domingo, 30 de setembro de 2007

Efeméride

Amanhã terão sido decorridas 224 semanas e 6 dias desde o fim d'A Coluna Infame.

sábado, 29 de setembro de 2007

Não foi e passou a ser; foi e passou a não ser



Paulo Bento na conferência de imprensa a dizer que a haver algum vencedor no jogo de hoje seria o Sporting, e que a sua equipa foi escandalosamente prejudicada pela arbitragem.

Luís Filipe

E pronto. Espera-se agora um ciclo de bitórias para o PSD.

A piada é fácil? É. Eventualmente gratuita? Sim. Boçal? Talvez. E tem piada? Tem. E eu estou com pressa, tenho de ir buscar o meu sobrinho. Se calhar vamos ao Oceanário. Não tenho tempo para isto. Viva o Benfica.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Sontag

What the word intellectual means to me today is, first of all, conferences and roundtable discussions and symposia in magazines about the role of intellectuals in wich well-known intellectuals have agreed to pronounce on the inadequacy, credulity, disgrace, treason, irrelevance, obsolescence, and imminent or already perfected disappearance of the cast to which, as their participation in these events testifies, they belong.

Answers to a Questionnaire, Susan Sontag, em Where the Stress Falls

An attractive stranger

They have imagined living in unattainably expensive houses pictured in magazines and then felt sad, as one does on passing an attractive sranger in a crowded street.

Alain de Botton, The Architecture of Happiness

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Nem o Rodrigo Guedes de Carvalho, pá?

«Não tenho a menor dúvida de que não há, na língua portuguesa, quem me chegue aos calcanhares.
E nada disto tem a ver com vaidade porque, como sabe, sou modesto e humilde.»

António Lobo Antunes, citado pelo Francisco José Viegas

O que eu acho mais interessante nesta citação (e não lhe conheço o contexto) é a subtileza de ALA ao referir-se à «língua portuguesa», incluindo assim nesta sua certeza toda a literatura africana, por exemplo, e sobretudo brasileira.

Santana

E esta? Por muito que não gostemos de Santana Lopes, e não gostamos, é inegável que o seu comportamento de ontem foi um óptimo exemplo daquilo que os políticos muito apregoam mas nunca cumprem: sentido de estado.

Nozes a quem não tem dentes

Sempre que preciso de ir ou sou chamado aos correios, invade-me uma sensação de elitismo que nem vos passa. Ou, para sermos mais correctos, uma sensação de fortuna abençoada, de que sou um dos privilegiados. Isto porque a minha estação é no Terreiro do Paço - é mesmo, não me venham com tretas republicanas, o nome da estão é oficialmente «Terreiro do Paço». Para quem não sabe, o Terreiro do Paço é a praça mais bonita do mundo, mesmo agora que está sujeita a inúmeras agressões. Não percebo como é que aquela gente (os commuters) atravessa a praça apressadamente, como se estivessem na estação do Campo Grande ou no Interface da Pontinha. Vejo-os em passo acelerado, logo pela manhã, ansiosos por chegar à paragem de autocarro ou à estação de Metro. Não percebo como não param todos junto a D. José I num embasbacamento colectivo, sobretudo nestes dias de sol ameno, e agradecem a Deus (ou a quem quiserem, embora agradecer a Deus sempre é mais imediato) a benção que lhes foi concedida que é terem o Terreiro do Paço como parte do seu itinerário diário. Eu sei que agradeço. Como agradeço a visita que fiz há uns tempos a um gabinete do Ministério da Justiça, no primeiro andar com vista para a praça, janela dupla num isolamento sonoro perfeito. Aí percebi o atraso da justiça em Portugal: se eu tivesse aquela vista também não trabalhava, e o meu ímpeto reformista estaria bem mais apaziguado.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Confissão

Não faço a mínima ideia do que quis dizer com a última frase do post que precede este. E já é tarde demais para tentar percebê-lo e, quiçá, naquilo que seria demasiado empenho para uma actividade não remunerada, emendá-lo. Sorvete. Arreliar. E cá está, três palavras que só oiço da boca da minha avó.

