onde o teu wishful thinking falha é na presunção de que eu não tenho mais irmãos ou, tendo, que são mais novos do que tu, presumindo agora eu que essa coisa do Deuterenómio siga a mesma lógica de tudo o que é hereditário. Não, não és o next in line.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Santana

O Túnel do Marquês? Talvez. Mas hoje sofri um afrontamento semelhante ao passar pelo Jardim do Arco do Cego. Sacana.

Serendipismos

Hoje, durante a minha caminhada de regresso a casa, cruzei-me com um amigo que não via há meses. Meses. O que prova a minha tese de que uma sociedade mais civilizada terá de ser inescapavelmente mais pedonal. Ou seja, se passarmos mais tempo nos passeios seremos mais felizes. E daremos um melhor exemplo às gerações que nos seguirão. Quioto, por exemplo, ficava logo arrumado. E confessem lá, Nova Iorque ou Los Angeles? E quem prefere Los Angeles, será saudável?

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

(Pedido)

Como estive ausente do país durante o fim-de-semana, pedia com um agradecimento caloroso de avanço que me enviassem ou apontassem a recensão que Vasco Pulido Valente fez do «Rio das Flores». Obrigado.

Adenda: O meu pedido já encontrou bom porto. Obrigado Sara.

5 - Shakespeare & Company




4 - separata

Tenho para mim que a Carta de Veneza - que marcou o ponto de viragem intelectual no que toca à nossa relação com o património construído - deveria ser considerara persona non grata.

4

Inevitavelmente lá apareceu a opinião de que «o Pompidou devia era estar na La Défense». De seguida, pôr-se-ia a redoma por cima do Marais, à prova de bala à prova de vida. Lentamente, e orgulhosamente, Paris vai-se museoficando, cristalizando, isolando. Quando dermos por nós já nada haverá a fazer, e milhões serão gastos na requalificação da «velha Paris». Porque a verdade é que as cidades não podem parar, por muito belas que possam ser - e Paris é o climax da beleza física dos edifícios, absolutamente intimidadora no que toca a alterações. Custa. Mas terá de ser.

Renzo Piano é Deus, e Richard Rogers foi seu acólito - Rogers que é objecto, no próprio Pompidou, de uma exposição de carreira, aborrecida, aborrecida, aborrecida de tanta eco-sustentabilidade. Mas admito a minha deformação profissional, e estou disposto a admitir que a comoção que me deu ao ver aquela fábrica ali plantada pode não se estender à população em geral. Mas lá que me deu, deu.

3

Então agora em Portugal têm um primeiro-ministro que chama a polícia quando há greves, não é? Ah, nada melhor do que um socialista.

2

Não sei se Paris é a cidade de que mais gosto (não é), mas é sem dúvida a cidade que mais me pesa quando olho para Lisboa.

domingo, 25 de novembro de 2007

1

Há, seguramente, dois significados para a palavra «beleza»: um antes e outro depois de se conhecer Paris. Mas para um esteta, um radical da beleza como fim último da humanidade, Paris representa uma evidência triste: a beleza, só, não chega. Ou melhor, a beleza, quando abundante, pode ser um espartilho. E em Paris procuramos razões que expliquem não ser aquela cidade o paraíso na terra. Devemos começar, talvez, pelos parisienses, umas bestas quadradas mal agradecidas. Mas isso não esgota a lista de pecados da capital do país presidido por Sarkozy (vénia). Há outros. Há, no fundo, uma noção de que aquela beleza toda não é de graça, e que há um preço a pagar. Os parisienses, talvez, mas deixemos de bater no ceguinho.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Um cidadão em apuros

Do Upper East Side para os Anjos: vamos todos ajudar o Vasco.

Letra de Forma

Letra de Forma, uma espécie de blogue de Augusto M. Seabra.

Eugène Atget







Millions

Está a pensar emigrar para Nova Iorque? Precisa de um apartamento amplo? Gosta de vista de rio? Aprecia a arquitectura de Richard Meier? Então a Sotheby's tem o apartamento ideal para sim, a troco de 40 milhões de dólares. É aproveitar, agora que o dólar anda tão fraco.

Os parisienses

[O]s Americanos consideram a rua uma espécie de bastidores anónimos, ao passo que, para os Franceses, a rua é o próprio palco. Uma empregada de escritório americana a caminho do emprego não se preocupa com o seu aspecto; tira os ténis e calça salto alto apenas quanto entra no escritório, ao passo que uma mulher francesa sente que está em cena no exacto instante em que sai para a rua. Roupa, cabelo, maquilhagem, tudo tem de estar impecável. Os Franceses, por vezes, preocupam-se excessivamente com a impressão que podem ou não causar; uma mãe é capaz de passar meia hora a tirar fios quase invisíveis do fato azul-marinho do filho, antes de sairem de casa a caminho da missa; ou então vira-se para o filho no comboio e dispara-lhe num sussurro: «Não fales tão alto, estás a chamar a atenção das pessoas».

