sexta-feira, 18 de julho de 2008
E uma merecida homenagem às caixas automáticas da FNAC
Começa a tornar-se um padrão: já no ano passado me despedi para férias ao som de guitarras evangelizadoras. Por coincidência volta a acontecer o mesmo: ontem, e por apenas 9,95€, a FNAC do Chiado (do Chiado, eu não frequento outras FNACs, isto é das poucas coisas elitistas que restam ao burguês contemporâneo) ofereceu-me o mais recente opus Guilluliano. Fica bem, esta persistência religiosa em tempo de relaxamento do espírito.
quinta-feira, 17 de julho de 2008
Por exemplo
Um dos erros - e se não for erro por amor de Deus assassinem-me já - mais comuns da linguagem portuguesa é o uso do pretérito imperfeito do indicativo em situações onde se deveria usar o condicional. Um exemplo: «um dos erros mais comuns da linguagem portuguesa é o uso do pretérito imperfeito do indicativo em situações onde se devia usar o condicional». Há aqui estudos linguísticos e teses de doutoramento que eu estou de certeza a ignorar, mas nem o facto dos melhores prosadores nacionais incorrerem com alguma frequência neste tipo de situação me subtrai a convicção de que isto é, vá lá, errado. Bom, dirá o leitor certamente, mas isso é uma situação em que a expressão oral se distanciou da expressão escrita, interpelação que merece um par de citações retiradas precisamente da página que acabei de ler de A Sala Magenta, último romance do melhor escritor (homem) português vivo. Vamos então à página 27, onde às tantas escreve Mário de Carvalho (enfim, escreve o narrador, e pode haver aqui alguma intencionalidade, não sei):
«Expulsou-a, aos resmungos, com a promessa de que a chamava se fosse preciso (...)»
Cá está. O curioso é que na mesmíssima página, no parágrafo imediatamente a seguir, há um diálogo entre duas personagens que vai assim:
«"Se eu morresse, aposto que nem ias ao meu funeral." " Que falta é que eu te faria no teu funeral?"»
Portanto, na mesma página do mesmo romance, temos um narrador que diz «chamava» em vez de «chamaria»; uma personagem que diz «ias» em vez de «irias»; e outra personagem que diz correctamente «faria» quando tudo fazia prever um «fazia». Reitero a minha ignorância sobre a qualificação destas mutações dos tempos verbais. Não sei se são erros, de facto, mas que isto tudo me cheira mal, lá isso cheira. E queria sublinhar o facto de o português ser uma língua que é suposto ensinarmos a estrangeiros e em que um dos tempos verbais se chama pretérito mais-que-perfeito do indicativo, por exemplo.
Adenda (18 de Julho, 10:18): Fui alertado para o facto de ter escrito originalmente «conjuntivo» em vez de «condicional», ali na primeira frase do post, o que prova que as pessoas não me deveriam dar atenção.
«Expulsou-a, aos resmungos, com a promessa de que a chamava se fosse preciso (...)»
Cá está. O curioso é que na mesmíssima página, no parágrafo imediatamente a seguir, há um diálogo entre duas personagens que vai assim:
«"Se eu morresse, aposto que nem ias ao meu funeral." " Que falta é que eu te faria no teu funeral?"»
Portanto, na mesma página do mesmo romance, temos um narrador que diz «chamava» em vez de «chamaria»; uma personagem que diz «ias» em vez de «irias»; e outra personagem que diz correctamente «faria» quando tudo fazia prever um «fazia». Reitero a minha ignorância sobre a qualificação destas mutações dos tempos verbais. Não sei se são erros, de facto, mas que isto tudo me cheira mal, lá isso cheira. E queria sublinhar o facto de o português ser uma língua que é suposto ensinarmos a estrangeiros e em que um dos tempos verbais se chama pretérito mais-que-perfeito do indicativo, por exemplo.
