quinta-feira, 29 de setembro de 2005
Funeral
Até porque apenas estamos prestes a eliminar uma equipa que até hoje só practicamente conseguiu eliminar o Benfica...
.... não há razão alguma para amanhã de manhã aparecerem jornais a dar "crédito" a quem nunca o mereceu. Já lá dizia o outro, com inolvidável agileza (?): "não tem crédito quem elimina quem já eliminou o Benfica: tem crédito quem elimina qualquer outro clube", o que não é manifestamente o caso, excepto quando é razão para uma humilhação maior, como perder a final da Taça UEFA no próprio estádio.
Posted by maradona
Acreditem que é verdade (jamais me lembraria de uma tirada destas se não fosse verdade): vi, por mera coincidência, a última parte do jogo enquanto o álbum dos Arcade Fire rodava no sistema sonoro que, e Peseiro deve ter as orelhas a arder, tem como título a palavra que apadrinha este post.
Lugares de encanto
A laje do primeiro piso, maciça; a feliz homogeneidade cromática em obra dada pela inexistência de tijolo no mercado açoriano; o volume de cima, mais pesado, que, aliado à laje maciça e lisa, carrega de dramatismo os vazios resultantes da geometria do piso térreo; os buracos, três, em cima, escavados ordeira e regularmente; o apoio lá ao fundo que, sabiamente, é uma secção de parede e não apenas um pilar; os balanços, aparentemente difíceis, aparentemente simples; a sensação de massa e espessura, reforçando o volume em vez do plano; o céu azul improvável do grupo central.
quarta-feira, 28 de setembro de 2005
Protocolo
maradona
segunda-feira, 26 de setembro de 2005
Sex is a risky game, because if you're not careful, it will cut you wide open
domingo, 25 de setembro de 2005
Isto sim, não é altruísta
Tanzânia
E ao quarto blogue um template de jeito
sexta-feira, 23 de setembro de 2005
Choice or fate?
terça-feira, 20 de setembro de 2005
Até já
Hesitei muito antes de escrever este texto. Se o escrevo é porque reconheço que a única maneira de fazer com que os malefícios que essa hesitação me traz desapareçam é, de uma vez por todas, dar o passo em frente. Comecei a escrever na blogosfera no longínquo mês de julho de 2003. Aliás, a blogosfera de hoje muito pouco tem a ver com essa blogosfera de então. Lembro-me do prazer que foi ver as primeiras linhas nascerem para a world wide web. As primeiras reacções, os primeiros links, os primeiros mails. Enfim, toda a adrenalida da primeira vez. Desde então, tenho escrito sobre muita coisa. A quantidade de lixo que se foi acumulando é boa prova disso. Muitas horas perdidas diante do ecrã, a debitar ideias com pouco mérito. Foi desgastante, mas recompensador em muitos momentos. Nos últimos tempos a balança tem-se desiquilibrado, e tem-me faltado energia e motivação para alimentar o tamagotchi. Sinto-me, de certo modo, gasto e vencido, com pouca coisa de nova para dar. Leio menos blogues do que então, e os que leio com maior prazer têm, nos últimos tempos, desaparecido aos poucos. Ainda assim, parece-me algo despropositado anunciar o fim de um blogue. Se a espontaneidade e o carácter informal sempre foram aclamados como virtudes da blogosfera, parece-me fazer pouco sentido decretar que o blogue chegou ao fim. Menos sentido faz que se queira acabar com um blogue. Há muitas maneiras de deixar de escrever na internet. Uma delas é deixar de escrever, simplesmente. Deixar de abrir a página do blogger, deixar de publicar. Que a coisa se arraste, como uma ruína que ninguém chegou a destruir, um vestígio de algo que já passou por melhores dias. Não quero com isto dizer que vou deixar de escrever. Aliás, nem garanto que passe a escrever menos. O que aqui faço é um acto de honestidade, um agradecimento a quem me lê, vá lá, regularmente. Não estranhem se a actividade por estes lados adquirir um ritmo esquizofrénico. Será um blogue menos coerente (se é que o foi algum dia), mais estranho. No entanto saibam que são todos bem-vindos, sempre que quiserem. Por isso, é sem dramatismos que declaro que este blogue não acaba aqui.
segunda-feira, 19 de setembro de 2005
On location
- E tu, o que fazes?
- Construo um arranha-céus.
