sábado, 30 de abril de 2005
Fugiu tudo da esplanada e enfiaram-se em casa
O Boato, de Alexandre Borges
Melancómico, do Nuno Costa Santos
Não Sei Brincar, do João Pedro George & cia.
Olha que não, do Filipe Nunes e da Mariana Vieira da Silva
Como é que é? Já se pode apagar o link do Esplanar?
sexta-feira, 29 de abril de 2005
A intolerância de Ratzinger
(...) Esta falta de tolerância para opiniões opostas, sobretudo se colocadas num tom um pouco mais apimentado, é uma triste consequência da falta de debate interno na Igreja e da mão de ferro que é exercida pela hierarquia sobre todo o pensamento que foge ao cânone estabelecido. Também aqui há um dedinho do ex-cardeal Ratzinger, que como grande guardião da doutrina foi apertando a rede de dogmas até praticamente sufocar toda a palavra divergente.
Ora, o grande mérito dos Evangelhos é a estruturação do discurso de Jesus em parábolas, numa linguagem metafórica que permite a abertura dos sentidos, e que por isso continua a estimular-nos, dois mil anos depois. A transformação da metáfora em dogma é uma atitude violenta e concentracionária, profundamente farisaica, que deixou um rasto de milhões de mortos ao longo dos séculos. Mas há cristãos que continuam sem perceber isso. Chamar "pastor alemão" a Bento XVI é uma piada. Uma graçola inofensiva. E se Deus existir, há-de ter algum sentido de humor.
O pastor alemão (parte II)
quinta-feira, 28 de abril de 2005
Duas sem tirar
quarta-feira, 27 de abril de 2005
«Alimentamos o culto do objecto estranho»
(...) Gosto muito do modo como trabalham estes dois irmãos. (...)
Produzem sempre dezenas de maquetas: primeiro, de reconhecimento e de palpação pessoal; depois, para discussão com o cliente, hipóteses, alternativas, prós e contras bem ilustrados, preparados para o compromisso da escolha crítica; finalmente trechos, bocados, detalhes elaborados paralelamente aos desenhos e fornecidos durante as obras, facilitando o diálogo, ultrapassando os limites e as insuficiências da representação técnica, recusando o conformismo de dizer «vivemos numa época em que já não se sabe construir», recusando a resignação! (...)
«O Museu do Mar e da Ria», Manuel Graça Dias, 30 Exemplos (pag. 100), ed. Relógio d'Água 2004
Fala-se de Nuno e José Mateus, sócios do atelier ARX Portugal, talvez os arquitectos com a obra mais interessante actualmente em Portugal, que vivem agora o tempo da sua confirmação, com obra construída para além das maquetes esquisitas.
terça-feira, 26 de abril de 2005
A arquitectura não é para aqui chamada
Como é óbvio sou pela manutenção de toda e qualquer construção que, apesar de não ter valor arquitectónico, carregue algum significado histórico relevante. Isto porque me parece ser uma medida eficaz para o melhoramento da relação entre a cidade e os seus habitantes. Uma cidade só pode ser boa se é amada por quem lá (cá) vive. E amar seja o que for precisa sempre de um passado visível*, tal e qual as molduras dos avós que temos espalhadas pela casa. Que se mantenha a casa onde Almeida Garrett defecou um par de vezes (sem prejuízo para o actual proprietário) e espete-se lá uma placa em doirado a dizer AQUI DEFECOU ALMEIDA GARRETT (UM PAR DE VEZES).
*Este passado visível só pode ter reflexo em duas situações: valor arquitectónico ou valor histórico. Preservar o velho pelo velho é um crime.
«Não faço ideia»
O livro da minha vida
P.S: Errei. Há de facto uma coisa que me impede de eleger o Ulysses como o livro da minha vida: nunca o li.
segunda-feira, 25 de abril de 2005
PREC
Reparo agora neste post do Blasfémias. Está lá tudo.
domingo, 24 de abril de 2005
sábado, 23 de abril de 2005
Depois não digam que não avisei
E está desfeito o mistério do nome, o nome, o nome que nenhum locutor da Radar consegue dizer decentemente.