Adenda (18 de Julho, 10:18): Fui alertado para o facto de ter escrito originalmente «conjuntivo» em vez de «condicional», ali na primeira frase do post, o que prova que as pessoas não me deveriam dar atenção.
quarta-feira, 16 de julho de 2008
Depoimento
Se calhar então vinha aqui deixar o meu depoimento sobre o caso da liga dos campeões, já que os adeptos do Porto ainda não se calaram em festejos e em insinuações sobre os adeptos do Benfica. Cá vai: estou extremamente contrariado por ter acabado ontem o Arthur & George (Julian Barnes) e extremamente desconfiado com o início do Sala Magenta (Mário de Carvalho), apesar de ter estremecido quando Gustavo «franziu a cara» e «considerou-se a si próprio um cínico egoísta viciado em exibições de insensibilidade».
terça-feira, 15 de julho de 2008
Com 7 honrosas excepções
Estas merdas de se festejar os aniversários de blogues têm de acabar (pecado de que não estou inocente, reconheço). Alimentar um blogue não é algo digno de mérito. Não é nenhuma vitória, nenhuma conquista, nenhuma qualidade. Apenas é. Falo por mim: escrever aqui tira-me muito tempo, sim, mas não custa nada: ligo esta coisa e debito o que me apetece, sem pedir licença a ninguém, sem respeitar seja o que for (o resto é talento puro, admito). O único resultado é a minha humilhação pública. Mais nada. Não ajudo ninguém com isto; o mundo à volta deste blogue não está melhor pela sua existência. Agora toda a gente anda a dar-se palmadinhas nas costas por causa dos «5 anos», como se alguém se tivesse esquecido de que foi no verão de 2003 que esta merda arrancou como deve ser. Sim, eu também estou cá há cinco anos, mas não ando aí pelos cantos com balões atados ao pescoço. Isto é egoísmo puro, é narcisimo refinado, é uma actividade que não paga impostos. Não serve para nada. Cinco anos a escrever na «blogosfera» é digno de pena e caridade, nada mais.
segunda-feira, 14 de julho de 2008
E a semântica, senhores?
Leio n'A Bola que o jogador que o Sporting escolheu para substituir Stojkovic dá pelo nome de Assmann.
A favor de Mainardi
O Ricardo Gross faz aqui uma coisa que me agrada, e que é a todos os títulos deontologicamente reprovável (as coisas deontologicamente reprováveis têm geralmente um potencial de me agradar muito alto): diz, sem papas na língua, que o romance de Diogo Mainardi é «aconselhável» sem o ter lido e, pior, sem ter lido qualquer romance de Diogo Mainardi. E porque é que isto me agrada, que no fundo é toda a razão de ser deste post? Porque revela um preconceito do tamanho do talento de Mainardi (sim, eu também sou fã de Mainardi), um preconceito que elimina à partida qualquer objectividade na análise aos reais méritos da obra. E, realcemos, a obra tem tudo para fracassar: é provável que o Mainardi romancista não seja tão bom como o Mainardi cronista, e sobre isto estou disposto a meter 10 euros. Apesar disto, gosto de ver uma declaração pública como a que faz Gross, que não é mais do que um comprometido agradecimento a quem nos deu tanto. Em troca do prazer que são as crónicas de Mainardi, a gente vem para aqui dizer que os seus romances são recomendáveis, e não é agora que vamos começar a demonizar a publicidade. Isto é bonito, isto é digno de reprodução: também eu recomendo vivamente Contra o Brasil, a favor de Mainardi, e ai de quem diga o contrário.
Dopping
Domingo, restaurante, final de jantar:
- Quem quer café?
- Eu quero.
- Queres? Olha que depois não dormes.
- Pois não: tenho um livro para acabar.
- Quem quer café?
- Eu quero.
- Queres? Olha que depois não dormes.
- Pois não: tenho um livro para acabar.
domingo, 13 de julho de 2008
Será
possível que eu seja o único a demonstrar preocupação e reserva pela presença na lista de ingredientes do Chocapic Integral do «endosperma»?
sábado, 12 de julho de 2008
Spoiler
Um padrasto decente para o Gongas
Três gerações de mulheres combatem a solidão, os brandos costumes e a língua portuguesa
A vida não é fácil para as mulheres de Português Suave. Atormentadas à partida pelos habituais albatrozes de serviço (os «homens», a prosa), elas têm ainda de negociar os seguintes obstáculos: desgostos amorosos, tragédias familiares, mentalidades conservadoras, um país estagnado, uma sintaxe catatónica, um enredo à beira do colapso e a distinta possibilidade de o leitor perder os sentidos a qualquer momento, deixando-as a lutar sozinhas.