Paris, Os Passeios de um Flâneur, Edmund White

Edmund White escreve sobre Paris, uma cidade que criminosamente não conheço, atropelo civilizacional que corrigirei já amanhã, e sobre uma actividade que me apaixona, a do flâneur. Pelo meio fico a perceber a tão famosa cultura francesa que está impregnada na sociedade portuguesa, embora em vias de extinção. Às vezes, como nesta passagem, White parece estar a descrever os portugueses quando fala dos parisienses, sobretudo nas pequenas subtilezas que só são pequenas para o untrained eye.

P.S: O livro abre com uma frase perfeita: «Paris é uma grande cidade, no sentido em que Londres e Nova Iorque são grandes cidades e Roma é uma aldeia, Los Angeles uma colecção de aldeias, e Zurique uma província.»

Nicolau Breyner

Eu não sei como se resolve o problema e duvido mesmo se ele não será já irremediavelmente irresolúvel. A razão desta minha desilusão nasce com outra desilusão que é a curva indesejada que o meu ventre acusa nos dias que correm. Para que não comecem já com trocadilhos precipitados, revelo que a minha condição física não se deteriorou com o casamento: o estado lamentável (embora não tão lamentável assim, isto é apenas uma figura de estilo que fica sempre bem) em que se encontra o conjunto de tecidos vivos que carregam a minha alma está mais ou menos estável de há uns anos para cá. A minha mulher nunca foi enganada, não nesta nem em qualquer outra situação. A primeira estratégia que ataquei foi a mais burguesa de todas: ginásio, assunto triste que não me convida a mais linhas. Falhada essa, é não sem orgulho que revelo ao mundo que passei a vir a pé do trabalho. Andar, com as pernas, é um modo de locomoção a que os portugueses se desabituaram, mal habituados que ficaram com a descida das taxas de juro nos anos 90 que deu a cada português três carros e com o bom serviço prestado pela rede de transportes públicos. Através de um cuidadoso subsídio do estado, o passe de Metro custa hoje 17,80€, situação que enterrou cada vez mais os cidadãos e que enterra cada vez mais o Estado - o Metro de Lisboa dá 180 e tal milhões de euros de prejuízo anuais, mais cêntimo menos cêntimo. Junte-se a isso um planeamento municipal que ostraciza o peão de diversas formas por vezes em simultâneo e é normal que a malta fuja da rua. Claro que sou privilegiado. O trajecto diário que percorro é esteticamente superior à média, mas mesmo aqui, no centro do centro, sinto-me desacompanhado e desamparado, uma espécie de dono de um sítio que mais ninguém quer. Sobretudo depois do pôr-do-sol, quando a noite se instala em Lisboa e a famosa luz dá lugar a luzes menos famosas. É romântico? Será. Mas gostava de ver mais congestionamentos no passeio, mais atropelos nas esquinas, mais vendedores ambulantes e passeios mais largos. Gostava que as pessoas - reparem, «gostava» que «as pessoas»: mais déspota não há - gostassem mais da rua e gastassem menos dinheiro em ginásios. Ver ruas cheias de gente é algo que me revitaliza e guardo na memória imagens de sítios assim: Nova Iorque, Madrid - sempre Madrid - ou o Cairo, onde vi um maranhal de homens e mulheres a comprar e vender coisas à meia-noite, no meio da rua, na frescura dos 35 graus que só a madrugada consegue trazer. Em Lisboa é ver-se a hora de ponta totalmente engarrafada e os passeios criminosamente pequenos e livres de seres humanos. Gordos. Entretanto, pensava que era o Nicolau Breyner que fazia um anúncio com o slogan «Portugal não é só teu» mas parece que afinal era o Herman, a minha memória atraiçoa-me, facto que descobri após uma não infrutífera busca no YouTube. Ah, e porque foi proveitosa a minha busca no YouTube? Não digam que não sou dado:

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Reservoir dog

O barómetro que me mede as tendências homicidas está no vermelho. O homem falou, falou, falou, não me respondeu a uma única pergunta, falou, falou, e durante esse tempo todo eu imaginei-me num filme de Tarantino. Levantei-me da mesa e dei-lhe com o cinzeiro de vidro no nariz, deixando-o a sangrar violentamente à primeira. Enquanto ele recuperava do choque, o meu joelho embateu no seu maxilar inferior, deslocando-o, e convidando os dois dentes incisivos a repousarem no chão da sala. A cadeira que segurava no ar desceu com uma velocidade considerável na direcção da nuca do homem, deixando-o inconsciente. Passados 10 minutos trocámos cartões, eu prometi-lhe um telefonema que nunca irei fazer e despedimo-nos cordialmente.

