sábado, 31 de janeiro de 2009

Razões

Precisávamos de mais razões para gostar de Penélope Cruz? Não precisávamos. Mas ninguém nos perguntou nada e aí está: parece que Elegy, a adaptação cinematográfica de The Dying Animal, que - ou estou completamente a dormir - ainda não estreou em Portugal, nasceu dos esforços de Penélope que é, só nos faltava mais esta, uma ávida leitora de Philip Roth (agora comparem-me isto com a desmesurada sobrevalorização nos circuitos intelectuais de Scarlett Johansson, cuja única actividade que se lhe reconhece para além de fazer o favor de ter aquele aspecto foi o de cantar Tom Waits de lá do fundo do túnel bem atrás daquele camião grande.) Entretanto, vão fazer um filme de American Pastoral, e isto é tudo livros que eu ainda li (ainda que me custe deixar de ver Penélope despida só porque ainda não li o livro, ainda sofro as consequências de ter achado que não era preciso ler Atonement - e, convenhamos, Keira Knightley não é Penélope Cruz, não é, não é.)

E uma contradição nos termos

Eu já desconfiava que a minha actual performance capilar muito Bernard-Henri Lévy me iria trazer dissabores: fui ontem acusado de ser um «intelectual acessível».

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Islândia



Falida, mas com estilo.

Mais uma parceria Complexidade e Contradição / ANIMAL

«Além do uso de animais em publicidade ser condenável em si mesmo, na medida em que se baseia numa visão utilitária dos animais, estas vacas têm estado sujeitas a imenso stress (...) Estes animais estão a ser forçados à dureza dos factores climatéricos, nomeadamente à chuva intensa, ao frio e à humidade que se estão a fazer sentir, além de terem pouco espaço para poderem pastar.»

Moutinho, Miguel (ANIMAL), TimeOut nº70, pag.8

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Inglês técnico

José Sócrates diz «fripór».

O homem-a-dias

Fomos educados a desvalorizar a política e o resultado está à vista: se a ideia democrática de que qualquer um pode chegar a primeiro-ministro é bonita, na prática as coisas complicam-se. Achamos que «são todos iguais» e que tanto faz estar lá um como outro. Não vamos votar ou votamos mal. Votamos com os motivos errados. Um país sem uma cultura democrática forte que crie as condições para que sejam os melhores a lá chegar, que se deixa adormecer num marasmo colectivo e que se demite de procurar a honra entre os homens, arrisca-se. Um eleitorado que não vê para além das máscaras, que, arrogantemente, se dá ao luxo de não prestar cavaco, arrisca-se. É indiferente. É indiferente? É indiferente a mulher-a-dias que vai lá a casa limpar o pó e passar as camisas? Então porque raio será indiferente o homem (ou mulher, habituem-se, ou mulher) que dá a cara pelo país? Basta que vista Armani e fale como um patrão? Tudo isto é uma derrota nossa.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Esteticista

Gostos não se discutem: partindo do princípio que ignoramos a inanidade deste postulado, não será polémico afirmar que ele é usado com frequência no campo estético da vida das pessoas. Ora, isto enerva-me. Enerva-me que se tenha chegado a um estádio** civilizacional onde (1) se julgue que o «gosto» não se discute e que (2) a estética é um gosto. Meus co-cidadãos: a estética não é uma questão de gosto e é por isso mesmo que ela não pode ser alvo de «discussão», como vocês o põem. Há uma grande diferença entre ser um esteta ou um esteticista. Estou muito cansado, e gostava que não fosse necessário ter de aqui voltar para repetir esta explicação outra vez*.

* «Repetir outra vez», quando se quer apenas «repetir» alguma coisa, é outra que me enerva. Mantenham uma distância higiénica se é para falarem assim com esse, hum, mau gosto.


** Já usar correctamente a palavra «estádio» quando o zeitgeist impõe um duvidoso «estado» é estecicamente superior, como o é a cuidadosa troca de ordem destas notas de rodapé, não sei se repararam.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Itálico

Fui cordialmente convidado para fazer parte do realismo visceral. Evidentemente, aceitei. Não houve cerimónia de iniciação. Antes assim.