Messanine
Mas o que me intriga mesmo é o "recuperada por arquitecto". Um gajo paga todas as letras que escolhe, e escolhe, sem que ninguém o obrigue, dedicar 23 das 68 letras (aproximadamente um terço) a anunciar que a casa que quer vender foi "recuperada por arquitecto". Há gajos que não querem mesmo sair de casa.
Acho inclusivamente que li qualquer coisa da Susan Sontag sobre esta matéria
As saudades que eu já tinha da minha alegre casinha
sexta-feira, 22 de abril de 2005
E≠mc2
19 de Abril de 2005 - Joseph Ratzinger é eleito Papa, sob o manto do combate ao «relativismo da modernidade».
Geração de 70
Bento XVI e a modernidade, Pedro Lomba
(...) Evidentemente, houve muita gente que ficou contente com o nome do novo Papa. Os católicos mais fervorosos e o Opus Dei rejubilaram. Os ateus e os agnósticos que votam à direita e que entendem que a função da Igreja é disciplinar o rebanho e levantar o estandarte dos valores ocidentais adoraram. E os católicos obedientes, que aceitariam até se o anel de pescador fosse enfiado no dedo de um guarda suíço, acataram e aplaudiram.
O pastor alemão, João Miguel Tavares
quinta-feira, 21 de abril de 2005
quarta-feira, 20 de abril de 2005
A ordenação das mulheres
* O argumento, último e categórico, é a escolha de apenas homens para discípulos por parte de Jesus.
Paradoxo
Verdade e história
Inimigo do meu inimigo meu amigo é
Podemos até pensar nisso, sim senhor, mas não esperem que mudemos uma vírgula
Pe. João Seabra, in DN
Nós (hoje)
que não sabemos já donde a luz mana
haurimos o perdido misticismo
nos acordes dos carmina burana
Nós que perdemos na luta da fé
não é que no mais fundo não creiamos
mas não lutamos já firmes e a pé
nem nada impomos do que duvidamos
Já nenhum garizim nos chega agora
depois de ouvir como a samaritana
que em espírito e verdade é que se adora
Deixem-me ouvir os carmina burana
Nesta vida é que nós acreditamos
e no homem que dizem que criaste
se temos o que temos o jogamos
«Meu deus meu deus porque me abandonaste?»
Ruy Belo
terça-feira, 19 de abril de 2005
Be(a)nto XVI
Ratzinger
Vários sms e conversas entre católicos. A desilusão é geral. Aura Miguel está sem vida na voz. Insisto: impressiona-me o tom de desilusão total na voz da jornalista da Renascença.
Raios
Branco / negro
Leitura recomendada
Most modern governments have strange values when it comes to procuring buildings. They want to make their mark: the public demands schools, hospitals, infrastructure projects and much else. But there must be no sign of wasting taxpayers' money. (...)
Dois posts que eu podia (gostava de) ter escrito
Desassossegado, a espreitar o fumo on-line, sabendo que esta eleição, importantíssima para o mundo católico, é decisiva para mim.
Still catholic after all these years (2)
O que me inquieta nos que estão contra o mundo moderno é que me parece estarem simplesmente contra o mundo.
Pedro Mexia, Fora do Mundo
segunda-feira, 18 de abril de 2005
Nacional
Ratzinger ataca pela direita, Martini mete mais dois centrais, Policarpo faz sprints na linha lateral
Adenda: Parece que o jogo começou duro, com uma entrada a pés juntos logo nos primeiros minutos por parte de Ratzinger:
(...) o alemão Joseph Ratzinger, apelou ao desenvolvimento de uma fé "mais madura" e à necessidade de combater a nova "ditadura de relativismo" da modernidade (...)
domingo, 17 de abril de 2005
O elogio do amigo
Esta terra malcuidada inspira em mim uma espécie de saudade
Diario de Viagem, Albert Einstein, 11 de Março de 1925
in Grande Reportagem 223
Companhia de Jesus
Cardinal Carlo Maria Martini, Archbishop emeritus of Milan, (Italy) was born on 15 February 1927 in Turin. He entered the Society of Jesus on 25 September 1944 at the age of 17. He completed his studies in philosophy at the Jesuits House of Studies in Gallarate, in the province of Milan, and theology at the faculty of theology in Chieri, where he was ordained a priest on 13 July 1952 at only 25 years of age.