Obrigado recibo verde

Corre por aí uma petição contra os recibos verdes. Não a vou assinar porque gosto de recibos verdes. Sempre que passo um fico contente: é sinal que alguém comprou alguma coisa que eu fiz. Comprou? Mas não é isso um vulgar ordenado? É. E não é. O recibo verde, com a sua precariedade, é o melhor instrumento para o entendimento do valor do nosso trabalho. No meu caso funciona da maneira que é suposto funcionar: não tenho os direitos (ai), as regalias (ui) nem a protecção (ai ui) que a nossa fantástica legislação laboral nos dá. Em vez disso tenho uma responsabilidade acrescida que nasce da liberdade que me é dada. Não tenho um vínculo laboral, não tenho por isso horário de trabalho. Não tenho um vínculo laboral, não tenho por isso dias de férias contados. Trabalho o que me apetece, tiro as férias que me apetece. Pelo meio vendo um serviço que, se não agradar a quem o está a comprar, pode terminar já amanhã. Sem avisos prévios, sem indemnizações. A questão é simples: ou trabalho bem, ou não trabalho. Trabalhar mal ao abrigo da protecção estatal não é uma opção. Sei que do meu caso não se pode fazer regra. Mas também sei que ou se muda a legislação laboral, liberalizando totalmente os despedimentos, ou então os recibos verdes estão aí para as curvas. Com os recibos verdes aprendi que um «emprego» não é mais do que um «serviço». Com os recibos verdes aprendi que temos obrigação de ser úteis ao outro, e que sendo úteis ao outro somos úteis à sociedade, sendo que ser útil à sociedade é uma aspiração que todos deveremos ter. Obrigado recibo verde.

(Insultos e impropérios para complexidadeecontradicao@gmail.com.)

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Boa tarde

- Boa tarde.
- Boa tarde, o meu nome é X. Estou a falar com o arquitecto A?
- Não, o meu nome é B.
- Ah, é arquitecto?
- Sou sim, diga.
- Olhe, eu estou a ligar da empresa Y no sentido de poder fazer uma apresentação de uma nova série de produtos que são do interesse do senhor arquitecto, na medida em que a nossa empresa celebrou agora um protocolo com a Ordem dos Engenheiros [sic].
- Que produto, desculpe, não percebi?
- Bom, isto é uma nova linha de produtos que visam dar resposta a uma série de questões levantadas pela sua ordem profissional, que são específicas da sua área e que serão do vosso interesse.
- Vai-me desculpar, mas eu ainda não percebi que tipo de produto se trata.
- Bom, estou a ligar de uma companhia de seguros, portanto tratar-se-á de produtos na área dos seguros.
- Ah, seguros. Não tinha percebido.
- Assim, gostaria de marcar uma ida ao vosso escritório para fazer uma pequena apresentação para enquadrar a proposta.
- Está bem.
- Pode ser amanhã às 5?
- Não.
- E às 2.30?
- Pode.
- Já agora, pode dizer-me o seu nome completo?
- Já lhe disse. É B.
- Completo, preciso do seu nome completo.
- Para quê?
- Por causa aqui da ficha. E da sua data de nascimento.
- A minha data de nascimento?
- Sim.
- Para quê?
- Para podermos enquadrar a proposta.
- Mas a proposta não será para mim, será para o arquitecto A, logo a minha data de nascimento não é relevante.
- A proposta será para o arquitecto A, mas o senhor arquitecto poderá vir a usufruir dela.
- Eventualmente. Também posso ir jantar hoje à noite com o presidente Chávez.
- Ok. Já agora, podia dar-me o seu contacto pessoal?
- Desculpe?
- O seu contacto pessoal.
- Bom, o senhor tem este número para onde ligou.
- Mas eu preciso do seu contacto pessoal, no caso de acontecer alguma coisa.
- Neste número há sempre gente contactável, e mesmo que o presidente Chávez venha a Portugal não acho que tenhamos necessidade de voltar a falar.
- Com certeza. Até amanhã então.
- Boa tarte.

Influências

Em tempos disse que o clima sul-americano fazia bem à arquitectura modernista; agora é a vez de constatar que os aromas africanos fazem muito bem à arquitectura holandesa.

Só me faltava agora ter o Berninger a falar disto

jesus christ you have confused me

The National

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Puxar o Sérgio Godinho

O Pedro Mexia foi à rádio falar com o Pedro Rolo Duarte e não avisou ninguém, com a excepção da sua mãe que, como não tem blogue, também não avisou ninguém. Felizmente há o podcast. Pelo meio há o Sérgio Godinho mas, felizmente, estamos num podcast, e podemos sempre puxar o Sérgio Godinho para a frente.

Adenda: Às tantas, o Pedro Mexia diz que ainda não leu o suficiente para escrever um romance. O Pedro Mexia, leitor profissional, diz que ainda não leu o suficiente para escrever um romance. Ainda não leu o suficiente. Falta acabar o período romântico albanês e dois ou três autores contemporâneos de Kiruna, localidade sueca atrás do sol posto.

Vende-se




Boas áreas. Materiais com gosto. Desenhado por arquitecto.

(Aqui, uma lista de casas de Frank Lloyd Wright à venda.)

domingo, 18 de novembro de 2007

Norman Mailer

Vi ontem um programa no Canal 2 sobre Norman Mailer bastante interessante, sobretudo se considerarmos que eu não sabia quase nada de Norman Mailer até ao dia de ontem. Às tantas, o homem que esmurrou Gore Vidal (entre outros, segundo consta) explica que se casou muitas vezes (seis, parece) porque no tempo dele não havia pornografia, e que, portanto, cada impulso de natureza sexual era um arrebatamento impossível de resistir. Como não havia pornografia, confessou, Mailer teve de aprender tudo pela via mais difícil. Pelo Expresso fico a saber (porque não sabia, não é pecado) que uma das mulheres foi mesmo esfaqueada pela besta, gesto de carinho que lhe valeu 15 dias na prisão. Ela, no entanto, ficou amiga dele. Não sei o que tem o Tiago Mendes a dizer sobre isto, mas eu sei que já estou na expectativa de ler o Tiago Galvão sobre Norman Mailer. Há aqui um feliz encontro de espíritos, parece-me.