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O subtexto, sempre o subtexto: no corpo do post lê-se «monte de entulho», mas o nome da imagem é «cagalhaozinho.jpg».

he do very good everything

Q. Just tell us what happened.

JUAN MARTIN DEL POTRO: You have to ask Roger what happened. I can't do nothing in the match. He play like No. 1 of the world, so that's it.

Q. Were you nervous at all when you entered the court?

JUAN MARTIN DEL POTRO: No, I just have a bad day. He's Roger Federer. If you don't be good, you lose.

Q. What did you think happened after the first set?

JUAN MARTIN DEL POTRO: I don't know. I don't have a good day. I play bad, but he do very good everything.

So I lost. Just I lost the match of tennis, and that's it.

Q. Do you feel like basically there's nothing you can do out there today?

JUAN MARTIN DEL POTRO: No. I cannot do nothing. He play, I don't know ‑‑ I talk to him. He play like No. 1 of the world. He has a good night. I have to improve to play against them.

Del Potro, depois do 6-3, 6-0, 6-0.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Tonight



You don't know the the Pseudonyms,
I assume,
For you.

(Bite Hard)

Agora é tentar ouvir isto sem bater o pezinho.

Sean-Connery-on-Methadone*

(...) Tentar invalidar um sistema de pensamento através da higiene pessoal não é uma metodologia particularmente revolucionária: a minha mãe anda a tentar a mesma coisa desde 1987. Mas não resulta, não resulta. (...)

Rogério Casanova

* (Daqueloutro post)

domingo, 25 de janeiro de 2009

Vicky Cristina Barcelona



Há três fracassos em Vicky Cristina Barcelona. O primeiro é o modo como Woody Allen vê Scarlett Johansson: à terceira começa a emergir um padrão e o que ele nos conta não é bonito e não está a fazer nada bem à carreira de Charlotte, perdão, Scarlett. O segundo é Barcelona, ou a tentativa de mostrar Barcelona. O ocasional plano de Gaudí nunca chega a cumprir a promessa e o que o filme nos conta é a história do enamoramento de Woddy Allen pelo subúrbio campestre da capital catalã, com guitarradas à luz das velas sobre jardins e vinho tinto. Não o censuramos, mas não é Barcelona que ali está (Vicky Cristina Oviedo não teria o mesmo charme). O terceiro resume-se a uma cena onde é notório que se quis apresentar Penélope Cruz com mau aspecto e isso é como a existência de Deus: podemos acreditar na hipótese mas será sempre impossível de o provar. Quer isto dizer que Vicky Cristina Barcelona é um mau filme? Nada disso; que parte de «Scarlett Johansson» e «Penélope Cruz» é que não perceberam?

Embora Vicky Cristina Barcelona seja, como em qualquer outra coisa, muito mais Penélope Cruz que Scarlett Johansson, isto parece reunir as condições necessárias para se transformar num dogma.

(Ontem ao jantar um casal amigo explicou-me que João Paulo II foi o primeiro Papa - e talvez o único - a canonizar um casal enquanto casal. Ou seja, foi aberto um precedente e fico à espera que se trate do processo dos progenitores das irmãs Cruz, cuja fotografia eu fiz o favor de trazer a este post.)

Tautologia (do ponto de vista masculino)

Uma mulher psicóloga.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Live Rothko (com uma aliteração)

A crónica de hoje do Pedro Mexia é das melhores coisas que já li sobre Rothko (o texto está muito alicerçado na experiência «ao vivo» das obras de Rothko e talvez seja um pouco incompreensível para quem nunca teve essa sorte; eu já a tive, em 2004, naquilo que foi a bóia de salvação da minha visita ao inqualificável Guggenheim de Bilbau, don't start me on that.) Vão lá lê-la.

Ai é? Ai é?