(Imagem da construção da nova sede do NY Times, de Renzo Piano.)
sexta-feira, 16 de setembro de 2005
Mau mau maria 2
Notas da inauguração da Catalysts!
quinta-feira, 15 de setembro de 2005
Agenda
Inaugura hoje a Experimenta Design 2005. No que respeita à arquitectura, destaca-se:
- 16 de Setembro, sexta-feira, a partir das 15:00, conferência com Renny Ramakers e Massimiliano Fuksas;
- A partir de 17 de Setembro, Sábado, a exposição Casa Portuguesa, Modelos Globais para Casas Locais;
- 17 de Setembro, Sábado, a partir das 15:00, conferência com Souto de Moura e Philippe Starck.
P.S: O site do Fuksas é um mimo.
A blogosfera é isto, meus amigos
(maradona)
E segue, segue, segue...
quarta-feira, 14 de setembro de 2005
terça-feira, 13 de setembro de 2005
Fica na memória
A construção de uma estante 1
segunda-feira, 12 de setembro de 2005
Sms para Ronald Koeman
Mickey Mouse no comité central
domingo, 11 de setembro de 2005
Federer vs. Agassi
Andre Agassi, ontem, após ter garantido o lugar na final
Periculum in mora
sábado, 10 de setembro de 2005
Saramago e o boletim
Fazem-me sinais que Saramago, depois da última sondagem que dá uma vantagem expressiva a Cavaco, terá afirmado que, para derrotar a direita, extenderá o seu apoio a Francisco Louçã, àquela senhora do POUS, Carmelinda qualquer coisa, a Garcia Pereira, e a qualquer outro candidato que na sua declaração de candidatura use a palavra «Abril», «capitalismo», «camarada», ou «Bush».
Resistance is useless
sexta-feira, 9 de setembro de 2005
A política que interessa
O governo da Ucrânia caiu. Yulia Tymoshenko foi afastada. Creio não ser exagero afirmar que ficamos todos a perder.
EPUL - Lista dos cabr... vencedores do concurso
Lista de Vencedores EPUL Entrecampos (pdf)
(É preferível fazer um save as com o botão direito do rato)
quinta-feira, 8 de setembro de 2005
Vaticínio preliminar com base nuns quantos debates televisivos
Este é um comentário baseado no binómio possível para líder da autarquia: Carmona / Carrilho. Acontece que Carrilho é, e isto surpreende-me, muito pior do que imaginava. Carrilho não se aguenta em campanha, não domina os assuntos de que fala, não sabe nada de nada. António Vitorino produziu, há dias (numa convenção qualquer do PS para as autárquicas, uma coisa ali debaixo da pala do Siza com a maioria dos lugares vazios) uma afirmação cujo alcance só agora verdadeiramente se tornou evidente (e passo a citar de memória): «Respeito muito quem consegue calcular a distância entre pilares de uma ponte, quem sabe calcular a profundidade de um túnel, mas o que Lisboa precisa é de alguém que saiba interpretar a alma da cidade (...)». Ou seja, e traduzindo, isto foi um atestado à incompetência do candidato-filósofo. Parece que já o estou a ver, em conferência de imprensa, a dizer que não faz ideia de quanto irá custar a nova ponte sobre o Tejo, mas que consegue perceber que a alma lisboeta está apreensiva.
quarta-feira, 7 de setembro de 2005
E ainda falam do dr. Soares
Martina Navratilova, 48 (quarenta e oito) anos (n. 1956), acaba de se qualificar para as meis-finais do US Open, na vertente de pares. A sua parceira (nos courts, nos courts), Anna-Lena Groenefeld, é 29 (vinte e nove) anos mais nova (n. 1985). Se isto não é uma história que merece ser contada, então não sei o que é.
Martina em Wimbledon, no ano de 1978 (mil novecentos e setenta e oito)
A candidata
Ó tempo, volta pra trás
Presidenciais
O passeio de Roger
O comentador do Eurosport português (recuso-me de repetir o lamento) fartou-se e fartou-se de dizer que para Federer ganhar a Kiefer teria de «elevar o seu jogo», ou seja, e entende-se por isto, teria de jogar melhor. Ora isso não aconteceu. Mas a verdade é que Kiefer é, de facto, melhor do que os outros até agora. A diferença esteve no resultado: 3-1 em vez dos habituais 3-0. Federer continua a jogar como se estivesse a fazer um favor a alguém. É quase desesperante assistir à sua aparente displicência. Parece que contra o suíço todos jogam mal, ou pelo menos, pior. Federer não corre que nem um doido, não se atira para o chão, não faz 20 ases por jogo, não grita nem geme, não faz winners («pontos ganhantes», bela invenção destas vozes nocturnas da TV Cabo) a torto e a direito, não tem propriamente sorte. São os outros. Jogam mal, falham muito, ficam nervosos. Ou então é só ilusão de óptica: parecem maus, mas temos de dar o desconto. Afinal, do outro lado está Federer, tão calmo e sólido que nem se digna a ter treinador. Este tipo enerva-me.