sábado, 17 de novembro de 2007

Um post para o Pai Natal

Queria só deixar aqui uma nota sobre a minha humildade intelectual. Sou um poço de virtudes, pelo que não espantará mais esta. De facto, é correcto afirmar-se que ontem fui ao Grande Auditório da Gulbenkian assistir ao Requiem do Verdi - numa sala grandiosa com vista para o grandioso jardim - e que hoje fui visitar o Museu Berardo. No entanto, decidi não escrever sobre essas minhas deambulações culturais - não, isto não conta, isto é um post sobre as minha humildade intelectual, não sobre essa merda da «cultura» - escrevendo em vez sobre um bem material que desejo possuir (ver post abaixo, sff). Se eu fosse um cagão, daqueles que vão a todas para poderem dizer que foram a todas e depois colocam-se em eventos sociais a repetir com óculos o que leram no panfleto das coisas, estava para aqui com referências de cantores e maestros e pintores e mais o Pedro Cabrita Reis.

Isto é um post para o Pai Natal, já que estamos naquela época do balanço moral das crianças.

E antes de ir ao Berardo passei pelo Museu de História Natural para ver uma exposição de «Jovens Artistas». Sim, o que fazem «Jovens Artistas» no Museu de História Natural? Acreditem que a resposta a esta pergunta faz mais sentido do que as criações (criaturas?) dos ditos «Jovens Artistas». Sim, achei aquilo uma merda e demasiado marxista, e também achei que aqueles gajos precisam todos de doses valentes de Prozac. É só uma sugestão.

O Frank Lloyd Wright

O Frank Lloyd Wright... sabes quem foi o Frank Lloyd Wright? Não te rias, estás a rir-te porquê? Sabes quem foi? É que para mim o Frank Lloyd Wright foi o maior arquitecto da história e...

(Manuel Vicente uma vez para mim)

Lembrei-me disto porque vi na FNAC um livro chamado Frank Lloyd Wright, Prairie Houses, de fotografias do Alan Weintraub, que é um daqueles livros grandalhões para se ter na estante, normalmente sem muito interesse, e que no entanto me encantou - nem tem desenhos, aquela merda, é só fotografias e sobretudo dos interiores, mas fotografias muito boas, quase tão boas como as do Fernando Guerra - apesar do preço, para lá de cinquenta euros, o que me desagradou violentamente. Como hoje montei a árvore de Natal cá em casa - minto, a minha mulher é que a montou, eu lia-lhe bocados da entrevista do Pulido Valente para a entreter enquanto ela pendurava as bolas - lembrei-me de que nos estamos a aproximar do Natal e como alguns familiares meus lêem este blogue pode ser que eu ainda tire daqui algum proveito.

P.S: A capa é mais ou menos isto:


O grande momento do fim-de-semana

Fazia parte de um «grupúsculo». E todos os «grupúsculos» eram, ou diziam-se, de extrema-esquerda. Eu pertencia a uma coisa chamada MAR (Movimento de Acção Revolucionário) - achavam este nome muito bonito - cujo chefe era Jorge Sampaio.

E o que faziam?
Nada.

Vasco Pulido Valente Correia Guedes, em entrevista ao Expresso (Única), o grande momento do fim-de-semana.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Os Ulriques

Lars Ulrich que, como é sabido, ainda é primo de Fernando Ulrich.

1983

Ouvi o "Kill'Em All" dos Metallica na íntegra pela primeira vez aos 30 anos. Aos trinta.

Tiago perdi todo o respeito por ele Cavaco


Ora, eu pensava que ter comprado o Kill'Em All depois de já ser dono de todos os outros da discografia até então - julgo que estaríamos por volta do ano de 1997 D.C. - já era pecado imperdoável. Espanta-me que tu faças a música que fazes, que não é de todo desprovida de atributos, sem teres passado os teus ouvidos repetidamente por Hit The Lights, The Four Horsemen, Motorbreath, Jump in the Fire, (Anesthesia) Pulling Teeth, Whiplash, Phantom Lord, No Remorse, Seek & Destroy e Metal Militia, alinhamento de 12 canções que contém 4 obras primas - sendo uma delas a quinta faixa, Opus maior de Burton, o que é extraordinário se considerarmos que o tonto do Mustaine andou lá para o meio a fazer estragos. Quero só despedir-me do auditório enquanto espero pelos carpinteiros que vêm cá a casa fazer uma reparação na casa de banho (isto tem sido um calvário) lembrando o pormenor de estarmos perante um álbum composto durante o vigésimo ano de vida de Hetfield e Ulrich. Shame on you.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Ó Chávez

Gostava de partilhar convosco o quanto no meu âmago (bonita expressão) me senti monárquico ao ver, na Cimeira Ibero-Americana, Juan Carlos, Rei de Espanha, pedir a Hugo Chávez, intendente da Venezuela, que se calasse. Os factos são conhecidos do grande público: enquanto Chávez, no seu habitual registo inimputável, insultava Aznar de fascista, o magnífico Rei Juan Carlos (Sua Majestade, Sua Eminência, Sua Senhoria) lançou-lhe um sumaríssimo: Por qué non te callas?

