Bem, acabo com a conversa e vou ali buscar um gin porque já deves estar farto da minha conversa de bêbado.
(Frase dita várias vezes a interlocutores diferentes.)
domingo, 31 de julho de 2005
Cenas de um casamento 3
À conversa com um monárquico, gente de bem:
- O que me dizes do apoio do Ribeiro Telles ao José Sá Fernandes?
- Não sabia disso. Apanhaste-me de surpresa.
- E então? Gostava de saber a tua opinião.
- Graças a Deus que vivo em Sintra.
- O que me dizes do apoio do Ribeiro Telles ao José Sá Fernandes?
- Não sabia disso. Apanhaste-me de surpresa.
- E então? Gostava de saber a tua opinião.
- Graças a Deus que vivo em Sintra.
Cenas de um casamento 2
Não sei se o leitor também tem o hábito de pela madrugada fora, ou logo quando acorda, rever tudo o que disse na festa da véspera, tentando perceber até que ponto e diante de que pessoas foi ridículo ou simplesmente inconveniente.
Ivansexta-feira, 29 de julho de 2005
Novo aeroporto de Coimbra
Queria apelar a vossas excelências para o artigo de hoje, no Público, de Miguel Sousa Tavares, dedicado à resposta a Vital Moreira sobre o assunto do aeroporto da OTA.
quarta-feira, 27 de julho de 2005
«Se o fado é tristeza, lágrima prevista, então eu não sou fadista»
Mariza, ontem, na Cidadela de Cascais. Esta foi a resposta mais directa, mas ao longo da hora e meia que esteve em palco Mariza respirou esta atitude. Apetece dizer que se Mariza não é fadista, então que se reinvente o fado. Talvez tenha sido isso mesmo que já conseguiu. Para infelicidade dos velhos do restelo, saudosistas de um fado enclausurado em marialvismos bacocos e numa decadência típica para inglês ver. Mariza faz bem a Portugal e, apetece dizer, à alma portuguesa. A própria existência de algo como uma alma portuguesa é algo que se torna evidente quando estamos na presença desta mestiça da mouraria. Sem choros, sem queixas, sem lamentos. Com um sorriso largo e um bailar sedutor. Com violinos, violoncelos e percursão a acompanhar. Os outros que se lixem.
terça-feira, 26 de julho de 2005
Pois, é isso
Assista-se a uma tourada (pode ser através da TV) e deixe-se actuar livremente as sensações. Os tradicionalistas serão os que apoiarem o toureiro. Os conservadores serão os que, no meio da charanga e dos olés, sentirem a reacção epidérmica de se colocarem do lado do touro.
Francisco Mendes da Silva
Francisco Mendes da Silva
segunda-feira, 25 de julho de 2005
domingo, 24 de julho de 2005
Quem diz é quem é
Os blogues de direita (Blasfémias, O Acidental, A Mão Invisível, O Insurgente) andam entretidos com uma acesa auto-análise sobre quem é, afinal, liberal ou conservador ou tradicionalista ou nacionalista. O ponto mais interessante da discussão, na minha opinião, é a (não) relação entre o ser liberal economicamente e o ser liberal nos costumes. Contudo, acho que só há dois grupos que vale a pena distinguir dentro da direita: aqueles que gostam de toiradas e aqueles que não gostam de touradas. Mai nada.
sábado, 23 de julho de 2005
A crónica
Tulius, toma nota:
(...) A arte resume-se em dez leis fundamentais. Primeiro, a crónica não é um género jornalístico; a crónica é um género literário. Segundo: a crónica pode partir da realidade mas, não raras vezes, a crónica cria a sua própria realidade. Terceiro: a crónica não é análise nem comentário; a crónica é confissão e hipérbole. Quarto: a crónica não pretende formar ou influenciar; a crónica deve entreter e, se possível, opinar. Quinto: a crónica não vive da especialização; a crónica vive da diversidade. Sexto: a crónica vale pelo estilo e pela substância; em caso de conflito, sacrifique-se a substância. Sétimo: a crónica não pondera opiniões contrárias à sua; a crónica pondera apenas uma opinião que seja contrária às outras. Oitavo: a crónica não está certa ou errada; a crónica, como diria Wilde, está apenas bem escrita ou mal escrita. Nono: a crónica é pessoal; a crónica é um prolongamento do ego. Décimo: a crónica deve ser tão fácil de ler como de esquecer.
João Pereira Coutinho, in Expresso 23.07.05
(...) A arte resume-se em dez leis fundamentais. Primeiro, a crónica não é um género jornalístico; a crónica é um género literário. Segundo: a crónica pode partir da realidade mas, não raras vezes, a crónica cria a sua própria realidade. Terceiro: a crónica não é análise nem comentário; a crónica é confissão e hipérbole. Quarto: a crónica não pretende formar ou influenciar; a crónica deve entreter e, se possível, opinar. Quinto: a crónica não vive da especialização; a crónica vive da diversidade. Sexto: a crónica vale pelo estilo e pela substância; em caso de conflito, sacrifique-se a substância. Sétimo: a crónica não pondera opiniões contrárias à sua; a crónica pondera apenas uma opinião que seja contrária às outras. Oitavo: a crónica não está certa ou errada; a crónica, como diria Wilde, está apenas bem escrita ou mal escrita. Nono: a crónica é pessoal; a crónica é um prolongamento do ego. Décimo: a crónica deve ser tão fácil de ler como de esquecer.
João Pereira Coutinho, in Expresso 23.07.05
sexta-feira, 22 de julho de 2005
A galinha da vizinha
Sempre que a dor e revolta me invadem quando, numa demonstração de falta de bom senso juvenil, penso no péssimo estado da crítica de arquitectura em Portugal (tenho aí uma citaçãozita para exemplificar, lembrem-me), penso na crítica de cinema e fico mais calmo.
Essa doeu
Só há duas coisas que uma pessoa que viaja pode fazer pelos que ficam em terra: levá-los ou não ir. (...)
O essencial Silva
O essencial Silva
Vai por mim
A tentativa de pacificação com o mundo que Palma obviamente tenta neste álbum atinge o seu apogeu no single de apresentação, Escuridão (vai por mim), quando vai trabalhando o refrão para deixar no ar a sequência: ambém mereço ter razão; também mereces ter razão; os dois podemos ter razão. Acho que a isto se chama idade.
Ser liberal
Jorge Palma, no seu último álbum, tenta alçancar o verdadeiro ecumenismo ideológico quando diz «por isso eu tornei-me um optimista céptico».
Longo prazo
O que é que nos move ainda? A sensação muito forte que o conceito vai resistir a estas agressões, que é possível um encontro de vontades que resulte em algo de positivo. No fundo, é a paixão pelo projecto, a paixão pelos pequenos pormenores que talvez nunca venham a ser valorizados. Ou então é o facto de se ter presente que o trabalho investido não pode desmoronar assim sem mais nem menos, aos pés de meia dúzia de preconceitos bacocos. Porque se isto fosse apenas a prestação de um serviço a coisa estava já resolvida. Pão e circo e meia bola e força. Mas há uma ética que impede que o embuste seja consumado.