In 1958, he received his doctorate in theology from the Pontifical Gregorian University, with a thesis entitled Il problema storico della Risurrezione. After some years of teaching at the faculty of Chieri he returned to Rome and earned a doctorate in Scripture at the Pontifical Biblical Institute, always summa cum laude, with a thesis on Il problema della recensionalità del codice B all luce del papiro Bodmer XIV. Dean of the Faculty of Scripture at the Biblical Institute, he became rector in 1969 to 1978 when he was nominated chancellor of the Pontifical Gregorian University, succeeding Father Carrier.
His became active in the scientific field by publishing various books and articles. One must remember that he was the only Catholic member of the ecumenical committee that prepared the new Greek edition of the New Testament. His books on spiritual exercises are very much appreciated for originality and style, adding new light to the traditional Ignatian model. Among these, Gli esercizi ignaziani alla luce di San Giovanni; L’itinerario spirituale dei Dodici nel Vangelo di San Marco; Gli esercizi ignaziani alla luce di San Matteo; Gli esercizi spirituali alla luce di San Luca; Vita di Mosé, vita di Gesù, esistenza pasquale. In 1978 Paul VI invited him to preach the annual retreat in the Vatican, where one of his predecessors in this exceptional ministry was Cardinal Karol Wojtyła, who became Pope John Paul II and elected him Archbishop of Milan on 29 December 1979 and personally consecrated him on 6 January 1980. (...)
sábado, 16 de abril de 2005
O futuro da Casa da Música
Este blogue passa a ser, a partir de hoje, assumidamente activista do lóbi para a classificação relâmpago da Casa da Música como monumento nacional.
sexta-feira, 15 de abril de 2005
Casa da Música
Se queres maldizer o tipo que tal pegares na paupérrima Embaixada da Holanda em Berlim, obra vencedora do Mies van der Rohe 2005? Não é só o facto da Zaha Hadid e dos seus comparsas serem demasiado obtusos para entender o Estádio de Braga que me desgosta: o grande problema é que a obra vencedora é má demais para ser verdade. Aquilo parece um projecto académico de um estudante português fascinado com a Holanda, um edifício banal com tudo o que é tique e toque da OMA, ou dos MVRDV. Isto para dizer para deixares a Casa da Múscia em paz. Não tenhas receio: a arquitectura da Casa da Música vai convencer quase todos, e poderá contribuir para a divulgação (directa ao espírito popular) da arquitectura contemporânea. 4 anos e 100 milhões de euros depois pode dizer-se que valeu a pena. É ir lá e conferir.
quinta-feira, 14 de abril de 2005
Causa e consequência
E para desenhar casas também
quarta-feira, 13 de abril de 2005
Souto Moura e o Mies
Segunda Derrota consecutiva para a Complexidade e Contradição.
Depois do Galardão Pritzker ter galardoado este ano o norte-americano Thom Mayne foi a vez de Rem Koolhass ser galardoado com o 9º prémio bianual Mies van der Rohe.
A notícia que deixa um sentimento agridoce em Portugal pois se por um lado, anuncia uma inauguração auspiciosa para a mais próxima inauguração de um edifício de Koolhass - a Casa da Musica no Porto a inaugurar amanhã -, por outro, deixa pelo caminho um portuense de gema e o seu magninimo estádio grego em Braga.
O galardão atribuido ontem a Rem Koolhass assume ainda maior destaque em Portugal devido ao lóbi blogosférico que pretende assumidamente levar Souto Moura ao Pritzker e, pelo caminho, a todos os outros prémios. A discussão está lançada e, ao que parece é culpa própria do próprio lançador do blogue que ao nomeá-lo de complexo e contraditório lançou a confusão.