No fundo, é isso. Por qué non te callas, Chávez? Dentro de portas, estabeleceste um regime populista e autoritário, pouco importa se apoiado pela maioria dos venezuelanos. Nada te escapa e quem não é chavista está condenado à inércia ou ao ostracismo. Externamente, usas uma linguagem entre a paranóia e a arruaça. Precisamos mesmo de te ouvir? Porque devemos nós, os que acreditamos que a democracia não depende só dos votos mas de uma certa legitimidade de exercício, os que acreditamos numa comunidade organizada segundo princípios da democracia liberal (liberdades, separação de poderes, checks-and-balances, respeito pela oposição, responsabilidade e prestação de contas), os que acreditamos que os recursos de um país devem ser geridos e distribuídos de forma transparente, sem tentações clientelares ou chantagistas, porque devemos prestar atenção a orações injuriosas? Não serás tu o fascista, ó Chávez?

E por qué non se callan também os que, na incapacidade de condenarem claramente o ditador da Venezuela (porque ditador é aquele que age como ditador, seja ou não eleito), resolveram atacar a "grosseria" diplomática do Rei de Espanha, essa figura anacrónica que devia era curvar-se perante um Presidente eleito, mesmo que do baixo quilate deste triste Chávez? Mas não são vocês que contra todas as diplomacias da conveniência e do cinismo, lutam pela supremacia dos valores nas relações internacionais? Não são vocês que sempre se manifestam contra os abusos da liberdade de expressão, quando pensam que as vossas ideias estão a ser visadas? Somos obrigados a tolerar que se insulte um ex-governante de fascista, mas devemos reagir contra os caricaturistas de Maomé, os Nobéis desbocados com teses deterministas sobre o ADN dos negros, os acéfalos da extrema-direita.

É só porque Juan Carlos, o nosso Rei, não foi eleito? Mas como duvidar da legitimidade da monarquia em Espanha? Evidentemente, a legitimidade que advém das eleições pode coexistir com outras formas de legitimidade: histórica, simbólica ou social. Onde está a maioria de espanhóis que deseja acabar com a monarquia? E eu nem sou monárquico, mas quando Juan Carlos saiu da mesa acho que me tornei num carlista. Quero um Rei destes. Até pode ser absoluto.

Pedro Lomba no DN

A violência da beleza

P.s. ao post anterior: a reacção do Franciso José Viegas face à Gare do Oriente (que não é só sua, é de muita gente) é um bom exemplo daquilo que eu dizia ontem: Calatrava é um homem obcecado pelo estatuto que o desenho lhe dá - e dizem as más línguas um homem intragável - e esquece-se com alguma frequência das pessoas que se vão submeter à violência dos seus edifícios. Repare-se que só achando a Gare do Oriente um peça arquitectónica de rara beleza se pode perdoar os seus defeitos. Mas e se não achamos?

Eles não merecem senão que os tratemos mal

Às vezes sinto que o país inteiro é uma convenção no Beato do Compromisso Portugal: só se diz mal de quem «está sempre a criticar e não faz nada», e louva-se constantemente a «iniciativa» e as «coisas boas» que temos. Eu próprio fico às vezes agastado com o arrastar apático da maledicência instalada. No entanto, sou incapaz de não reconhecer a dimensão regeneradora que têm algumas críticas em tom de desabafo, aquelas honestas e sinceras que saem do âmago humano, que se apresentam como um sinal de rara lucidez. E o Francisco José Viegas fá-lo melhor do que ninguém:

(...) demolir e deitar fora, não digo; mas tentar corrigir aquela merda toda, contem comigo. A Gare de Oriente (incómoda, feia, desagradável, pouco amigável para os frequentadores de comboio, escura, suja, desprezível no seu conjunto) é um espelho do bacoquismo que nasceu, floresceu e cresceu à volta da Expo 98. Tudo imagens do iniludível progresso que essa grande geração plantou e ameaça continuar a plantar pelo país fora. Bacocos com nome de gente.

(...) Ainda o Inverno não está aí (e aí sim, quando vier, será realmente penoso), e já o Terminal (o barracão) está «avariado», a necessitar de reparações e de benfeitorias, metendo água e resvalando para a sujidade habitual. Esta é a forma como o Estado (e a ANA, e a TAP e a Groundforce) tratam os seus passageiros, os seus clientes e os seus contribuintes. É uma imagem perfeita da ideia que o Estado (e a ANA, e a TAP e a Groundforce) tem de nós todos: gente para maltratar. Eles não merecem senão que os tratemos mal.