Grande parte da história é narrada por Leonor, que se encontra num ponto de viragem: «Cheguei a um beco sem saída e quanto me senti no fundo, olhei para cima e disse para mim mesma: agora vais ter de subir a puta da montanha.»Abandonada por Pepe, «com quem nunca devia ter casado», Leonor vive sozinha com o seu filho Gongas, que lhe «forra a vida a papel-de-seda». O Gongas precisa de um padrasto e a Leonor precisa de sexo, porque «o sexo afasta a morte». Poderá Luís Maria preencher estas lacunas? Às primeiras impressões, parece o candidato ideal: «Vestia-se bem, cheirava a Davidoff, não usava meias brancas nem tinha mau hálito.» Este soberbo naipe de características oculta um lado significativamente menos soberbo. O idílio é breve; Leonor vê-se trocada por uma «gaja manhosa» que «passava a vida nos copos no Plateau» e «servia de vazadouro a toda a cidade». A aposta seguinte é Constantine, que acaba por não preencher os requisitos necessários, apesar da sua intrigante abordagem circense à prática sexual, que deixa Leonor a sentir-se ao mesmo tempo «a menina do trapézio sem rede e o palhaço sem graça, sem intervalo para vender gomas e pipocas».
A prima Naná não tem melhor sorte. João, o seu grande amor, morre num desastre de automóvel. A memória é tão dolorosa que a linguagem desfalece em silepses involuntárias: «O João era o tipo de homem que adivinhou de que tipo de lingerie é que eu gostava» (isto, diga-se, é o tipo de coisa que um tipo faz que deixa qualquer tipa doida). João lia muito e «falava-lhe de conceitos», dispensando aforismos tão contundentes como «a confusão é o início de uma nova realidade».
Entretanto, uma fotografia precipita a revelação de um segredo, provocando o pânico entre os sinais de pontuação. «A mãe andou com o tio Nuno????» Ainda à procura da montanha no topo do beco sem saída, Leonor veste a sua camisa de noite curta de seda» e faz o que faria qualquer pessoa racional na sua situação: envolve-se com um «hippie» holandês chamado Thomas. «O que tu precisas é de relaxar um bocado», diz-lhe o perspicaz Thomas, enquanto enrola um charro. Será este «o tal»? Leonor apaixona-se. Naná torce o nariz. Gongas dorme em casa da avó. A tia Joana vai morrendo de «esclerose lateral amiotrófica». Thomas acaba por regressar a Amesterdão, apavorado pelo enredo.
O tempo passa e o país avança, devagarinho. Acompanhamos a transição democrática, de um tempo em que a PIDE «interrogava pessoas a torto e a direito» até ao pós-25 de Abril, em que «se apregoava a liberdade a torto e a direito». Já nos anos 80, «o dinheiro e o poder cortam cabeças a torto e a direito».
Seria um erro medir Português Suave contra a realidade. O livro é uma fantasia extraterrestre e a acção decorre num universo paralelo em que a «alma viaja à velocidade de um camelo» e a linguagem há muito faleceu, possivelmente de esclerose lateral amiotrófica. Um automóvel destroçado pode assemelhar-se a um «pão de leite»; uma personagem pode ser comparada a uma «almôndega feliz» e outra pode mudar de nome no espaço de quatro páginas; pessoas podem «comer-se literalmente dentro de um carro», ou «viver literalmente do ar», ou até ficar em casa «literalmente a olhar para ontem».
A vida não é fácil para os leitores de Português Suave. Mas, arrastados pela exuberante vitalidade das protagonistas, lá conseguimos trepar pelo beco sem saída e chegar ao topo da puta da montanha, emergindo gratos e atordoados, como almôndegas felizes, naquele lugar mágico onde o amor triunfa a torto e a direito e o futuro é literalmente risonho.
Rogério Casanova no Expresso de hoje.
Três gerações de mulheres combatem a solidão, os brandos costumes e a língua portuguesa
A vida não é fácil para as mulheres de Português Suave. Atormentadas à partida pelos habituais albatrozes de serviço (os «homens», a prosa), elas têm ainda de negociar os seguintes obstáculos: desgostos amorosos, tragédias familiares, mentalidades conservadoras, um país estagnado, uma sintaxe catatónica, um enredo à beira do colapso e a distinta possibilidade de o leitor perder os sentidos a qualquer momento, deixando-as a lutar sozinhas.