Não te desgraces
Qual é o problema? É que o arquitecto é visto como um tipo que tem ideias, um criativo, alguém que propõe algo de novo. Quando assim é tudo pode ser posto em causa. Essas ideias (que afinal são na sua maioria a resolução de problemas de um modo coerente e eficaz) ficam reduzidas a propostas inconsequentes. Depois aparece o cliente, com um esquisso sem escala e sem nexo, a propor a ideia dele que, pensa, é tão válida como a do arquitecto, que traduz algumas vontades avulsas que não são submetidas a uma coerência global, porque essa lhe escapa por completo. Só da vontade de abandonar o barco e vê-lo afundar, lentamente, com a tripulação e passageiros a dançar alegremente sem a mínima noção do que se está a passar.
É assim
«Por trás de uma grande obra está sempre um cliente muito chato», repetia Manuel Vicente. O problema, o drama, a tragédia, o horror, o desespero, o que dá vontade de nos atirarmos da ponte, a suprema tortura, o enorme desrespeito, a incompreensão levada ao limite do insuportável, o convite ao suicídio, o incita-palavrões convulsivos, enfim, a grande merda é que o contrário não é verdade.
quinta-feira, 21 de julho de 2005
quarta-feira, 20 de julho de 2005
Quiet days 2
Foste tu que descobriste que há palavras (e respectivos conceitos) opostos que se apresentam frequentemente lado a lado, conseguindo ambas descrever na perfeição aquilo que se passa. Outras regras, que não as de cá.
Quiet days 1
A única coisa que me deixa saudades é a tua escrita. Que sei apenas numa pausa, posso desde já adiantar ao auditório.
As belas hélices
«Não vale diabolizar as hélices para aproveitamento da energia do vento. São objectos lindíssimos. Dão um toque de modernidade e consciência ecológica, mesmo que não seja essa a força motriz que os colocou lá. Convém apenas assegurar que a força motriz que fará girar a hélice é o vento. De resto, podem até salvar paisagens já descaracterizadas, invadidas por árvores australianas, em vias de desertificação ou com casas absurdas de telhado inclinado para a neve que nunca cairá. Se esta é a nova agressão à paisagem lusitana, aplaudo de pé.»
Ivan, n'A Memória Inventada
Ainda bem que não estou sozinho na apreciação estética positiva às ventoinhas que se adivinham nos topos dos cumes alentejanos. O lento rodar das pás vistas de uma autoestrada a cento e cinquenta quilómetros hora pode justificar esta minha atracção. E não se percebe como se pode temer esta «agressão» quando os postes ou torres ou lá como é que se chamam de electricidade são o que são, essas torres eiffel atarracadas e provincianas.
Ivan, n'A Memória Inventada
Ainda bem que não estou sozinho na apreciação estética positiva às ventoinhas que se adivinham nos topos dos cumes alentejanos. O lento rodar das pás vistas de uma autoestrada a cento e cinquenta quilómetros hora pode justificar esta minha atracção. E não se percebe como se pode temer esta «agressão» quando os postes ou torres ou lá como é que se chamam de electricidade são o que são, essas torres eiffel atarracadas e provincianas.
Mas com um plasma embutido na parede
«O que eu quero é uma casa rústica, tradicional, a imitar o antigo», disse o homem rústico, tradicional, a imitar o antigo.
terça-feira, 19 de julho de 2005
E aqui está um post sobre este assunto que não faz trocadilhos com «vento» nem «soprar»
Eu não quero ser chato, mas a verdade é que o planeta está a cair aos bocados. Não seria alarmante se Marte tivesse umas boas praias, cinemas em condições, e uma linha de comboio de alta velocidade a ligar a Lisboa, mesmo que fosse pela solução do T do entroncamento. O problema é que a Terra é tudo o que temos para irmos levando as nossas vidinhas. Posto isto, não pode haver ninguém de bom senso que não perceba a urgência gritante de novas formas de utilizar energia, especialmente aquelas que não utilizam recursos finitos. O vento, como sabemos, é infinito. As eólicas são, portanto, fixes. O resto é paisagem, e não comecem com a conversa da protecção ambiental como se um par de ventoínhas fizesse mal a alguém. Eu até as acho bonitas, sempre que atravesso Espanha, mas aí entramos no capítulo pessoal e é perigoso abrir precedentes que dão a possibilidade a qualquer português de usar o argumento «acho bonito» para justificar tudo e mais alguma coisa, não é por nada, mas o juízo estético não é um forte lusitano. Enfim, venham de lá essas energias alternativas. Ou as alter-energias, como lhe deverá chamar o Boaventura.
Não me venham com a ética ou a deontologia e o caralho, quero que vocês se fodam todos (Who else?)
«(...) É matéria já unânimne que "não deviam existir cursos de comunicação social", e que "as pessoas deviam tirar cursos que objectivamente ensinassem alguma coisa sobre o mundo". Tenho a acrescentar ou a retirar a isto o seguinte: para se ser bom jornalista basta ser curioso e escrever bem. Jornalista talvez seja a única profissão para a qual a curiosidade sobre as coisas é mais que suficiente para os gastos mínimos. Não se pode escrever mal, mas também não é preciso ser um Ivan Basso, perdão, um Ivan Nunes. Não me venham com a ética ou a deontologia e o caralho, quero que vocês se fodam todos. Não é preciso mais nada: não escrever mal e ser curioso.
Faz-se mau, péssimo jornalismo em Portugal, porque uma pessoa lê uma noticia sobre um incêndio florestal no diário menos ranhoso de todos com o título "Mais de 2500 hectares de floresta ardidos" e depois lê no corpo da noticia que "70 por cento da área ardida era mato". A jornalista em causa não teve curiosidade nenhuma em diferenciar o significado do vocábulo "mato" do vocábulo "floresta". Se algum dos jornalistas que em Portugal escrevem sazonalmente sobre incêndios tivessem a mínima curiosidade em comparar os números das áreas ardidas anualmente, os significados de cada uma das coisas que se diz que ardeu, as infinitas nuances por de trás da designação "ardida", as também infinitas consequências diferentes que tem arder sobreiro ou eucalipto....enfim, se tivessem um mínimo dos mínimos de curiosidade para além da lisboazinha onde vivem e o Holmes Place onde tentam desengordurar-se, se se introduzissem realmente, de alma e coração, no país sobre o qual escrevem todos os dias em vez de o verem da cápsula metropolitana onde encontram todos os seus sonhos.... Como o Cosmos deste pessoal simpático não passa da Zona 1 do Metropolitano de Lisboa (70 cêntimos), a sua auto-intitulada "consciência cívica" é um brincozinho que colocam só em ocasiões muito especiais (televisão, rádio), já que não chega a tanto que sintam dentro de si o dever de conhecerem e perceberem do que é que estão a falar, talvez porque não imaginam que existam pessoas ou um país que precisa mesmo de se conhecer. Foda-se, parece que são todos do Bloco de Esquerda, oh caralho.