Amén, Francisco.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Mais valias

Passas-me as cartas mas eu não subo a aposta, embora vá a jogo, porque não tenho nada a alterar ao rumo da conversa, apenas acrescentar. Essa passagem da entrevista foi das que mais gostei. Só uma pessoa da geração de Gonçalo Byrne a poderia dizer porque os mais novos estão demasiado concentrados em fazer-se notar. E quando é dita por uma pessoa com o nome de Gonçalo Byrne, mais pertinente se torna. A importância da invocação desse sentido económico da arquitectura tem a ver com um certo alheamento da intelligentsia arquitectónica do banal, do quotidiano, daquilo que se repete para formar os espaços que são mais do que a soma das partes. O elogio do que já foi tentado e provou ser bem sucedido é sempre preterido pelo elogio do disparate original. Michelangelo, certíssimo, ou mesmo Charles Correa, tudo bem. Mas isso é falar de bugalhos quando foi de alhos do que falou Byrne. Byrne falou do pronto a vestir de que precisa a arquitectura portuguesa, que é rica em alta-costura. Aquilo a que assistimos hoje em dia é uma espécie de divórcio entre a arquitectura que é pensada, a quem exigimos o exigível e o inatingível - basta ouvir a vox populi sobre o arquitecto X que «só fez erros» na obra X - e a arquitectura que é apenas uma consequência formal de uma necessidade desajeitada, a quem tudo perdoamos e ignoramos. É importante que Gonçalo Byrne alerte para esta economia de meios, porque só assim se explica que a arquitectura não se remete apenas aos universos formais dos arquitectos que se habituaram à excepção e à excentricidade; a arquitectura é um esforço mental que se exige a todo o construtor, e é um exercício que deve ser íntegro na procura de um respeito colectivo que dignifique a comunidade onde ela actua. Aos mais novos resta perceber que o ser publicado na revista não é a finalidade última do seu trabalho - não, não é, por mais incrível que isto possa parecer - mas sim o de contribuir para que um conjunto de pessoas específicas que vivem num determinado lugar vivam com mais facilidade e felicidade.

Dão-se autógrafos



Não vos quero esmagar com o meu bom gosto, mas mentir-vos-ia se dissesse que esta imagem não representa o meu iTunes de há 5 minutos.

Até se lhe perdoa a última frase

(...) Coloque uma noz de manteiga na frigideira, a aquecer. Cá fora, separe a gema da clara. Quando a manteiga estiver bem quente, ponha a clara na frigideira e deixe fritar até que a fímbria da nimbada clara se exiba ostensivamente dourada. Nessa altura, com aquele módico de ternura que qualquer cozinha exige, coloque a gema em cima da clara, polvilhando com duas pedrinhas de sal e três singelos grãos de pimenta. Com uma colher, verta a manteiga douradinha (já castanha, se nos deixarmos de lirismos) sobre a gema. Quando a dita mostrar sinais de alguma bronzeado (em boa verdade a clara estará igual ao tom de pele de Jualiana Paes e a gema assumirá a política incandescência de Pocahontas) retire o ovo da frigideira e sirva. Melhor, trinque: hmmm, é em momentos como este que percebemos como o sexo anda sobrevalorizado. (...)

O ovo estrelado do Manuel S. Fonseca
, que dá todo um novo significado à expressão «eu só sei estrelar um ovo».

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Migração para o Norte

De um leitor devidamente identificado, aparecido na caixa de correio às 20:47, em resposta ao meu post das 19:38:

Caro Lourenço,

Uma boa, deduzo, notícia:
A "árvore de natal" do bcp vai para a Avenida dos Aliados este ano.

Como se não lhes bastasse o empate na Amadora.

Coisas

O maradona escreveu um post soberbo sobre uma viagem de barco. Vai daí, almas ofenderam-se e foram ao dicionário adocicar o insulto. Até aqui tudo bem. O problema começa quando o maradona tenta explicar o que escreveu a uma pessoa que linka um site chamado Anarkismo.net no capítulo da «Informação». Noutro blogue de má-fama, o maradona lá explica (num comentário às 20.16 que começa com «boa tarde», constatação que nos leva a duas conclusões óbvias: 1, eu ando sempre em cima do acontecimento - são 21:35 neste momento - 2, o maradona está em casa desde a hora do almoço e com as portadas fechadas, não dando pelo facto que anoitece às 17:35 e que não faz sentido dizer «boa tarde» quando já é de noite e já são horas de jantar, o que me leva a uma receita de noodles com pescada, se não me engano, que anotei num papel qualquer com todas as nuances que ela tinha) que só lá foi explicar ao outro que não era homofóbico. Nem a gravidade implícita que o maradona coloca no preconceito da homofobia (que é um preconceito como outro qualquer, as pessoas têm direito a ser homofóbicas se quiserem, desde que não andem por aí a chatear as outras pessoas) justifica o acto, que se pauta por apologia daquilo que escreveu, que não só não lhe fica bem como não tem qualquer razão de ser. E porque é que não tem qualquer razão de ser? Porque, como é sabido, o blogue do maradona goza de uma popularidade considerável junto da comunidade homossexual, sendo o blogue que publica mais torsos masculinos desnudados por metro quadrado, socorrendo-se do álibi de que se tratam de imagens de «desporto». Entretanto, o tradutor do Gogol também anda metido ao barulho.

El exitoso Aznar

Ainda assim, sobre a respeitabilidade de Aznar estamos conversados. Se é que não estávamos há muito tempo.