O Jorge Mourinha, depois de dar 5 estrelas a Australia, 3 a Changeling («Um Eastwood menor, sério e bem feito mas um tudo nada maçudo e pesadão», pfff) e de agora dar 1 estrela a Frost Nixon (um filme que ainda não vi mas que posso desde já adiantar que é melhor do que Australia), está a correr o sério risco de destronar Mário Jorge Torres como «o outro» no que respeita aos críticos de cinema do Público.

(Atenção que Vasco Câmara também entrou na corrida: «Jolie não tem estofo para a sua personagem».)

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

E assim vai

o estado das coisas.

O «anti-americanismo»

A propósito da tomada de posse de Obama (e quero já aqui esclarecer que enquanto aquele povo sair à rua daquela maneira nas tomadas de posse dos presidentes os Estados Unidos continuarão a dispor de uma reserva de superioridade moral inquestionada sobre o resto da humanidade) uma reportagem de uma televisão portuguesa, não me lembro qual, dedicou-se a ir recolher depoimentos a americanos emigrados na Europa. Entre eles, uma jovem americana em Paris (uma «jovem americana em Paris» é toda uma receita para o desastre, como vamos ver já a seguir). Ela estava exultante, como não poderia deixar de ser, e explicou-se. Disse que estava «farta do anti-americanismo que tinha nascido com Bush» e que era uma alegria voltar a poder orgulhar-se de ser americana, ou uma coisa assim. Ora, filha, se estás a ler este blogue, aqui segue um conselho: podes ser nova e achar que o «anti-americanismo» nasceu com Bush, tens a vida toda pela frente para aprender, mas se eu fosse a ti não tirava a armadura e o capacete para já. Just in case.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O Cannavaro, por exemplo

As minhas reservas em relação à Bola de Ouro de Cristiano Ronaldo nada têm a ver com a pessoa ou o indivíduo ou a personalidade. Tenho reservas em relação à pessoa ou ao indivíduo ou à personalidade como tenho reservas em relação à maioria dos seres humanos e porque reconheço que não é Rui Costa quem quer. As minhas reservas em relação à Bola de Ouro de Ronaldo, ao coroamento de Ronaldo como o melhor do mundo, têm única e exclusivamente a ver com o seu estilo de jogo e resumem-se no seguinte preconceito: Cristiano Ronaldo é, de facto, melhor do que os outros (excluindo Kaká e Messi, tenham lá paciência) mas sofre do mal de ser evidente que se esforça mais do que toda a gente. Num mundo onde o esforço e a dedicação estão em crise é quase um sacrilégio diminuir alguém por apresentar sinais evidentes desse esforço e dessa dedicação e eu não cometo a imprudência de julgar que a minha posição é moralmente louvável. É o que é, não consigo evitá-lo, e mantenho a atitude filosófica de partir do princípio que não se chega a melhor do mundo correndo mais do que os outros. Correr mais do que toda a gente, treinar mais do que toda a gente, marcar mais golos do que toda a gente devia dar para o segundo melhor do mundo, mas não para aquele a quem se dedicará epopeias e sinfonias. Ao melhor do mundo não basta ser o melhor do mundo, tem de parecê-lo. Será uma questão ideológica? Talvez: não gosto de acreditar que se pode chegar a melhor do mundo; ser o melhor do mundo não pode ser uma hipótese em aberto para ninguém e ai do Sócrates que se ponha aí a prometer bolas de ouro nas escolas. E isto não tem nada a ver com o facto de Ronaldo ser português, não me lixem: estou preparadíssimo para reconhecer que o Miguel Vítor é melhor do que o Cannavaro, por exemplo.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Sophisticated

Are you sophisticated? Here’s how to find out, por Paul Johnson.

Medidas

Parece que Sócrates anunciou ontem que se o povo lhe der a maioria absoluta o povo terá o 12º ano. Acho que esta medida revela falta de ambição: porque não o mestrado de bolonha?