Grande parte da história é narrada por Leonor, que se encontra num ponto de viragem: «Cheguei a um beco sem saída e quanto me senti no fundo, olhei para cima e disse para mim mesma: agora vais ter de subir a puta da montanha.»Abandonada por Pepe, «com quem nunca devia ter casado», Leonor vive sozinha com o seu filho Gongas, que lhe «forra a vida a papel-de-seda». O Gongas precisa de um padrasto e a Leonor precisa de sexo, porque «o sexo afasta a morte». Poderá Luís Maria preencher estas lacunas? Às primeiras impressões, parece o candidato ideal: «Vestia-se bem, cheirava a Davidoff, não usava meias brancas nem tinha mau hálito.» Este soberbo naipe de características oculta um lado significativamente menos soberbo. O idílio é breve; Leonor vê-se trocada por uma «gaja manhosa» que «passava a vida nos copos no Plateau» e «servia de vazadouro a toda a cidade». A aposta seguinte é Constantine, que acaba por não preencher os requisitos necessários, apesar da sua intrigante abordagem circense à prática sexual, que deixa Leonor a sentir-se ao mesmo tempo «a menina do trapézio sem rede e o palhaço sem graça, sem intervalo para vender gomas e pipocas».
A prima Naná não tem melhor sorte. João, o seu grande amor, morre num desastre de automóvel. A memória é tão dolorosa que a linguagem desfalece em silepses involuntárias: «O João era o tipo de homem que adivinhou de que tipo de lingerie é que eu gostava» (isto, diga-se, é o tipo de coisa que um tipo faz que deixa qualquer tipa doida). João lia muito e «falava-lhe de conceitos», dispensando aforismos tão contundentes como «a confusão é o início de uma nova realidade».
Entretanto, uma fotografia precipita a revelação de um segredo, provocando o pânico entre os sinais de pontuação. «A mãe andou com o tio Nuno????» Ainda à procura da montanha no topo do beco sem saída, Leonor veste a sua camisa de noite curta de seda» e faz o que faria qualquer pessoa racional na sua situação: envolve-se com um «hippie» holandês chamado Thomas. «O que tu precisas é de relaxar um bocado», diz-lhe o perspicaz Thomas, enquanto enrola um charro. Será este «o tal»? Leonor apaixona-se. Naná torce o nariz. Gongas dorme em casa da avó. A tia Joana vai morrendo de «esclerose lateral amiotrófica». Thomas acaba por regressar a Amesterdão, apavorado pelo enredo.
O tempo passa e o país avança, devagarinho. Acompanhamos a transição democrática, de um tempo em que a PIDE «interrogava pessoas a torto e a direito» até ao pós-25 de Abril, em que «se apregoava a liberdade a torto e a direito». Já nos anos 80, «o dinheiro e o poder cortam cabeças a torto e a direito».
Seria um erro medir Português Suave contra a realidade. O livro é uma fantasia extraterrestre e a acção decorre num universo paralelo em que a «alma viaja à velocidade de um camelo» e a linguagem há muito faleceu, possivelmente de esclerose lateral amiotrófica. Um automóvel destroçado pode assemelhar-se a um «pão de leite»; uma personagem pode ser comparada a uma «almôndega feliz» e outra pode mudar de nome no espaço de quatro páginas; pessoas podem «comer-se literalmente dentro de um carro», ou «viver literalmente do ar», ou até ficar em casa «literalmente a olhar para ontem».
A vida não é fácil para os leitores de Português Suave. Mas, arrastados pela exuberante vitalidade das protagonistas, lá conseguimos trepar pelo beco sem saída e chegar ao topo da puta da montanha, emergindo gratos e atordoados, como almôndegas felizes, naquele lugar mágico onde o amor triunfa a torto e a direito e o futuro é literalmente risonho.
Rogério Casanova no Expresso de hoje.
sexta-feira, 11 de julho de 2008
Juro que não inventei
Ontem o presidente da FIFA disse que Ronaldo está a ser «tratado como um escravo» no Manchester. Hoje Ronaldo disse que sim que concorda, que está a ser «tratado como um escravo» no Manchester.
quinta-feira, 10 de julho de 2008
Só para lembrar
Queria só lembrar, agora que oiço «economia fossilizada», que nós pagamos do nosso bolso a presença de um grupo de pessoas no Parlamento que dá pelo nome de «Os Verdes» em quem nunca ninguém votou.