Tanto assim é que os membros do juri em declarações off the record a mim próprio revelaram que nomearam para a complexidade o nome de Thom Mayne, enquanto que para a contradição promoveram o de Rem Koolhass remetendo para o blogue português a responsabilidade de não se ter este chamado Simplicidade e Contradição se porventura fosse mesmo o seu objectivo não contraditório o de promover Souto Moura ao Pritzker.
A discussão está lançada e com ela a polémica que promete assumidamente cenas nos próximos capítulos da blogosfera portuguesa. Vamos ver como ela reage a este segundo revés...
O vosso, m'a
Resposta: André, como vês este post foi publicado a estas bonitas horas. Ando com pouco tempo para o blogue. Uma resposta mais dedicada seguirá nos próximos tempos. Para já, e sobre este tema, só me apetece dizer isto: o presidente do júri (do prémio Mies van der Rohe) foi Zaha Hadid.
domingo, 10 de abril de 2005
De Gaia para o mundo
Séries
Em breve, no seu blogue
Palavras que pedem para ser roubadas
Chega assim Paulo José Miranda à blogosfera.
Metáfora de madrugada
sábado, 9 de abril de 2005
«The Hands Series»
(1953)
Falar com as mãos, conter espaços, contornar formas, apertar os dedos, simular a gravidade, um esquiço virtual, uma maquete feita de carne humana. Quente. Movimentos lentos e pesados.
«Nunca tinha pensado nisso»
Não! Em geral, no processo de projectar, o que depois se verifica ser referência, não nasce como uma citação. O que sucede é que a nossa cabeça está cheia de imagens e elas acorrem espontaneamente. Acontece é ao contrário. De repente, algum crítico comentar "Isto é uma referência a tal"; e eu dizer: "Ah! Pois é! Nunca tinha pensado nisso". Porque o processo de projectar, no início, faz-se de forma muito global, quase nebulosa. Portanto, o que vem de referências não é citação; é a carga que tem o nosso computador pessoal e intransmissível.
Álvaro Siza Vieira, em entrevista ao DN
Interpreto estas pelavras como um subtil e inteligente elogio à crítica. Subtil e inteligente, como quase tudo o que Siza faz.
quinta-feira, 7 de abril de 2005
Tarefas
quarta-feira, 6 de abril de 2005
Isto também dava uma boa cabana*
O jovem Álvaro, então com pouco mais de vinte anos, trabalhava no atelier de Fernando Távora, seu professor de quinto ano (deu-lhe 20, suplantando assim o seu próprio 19, até então a nota mais alta da faculdade de arquitectura). Távora foi ao local, passeou entre as pedras e escolheu o sítio: é (será) aqui. Voltou para o atelier e indicou ao Álvaro, na planta, onde seria: «aqui, vês?» O Álvaro viu. E começou a desenhar, poisando-se entre as pedras que se ofereciam, contornando as que se impunham, escavando onde o deixavam. Távora ia vendo, ia acompanhando. Quando o projecto foi entregue, a assinatura que lá se encontrava era a de (inevitavelmente) Fernando Távora. Mas Távora foi o primeiro a, desde a primeira hora, negar a autoria da criação. Com esse gesto tornou-se no primeiro a reconhecer o génio que hoje, passados 50 anos, é evidente aos olhos de todos. Um dia, um dia, hei-de copiar (bem) esta obra.
Um homem entre mulheres
Morreu Rainier: marido de Grace, pai de Stephanie e Carolina, avô de Charlotte.
Nomeadamente o meu
terça-feira, 5 de abril de 2005
Pano para mangas
Acho que qualquer arquitecto que tenha imaginação já foi influenciado por ele. Qualquer um nessas condições admira-o e excita-se com as suas obras. Ainda me lembro da primeira obra de Siza que vi - acho que foi o projecto das piscinas [de Leça] - e fiquei espantado. Acho que a obra de Siza é o detalhe, e ainda que nós também sejamos detalhe, somo-lo de uma forma completamente diferente. Pessoalmente, quando entro nos seus edifícios, consigo ver realmente que são edifícios portugueses.