terça-feira, 6 de setembro de 2005
The Blake show
Até porque nestes torneios de duas semanas é extremamente aborrecido (chato com a potassa) assistir aos jogos de Federer dos primeiros sete dias. O sacana do suíço nem chega a meter a segunda, deixa-se ir em ponto morto, tão morto que, para um olho mais destreinado, parece que está jogar mal e está prestes a perder o jogo, sendo que os ganha, sem excepção, por três sets a zero. O gajo não tem culpa de ser o melhor praticante do desporto que alguma vez se dignou a aparecer, mas a malta paga a assinatura da TV Cabo, há que ter respeito por quem paga e mostrar um bocadinho mais de empenho.
Freddy vs. Jason 5
* (...) What at long last I got to take my parents to visit something modern, Le Corbusier's Marsseille block left us all speechless with shock. Not one of us, not even myself, could believe that this was what I have been admiring in pictures and texts for so long. For weeks I tried to overcome my anavoidable disappointment. I found myself for the first time in my life justifying to my parents something I deeply felt to be unacceptable. (...)
Leon Krier, «Coming to Terms with Janus», Eisenman Krier / Two Ideologies
Bla bla bla
(...) If architects have a unique form of speech, what is it for us to listen? How do we listen in architecture? This is the side of the conversation that is usually left out. For example, we speak of "talking on the phone" but never of "listening on the phone". If two people are talking, the question of listening does not come up. It is almost as if we think of listening as being private, what goes on in the head, and talking is what is public. In pointing to a conversation, we point to that which is visible, that which is public. And because listening is thought of as a private and passive activity rather than a public one, we have not developed the science of listening. We have not thought about the nuances of how to listen. In our field, we have not asked, what is to listen to an architect, or to listen to a building? Architects are so busy talking that they forget to listen. They act as if they do not have time to listen to each other or to their clients. In factm listening to our client is a polemical position. For achitects to declare they are very interested in the unique interests of their clients is already taking a particular position, like Neutra, presenting himself as a especially gifted listener and having himself photographed listening to his clients, blurring the role od the architect and the role of the shrink, the shrink being the paradigm of the listener. Most architects simply pretend they are not listening because it is a sign of strength not to listen, to be the one who talks. As architects get more and more successful, they stop going to conferences that they are not speaking at and spend less and less time listening to the other speakers. They stop listening, even to their own voices, perhaps. (...)
Mark Wigley, «The Art of Listening to Architecture», Eisenman Krier / Two Ideologies
Crítica à Casa da Música
(...) Nada me choca as paredes inclinadas, revestimentos de alumínio ou espaços obtusos, pois não se trata aqui do gosto visual ou do valor plástico, aspectos em que o edifício revela a sua força. Mas importa concluir que, pelo que acima foi dito, tudo se conjuga para que tenhamos a instituição ao serviço do edifício, em vez do edifício ao serviço da instituição. A cultura ao serviço da arquitectura, em vez da arquitectura ao serviço da cultura. A cidade ao serviço da música, em vez da música ao serviço da cidade.
O que não espanta. Rem Koolhaas é um cínico, um «crítico chique», como lhe chama Eisenman, alguém que defende a inexistência de algo como o lugar, que assume um discurso apocalíptico sobre a cidade contemporânea. A sua arquitectura é sempre um statement e, talvez paradoxalmente, hiper-formalista. Koolhaas desenha objectos e entrega a folha com o respectivo texto explicatório. Constrói as paredes e condiciona a reacção. Um panfletário, à boa moda Corbusiana. Alguém que fala muito, mas ouve pouco (ver post acima).
segunda-feira, 5 de setembro de 2005
Paris como exemplo
Uma defesa de Haussmann, um ataque à arquitectura moderna. Tudo à volta da parede de rua e da questão da escala. Vale a pena ler, aqui.