Daniel Oliveira

Se é que não estávamos há muito tempo, não me obriguem a explicar outra vez. Economia fulgurante? Qualidade de vida como nunca antes vista? Estamos conversados, se é que não estávamos há muito tempo. Su política estuvo dominada por una exitosa agenda económica, favorecida por la bonanza internacional, con ajustes presupuestarios para lograr el déficit cero, y con el objetivo de cumplir los criterios de convergencia con el euro. Bajo su gobierno, la economía española mostró una fuerza considerable al crecer más rápido que la de muchos otros países europeos, recuperándose definitivamente de la crisis iniciada en 1993. Se redujo el desempleo (de más del 20% en 1996 a cerca del 11% en 2003), se mantuvo la inflación dentro de los márgenes marcados por la Unión Europea y se sanearon las cuentas públicas por primera vez desde el regreso de la democracia en España. Siguiendo las ideas liberales económicas con las que había llegado al poder, parte de ese crecimiento económico se logró mediante la privatización de ciertos servicios públicos. Se é que não estávamos há muito tempo.

(As partes em castelhano, tal como no blogue de Luís Filipe Menezes, são totalmente da minha autoria.)

É certo e sabido

O habitante da Baixa vive aterrado. Não é só o corte ao trânsito do Terreiro do Paço aos domingos, a maior saloiice (cá está, desafio-vos a encontrar mais palavras em português com dois 'i's seguidos) da história lisboeta (e estou a contar com a estátua do Sá Carneiro no Areeiro). Está a aproximar-se o Natal, e por enquanto ainda não vi aquela coisa ligeiramente fálica que puseram no meio da praça no ano passado, mas estou a achar isto tudo bom demais para ser verdade. A não ser que as coisas lá no BCP estejam mesmo assim tão más que nem dinheiro para os enfeites sobrou, no meio da faustosa e reconhecida «distribuição de dividendos» que costumam fazer.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

A primeira vez



Há dias lamentava o facto da minha geração ser órfã de memórias colectivas. Porém, lamentável foi o facto de me ter esquecido do genérico de Tieta, aqui maravilhosamente oferecido pelo youtube, que terá mostrado, provavelmente, a todos os pré-adolescentes da época as suas primeiras maminhas de uma mulher adulta (que não as das respectivas progenitoras.) E quem se esquece do exacto momento em que as hormonas acusaram pela primeiríssima vez a presença de maminhas, esquece-se de tudo.

Cefaleias

Queria daqui mandar um forte e caloroso abraço para o número 5 da Rua da Quinta do Pinheiro, em Carnaxide, morada e domicílio da Bayer Portugal S.A., pela actividade que prossegue de comercialização da droga em baixo mostrada - e ainda por cima por vias totalmente legais, pelo que posso descontar este valor na conta do IVA que aí vem - que me salvou o dia de trabalho e o ensaio de logo à noite, isto porque as cefaleias ameaçavam enviar-me para a cama sem piedade, reduzindo-me a uma massa corporal inerte e inútil embora bonita de oiten..., setenta e qualquer coisa quilos.

Assuntos familiares



Esta é a primeira foto que vejo do meu irmão desde que ele se baldou para o Chile, em Junho, para fazer o que ele chama de «Erasmus», como explicou quando submeteu os papéis do empréstimo junto da entidade credora, ou seja, a sua, e minha, entidade paternal. Só não sei quem é o amigo de gravata azul.

(O meu irmão é um dos que tem aquela cara de quem está a estudar muito.)

domingo, 11 de novembro de 2007

É a pronúncia

Acabo de saber que o Porto empatou na Amadora 2-2, com penalti a favor dos visitados ao minuto 89. Pois é: quando o FCP passa o Mondego, o campeonato é outro. E lembremo-nos que o empate dos campeões nacionais na semana passada foi frente ao Belenenses, outra equipa de Lisboa.

Adenda: Este vídeo.

Bento XVI

Embora o Papa tenha valorizado a "escola de fé" de Fátima é impossível não ver nestas palavras uma distanciação do Papa de um modelo de "reprodução" do "povo católico" assente essencialmente na religiosidade popular.

José Pacheco Pereira

E eu acrescentaria ao «popular» a palavra «infantil».

sábado, 10 de novembro de 2007

O sitemeterzinho

maradona, já podes linkar o Gattopardo: é óbvio que os gajos não vão ter links e já têm o sitemeterzinho a funcionar.

Entretanto, à hora que escrevo, o sitemeter do Gattopardo regista umas 388 visitas diárias, versus as 1313 do sitemeter do Estado Civil. Deve ser lixado para o Mexia perceber que a malta se interessa 3 vezes mais pelo facto de ele admirar quem fica bem de amarelo do que pelas suas considerações sobre a Constituição Europeia. Eu não, claro. Eu interesso-me muito mais pelas opiniões do Mexia sobre a Constituição Europeia do que pelo facto de ele admirar quem fica bem de amarelo. Então não.

Nota

O post anterior é totalmente patrocinado pelo chefe da minha mulher, que lhe passou para as mãos uma quantidade não negligenciável de trabalho que a obriga a trabalhar pelo terceiro fim de semana seguido, deixando-me aqui abandonado e totalmente entregue a mim próprio. Podia ser pior, eu podia estar na rua a roubar.