Rem Koolhaas, em entrevista ao JN
Eis porque de vez em quando o melhor mesmo é estar calado (ou o descanso do guerreiro)
Fala-se, fala-se, fala-se, em todos os sotaques, em todos os tons e decibéis, em todos os azimutes. O país fala, fala, desunha-se a falar, e pouco do que diz tem o menor interesse. O país não tem nada a dizer, a ensinar, a comunicar. O país quer é aturdir-se. E a tagarelice é o meio de aturdimento mais à mão.
Falam os médicos, os notários, os empreiteiros, os varredores, os motoristas, os professores e toda a lista de profissões da estatística e não há corporação que fique de fora neste zunzunar do paleio, vendedores de automóveis, mediadores de seguros, sapateiros que passam a vida a cantar, empregados de mesa, agentes da autoridade, doentes dos hospitais, operadores imobiliários, empregados forenses, e também engenheiros, sem-abrigo, vagabundos, telefonistas, padeiros, patinadores, engraxadores e vândalos. Imigrantes provindos de países sombrios aprendem aqui a soltar as línguas, aderem ao velho ofício de dar à taramela, por isto e por aquilo, por tudo, nada. Passam-se dias, meses, anos, remoem as depressões, adejam os perigos e o país a falajar, falajar, falajar.
Fantasia Para Dois Coronéis e uma Piscina, Mário de Carvalho
domingo, 3 de abril de 2005
O próximo?
O próximo Papa será o próximo Papa. É importante lembrar isto quando todos falam numa figura que parece eclipsar-se como o sucessor de João Paulo II. Nada diz que depois de um Papa forte não possa vir um Papa ainda mais forte. E se João Paulo II fez quase tudo o que havia para fazer (agora) nalgumas áreas, noutras parece ter deixado o convite aberto. Diálogo inter-religioso? Abertura geográfica? Distanciamento político? Karol Wojtyla deixou bem vincadas as pegadas: é só uma questão de saber segui-las.
A minha geração católica define-se por um fundamentalismo moral que não existia há uns anos. João Paulo II muito para isso contribuiu. Quando se fala nos jovens deste papado fala-se naqueles que disseram sim e se entregaram totalmente a uma fé que foi gerida pelo cardeal Ratzinger. Falo por exeperiência própria: à minha volta as águas foram-se separando. De um lado os que evangelizaram a abstinência e a santidade; do outro os que se abstiveram de confrontos, colocando-se a uma distância confortável. O espaço para aqueles que, como eu, se sentem desconfortáveis com algumas das exigências morais da fé (reforçadas nos últimos 20 anos) foi sendo aos poucos reduzido. Ou estás a favor, ou estás contra, ouvi eu várias vezes, a fazer lembrar o discurso de Bush no pós-11 de Setembro. Poucos mas bons, pode ser outra das expressões que se adequa para descrever estes jovens.
E agora lanço os meus desejos, tão concretos quanto possível. Eu quero ver o próximo Papa resolver (porque sinto que é algo que necessita de resolução) o que está por resolver. A minha adesão a esta Igreja passa por ver as mulheres ordenadas, pela simples razão que nada parece justificar a actual situação (mesmo teologicamente o argumento, porque é só um, é incrivelmente frágil). Passa pela revisão por parte do Vaticano da sua posição sobre o planeamento familiar e a contracepção, não só por causa da SIDA mas também pela saudável permanência na fé daqueles que não se revêem na abstinência nem na extrema falibilidade e pouca conveniência dos chamados "métodos naturais". Passa pelo fim da perseguição aos divorciados, que só serve para marginalizar vítimas e forçar a continuidade de casamentos infelizes. Passa também pela maior participação dos leigos nas celebrações. Passa pelo reposicionamento dos movimentos ultra-conservadores no local que lhes é próprio: de minoria. Passa pelo fim da incompreensão face à homossexualidade, encarando-a não como um problema, mas como diferença.
O que faço não é uma ameaça. O que faço é aquilo que qualquer católico faz: desejar para a sua Igreja o melhor. Se o faço com tanta determinação é porque não quero pertencer a uma segunda (ou terceira) geração de vencidos do catolicismo. Não me quero afastar devido à impossibilidade de chamar meus certos princípios de vida. Porque não quero ser também um católico selectivo, que decide abaçar a prestações uma fé exigente.