A importância de Fernando Távora: o homem certo na altura certa
Na época em que Fernando Távora atingiu a maioridade na arquitectura, o desafio que se debatia um pouco por todo o lado consistia na resposta à pergunta o que fazer com o Movimento Moderno? O único consenso era que se tinha de fazer alguma coisa. O modelo, porque o Movimento Moderno sempre se baseou em modelos, aparentemente já não servia. E já não servia por duas razões fundamentais: a primeira tinha a ver com a frieza de um estilo que ambicionava ser internacional, como um franchising que se multiplicava; a segunda residia no facto de muitos arquitectos começarem a sentir o espartilho da regra, do livro de instruções. Esse debate gerou, grosso modo, duas saídas: a revisão do modernismo e a negação do modernismo. À primeira chamar-se-ia mais tarde o Regionalismo Crítico, à segunda chamou-se, desde o início, Pós-Modernismo.
Portugal nunca teria dimensão (em quantidade de obras e de autores) suficiente para se tornar palco físico dos dois ensaios. A esta conjuntura intelectual junta-se o período político das ditaduras de direita na Europa, que traziam a sua própria cartilha arquitectónica no bolso do casaco. Salazar advogaria uma arquitectura que pudesse ter escrito Portugal na testa, uma arquitectura da escala doméstica, desenhada ao estilo português, estilo esse que se definiria por caprichos formais e tiques de memória. Em Lisboa, a capital do império, sentava-se Salazar, e talvez por isso a vanguarda tenha encontrado no Porto o ambiente propício para a sua gestação.
Távora viaja (os CIAM) e volta com a cartilha do Movimento Moderno na memória, mas já anotada e preparada para ser revista. Conservador por formação, Fernando Távora embarca na difícil tarefa de seguir a sua convicção, a de que a arquitectura moderna tem, forçosamente, de realizar o seu casamento com o sítio, o contexto, a especificidade portuguesa, ao mesmo tempo que distancia da especificidade portuguesa que se constrói na cabeça do regime. Surge o Inquérito e, surpresa, afinal a arquitectura da história do território português é depurada, funcional, tectónica, delicada, integrada. Salazar apenas vê beirados nos desenhos e a trapaça passa incólume. Estava aberto o caminho para o Regionalismo Crítico em Portugal.
Apesar da sua obra construída, é na sala de aula que a sua influência se fará sentir com maior intensidade. Numa época em que os alunos de arquitectura um pouco por todo o lado ainda bebiam directamente da Carta de Atenas e dos cinco pontos de Corbusier, Távora ensina o que sabe: a extraordinária capacidade de se fazer vanguarda com as mesmas pedras de sempre, as mesmas texturas, e mesma escala. Em Lisboa Teotónio Pereira assumia-se como a grande referência mas, ao contrário de Távora, a sua arquitectura assumia-se como manifesto, de traço mais vincado, nunca esquecendo o activismo como atitude. Por isso o seu percurso far-se-ia mais a solo, com muitos convidados, mas sem a capacidade aglutinadora de Távora para gerar escola.
É quando Siza entra no panorama que Távora vê materializado o seu esforço como educador. A partir da Casa de Chá da Boa Nova (em que, quase metaforicamente, Távora indica a Siza o local da futura obra-prima para, imediatamente depois, se afastar e deixar o discípulo por conta própria) Fernando Távora começa a orientar o seu percurso para a preocupação com o património. Descansado por ver a vanguarda entregue em boas mãos (será Siza quem emprestará de vez o nome ao novo moderno de Portugal), Távora encontrará paz nas pedras do seu país milenar. O trabalho de introdução do modernismo estava feito (anotado, revisto, e reinventado pelas suas próprias mãos). Ideologicamente, Távora sempre foi um peixe fora de águas, e talvez tenha sido essa independência (nem progressista como os seus colegas arquitectos, nem reaccionário como o seu país aristocrata) que o tenha libertado para o essencial. E por ter partilhado essa essência, por ter sabido comunicá-la como ninguém, Portugal tem hoje uma identidade arquitectónica que se sabe única e extremamente moderna.
Ontem morreu uma parte importante do século XX português. Mas, felizmente, ficaram e ficarão as pedras para contar a história.
sábado, 3 de setembro de 2005
Fernando Távora (1923-2005)
Pormenor da imagem de capa da Arquitectura e Vida nº37 (Abril 2003)
Público.pt: Morreu o arquitecto Fernando Távora
DN: O mestre da nossa arquitectura
JN: Morreu o arquitecto da modernidade
A ler também, no Público (sem link), os artigos de hoje.
Maestria, imponência, classe
Always use a condomínio
Ponto de situação no US Open
*Não é só pelo contraste de hoje, perante Federer, que afirmo isto. Santoro bate a direita com duas mãos. I rest my case.