Mãos
A «mão» é a entidade a quem Lobo Antunes atribui a autoria dos seus romances, naquilo que é uma fuga infantil das suas responsabilidades enquanto autor. É a «mão» que dita as frases e que faz avançar a acção. Como é evidente, é a «mão» que determina como começa e, sobretudo, como acabam os livros, e Lobo Antunes não faz a menor ideia de como irá acabar um romance quando o começa porque a «mão» não lho diz. Quando Charlie Rose perguntou a Ian McEwan (ver abaixo) sobre o momento em que este percebeu como iria acabar On Chesil Beach, McEwan estremeceu e disse «desde o princípio», confessando que a imagem que o assaltou foi precisamente a cena final e que todo o romance foi mais ou menos um pretexto para se lá chegar. Dito assim, parece fácil. Como aliás parecem fáceis os romances de McEwan, não como em «fácil Rebelo Pinto», mas em fácil de nos facilitar a vida. Não a vida enquanto leitores, mas a vida enquanto seres vivos. Perdi completamente o rumo a este post e agora tenho de ir almoçar.
Firmemente boné e loja ou os buracos satisfatórios
1. Fixe o anel de boné sobre o parafuso. Como ilustrado, esteja de acordo o boné e bocal com mão esquerda, e atarraxa o tubo lentamente direção de sentido de horário com mão direita, então o fluxo de cola fora da ponta.
2. Depois de uso, esfregue a ponta de bocal com papel macio.
3. Firmemente boné e loja.
4. Quando entupiu à ponta de bocal, em próximo uso, corte o bocal de extender e firmemente boné com um dos buracos satisfatórios.
(Instruções de uso da super cola que acabei de comprar no chinês e que me salvou os óculos.)
2. Depois de uso, esfregue a ponta de bocal com papel macio.
3. Firmemente boné e loja.
4. Quando entupiu à ponta de bocal, em próximo uso, corte o bocal de extender e firmemente boné com um dos buracos satisfatórios.
(Instruções de uso da super cola que acabei de comprar no chinês e que me salvou os óculos.)
quarta-feira, 9 de julho de 2008
O Daniel Oliveira tem razão
Todos os proprietários dos edifícios devolutos querem requalificá-los rapidamente. Não o fazem por duas razões: a Lei das Rendas que mantém inquilinos indesejados em situações de grande precariedade, e o absolutamente demoníaco enquadramento jurídico da construção em Portugal. A somar a isto há que ter em conta os casos dos proprietários que querem simplesmente vender os edifícios mas que não o conseguem fazer porque passam anos a especular com preços exorbitantes. E aqui o Daniel Oliveira tem toda a razão (isto custa-me, garanto-vos): um sistema de taxação progressiva é o melhor instrumento disponível para impedir esta especulação.
terça-feira, 8 de julho de 2008
A Av. de Roma
Hoje um agente imobiliário (muito simpático) falava-me sobre um andar que tem para venda na Baixa e como já tinha um cliente interessado em comprá-lo para «alugar a turistas». E explicou-me como «a Baixa» era «interessante» para «os turistas» porque tinha muitas atracções, como o «Terreiro do Paço, que eles gostam.» Fiquei muito surpreendido com este «eles gostam», como se fosse uma coisa muito excêntrica gostar do Terreiro do Paço, assim como comer sardinhas com açúcar, ou uma coisa dessas. Por trás deste raciocínio estava uma lógica de mercado evidente: podemos alugar um apartamento perto do Terreiro do Paço a estrangeiros mais caro do que aquilo que faríamos a um não estrangeiro porque um não estrangeiro não dá tanto valor ao Terreiro do Paço. Eu, que saio muitas vezes na estação de metro do Terreiro Paço e agradeço aos deuses todos cada vez que isto acontece, lá fui concordando que a zona da Av. de Roma era muito cara, sim senhora.
segunda-feira, 7 de julho de 2008
Por exemplo
A Avenida da Liberdade, em Lisboa, é um departamento municipal espanhol. Até estranhei a presença, dentro do adequado blusão, do dr. António Costa por causa do incêndio de um prédio devoluto ocorrido esta madrugada. O prédio é de uma imobiliária castelhana que, naturalmente, tanto se lhe dá que arda como não. Seria interessante recensear os nossos pequeninos Champs-Élysées em termos de propriedade. Talvez se percebesse a lógica do blusão. Como que a dizer, "eu sou apenas figurante nesta película espanhola".
João Gonçalves
E quem diz a Avenida da Liberdade diz a Baixa. Por exemplo.
João Gonçalves
E quem diz a Avenida da Liberdade diz a Baixa. Por exemplo.