João Paulo II deixou-nos saudades. Mas deixou-nos também várias portas por abrir. Não escondo que tenho grandes expectativas para os próximos anos.
P.S: Nem arrisco nomes. Parece-me no entanto que o escolhido deve ser, ao contrário do que se instalou como senso comum, um europeu, porque só um europeu terá condições para reformar estas posições. E portanto não me descontentaria o cardeal Godfried Danneels, se bem que se eu participasse no conclave o meu candidato falaria português. Sem sotaque.
«Sprechen sie Deutsche would hardly make sense»
I think my education's gone out to lunch
I can's remember, I cannot think
what is the difference between iron and zinc
I can listen, I can speak
But my conversational skills are gobblety-geek
I know Harold in 1066
Got shot in the eye with a long pointy stick
Revolutions and World War Two is it true what they say
That Charles de Gaulle was a hero and Churchill's a Nero
I threw that away
I get up when I like
Wear anything I like
Don't keep up with the cool
I make up my own rules
Don't have to eat my greens
Or keep my bedroom extra tidy
'Cause nobody is around to tell me off
I can lounge about in my house 'cause lounging about is...good
I know all i need to know
Why talk Sahili if it's where i won't go
Latin is clever and sexy is French
Sprechen sie Deutsche would hardly make sense
Inquisitions and missionaries seem fairly bizarre
Do I follow commandments from Moses or petals off roses
I am the Czar
I get up when I like
(...)
Revolutions and World War Two is it true what they say
That Charles de Gaulle was a hero and Churchill's a Nero
I threw that away
I get up when I like
(...)
Lounge, Dogs Die in Hot Cars
sábado, 2 de abril de 2005
Obrigado
Duas coisas que aprendi com a Sábado desta semana
2. Cavaco, em férias, levanta-se às 7.00 da manhã.
Eufemismos
Aquilo que ainda vamos ter que sentir
É um bom pretexto para redescobrir uma arquitectura que decorre de uma certa cultura arquitectónica dos anos 80 - como acontece com Zaha Hadid, não por acaso a premiada em 2004 - e acertarmos o passo com um debate que mal chegou a pousar em Portugal. O "desconstrutivismo" não entrou cá, e, no entanto, já lá vão dois prémios Pritzker e outros virão com a mesma natureza.
Se aceitarmos que a abordagem do pós-modernismo na arquitectura se fez com uma face "historicista" e outra "desconstrutivista", dir-se-ia que Portugal só se reviu na primeira, por reflexo público da obra e discurso de Tomás Taveira.
Já no último número do Jornal dos Arquitectos (217 - Outubro, Novembro, Dezembro 2004), Jorge Figueira aborda esse mesmo tema:
No nosso tempo e contexto, o "contemporâneo" é uma espécie de transe, um espelho baço para todos os relativismos. Em Portugal ainda estamos a decidir se alguma vez fomos modernos, e já o "contemporâneo" nos entra em casa como umtsunami.
Pessoalmente, interessa-me o momento "onde as coisas se precipitaram", como diz Eduardo Prado Coelho: "Podemos ser tentados a saltar etapas, e talvez não haja alternativa para isso, mas não podemos deixar de tentar recuperar o que havia de positivo e de enriquecedor nas etapas que foram saltadas: porque doutro modo perdemos em todos os tabuleiros".
É nesse sentido que eu quero invocar Aldo Rossi: como uma etapa que saltámos; como uma angústia e um sorriso que se esvaiu nas cores do "pós-modernismo"; como aquilo que ainda vamos ter de sentir.