Sondagem muito pouco científica
sexta-feira, 2 de setembro de 2005
Verdade: aos jovens católicos que foram à Alemanha ver o Papa (mau sítio para ver o Papa - sinal dos tempos?) falta estilo. Um pouco do charme discreto dos subúrbios no qual os evangélicos são prósperos. Mas o que aborrece de morte os críticos destas jornadas é o facto de ser possível juntar mais de um milhão de gente nova sobre outra inspiração que não o sex, drugs and rock'n'roll.
O Maio de 68 não tolera o Agosto de 05.
Katrina
Ritmos
- Prefiro.
- Era incapaz.
- Sou incapaz de aqui continuar.
- Não percebo, é que aqui a vida é muito mais calma.
- Exactamente. A vida aqui é muito calma.
«É impossível estarmos tristes com uma vista daquelas»
quinta-feira, 1 de setembro de 2005
Público, privado, e patine
À partida não acredito que sejam opção do arquitecto, (que tem uma forte responsabilidade social), mas sim do promotor, que consegue desta maneira, vender "mais" qualidade e uma falsa segurança.
Quase parafraseando, poderíamos afirmar que se trata de levar o modelo da violentíssima cidade do Rio de Janeiro para Lisboa...
Pedro Duarte Bento, postHABITAT
Só estranho, neste texto, que o Pedro Duarte Bento não acredite que o condomínio fechado seja uma opção do arquitecto, atribuinto a este uma «forte responsabilidade social». Talvez até assim seja, mas confesso que não partilho desta atribuição de um suposto código ético à classe dos arquitectos que os impede de fazer coisas más. Mas há aqui uma atitude de base que acho mais importante: esta consideração de que o arquitecto é sempre um defensor do público face ao privado, estando aqui implícita uma conotação moral antagónica. Se assim é, então as sucessivas queixas (com bastante fundamento) dos arquitectos sobre os respectivos maus pagamentos deixam de fazer sentido. O que é absurdo. Se a lei permite a construção de um condomínio privado e essa for a vontade do promotor, não vejo razão para nos lamentarmos. Pessoalmente condidero tudo o que sejam tentantivas para manter as pessoas no centro da cidade muito benvindas. Classe alta incluida, o centro não é só para os jovens. Se há um mercado que pede condomínios privados, então que se façam os ditos cujos. No entanto, e ao contrário do que parece ser o senso-comum, não acredito que os condomínios privados urbanos possam competir com os da periferia, que terão sempre melhores condições. Por isso os condomínios privados urbanos serão sempre absorvidos pela cidade que os rodeia. Preocupa-me mais, isso sim, os inúmeros edifícios degradados do centro de Lisboa. Se os substituissem por condomínios acho que ficávamos todos a ganhar.
P.S: Que fique claro que eu não gosto do modelo de condomínio. Não me imagino feliz num sítio desses. Mas esta minha opção não pode ser argumento para os ilegalizar. Mais do que não gostar dos condomínios, não gosto de quem os quer deitar todos abaixo. Porque a cidade ainda é o sítio mutável de congregação da diversidade.
Novo
Don't shoot the messenger
* Jorge Figueira, Agora que tudo está a mudar. Arquitectura em Portugal, ed. Caleidoscópio (2005)
O homem do banjo
Sufjan Stevens. Illinois. «Chicago», que está por estes dias na playlist da Radar, foi o que resultou comigo. Experimentem.
Parem as rotativas
Preparem-se. A cultura está aí a bater à porta e a preparar-se para o beija-mão. São as presidenciais. Soares será o candidato da cultura, dos artistas, dos intelectuais, do pessoal cosmopolita, dos universitários. Suponho que Cavaco, se avançar, arregimentará apenas o que sobrar dos jogos florais. Ah, o Portugal da Cultura já está em bicos de pés. Preparem-se para mais uma lavagem, se ainda tiverem paciência.
O Francisco José Viegas está de volta.
Soares é frouxo
(...)
O problema não é Soares não saber de economia, é que ao se vangloriar de não o saber, está a dizer-nos que a economia não é um factor ou um revelador fundamental na crise . Aliás não custa perceber que se Soares fosse PM não daria prioridade ao controlo do défice (sim Soares pronunciou-se sobre a governação e não vi ainda ninguém protestar sobre isso). Frases como esta – “a economia está ao serviço das pessoas e não as pessoas da economia” – em Portugal não significam outra coisa. Não será dele que virá qualquer apoio ao governo para reformas difíceis, bem pelo contrário. Às ideias jacobinas como as de Soares devemos muito da crise, não se espera que delas venha a solução.
MÁRIO SOARES, JESUS, FINANÇAS E BIBLIOTECAS, JPP in Abrupto