Viram o Francisco Louçã com o pessoal da Companhia de Bailado da Gulbenkian? Estamos fodidos, oiçam o que vos digo, estamos fodidos!»
The one and only maradona
Faz-se mau, péssimo jornalismo em Portugal, porque uma pessoa lê uma noticia sobre um incêndio florestal no diário menos ranhoso de todos com o título "Mais de 2500 hectares de floresta ardidos" e depois lê no corpo da noticia que "70 por cento da área ardida era mato". A jornalista em causa não teve curiosidade nenhuma em diferenciar o significado do vocábulo "mato" do vocábulo "floresta". Se algum dos jornalistas que em Portugal escrevem sazonalmente sobre incêndios tivessem a mínima curiosidade em comparar os números das áreas ardidas anualmente, os significados de cada uma das coisas que se diz que ardeu, as infinitas nuances por de trás da designação "ardida", as também infinitas consequências diferentes que tem arder sobreiro ou eucalipto....enfim, se tivessem um mínimo dos mínimos de curiosidade para além da lisboazinha onde vivem e o Holmes Place onde tentam desengordurar-se, se se introduzissem realmente, de alma e coração, no país sobre o qual escrevem todos os dias em vez de o verem da cápsula metropolitana onde encontram todos os seus sonhos.... Como o Cosmos deste pessoal simpático não passa da Zona 1 do Metropolitano de Lisboa (70 cêntimos), a sua auto-intitulada "consciência cívica" é um brincozinho que colocam só em ocasiões muito especiais (televisão, rádio), já que não chega a tanto que sintam dentro de si o dever de conhecerem e perceberem do que é que estão a falar, talvez porque não imaginam que existam pessoas ou um país que precisa mesmo de se conhecer. Foda-se, parece que são todos do Bloco de Esquerda, oh caralho.
Viram o Francisco Louçã com o pessoal da Companhia de Bailado da Gulbenkian? Estamos fodidos, oiçam o que vos digo, estamos fodidos!»
The one and only maradona
segunda-feira, 18 de julho de 2005
Arquivo
As entrevistas de Carlos Vaz Marques, reunidas aqui. Horas e horas das melhores conversas tidas na rádio portuguesa nos últimos anos. A mim ajudam-me a concentrar. Usem-nas como quiserem.
Bom sinal
O facto de haver um grupo de católicos (não sei quase nada sobre o assunto) que quer apresentar queixa do Pe. Feytor Pinto junto do Vaticano (ao que parece por causa, espante-se, do preservativo) não me surpreende e, de certo modo, é um bom sinal (tema a desenvolver).
domingo, 17 de julho de 2005
Isto é post de desabafo
É o problema do artigo. O artigo que falta nos artigos. A moda foi lançada por João Pereira Coutinho. A direita que lê Spectator tomou-lhe o gosto. Nada de artigos (definidos ou indefinidos) para ninguém. Não se diz que «o Pedro escreveu um texto polémico», diz-se «o Pedro escreveu texto polémico». Isto irrita-me. Tenho dito.
sábado, 16 de julho de 2005
Deficiências de carácter, deficiências de carácter, deficiências de carácter
MANUEL Salgado, o arquitecto que projectou (com Vittorio Gregotti) o CCB e um dos subscritores do manifesto eleitoral de Manuel Maria Carrilho para a Câmara de Lisboa, decidiu retirar o apoio ao candidato. Em artigo publicado nesta edição do EXPRESSO, o arquitecto alega «deficiências de carácter» como estando na origem da decisão. (...)
In Expresso
Confesso que depois desta notícia o mundo passou a fazer um bocadinho mais de sentido.
André, fico à espera de uma reacção tua a isto.
In Expresso
Confesso que depois desta notícia o mundo passou a fazer um bocadinho mais de sentido.
André, fico à espera de uma reacção tua a isto.
sexta-feira, 15 de julho de 2005
Picador
Escusado será dizer que o meu post em baixo (Do roofmate à pastilha de piscina) deixa a malta da escola do Porto de cabelos em pé. Faz-lhes bem.
Bons ventos
Deu entrada o actos y potencias, um blogue de divulgação arquitectónica muito bem feito e agradável. Um exemplo do interesse das ligações que propõe: estas entrevistas da BBC.
Do roofmate à pastilha de piscina
Inaugurou ontem oficialmente o Teatro Azul em Almada, projecto de Manuel Graça Dias e Egas José Vieira, com Gonçalo Afonso Dias. Sem dúvida uma pedrada no charco (leia-se Portugal). É forte, musculado, berrante, divertido, intrigante, complexo, variado, marcante. Enfim, um sucesso. De certa maneira acaba por ser um edifício muito vicentino. O despudor pela forma, as referências que surgem das mais variadas experiências humanas, a volumetria pesada, a geometria extremamente complexa, a cor. É um ponto assinalado e assinalável num contexto urbano pouco qualificado, tornando-se numa tentativa de servir como charneira de uma identificação do lugar. O azul que reveste tudo isto faz lembrar o salmão que pinta as Piscinas da Outurela.
O universo formal do teatro tem nos Auditórios da Universidade Egas Moniz, dos mesmos autores, uma aproximação muito semelhante que terá servido de palco experimental para a obra de Almada (o projectos estão separados no tempo por um ano apenas.)
Agora quem é que se atreve a dizer que o pós-modernismo é mau e que morreu? Sei, no entanto, que estas são obras de que é fácil não gostar, especialmente quando reproduzidas assim, em imagem. Mas mesmo nesse caso (que não é, definitivamente, o meu) é impossível não reconhecer que esta atitude é muito válida e até mesmo necessária, num país como o nosso em que a arquitectura tende a reproduzir padrões de representação mais ou menos instituidos. Como Manuel Vicente dizia em entrevista há uns meses atrás, este branco que percorre o país de norte a sul não contribuiu para o enriquecimento crítico e cultural da arquitectura. Pois bem, eis o Teatro Azul.
Falei muito em forma neste texto. Infelizmente ainda não visitei o edifício, por isso fico reduzido às imagens e aos relatos de terceiros. Mas pelo que me foi dado a perceber, esta obra tem uma riqueza espacial (feita de variações de cotas, de vãos intencionais, de vazios surpreendentes) que faz com que seja muito mais do que simplesmente o teatro azul. E, como diz Susan Sontag no seu ensaio On Style, a ideia (muito moderna) que defende a ausência de estilo estará sempre errada na medida em que essa atitude, a ausência de estilo, é um estilo em si mesmo, um código de linguagem reconhecível. Por isso pode e deve falar-se em estilo na arquitectura. Talvez seja isso que me atraia tanto neste teatro.
quinta-feira, 14 de julho de 2005
Teaser
(...) Estas reuniões partem sempre de princípios que entroncam numa tradição de queixume e utopia muito Geração de 70. Primeira ideia isto é uma choldra. Segunda ideia: precisamos de estar abertos ao mundo e de trazermos o esplendor alheio para o Rossio. Terceira ideia: a malta das artes e das letras e da política é uma cambada de mentecaptos. Quarta ideia: a nossa geração e os nossos amigos concentram um grau mundialmente inusitado de novidade e génio. Quinta ideia: queremos fazer estardalhaço. Sexta ideia: depois logo se vê.