Criaturas



Pela vossa saúde youtubem «Creature comforts» (com um obrigado ao maradona, até se lhe perdoa o atraso na chegada a estas questões essenciais.)

sábado, 17 de janeiro de 2009

Virose

Anda para uma gripe.

(O Luís Miguel Oliveira é um indivíduo que deu 1 estrela ao Australia e 4 ao Changeling, não que fosse preciso verificar-lhe o bom gosto.)

Changelina*

Changeling, ontem apresentado na celebração eucarística das 21.45 no Monumental, não é, de facto, tão bom como Cartas de Ivo Jima, Million Dollar Baby, ou até Mystic River, para citarmos a obra recente de nosso senhor Clint Eastwood. Mas tem Angelina Jolie, que para além de fazer o favor de ser a Angelina Jolie consegue apagar os vários erros de casting do filme: o advogado sexagenário galã ou o puto ajudante do psicopata, por exemplo, com este último a esforçar-se por estragar todas as cenas em que participa. Apesar disto tudo, Changeling é um filme que não faz baixar a fasquia eastwoodiana e é infinitamente melhor do que 95% dos filmes que estão e vão estar em cartaz em 2009. Cinco estrelas, portanto, nem é preciso recorrer a Gauss para explicar isto.

* Não resisti, o Google até já me provou que não fui o primeiro a lembrar-me disto, peço imensa desculpa pelo mau gosto.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Vou falar com ela ainda hoje

Jaime Pacheco brinca com o dilema de Diakité, que tem casamento marcado para este sábado, dia do jogo com o Benfica para a Taça da Liga. O treinador do Belenenses revela que o jogador está convocado, mas também vai dizendo que «as mulheres é que mandam». Para resolver o imbróglio, pretende falar com a noiva do médio maliano.

«Ele está convocado e admito que possa jogar. Ele quer jogar. Mas as mulheres é que mandam, e não estou a vê-la a dispensá-lo. Vou falar com ela ainda hoje», afirma, admitindo que seja possível encontrar uma solução de compromisso: «O Quinito casou, foi para estágio e jogou. O Diakité está liberto do estágio. A noite de núpcias é depois, só tenho medo de um casamento à espanhola!»

Golpe

Este projecto (dos recomendáveis H Arquitectes) tem um golpe de génio, quase um ovo de colombo, que eu evidentemente copiarei à primeira oportunidade. Um doce a quem acertar na resposta.

O autocarro ateu não faz sentido

«(...) O autocarro ateu não faz sentido porque o único ateísmo lógico é necessariamente passivo, defensivo, sempre vigilante, mas no limite apenas pontualmente reactivo. Só não seria assim se fosse possível provar não a inexistência de Deus, mas a possibilidade de o homem viver sem religiões. Ora, a História e a Psicologia dizem-nos já que tal não será nunca possível. Nem o mais fervoroso crente na engenharia social como ferramenta de transformação do homem pode defender tal cenário. Sendo assim, o ateísmo pró-activo, mais do que patético, é sobretudo contraproducente, porque funciona como uma simples caixa de ressonância que reforça o peso das religiões dominantes ou então cria brechas para que apareçam outras seitas, tendencialmente piores. Pois bem, entre Policarpo e aquele aldrabão da Igreja do Reino de Deus, prefiro Policarpo. Correndo o risco de passar por arrogante, isto parece-me mais ou menos óbvio.»

Vasco M. Barreto

A decadência da civilização (2)

Penso que foi o João Pereira Coutinho que disse que sem leitura não há conversa. Não lemos, deixámos de ler, e não sabemos conversar. Não sabemos ouvir. O livro, e aqui sobretudo o romance, é uma educação para o diálogo. Claro que disfarçamos e participamos em actividades que se mascaram de conversas. Mas não o são; o que o outro diz só se reveste de interesse na medida em que nos dá uma oportunidade de dizermos nós também. Seja o que for, há pouca interacção. Por isso acabamos todos a gritar, convencidos de que aquilo que temos para dizer é o mais pertinente.