Sou particularmente sensível a este tema. O que aconteceu em Portugal foi uma rejeição à partida do pós-moderno. Talvez por razões económicas (o "desconstrutivismo" é coisa cara). No entanto, o pós-modernismo coincidiu (pelo menos o seu arranque) no tempo com outra reacção ao moderno: o "regionalismo crítico", isto é, a tentativa de não abandonar o moderno adaptando-o, reinterpretando-o, à luz do(s) contexto(s) histórico(s) e geográfico(s). Acontece que, feliz ou infelizmente, essa atitude acabou por vingar em Portugal, e os nomes mais influentes foram (e são) mestres. A começar por Távora e Teotónio, passando por Taínha e Siza (este percursor do "neo-modernismo"), todos eles sempre fizeram declarações de fé ao moderno. O pós-modernismo acabou por não ter espaço para aparecer. Taveira, de facto, conseguiu-o, mas fica como prova que teve ser "à força", impondo-se, chocando, gritando. No entanto considero que há outros nomes com obra feita em Portugal que arriscam o rótulo: Hestenes Ferreira, por exemplo. Mas de facto se queremos ver obra pós-moderna feita por portugueses temos necessariamente de sair do país. Por muito que não goste do título, Manuel Vicente sempre navegou nas águas pós-modernistas, sob forte influência de Venturi (enquanto que Hestenes Ferreira respira mais directamente a influência de Kahn.) Também Pancho Guedes, ainda mais marginalizado do que Manuel Vicente, é um pós-moderno - mas neste caso um pós-moderno quase surreal, desalinhado, independente. Também Manuel Graça Dias e Egas José Vieira se podem ler à luz desse "movimento". Ainda assim fica claro que essa "etapa" é muito ténue em Portugal e que, claramente, as consequências estão à vista, fruto da influência fortíssima que tiveram (e têm) Siza Vieira e Souto Moura, este último introduzindo a componente miesiana que faltava ao moderno português.
P.S: A actual direcção do JA (liderada por Graça Dias) cessou funções com este número. Ficam dois desejos: que a próxima consiga manter a elevadíssima qualidade actual; e que Graça Dias não deixe a actividade editorial, noutro sítio qualquer.
P.S.2: O "nosso" blogosférico jmac, a continuar assim, arrisca-se também a fazer uma entrada directa para tabela dos pós-modernos.
sexta-feira, 1 de abril de 2005
«Vá por mim que sou barbeiro»
Substitutos
do post em baixo
Sms, msn, skype, blogger, ftp, mp3, jpg. Carta, postal, pombo correio.
Crónica #5
Heidegger debruçou-se muito sobre o problema e, talvez como nenhum outro, soube explicá-lo numa expressão feliz - a busca do ser humano é uma procura incessante pela palavra-mestra.
É claro que a maioria das pessoas não pensará nestes termos - “De que diabo está este tipo a falar?”, devem dizer. Mas a verdade é que tudo quanto fazemos na vida é um esforço de comunicação. Esse é o grande abismo que nos separa dos animais ou das plantas. Porque não nos basta existir. Por muito que nos achemos realistas quando dizemos que o importante são outras coisas, o prazer e a dor que alcançamos ou de que fugimos, no limite, o que nos deixa à beira do céu ou do inferno é o sucesso ou o fracasso de um acto de comunicação.
No fim, todos queremos ser compreendidos. Que o outro saiba o que sentimos. Porque, por muitos filhos que tenhamos e família e amigos e colegas e amantes, estamos sempre irremediavelmente sozinhos a cada momento do universo.
Os artistas têm muito esta pose: de não quererem a compreensão, de dispensarem isso. Mas é por demais evidente que são quem mais procura o contrário: querem ser ouvidos, lidos, entendidos. De contrário, estavam quietos, em silêncio, na mudez do seu bastidor.
Eu quero que o outro saiba a minha dor, o meu amor, a minha alegria; quero que o outro pressinta como vejo o mundo, a angústia que se alimenta do meu interior.
Do “logos” grego ao “verbo” latino que, no começo do Evangelho, estava com Deus e era Deus e lhe mostrava o mundo, a tradição do pensamento compreendeu cedo o problema. Cada vida humana é uma tentativa de resposta a essa questão. A palavra-mestra, a palavra final que leve em si a própria coisa de que fala e não seja uma mera representação. A palavra perdida do Arquitecto para os maçons. O que quer que eu ande aqui a fazer, escrevendo diaramente estas crónicas, sem saber onde ecoam.
Alexandre Borges