E assim vamos esboçando a nossa Spectator da Graça, a nossa Prospect de Oeiras, a nossa New Yorker do Saldanha, a nossa Les Inrockuptibles das Olaias. Não espanto ninguém se dizer que dessas vinte revistas nenhuma avançou. Houve planos. Números zero. Textos escritos. Grafismo de truz. Editoriais com verve. Planos para salvar Veneza. Só não houve revista. (...)
Revista à portuguesa, Pedro Mexia, in DN
Onde é que se assina a petição? Não há petição para isto?
E assim vamos esboçando a nossa Spectator da Graça, a nossa Prospect de Oeiras, a nossa New Yorker do Saldanha, a nossa Les Inrockuptibles das Olaias. Não espanto ninguém se dizer que dessas vinte revistas nenhuma avançou. Houve planos. Números zero. Textos escritos. Grafismo de truz. Editoriais com verve. Planos para salvar Veneza. Só não houve revista. (...)
Revista à portuguesa, Pedro Mexia, in DN
Onde é que se assina a petição? Não há petição para isto?
51 Ou a interrogação sobre a origem do eufemismo «dormir com»
«Sms para a Áustria, dois segundos», e o meu interlocutor esperou pacientemente os vinte segundos, não dois. Sent, delievered, dez minutos e estou em casa. Quando o telefone tocou podiam ter passado cem minutos que a sensação seria a mesma: o despertar repentino com a luz ainda acesa. Estás ofegante, então não haveria de estar, se vim a correr. Acordei-te? Sim, mas esperava-te. O estado de vigia durou pouco, deixou-se vencer pelo habitual conforto que já se tornou hábito. Acho que descobriste que a solidão é mais nítida no exacto momento em que adormecemos. Nesse instante nada pode ser tão evidente como essa certeza. Por isso se tornou tão importante essa observação à distância até ao último momento, a tentativa de partilhar o ponto exacto em que se passa da consciência para a inconsciência. Como se se pudesse isolar esse ponto, tal e qual a bola que se atira ao ar e que dizem parar antes de começar a descer. Esse ponto de inflexão do gráfico que se percebe vulnerável e sugestionável. No fundo é um desejo, uma mensagem, uma intenção clara sobre o enredo que deverá ser produzido pelo cérebro em descanso. Pode dizer-se que é forçar a coisa, mas costuma dar resultados.
quarta-feira, 13 de julho de 2005
Wendy, I can fly
Se todos fossemos capazes de proezas destas duvido muito que houvesse algum tipo de conflito à face da terra. É a minha costela hippie. Falta-me força de vontade para convencer a minha barriga a passar a rebentação. Esse é o meu pecado.
Fotografia de Tom Servais (via Ideias Brancas)
Gil, pá
Assim que terminou há uns minutos atrás o " Live 8 ", senti logo um desejo enorme de mandar uma série de palpites para o ar do planeta.
Podemos ter muitas, mas mesmo muitas dúvidas que a questão da pobreza no mundo ou da fome em África se resolvam na próxima semana dos G 8, podemos até duvidar da "generosidade" de Bill Gates cuja presença no palco cénico nos deixa baralhados e confusos, e nos leva a pensar : (...)
Ide, ide a correr para saber o que pensa João Gil.
Podemos ter muitas, mas mesmo muitas dúvidas que a questão da pobreza no mundo ou da fome em África se resolvam na próxima semana dos G 8, podemos até duvidar da "generosidade" de Bill Gates cuja presença no palco cénico nos deixa baralhados e confusos, e nos leva a pensar : (...)
Ide, ide a correr para saber o que pensa João Gil.
Vila Franca's mayor
Sem querer por em causa o valor de Vasco Rato, parece-me que a sua candidatura a Vila Franca de Xira é um grande erro de casting. A direita do ribatejo não tem bem esse perfil, para dizer o mínimo. Mas não é nada que uma boa pega de cernelha (já estamos em plena época) não resolva.
Toca e foge
A idade de uma relação amorosa é inversamente proporcional à necessidade de isolamento (i.e., a distância para onde se foge) em caso de telefonema da pessoa amada.
terça-feira, 12 de julho de 2005
Fazendo escola*
Vou almoçar. Para cumprir um ritual de quem trabalha em horário convencional, ou se calhar só porque tenho fome.
*
*
Injustamente estigmatizado
Temo bem que se começar a fazer desporto por estes dias vou passar a ideia de que a motivação não é apenas o cuidado da saúde. E também não é o Verão.
segunda-feira, 11 de julho de 2005
Com inimigos destes, quem precisa de amigos?
Maria João Avillez é, grosso modo, uma boa entrevistadora. Ontem, contudo, desceu muito baixo e deixou-se levar pela emoção durante a entrevista a José Sá Fernandes. Foram demasiadas pequenas coisas, como repetir constantemente «se fosse eleito», que deixaram bem claro que o candidato a incomoda. Mas erros grosseiros também, como apelidar de «bucólica e saudosista» (também repetida várias vezes) a ideia de instaurar uma rede de pequenas hortas privadas ou de restabelecer a ideia de Passeio Público na avenida da Liberdade. Acontece que José Sá Fernandes tem um programa eleitoral assente, no que toca à política urbana, nas ideias que Ribeiro Telles tem vindo a defender há vários anos, todas elas penosamente ignoradas, todas elas importantíssimas para Lisboa, todas elas bem estruturadas e coerentes. Quando percebeu que não era por aí que iria conseguir apanhar o gato com o rabo de fora, Maria João Avillez tentou descredibilizar a preparação do advogado para o lugar, perguntando que provas tinha ele de que seria um bom presidente da câmara. «Dez anos de actividade cívica», respondeu Sá Fernandes, ao que Avillez ripostou «não é a mesma coisa» (do que ser presidente). Pois não, não é a mesma coisa. As candidaturas autárquicas deveriam ser exclusivo daqueles que já foram presidentes de câmaras. Nem que tenha sido só por 6 meses.
A minha irritação nasceu da óbvia falta de preparação que Maria João Avillez demonstrou. Insisto: apelidar de «bucólicas e saudosistas» as propostas de Ribeiro Telles para Lisboa é um tremendo disparate. E porque roçou a falta de respeito. Quem ficou a ganhar foi obviamente José Sá Fernandes, que saiu da entrevista com a sua posição reforçada. É um bom candidato à câmara. Não fosse o Bloco de Esquerda e estaria na rua a fazer campanha. Por Lisboa.
A minha irritação nasceu da óbvia falta de preparação que Maria João Avillez demonstrou. Insisto: apelidar de «bucólicas e saudosistas» as propostas de Ribeiro Telles para Lisboa é um tremendo disparate. E porque roçou a falta de respeito. Quem ficou a ganhar foi obviamente José Sá Fernandes, que saiu da entrevista com a sua posição reforçada. É um bom candidato à câmara. Não fosse o Bloco de Esquerda e estaria na rua a fazer campanha. Por Lisboa.