A decadência da civilização

Homens de fato e gravata, de manhã, no metro, na rua, sem livros, sem jornais, com um saco de ginásio debaixo do braço.

A

É claro que se me perguntarem: «There's probably a God. Now stop worrying and enjoy life.»

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

All you have to do is open your fly



And what good is that? It all goes back to those German existentialists who tell you how good dread is for you, how it saves you from distraction and gives you your freedom and makes you authentic. God is no more. But Death is. That's their story. And we live in a hedonistic world in which happiness is set up on a mechanical model. All you have to do is open your fly and grasp happiness. And so these other theorists introduce the tension of guilt and dread as a corrective. But human life is far subtler than any of its models, even these ingenious. Do we need to study theories of fear and and anguish?

Herzog, Saul Bellow

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

A minha tensão arterial já começou a subir

Maradona vai estar presente no Benfica-Olhanense. Tudo isto é um sobressalto semântico.

Your ideas

It's not my fault that you refuse to understand the system other people live by. Your ideas get in the way.

Herzog, Saul Bellow (um livro difícil de citar, depois explico)

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Pedro Barbosa

Podem vir com as estatísticas e os palmarés e os replays e os carros: há qualquer coisa que Cristiano Ronaldo não tem. Que Zidane, Ronaldinho ou Messi têm. Que até Pedro Barbosa tinha. Não sei se me explico.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Tacto

Apesar da banda sonora fortíssima - tão forte que chega a ser personagem - e dos planos impecavelmente enquadrados - que transformam tudo numa experiência estética -, acaba por ser o tacto o sentido mais estimulado em There Will Be Blood, através da omnipresença do perigo físico da primeira à última cena (literalmente). Esta é uma das grandes conquistas do filme.

P. T. Anderson tem 38 anos; é imaginar o que acontecerá se filmar até à idade de Clint.

Simpsonized

simpsonized Frank Lloyd Wright (obrigado João).

Nadira

De Naipaul diz-se que odeia a humanidade inteira. Da prestação de Nadira, sua mulher, na entrevista que Carlos Vaz Marques tentou fazer ao escritor na LER de Janeiro aprendemos que o ódio de Naipaul pode ser apenas um fenómeno de extrapolação. E uma súbita compreensão sobe por nós acima.

Ainda vou a tempo?



Completamente o filme de 2008 (apesar da legendagem da edição em DVD do Blockbuster ameaçar estragar tudo na última cena para quem não estiver atento, enfim, é um duplo significado, talvez, impossível de traduzir, concedo.)

Isto dantes não acontecia

O Porto agarrar o primeiro lugar para o perder uma semana depois num empate a zero com o último. Dantes não acontecia.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Freitas e Agustina

No dossier Agustina Bessa-Luís da LER de Janeiro contam-se alguns depoimentos de personalidades que mantiveram uma relação com a escritora. Entre eles, Diogo Freitas do Amaral, que na sua campanha presidencial de 1986 contou com Agustina Bessa-Luís como mandatária. Freitas cita «de memória» a conversa onde Agustina aceitou o convite. Em sua casa, no Porto, Agustina serviu «chá e scones» e declarou que aquela era uma eleição «muito importante» para o país, para a sua consolidação democrática, e que os portugueses tinham «muita sorte» por estarem em disputa «os dois melhores candidatos que, neste momento, a esquerda e o centro-direita têm para apresentar». Não sabemos se a conversa decorreu deste modo, mas sabemos que, devido ao estado de saúde de Agustina Bessa-Luís, vamos ter de aceitar esta versão. É pena, porque isto não cheira bem. Este diálogo parece encaixar com demasiada suavidade na revisão história que Freitas tem vindo a fazer à sua biografia - sobretudo na preciosidade linguística que é a «esquerda» e o «centro-direita». Não tenho dúvidas que o Freitas de 2008, colocado em 1986 para decidir entre ele próprio e Mário Soares, escolheria Soares. Mas é no mínimo deselegante arrastar indefesos para a lama.