Assim como
Isto
está para isto
assim como isto
está para isto
Não me peçam para explicar, tudo isto é extremamente simples.
está para isto
assim como isto
está para isto
Não me peçam para explicar, tudo isto é extremamente simples.
Rei Artur
Bom. Vamos lá a ter calma. Queria só lembrar à população que em Janeiro o Roger tinha uma mononucleose e que o Nadal não sabe falar inglês. No jogo de ontem Federer fez 52 erros não forçados e teve uma taxa de primeiros serviços de 66%. Nadal fez mais 5 pontos do que Federer (209 vs. 204) sendo que fez menos 25 erros não forçados. Os números só servem para mostrar que quem esteve ontem em campo foi um Federer em baixo de forma, e que mesmo assim foram precisas 5 horas para o Cristiano Ronaldo do ténis conseguir ganhar (tenho aqui uma teoria, sim, mas fica para a próxima.) O único dado estatístico com o qual não me conformo é o facto da namorada de Federer ser tão pouco atraente, e isto baralha-me.
Entretanto ardeu mais um prédio devoluto no centro de Lisboa, e parece que toda a gente acha isto «normal».
sexta-feira, 4 de julho de 2008
Ó, angústia
Estou aqui para a luta, e não o escondo. Mas há um fantasma que me persegue, uma hipótese que testará a minha lealdade, um buraco negro no horizonte. Já todos perceberam que falo da hipótese de ver publicada na segunda-feira uma defesa das declarações de Ferreira Leite por parte de João César das Neves. Meu Deus, porque me tentas?
Como fazer coisas com palavras
À saída ficámos a discutir se acabáramos de ver uma peça que só podia ter saído da cabeça de alguém «ligado às palavras» (como eu defendia) ou de alguém «ligado ao Direito» (como ela defendia). Eu não sabia que uma «performativa» podia ser tema de cadeira jurídica (como é), e fiquei curioso sobre se o Pedro Mexia (um homem ligado às palavras e - não há como evitá-lo, Pedro - ao Direito) o sabe, mas a verdade é que faz todo o sentido (se fazemos coisas com palavras é porque essas coisas têm consequências). Mas vamos à peça. Há dois momentos de grande inspiração que justificam o seu sucesso (como eu o classificaria) e nenhum deles se passa (passou) em cima do palco do S. Luiz: o primeiro foi ter percebido que era possível e até interessante adaptar uns textos sobre a filosofia da linguagem ao palco; o segundo foi ter percebido que a pessoa ideal para o interpretar era Ricardo Araújo Pereira. Porque a partir daqui tudo parece mais ou menos evidente e, portanto, pouco surpreendente, mas isso não nos pode fazer ignorar o facto de que estas decisões revelaram um notável faro para a coisa. Como fazer coisas com palavras é uma homenagem à linguagem e um convite à exploração de novas formas de olhar para as coisas comuns (para os leigo em filosofia da linguagem). Ou seja, e isto parece-me óbvio, algo de muito semelhante à fotografia: uma boa fotografia é sempre um objecto interpelativo mas incapaz de impedir que haja quem, cepticamente, a considere apenas uma imagem recolhida mecanicamente. Os cépticos, ou aqueles que não se deixaram influenciar pela performance de Araújo Pereira no palanque, dirão que Como fazer coisas com palavras é uma peça com um alcance e interesse limitados, que explora em demasia duas ou três curiosidades mais ou menos evidentes. E a verdade é que a adaptação para teatro das conferências de John Austin terá necessariamente de ter passado por uma enorme simplificação e purga dos textos originais, de modo a permitir uma comunicação eficaz em 70 minutos, dando especial ênfase à dimensão lúdica dos textos. É esta dimensão lúdica que se assume como a maior homenagem à linguagem: ao conseguir divertir uma plateia não iniciada com considerações sobre as palavras, os autores partilham o entusiasmo que lhes suscitam os textos originais e conseguem um efeito mais pedagógico do que aquele que certamente esperavam. O despertar da consciência adormecida pela repetição quotidiana da linguagem corrente para o enorme potencial social que essas palavras carregam é a grande aprendizagem que se faz na plateia do S. Luiz. Ricardo Araújo Pereira sua - literalmente - para o conseguir fazer, e mesmo tornadas evidentes as suas fragilidades como actor (não consegue evitar recorrer a tiques já construídos para outras personagens suas) o objectivo da palestra é plenamente atingido: o espectador sai da sala com maior medo - vá lá, receio - de usar certas palavras em certos contextos de certas maneiras. Sai mais desperto para o discurso e com maior respeito pela linguagem, e não imagino melhor resultado que poderia esperar Pedro Mexia quando convidou Ricardo Araújo Pereira a arriscar parte considerável da sua reputação por um conjunto de conferências sobre filosofia da linguagem mais ou menos obscuras proferidas há mais de 60 anos. A encenação segue uma linha minimal e é bem conseguida, ganhando maior força quando acentua os momentos nonsense, que acontecem quando a representação se antecipa às palavras, criando uma tensão dramática que se acumula até ao momento em que o boneco passa a fazer sentido pelas palavras. Estes momentos são tão bem conseguidos que sugerem uma outra encenação mais interventiva, onde o respeito pelo texto não fosse necessariamente tão evidente. Mas isso poderá ficar para outra altura (chamem os tipos da BBC que está aqui uma óptima série de TV).