Sonhando acordado com locais distantes 48 ou Quebrando todos os mínimos aceitáveis de bom gosto
Ia pegar na guitarra e sair para a rua. Arranhar uns acordes e acordar a vizinhança com aquela violência só ao alcance de quem tem uma capacidade vocal equivalente à de Jorge Coelho. Expor-me ao ridículo, trocado por miúdos. É um trabalho sujo mas alguém tem de o fazer. Pois bem, não sou eu. Alguém já se chegou à frente. Confesso que me saiu um peso dos ombros. Fiquem com Me and Boris the Bull:
FAR END OF THE WEEK (sem medos, à confiança, um clique no link, vamos lá, todos)
All along you had told me
It wasn't that I didn't believe
You said you had to leave for somewhere
You'd be back by the far end of the week.
I don't mind separation
It's good to stand on my own two feet
And I love your conversation,
Except when our eyes don't meet.
Don't you fly too far
You know it breaks my heart
Whether near or far
Love you anywhere you are.
The thoughts I have they turn to weary
I think my heart just missed a beat
I wonder if I'm gonna make it
To the far end of the week
When you called the night before Sunday
My quiet eyes began to see
The sound you make, makes me so happy
I forget the thousand miles between you and me
FAR END OF THE WEEK (sem medos, à confiança, um clique no link, vamos lá, todos)
All along you had told me
It wasn't that I didn't believe
You said you had to leave for somewhere
You'd be back by the far end of the week.
I don't mind separation
It's good to stand on my own two feet
And I love your conversation,
Except when our eyes don't meet.
Don't you fly too far
You know it breaks my heart
Whether near or far
Love you anywhere you are.
The thoughts I have they turn to weary
I think my heart just missed a beat
I wonder if I'm gonna make it
To the far end of the week
When you called the night before Sunday
My quiet eyes began to see
The sound you make, makes me so happy
I forget the thousand miles between you and me
domingo, 10 de julho de 2005
Sometimes it takes simple models to better understand complex behaviour
A cidade é complexa. Quanto maior é, mais complexa se torna. Esta é uma ideia simples e de pouca contestação. A cidade, como palco e fado da civilização (o Homem decidiu, desde os primórdios, viver em comunidade), é alvo fácil e justo de todo o tipo de análises. Depois do racionalismo moderno e da sua atracção pelo funcional, as pesquisas sobre o urbanismo abriram-se aos mais variados tipos de pensamento académico. Sociologia, geografia, psicologia, economia, climatoligia, muitas outras ias, foram chamadas a dialogar sobre o planeamento urbano. A coisa atingiu proporções de demência ao ponto de ter transformado as escolas de arquitectura em centros relativistas onde se ensinava tudo menos arquitectura. Isto foi detectado a tempo e agora o panorama é mais contido. Sociologia sim, mas no seu devido lugar. O problema nasce, na minha opinião, da dificuldade de articular a análise com a acção. Sim, sem dúvida, as análises sociológicas (vejam nesta minha sociologia uma generalização de todas as áreas científicas exteriores à arquitectura e urbanismo) são estimulantes e interessantes. Mas sempre que se tentou desenhar sobre esses pressupostos, a coisa não resultou. Defendo que o urbanismo é, na sua génese e núcleo duro, uma actividade que se caracteriza pelas opções simples, uma grande dose de bom senso, e uma falta gritante de sex-appeal. Foi esta procura do sex-appeal intelectual nos anos 70 que transformou o urbanismo numa amálgama optimista onde, numa atitude com contornos de politicamente correcto, tudo passou a ser relevante. Como disse, ao nível da análise académica o interesse e a pertinência da interdisciplinaridade é inquestionável. Mas querer transpôr isso para o planeamento em si é encarar a cidade como um organismo controlável, espectável, reliable. Coisa que, manifestamente, não é. Não é possível traçar um modelo complexo para a urbe porque ao mínimo desvio (quer irá sempre acontecer) o modelo cai por terra e torna-se obsoleto. O urbanismo é tão mais eficaz quanto mais simples são os seus propósitos, propósitos esses que, devido a essa procura da simplicidade, devem ser correctos. E é aqui que a sociologia tem o seu papel: na elaboração de estudos que minimizem a margem de erro das opções urbanísticas. No fundo, deve ser passiva, não activa. Porque para a cidade quero o mesmo que para tudo o resto: que o princípio da liberdade e auto-regulação prevaleça. Ninguém gosta de crescer entre espartilhos.
Depois de Mark Felt, continuam as revelações
Simone Simmons (confidente de Diana) revela em livro que a princesa de Gales teve o seu primeiro orgasmo aos 25 anos (via revista Sábado). Talvez seja uma das mais explícitas informações políticas dos últimos anos.
Que Carlos era só (nas palavras da princesa) «montar, desmontar, e dormir», não pode ser considerado uma revelação.
Que Carlos era só (nas palavras da princesa) «montar, desmontar, e dormir», não pode ser considerado uma revelação.
sábado, 9 de julho de 2005
Sonhando acordado com locais distantes 46
Dizem que Deus criou o mundo numa semana. Sete dias, sendo que o sétimo foi só de descanso, mas é contabilizado para arrendondar o número divino. Nunca me tinha apercebido de que sete dias foi o tempo preciso para criar o universo. O universo, infinito, foi desenhado e executado em sete dias. Há quem diga que uma semana passa a correr, mas a esses lembro que sete dias é o tempo suficiente para criar um universo infinito. Atrevam-se agora a dizer que é pouca coisa.
sexta-feira, 8 de julho de 2005
Fórum TSF mix
Bom dia ao manuel acácio a todo o auditório. O que as pessoas se esquecem é que isto tudo é culpa da igreja católica e do shôr ratzinger porque as cruzadas foram uma vergonha, e do shôr walt e da sua tentativa de dominação cultural, porque ninguém duvida que o rato mickey é uma ofensa ao islão (a verdade é que não há uma única personagem disney que use burka, e disto ninguém fala) e o shôr walt, quando era espião da cia, denunciou a falsidade do terceiro milagre o que, obviamente, gerou uma reacção do mundo cristão levando o shôr bush a invadir o iraque e a matar iraquianos. Quanto ao terrorrismo, isto nunca vai acabar, é como a prostituição.
Andam a fornicar Lisboa e ninguém se importa
O governo acaba de anunciar que afinal a ampliação do terminal de contentores de Alcântara sempre vai para a frente. Isto tem implicações bastante graves: primeiro, significa o encerramento definitivo ao público de toda a zona ribeirinha entre Santos e Alcântara; segundo, implica a construção duma via férrea que irá ligar o terminal a Alcântara Terra; terceiro, vai comprometer a recuperação urbanística da zona de Alcântara. (continua)
n'O céu sobre Lisboa
n'O céu sobre Lisboa
José Mário Silva:
(...) Uma das palavras mais repetidas ao longo do dia foi resilience. Ou seja: a aptidão para reagir à adversidade. E, se pensarmos bem, aos londrinos nunca faltou resilience. Basta lembrar o grande incêndio de 1666 ou os bombardeamentos da aviação alemã durante a II Guerra Mundial. Então, como agora, os londrinos mostraram coragem, abnegação e uma enorme dignidade. Hoje, como ontem (quando venceram no photo finish a corrida à organização das Olímpiadas), eles revelaram-se um exemplo para o resto do mundo.