David Adjaye e o Africa.cont

O Africa.cont já tem projecto de arquitectura. O que é o Africa.cont? O Alexandre Pomar explica melhor do que eu. Interessa-me agora o facto de o projecto de arquitectura ter sido entregue sem concurso público a David Adjaye. Quem é David Adjaye? É um arquitecto inglês de origem ganesa (e não tanzaniana, como diz o Ípsilon, onde só por circunstância calhou nascer), um nome emergente na cena internacional. Por «sugestão» de José António Fernandes Dias, o «responsável» pela coisa, Adjaye recebeu e aceitou o convite do governo português e Lisboa perdeu assim mais uma oportunidade de ser palco de um concurso internacional. A ilegalidade do gesto é apenas virtual: a escolha de Adjaye insere-se no regime de excepção sob o pretexto de não haver mais ninguém com o perfil desejado. E, em Portugal, não há. Mesmo internacionalmente seria difícil encontrar um arquitecto vanguardista, contemporâneo, de provas dadas, e, claro, preto. As coisas são o que são, e José António Fernandes Dias quis um preto, o estado deu-lhe um preto. Escusado será dizer que a arquitectura de David Ajaye está nos antípodas (e isto não é apenas uma figura de estilo) daquilo que possamos entender como «arte africana». É uma arquitectura muito mais devedora da contenção expressiva de David Chipperfield ou Souto Moura, com quem trabalhou. David Adjaye apenas calhou estar no sítio certo, há hora certa, e ter a tez certa. Ainda que não tenha sido possível a sua presença na apresentação do projecto, no passado dia 9 de Dezembro.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Em Trofa

É sinal de fraqueza moral aparecer nas vitórias e ficar calado nas derrotas, mas espero que este disclaimer inicial resolva essa questão e crie as condições necessárias à existência e sobrevivência deste post. Também é verdade que eu não acredito naquela velha máxima que postula que «happiness writes white» (Clive James diz que ela é atribuída muitas vezes a esse «aforista prolífico» que dá pelo nome de Anónimo, mas não sei) e por isso acreditem que a infelicidade não é um catalisador para mim. Depois das derrotas estou apenas derrotado, e isso não é bom para ninguém. Mas a verdade é a verdade, e a verdade é que estive calado a seguir ao jogo «em Trofa» (C. Martins, SIC, flash-interview 07.01.2008) e cá estou depois da vitória de ontem em Guimarães para dizer o seguinte: renovem o contrato, com duplicação de ordenado, ao Katsouranis. De resto, a exibição de ontem foi apenas um pouco menos lamentável do que a anterior e os erros estão à vista de todos: não é saudável percebermos que o Balboa entrou em campo com intenções de pensar o jogo e que seja evidente que o Aimar sofre de performance anxiety. Um psicólogo para o balneário, já. Mas há mais: o facto de o Maxi Pereira estar convencido de que é um bom lateral direito não tem contribuído para a minha felicidade.

E cada vez que me lembro que o Katsouranis veio pela mão do Fernando Santos, não sei.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Stael

Porque, no fundo, tu tens os barcos



como eu estava a dizer



e pessoas ao pé do mar



a ver as gaivotas, que tu gostas



e jogadores de futebol



que é para não falar nas paisagens





tudo temas que te são caros.

pretty crazy

orchestral arrangement.

R.I.P.

Tragam os moldes, aqueçam o bronze.

Stasis benfiquista

A implosão da mama de Quique, um texto obrigatório.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Omer

FREE THE SHMINISTIM – ISRAEL'S YOUNG CONSCIENTIOUS OBJECTORS, uma associação cuja fama não é alheia ao desempenho estético de Omer Goldman.

A vida não é fácil



Nas idas ao Jools Holland raramente acontecem espalhanços. Com o passar dos anos o programa transformou-se numa instituição cujo peso tem impedido a existência de surpresas, e são várias as bandas que já definem a sua presença em Later como um dos pontos altos da carreira. A fasquia é altíssima e os atletas comparecem devidamente preparados. Por isso saúdo a esta monumental gaffe dos mui prezados Fleet Foxes, glorificada aos 00:42 quando a entrada dos instrumentos revela um coro harmónico estacionado uns tons abaixo. O carácter messiânico da cara de Robin Pecknold não se exprime apenas nas semelhanças físicas com Jesus Cristo: no close-up aos 00:35 o cabeludo já parece estar a antecipar a boa nova do desastre. Magnífico.