quinta-feira, 3 de julho de 2008
Vírgula como figura
Entretanto o Ivan Nunes leu a biografia oficial do primeiro-ministro e nem por isso ficou a detestar Socrátes, como figura.
As elites
Pronto, estava na cara: diga o que disser sobre o que entender, Ferreira Leite é acusada de apenas dizer «generalidades». As «grandes opções» para o país não interessam: interessa sim o que pensa a candidata a primeira-ministra do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Caiu o carmo e a trindade. O problema é dos «políticos»? Não, o problema é das «elites» que consomem a política, um triste retrato de um país que não quer sair da cepa torta.
quarta-feira, 2 de julho de 2008
Marginais
Manuela Ferreira Leite terá afirmado em entrevista a Constança Cunha e Sá que não proporá a alteração à lei que permita o casamento entre pessoas do mesmo sexo, especificando que não se opõe ao reconhecimento legal das uniões de facto entre casais homossexuais, mas reforçando a «discriminação» que se propõe fazer invocando a «defesa da família» como interesse (até económico - a procriação) social a ser preservado. Ora, discordo. Mas este meu post não é sobre o casamento dos homossexuais mas sim sobre Manuela Ferreira Leite. A verdade é que esta declaração é a prova de como podemos esperar de MFL a tal «sinceridade» que tanto apregoou na campanha interna. O tema (do casamento) está quente, como está quente o politicamente correcto que se vai instalando a favor da alteração legal. Pessoalmente sou a favor do reconhecimento legal do casamento entre pessoas do mesmo sexo (e da adopção, so on, so on), mas isso não me impede de reconhecer que já cai bem dizê-lo (Passos Coelho, por exemplo). O facto de MFL saber isso e de não hesitar em abordar o assunto para declarar uma posição mediaticamente mais difícil tranquiliza-me e reforça a minha adesão ao seu projecto político, apesar de ser uma posição que não partilho. Porque era só o que mais me faltava que a minha escolha para primeiro-ministro fosse influenciada por temas absolutamente marginais como este (e as drogas leves, e o aborto, enfim, o programa do BE.) «Absolutamente marginais»? Sim, absolutamente marginais. O que não são temas marginais? Os do costume, os mais chatos, os menos blogáveis: demora da justiça, saúde, educação, política fiscal, essas coisas.
terça-feira, 1 de julho de 2008
O Alicia
O que eu aprecio nesta lista do Tiago Cavaco e que se prende também com Alicia Keys (é sempre positivo ter coisas que se prendem com Alicia Keys, façam um google images para comprovar o que digo) é o facto de no ponto 9 Cavaco dizer que Missy Elliot é «A primeira mulher da lista (que por sinal também é preta (...))». Estou desde ontem (sim, porque eu não descobri esta lista pelo maradona, era só o que mais me faltava) a tentar perceber se isto é uma gralha ou uma subtileza qualquer que ainda não atingi, talvez uma dessas considerações pós-modernas sobre a sexualidade e a assexualidade e a «raça» e «não-raça» e «discurso» e «não-discurso» e essas merdas que o Zizek deve dominar com certeza, embora eu não ache que o Tiago Cavaco nutra simpatia alguma pelo pós-modernismo. Enfim é uma inquietação que não me larga.
Luxo
(...) a nossa opinião sobre os outros é a nossa opinião sobre Deus. O pessimismo é o luxo do que não crê.
Tiago Cavaco
Tiago Cavaco
Subscrever:
Mensagens (Atom)