Filipe Nunes Vicente:
(...) Mandamos o Soares o Rosas e o Zapatero como é mano andas pobre habla comigo. (...)
Não garanto nada, mas acho que o doutor Mário Soares já disse isso. Se não disse, pensou, vai dar ao mesmo
(...) O Iraque agora é pau para toda a obra. Como a falta de memória e o vírus anti-livros de história cada vez mais difundido, não faltará muito para culpar a invasão e ocupação do Iraque pelos atentados do 11 de Setembro nos EUA.
maradona
maradona
quinta-feira, 7 de julho de 2005
Os «governos cruzados»
Uma explicação (estes actos nunca são inexplicáveis):
«Regozijai-vos, comunidade Muçulmana. Os heróicos Mudschahidin produziram hoje um ataque em Londres. Nós avisámos o governo britânico e o povo britânico uma e outra vez. Mantivémos a nossa promessa de pôr uma operação militar em marcha. Avisamos também os governos da Dinamarca e da Itália e de outros governos cruzados (cristãos).»
Da declaração dos supostos autores do atentado, via O Insurgente
Uma das clivagens letais entre o mundo ocidental e o mundo islâmico mais fanático é o desfasamento temporal. As cruzadas foram ontem, a Jihad sempre esteve viva. É por coisas destas que o diálogo parece absurdo nestas situações.
«Regozijai-vos, comunidade Muçulmana. Os heróicos Mudschahidin produziram hoje um ataque em Londres. Nós avisámos o governo britânico e o povo britânico uma e outra vez. Mantivémos a nossa promessa de pôr uma operação militar em marcha. Avisamos também os governos da Dinamarca e da Itália e de outros governos cruzados (cristãos).»
Da declaração dos supostos autores do atentado, via O Insurgente
Uma das clivagens letais entre o mundo ocidental e o mundo islâmico mais fanático é o desfasamento temporal. As cruzadas foram ontem, a Jihad sempre esteve viva. É por coisas destas que o diálogo parece absurdo nestas situações.
Atentado em Londres
Infelizmente já não restam dúvidas de que o body count está aí para durar (45 mortos, diz agora a Skynews). A França está em estado de alerta máximo, mas ninguém lhes liga. A Al-Qaeda acaba de ameaçar a Dinamarca e a Itália. O eixo franco-alemão está safo.
Explosões em Londres 3
Porra pá! Em Nova Iorque mataram 3000, em Madrid mataram 200. Desde o 11 de Setembro, revelou o então comissário Vitorino, foram impedidos cerca de 16 ataques sérios na Europa. Quando finalmente os cabrões conseguem o tão desejado ataque em Londres, matam cerca de uma dezena (talvez, até agora vejo confirmadas 2 mortes). A luta contra o terrorismo está a ser eficaz, o que não significa que o trabalho esteja completo. Porque a questão principal é esta: estaremos a combater esta coisa da melhor forma?
Explosões em Londres
Se se confirmar a origem terrorista das explosões em Londres (ou seja da Al-Quaeda, já que o modus operandi parece ser o mesmo: explosões simultâneas), esta pode muito bem ser a prova de que a sua capacidade tem vindo a diminuir. Pode ser que me engane mas um atentado em Londres, há muito temido, que provoque apenas «muitos feridos» (ouve-se, mas não se confirma, algumas mortes) não deixa de ser um fracasso. Claro que tudo muda de figura se se vier a confirmar um número elevado de mortes. Aguardemos.
quarta-feira, 6 de julho de 2005
O fim de uma era
(...) Few would disagree that we are all post-modernists now – though few, thank goodness, are adherents of PoMo. For all Richards’ belief that architecture was becoming more plural towards the end of the Modern period, to many it seemed to be increasingly grim, bureaucratic and dull. PoMo was an early and noisy example of the many imaginative theoretical and built reactions against tired official Modernism (and each other) that have made the last quarter of a century so multi-faceted, culturally productive and challenging. (...)
Setting the Scene for the Future, Peter Davey, in Architectural Review March 2005
Peter Davey abandonou o cargo de director da Architectural Review, cargo que ocupava há 25 anos. A revista dedicou-lhe um número, ou melhor, entregou-lhe um número em jeito de despedida. Foi em Março, e chama-se Davey Reflects. Obrigatório.
Setting the Scene for the Future, Peter Davey, in Architectural Review March 2005
Peter Davey abandonou o cargo de director da Architectural Review, cargo que ocupava há 25 anos. A revista dedicou-lhe um número, ou melhor, entregou-lhe um número em jeito de despedida. Foi em Março, e chama-se Davey Reflects. Obrigatório.
Aprendendo com FLW (2)
Sobre o ornamento:
An element so hard to understand that modern architects themselves seem to understand it least well of all and most of them have turned against it with such fury as is born only of impotence.
The Natural House, Frank Lloyd Wright, Horizon Press Inc., 1954
An element so hard to understand that modern architects themselves seem to understand it least well of all and most of them have turned against it with such fury as is born only of impotence.
The Natural House, Frank Lloyd Wright, Horizon Press Inc., 1954
Aprendendo com Frank Lloyd Wright
What is needed most in architecture today is the very thing that is most needed in life - Integrity. Just as it is in a human being, so integrity is the deepest quality in a building; but it is a quality not much demanded of any building since very ancient times when it was natural. It is no longer the first demand for a human being either, because "Success" is now so immediately necessary. If you are a success, people will not want to "look the gift horse in the mouth". Mo. But then if "success" should happen today something precious has been lost from life.
The Natural House, Frank Lloyd Wright, Horizon Press Inc., 1954, livro que seguro agora nas mãos, páginas amareladas e grossas, más fotografias a preto e branco, plantas de casas soltas, páginas dobradas e vincadas, aquele cheiro próprio dos livros que são pouco abertos. Basicamente é um testamento de FLW sobre casas. Acho que hoje não trabalho mais.
terça-feira, 5 de julho de 2005
Sonhando acordado com locais distantes 45
Se alguma vez te parecer
ouvir coisas sem sentido
não ligues, sou eu a dizer
que quero ficar contigo
e apenas obedeço
com as artes que conheço
ao princípio activo
que rege desde o começo
e mantém o mundo vivo
Se alguma vez me vires fazer
figuras teatrais
dignas dum palhaço pobre
sou eu a dançar a mais nobre
das danças nupciais
vê minhas plumas cardeais
em todo o seu esplendor
sou eu, sou eu, nem mais
a suplicar o teu amor
É a dança mais pungente
mão atrás e outra à frente
valsa de um homem carente
mão atrás e outra à frente
valsa de um homem carente
«Valsa dum homem carente», Jorge Palma, Norte
Da inveja
A arquitectura bem podia ser um bocadinho mais parecida com a astronomia: experiências à escala 1:1 sobre o objecto em causa para depois se ver no que isso dá.