Ortodoxia

The mere pursuit of health always leads to something unhealthy. Physical nature must not be made the direct object of obedience; it must be enjoyed, not worshipped. Stars and mountains must not be taken seriously. If they are, we end where the pagan nature worship ended. Because the earth is kind, we can imitate all her cruelties. Because sexuality is sane, we can all go mad about sexuality. Mere optimism had reached its insane and appropriate termination. The theory that everything was good had become an orgy of everything that was bad.

Orthodoxy, G. K. Chesterton

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Abençoado 2009

Miguel Esteves Cardoso, todos os dias, a partir de hoje, no Público. Assim uma espécie de blogue.

Desproporção

Um bando de loucos faz explodir dois aviões contra as torres gémeas e os sociólogos avançam logo com explicações sobre a «opressão imperialista» dos americanos. Israel responde como qualquer país civilizado que é atacado responderia - com a guerra - e ai jesus assim não vale. Mas num ponto estou de acordo com os sociólogos: isto é tudo muito desproporcionado.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Perdição

(Alguém já reparou nos preços que a Amazon está a praticar por estes dias?)

Lectures



Frank Lloyd Wright Lectures, Princeton University Press, 2008, uma belíssima edição facsimile (o original data de 1931) que trouxe para casa ainda à custa da época festiva (não se esqueçam que isto acumula com o meu aniversário.) 

Imperdoável



Imperdoável que eu só tenha visto Unforgiven ontem (2.99€ no Home Video da Clix, um serviço com uma oferta lamentável). Eastwood é o meu pastor.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Deve ser da água

Como é do conhecimento geral, estou a ler Herzog, de Saul Bellow. Tem sido uma leitura atribulada e só isso explica que as trezentas e tal páginas ainda não tenham sido resolvidas. Peço imensa desculpa de não estar a fazer as devidas transcrições, mas o que tem acontecido é isto: leio à noite, anoto mentalmente uma frase, acordo de manhã cheio de boas intenções, releio a frase e ela já não é mesma frase do dia anterior. A vida não é fácil e ontem estive a estudar com atenção mais uma vez as casas de Frank Lloyd Wright e quero aqui desafiar para um duelo qualquer homem ou mulher porque eu não discrimino que não seja capaz de afirmar que Frank Lloyd Wright foi o maior arquitecto da história. Wright que era um homem de Chicago, assim como Bellow e Obama, por exemplo. Deve ser da água.

Traidor

Pela primeira vez na minha vida não assisti ao countdown para o ano novo (vivo ao lado do Terreiro do Paço, não foi difícil perceber o momento de abrir o champanhe, sim, champanhe, francês, e tudo, eu não bebo essas merdas que vocês bebem). As represálias fizeram-se sentir de imediato: pela primeira vez desde que tenho telemóvel não recebi um único sms a desejar-me bom ano. Não sei como é que eles souberam.

Não se deixem enganar

«Na sua mensagem de ano novo, o Presidente da República pediu ontem aos portugueses que não desanimem perante a crise, que continuem a acreditar. Esse tom já era esperado na mensagem: os inevitáveis apelos à união e à persistência de todos. Mas Cavaco Silva não se ficou por aí. Também disse: não acreditem, não se enganem e, sobretudo, não se deixem enganar. (...)»

Pedro Lomba

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

01.01.1919



«(...) Salinger continues to write, apparently. He is rumoured to have produced hundreds of short stories, and perhaps scores of novels over the past however-many decades. The difference is that these are manuscripts written for his own pleasure, with the door closed and with no outside pressure; like a child playing alone in his room. (...)»

Happy birthday Salinger