Byrne, Souto de Moura e Manuel Aires Mateus no Expresso

O Expresso de hoje traz uma entrevista com Gonçalo Byrne, uma entrevista com Eduardo Souto de Moura, e uma carta em jeito de direito de resposta de Manuel Aires Mateus. Vamos então às notas:

1. Gonçalo Byrne é um homem de quem é fácil gostar-se. Há nele uma qualquer sinceridade e ponderação no que diz que desculpam a falta de rasgo dos seus desenhos. Não é um arquitecto cuja obra me emocione particularmente, mas é alguém a quem devíamos ouvir mais frequentemente e com quem temos a obrigação de aprender qualquer coisa.

2. É sempre um prazer ouvir Souto de Moura. O seu discurso descomplexado e radicalmente pragmático é um óptimo equilíbrio para a cada vez mais insuportável meta-linguagem dos arquitectos. Como por exemplo a sua denúncia desta vaga de sustentabilidades que todos reclamam para os seus projectos: é preciso ser Souto de Moura a explicar que qualquer bom projecto pressupõe a sua sustentabilidade. É triste que tenhamos chegado a um ponto em que um edifício bem abrigado do sol de Sul é elevado a um supra-sumo daquelas merdas que o Al Gore anda a vender. No entanto, Souto de Moura diz na entrevista algo que me incomodou, e que tem a ver com os honorários dos arquitectos. Souto de Moura explica que os promotores em Portugal já se aperceberam que construir com um arquitecto bom sai ao mesmo preço do que construir com um arquitecto mau, pois a tabela é a mesma e os descontos são também eles tabelados. Bom. Primeiro vem a dúvida: não acredito que Souto de Moura esteja a falar a sério. Mas repensando a questão, e atendendo ao modo de pensar da classe dos arquitectos em Portugal, julgo que Souto de Moura não estará a mentir. Os arquitectos nunca gostaram do mercado; Byrne confessa na entrevista, por exemplo, o seu coração centro-esquerda sempre pronto a dar a outra face em prol do bem-público. A existência de uma tabela é uma aberração que nos está a sair muito cara. A nós, arquitectos, e a nós, clientes, porque a tabelação de preços vicia o mercado e prejudica, sobretudo, o consumidor de projectos. Não faz qualquer sentido que Souto de Moura cobre por um projecto o mesmo que eu cobraria pelo mesmo. Souto de Moura é um arquitecto infinitamente melhor do que eu, e essa infinitude na diferença de qualidade tem, obrigatoriamente e se queremos manter uma sociedade minimamente mentalmente saudável, de ser paga. A tabela, que, lembro, existe para regular a relação do Estado com o prestador de serviços, não sendo de todo vinculativa para os privados porque, apesar de tudo, ainda não chegámos à Venezuela apesar dos esforços de Otelo e companhia no calor de 75, é um dos factores que contribuem para a desvalorização do trabalho de arquitectura, sendo uma declaração pública sobre o valor de um serviço a priori de qualquer avaliação desse mesmo serviço. Ou seja, revolta-me que Souto de Moura não seja principescamente pago pelo que faz, sendo que aquilo que faz nem sequer é equacionável nas cabecinhas que elaboraram a malfadada Portaria de 7 de Fevereiro de 1972, alterada pela malfadada Portaria de 22 de Novembro de 1974, alterada pela malfadada Portaria de 27 de Janeiro de 1986, que julgaram que um projecto de arquitectura é um conjunto de plantas, cortes e alçados em três cópias em papel e uma em formato digital.

3. O Expresso da semana passada publicou um projecto de Manuel Aires Mateus e Frederico Valsassina para o Largo do Rato, e sobre ele escreveu uma série de estupidezes. Eu gosto particularmente daquele desenho, mas isso sou eu e a minha subjectividade que não têm, para este caso, qualquer interesse. O que me move a estas linhas é outra questão. Manuel Aires Mateus, neste seu direito de resposta hoje publicado, vem a público tentar esclarecer alguns dos equívocos nos quais o artigo incorre, chegando mesmo a anexar uma foto da maquete, bem mais bonita do que as inenarráveis montagens que o Expresso se dignou a produzir na semana passada. Ora, o que Manuel Aires Mateus não percebe é que, de certo modo, ele não tem legitimidade para fazer o que tentou fazer. Trata-se de um clássico caso de feitiço contra o feiticeiro. Na última década a arquitectura e os arquitectos aprenderam a usar a comunicação social para promoção pessoal e, mais grave, aprenderam a desenhar edifícios cujo fim principal tem sido a publicação - olhem para as plantas, as plantas senhores, e digam-se se é normal serem tão bonitas. Perceberam como funcionam os mecanismos da sedução visual, acentuaram o carácter hermético do seu discurso como forma de defesa por meio de desqualificação intelectual do interlocutor, e pelo caminho criaram um monstro. Monstro esse que agora começa a morder a mão ao dono e deseja caminhar pelas próprias pernas. As estupidezes que o Expresso publicou na semana passada (porque são estupidezes, vão ler aquela merda) são totalmente legítimas no contexto da relação perigosamente íntima que a arquitectura estabeleceu com os media. Agora aguentemo-nos.