Em casa de ferreiro, espeto de pau
Escolheu dedicar a sua vida a combater as violações dos direitos humanos sem (querer) perceber que estava a ser humanamente violada nos seus direitos. Visto de fora era evidente que assim era, mas visto de dentro não sobram dúvidas de que a realidade se apresentava caleidoscópica. A firmeza que advogava era-lhe de impossível aplicação. Culpava a conjuntura, os amigos tentavam desculpar-se na especificidade cultural. O último reduto seria sempre o berço e as marcas profundas do parto. Em desespero de causa desistiu de tentar fazer a diferença. Entregou-se aos pecados que sabia não serem os seus para imediatamente iniciar o processo de camuflagem e dissimulação. Ninguém poderá negar-lhe o estatuto de vítima. Como sempre.
segunda-feira, 4 de julho de 2005
A preto e preto
Uma arquitectura negra e quase nula? Por acaso falas daquela obra do Zumthor, que tu achavas austríaca e perto de Graz, quase implorando-me que a visitasse? Pois bem, aconteceu que fica a mais de seiscentos quilómetros. Mas o Fernando Guerra foi lá.
Bem sei que não se trata de um lar, mas como acontece com a arquitectura que nos transcende, facilmente tornaria aquelas paredes em minha casa.
Bem sei que não se trata de um lar, mas como acontece com a arquitectura que nos transcende, facilmente tornaria aquelas paredes em minha casa.
Sonhando acordado com locais distantes 44
«Estás outra vez inspirado». A responsabilidade não é, obviamente, minha. E sei muito bem onde ir agradecer.
Nunca é demais repetir
«Os movimentos anti-globalização foram mais uma vez manifestar-se no sítio onde se vai realizar o G8, “contra a pobreza” gerada pelo capitalismo. Este é um dos maiores enganos que se pode alimentar: grande parte da pobreza africana não existe à míngua de ajuda humanitária, mas devido à enorme corrupção dos regimes africanos, à engenharia social, cópia mimética do marxismo europeu, que levou à destruição do pouco que os regimes coloniais tinham deixado, às guerras civis tribais e, se se quiser, nos tempos mais recentes, ao proteccionismo, principalmente europeu, que impede muitos produtos agrícolas africanos de entrarem nos mercados ricos. É mais globalização que os países pobres de África precisam e acima de tudo, intransigência contra a corrupção dos seus dirigentes.
Estava a pensar escrever isto, ao ver o folclore escocês, quando a RTP1 passa uma pequena peça sobre Angola, em que a palavra corrupção não é pronunciada, e em que não se explica como é que se pode ter petróleo e diamantes, um dos melhores e mais bem equipados exércitos de África, uma elite riquíssima que manda os filhos estudar para a Suiça e…nada para a esmagadora maioria da população. Mas a culpa é do capitalismo e do G8. É isto informação.»
Tretas, in Abrupto
Estava a pensar escrever isto, ao ver o folclore escocês, quando a RTP1 passa uma pequena peça sobre Angola, em que a palavra corrupção não é pronunciada, e em que não se explica como é que se pode ter petróleo e diamantes, um dos melhores e mais bem equipados exércitos de África, uma elite riquíssima que manda os filhos estudar para a Suiça e…nada para a esmagadora maioria da população. Mas a culpa é do capitalismo e do G8. É isto informação.»
Tretas, in Abrupto
Meta coisa
Há muito tempo que não sentia a vontade de divulgar um blogue. O Abóbada Palatina enche-me as medidas.
E mais uma coisa: vocês sabem quem são. Há muitos, muitos blogues a fazer anos por esta altura, a maioria dois (o Verão quente de 2003). Se me pusesse a parabenizar-vos um a um este blogue não faria outra coisa. Mas como não quero deixar passar as efemérides, recebam daqui o meu abraço e agradecimento. Sim, vocês sabem quem são.
E mais uma coisa: vocês sabem quem são. Há muitos, muitos blogues a fazer anos por esta altura, a maioria dois (o Verão quente de 2003). Se me pusesse a parabenizar-vos um a um este blogue não faria outra coisa. Mas como não quero deixar passar as efemérides, recebam daqui o meu abraço e agradecimento. Sim, vocês sabem quem são.
Pressionar o top10
As estrelas do Live8 «pressionaram» os líderes dos países mais ricos, lê-se. Se o interesse delas fosse realmente a população africana, seriam outros líderes que pressionariam. Como isso é politicamente incorrecto e não faria nada bem à facturação, o melhor mesmo é apelar à caridade do mundo desenvolvido. É uma mensagem que o público da MTV compreende melhor.
O problema de África não se resolve com ajudas nem caridade, medidas que têm uma eficácia reduzida e não têm condições para se perpetuar. Resolve-se, sim, com investimento e desenvolvimento e isso obtém-se recorrendo à globalização que os mesmos artistas tanto criticam (Bono and friends). A caridade deve continuar, sim, porque é uma obrigação moral, algo a que nós, a bem da nossa saúde mental, não podemos dizer não. Mas ao mesmo tempo há ter a consciência que isso não vai resolver nada de substancial. Tapa alguns furos, impede que alguma água entre, mas o barco continua a afundar-se.
O problema de África não se resolve com ajudas nem caridade, medidas que têm uma eficácia reduzida e não têm condições para se perpetuar. Resolve-se, sim, com investimento e desenvolvimento e isso obtém-se recorrendo à globalização que os mesmos artistas tanto criticam (Bono and friends). A caridade deve continuar, sim, porque é uma obrigação moral, algo a que nós, a bem da nossa saúde mental, não podemos dizer não. Mas ao mesmo tempo há ter a consciência que isso não vai resolver nada de substancial. Tapa alguns furos, impede que alguma água entre, mas o barco continua a afundar-se.
Fronteiras
Alberto João declarou, publicamente, que não gosta dos chineses nem dos indianos. Não percebo a indignação nacional: é mais do que sabido que a China e a Índia não fazem parte da Região Autónoma da Madeira.
Sonhando acordado com locais distantes 43
Primeiros resultados do impacto lá da coisa da Nasa no cometa 9p não sei o quê: a partir de hoje o movimento de rotação da Terra passa a ser mais lento, muito mais lento, progressivamente mais lento. Pelo menos, e lá vêm os relativismos pós-modernos de que o outro não gosta, aparentemente. Não se prevê que a Terra chegue a parar, mas só lá mais para o meio do mês é que são esperadas melhorias no estado do tempo. Por enquanto há que ir recolhendo a poeira.
Sonhando acordado com locais distantes 42
O excesso de comunicação pode acentuar a distância, tornando-a mais evidente. Mas ninguém disse que se queria atenuá-la. Faz-se os possíveis, não os impossíveis.
domingo, 3 de julho de 2005
Sounds good to me
Sim, há qualquer coisa que cheira a injustiça nestas mulheres. Isto assim não vale. Ao contrário do que se costuma dizer, esta pode ser a prova de que Deus, afinal, não existe. Ou, se existe, é perverso.
