quinta-feira, 1 de setembro de 2005

Público, privado, e patine

(...) Mas apesar de tudo, são mais os condomínios privados de nome do que de génese. São assim baptizados pelos ávidos promotores, apenas porque existe uma sala comum com aparelhos de musculação ou um segurança 24h/dia.
À partida não acredito que sejam opção do arquitecto, (que tem uma forte responsabilidade social), mas sim do promotor, que consegue desta maneira, vender "mais" qualidade e uma falsa segurança.
Quase parafraseando, poderíamos afirmar que se trata de levar o modelo da violentíssima cidade do Rio de Janeiro para Lisboa...

Pedro Duarte Bento, postHABITAT

Só estranho, neste texto, que o Pedro Duarte Bento não acredite que o condomínio fechado seja uma opção do arquitecto, atribuinto a este uma «forte responsabilidade social». Talvez até assim seja, mas confesso que não partilho desta atribuição de um suposto código ético à classe dos arquitectos que os impede de fazer coisas más. Mas há aqui uma atitude de base que acho mais importante: esta consideração de que o arquitecto é sempre um defensor do público face ao privado, estando aqui implícita uma conotação moral antagónica. Se assim é, então as sucessivas queixas (com bastante fundamento) dos arquitectos sobre os respectivos maus pagamentos deixam de fazer sentido. O que é absurdo. Se a lei permite a construção de um condomínio privado e essa for a vontade do promotor, não vejo razão para nos lamentarmos. Pessoalmente condidero tudo o que sejam tentantivas para manter as pessoas no centro da cidade muito benvindas. Classe alta incluida, o centro não é só para os jovens. Se há um mercado que pede condomínios privados, então que se façam os ditos cujos. No entanto, e ao contrário do que parece ser o senso-comum, não acredito que os condomínios privados urbanos possam competir com os da periferia, que terão sempre melhores condições. Por isso os condomínios privados urbanos serão sempre absorvidos pela cidade que os rodeia. Preocupa-me mais, isso sim, os inúmeros edifícios degradados do centro de Lisboa. Se os substituissem por condomínios acho que ficávamos todos a ganhar.

P.S: Que fique claro que eu não gosto do modelo de condomínio. Não me imagino feliz num sítio desses. Mas esta minha opção não pode ser argumento para os ilegalizar. Mais do que não gostar dos condomínios, não gosto de quem os quer deitar todos abaixo. Porque a cidade ainda é o sítio mutável de congregação da diversidade.