Deep Impact
Daqui a precisamente 16 horas e 46 minutos vamos (1) rebentar (2) com um asteróide.
(Nuno Crato, no seu texto no Expresso de ontem, resume a coisa numa expressão reveladora: «A astronomia torna-se uma ciência experimental».)
(1) - Vamos, nós, a humanidade.
(2) - Não é bem rebentar, é mais fazer uma mossa, mas é uma mossa que impõe respeito.
(Nuno Crato, no seu texto no Expresso de ontem, resume a coisa numa expressão reveladora: «A astronomia torna-se uma ciência experimental».)
(1) - Vamos, nós, a humanidade.
(2) - Não é bem rebentar, é mais fazer uma mossa, mas é uma mossa que impõe respeito.
www.blogspot.com
Era uma mulher prevenida: antes de decidir sucumbir aos encantos dele foi conhecer-lhe o blogue.
sábado, 2 de julho de 2005
O arquitecto reaça
Percebemos que a arquitectura não é fácil quando ouvimos um professor da Faculdade de Arquitectura de Lisboa dizer que o Siza é «péssimo arquitecto» e que o «irrita» e que se «olharmos com olhos de ver percebemos que aquilo é péssimo» e que «se tirarmos a pala ao pavilhão de Portugal aquilo fica um edifício fascista comum» e que «todos os alunos da faculdade já sabem que quando chegarem ao quinto ano levam com ele em cima» e que «o Siza e o Souto Moura só são o que são porque são comunistas» e muitos outros disparates em apenas cinco minutos de conversa. Deu para me chatear, o palerma, ao ponto de o obrigar a dizer «dizes isso porque és novo, vais ver que quando fores mais velho vais olhar para as coisas de outra maneira» e que eu «devia libertar-me dos preconceitos que me meteram na cabeça». Não fosse o ambiente onde a curta conversa decorreu e ter-me-ia divertido a dar uma imagem de puto arrogante, ao ponto de o fazer perder a calma. Ser «novo» tem destas coisas: tomar calores com pessoas que manifestamente não o merecem. É este tipo de coisas que espero que a experiência me ensine. Deixo o achar o Siza uma merda para os ressabiados do costume.
(Aos interessados fornece-se o nome do professor via e-mail. Ou, ainda melhor, dá-se um rebuçado a quem conseguir identificar a personagem com base neste curto desabafo. Vamos lá, não deve ser difícil para quem teve a infelicidade de ser aluno dele.)
(Aos interessados fornece-se o nome do professor via e-mail. Ou, ainda melhor, dá-se um rebuçado a quem conseguir identificar a personagem com base neste curto desabafo. Vamos lá, não deve ser difícil para quem teve a infelicidade de ser aluno dele.)
Encontros imediatos
Conhecido hoje, com algum prazer, tenho de reconhecer, um arquitecto reaccionário.
(sem título)
O amor não é passível de persuasão intelectual.
Ivan
Sim e não, Ivan, sim e não. Talvez o problema esteja na palavra persuasão, mas se a substituirmos por sedução (ou coisa parecida) teremos de riscar a palavra «não» dessa frase. Ainda que mesmo a mais inteligente das mulheres (escrevo na condição de homem) nos diga que «nenhuma mulher quer ser mais inteligente do que bonita». Dito com alguma crueldade, como se vê. Mas às vezes um par de neurónios pode ser tão estimulante como um par de. O amor, e perdoem-me os românticos, não é irracional. O que não quer dizer que não se cometam muitos disparates em seu nome, mas se a palavra fizer sentido durante todo o processo então os disparates nunca chegam a sê-lo. Porque se o amor fosse irracional não nos poderíamos orgulhar dele. E isso seria trágico.
Ivan
Sim e não, Ivan, sim e não. Talvez o problema esteja na palavra persuasão, mas se a substituirmos por sedução (ou coisa parecida) teremos de riscar a palavra «não» dessa frase. Ainda que mesmo a mais inteligente das mulheres (escrevo na condição de homem) nos diga que «nenhuma mulher quer ser mais inteligente do que bonita». Dito com alguma crueldade, como se vê. Mas às vezes um par de neurónios pode ser tão estimulante como um par de. O amor, e perdoem-me os românticos, não é irracional. O que não quer dizer que não se cometam muitos disparates em seu nome, mas se a palavra fizer sentido durante todo o processo então os disparates nunca chegam a sê-lo. Porque se o amor fosse irracional não nos poderíamos orgulhar dele. E isso seria trágico.
sexta-feira, 1 de julho de 2005
passa a palavra
«das árvores invejava quase tudo — folhas e troncos e frutos — mas sobretudo as raízes.»
letra minúscula, um blogue minimal de josé mário silva.
letra minúscula, um blogue minimal de josé mário silva.
Sonhando acordado com locais distantes 41
(Ou como pôr os amigos mais chegados a fazer contas de cabeça)
A 30 de Abril de 2004:
Hoje: mais uma pista sobre a minha misteriosa atracção por edifícios. É o controlo. Num desenho mandamos em tudo. Pomos e dispomos. Somos deuses num microcosmos. A liberdade é quase infinita. Tudo é ao nosso jeito. Porque é que isto me atrai? Porque na vida, caríssimo leitor, é exactamente o oposto.
Na altura interpretava isto como uma coisa má. Agora continuo a achar que não é uma coisa boa, mas duvido que isto (a vida) tivesse muita graça se fosse diferente. No fundo, o aborrecimento da rotina é tão grave como qualquer tirania, como nos explicou há dias o Rui Ramos. Precisamos, no fundo, de pequenas guerrilhas inofensivas de tempos a tempos, para isto não acabar numa inevitável revolução.
Nota: Para que os selvagens do costume não se ponham em divagações voyeurísticas descontroladas, informa-se que este post foi praticamente escrito a quatro mãos.
A 30 de Abril de 2004:
Hoje: mais uma pista sobre a minha misteriosa atracção por edifícios. É o controlo. Num desenho mandamos em tudo. Pomos e dispomos. Somos deuses num microcosmos. A liberdade é quase infinita. Tudo é ao nosso jeito. Porque é que isto me atrai? Porque na vida, caríssimo leitor, é exactamente o oposto.
Na altura interpretava isto como uma coisa má. Agora continuo a achar que não é uma coisa boa, mas duvido que isto (a vida) tivesse muita graça se fosse diferente. No fundo, o aborrecimento da rotina é tão grave como qualquer tirania, como nos explicou há dias o Rui Ramos. Precisamos, no fundo, de pequenas guerrilhas inofensivas de tempos a tempos, para isto não acabar numa inevitável revolução.
Nota: Para que os selvagens do costume não se ponham em divagações voyeurísticas descontroladas, informa-se que este post foi praticamente escrito a quatro mãos.
Barnabé, o blogue capitalista
É criado, gera audiência, transforma-se em livro, vende, vende um pouco mais, esgota o produto. Acaba.
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