De hooligan para hooligan

Caro Francisco,

Eu não vi nenhuma repetição esclarecedora, muito menos a terá visto o fiscal de linha que passou pelo infortúnio de ser obrigado a assistir a este paupérrimo jogo sem ser no conforto do seu sofá que, como o de qualquer português de classe média que se preze - e estou a admitir que o fiscal não seja rico o suficiente para não ter de se submeter a estas maçadas; e que não seja parvo o suficiente para não ter roubado o seu caminho até, vá lá, à classe C+ - foi comprado no IKEA e portanto deve ser muito bonito. Sob pena de estar a pregar na freguesia errada, não posso deixar de trazer à baila a memória estatística: o árbitro Duarte Gomes - que roubou um penalti escandaloso hoje, admitamos sem conceder for the sake of argument - foi o mesmo que apitou um penalti de Jardel na Luz (2-2 resultado final, a favor do Sporting) e um penalti de Silva (o pistoleiro) na mesmíssima luz, logo na madrugada de um jogo que ficou viciado para acabar em 1-3. Por isso, que Duarte Gomes tenha decidido redimir-se dos seus pecados só lhe fica bem; e que o tenha feito à custa do Estrela da Amadora só deveria ser motivo de agradecimento por parte dos adeptos do Sporting. O que é que isto tem a ver com o FC do Porto? Eu sempre fui uma pessoa muito religiosa: o apocalipse é para mim uma inevitabilidade, e eu espero que todos nós lá cheguemos devidamente lavados e enxaguados, puros e absolvidos, tendo perante dos nossos olhos as evidências celestiais que nos foram reveladas na Cova da Iria.

Da previsibilidade

Aposto que, se o Yu Dabao marcar hoje um golo, o Rodrigo Moita de Deus saca um trocadilho com a Maria José Nogueira Pinto metida ao barulho.

O Sting, o Sting a fazer covers do Sting e o filho do Sting

Se eu tivesse ido ao concerto de ontem e fosse mulher (concordância de género) era isto que escreveria.

Ou:

Não fui ao concerto de ontem porque sei que se tivesse ido era isto que escreveria*.

* Isso e os 50 euros.

P.S: O filho do Sting tem 30 anos. Eu sei que é difícil de acreditar, mas um dia eu também vou querer ter um filho de 30 anos que se orgulhe do facto do pai praticar sexo tântrico.

Charlie Rose

Não sei se é por ser uma versão beta, mas os arquivos do Charlie Rose têm horas e horas de conversas com, bem, com quase toda a gente, disponíveis gratuitamente. É só uma dica, cada um sabe de si.

Bring back

«We've got a lot of good ones [candidatos à Casa Branca]. There's Governor Vilsack of Iowa - he'd bring back the Midwest. There's Joe Biden - he'd bring back the national-security voter. And there's Hillary Clinton - she'd bring back the White House furniture.»

Bill Richardson, candidato hispânico à nomeação Democrata, num discurso de 2005 relembrado na Economist

terça-feira, 25 de setembro de 2007

18.04.1967



Maria Bello, 18 de Abril de 1967

(...) varrer da blogosfera referências a actrizes que pareçam ter menos de 20 anos (...)

A décima-oitava



Um dos aspectos que nos liga aos The National é o carácter serôdio do seu sucesso. Foram precisos dois álbuns e um EP para se chegar a Alligator, e terá sido necessário passar por Alligator para se chegar a Boxer. Não se trata do fenómeno vinho do porto: os The National não estão a melhorar com a idade; estão a melhorar com a experiência. Os calos são evidentes na voz de Matt Berninger, e a idade não é algo que se carrega, mas em vez disso é algo que carrega enúmeros pretextos para se escrever canções. Devemos desconfiar de quem tem sucesso à primeira? Não. Mas como em tudo na vida, por muito boa que seja a primeira vez, não se compara com a décima-oitava.

«George Bush at his worst is preferable to Gerhard Schröder or Jacques Chirac»

Run, Al, Run: If Gore wins the Nobel Peace Prize, will he run for president?, por Christopher Hitchens.

A nossa malta



Uma das vantagens de se ler Our Gang hoje é a de que nos podemos abstrair de Richard Nixon. Não tenho idade para ter memória de Nixon e, para ser sincero, é uma personagem que nunca me interessou. Por isso, as colagens à musa inspiradora não existem, e o discurso tem de valer por si. Our Gang é uma sátira ácida à administração Nixon, certo, mas é sobretudo um tratado humorístico sobre o discurso político, seja ele nixoniano ou outro qualquer. Na contra-capa diz-se que é a melhor sátira política desde Animal Farm, de Orwell, o que é uma comparação feliz (ainda que eu ache que Animal Farm saia a ganhar). Recomenda-se vivamente, para quem se quer manter atento e não receie umas valentes gargalhadas.

Não-inscrição



Um edifício de Zaha Hadid com 10 anos (via Daily Dose, cortesia d'odespropósito)

Uma perfeita ilustração do carácter imediatista e superficial da arquitectura contemporânea. Com a redução da prática à criação de imagens para publicação, a vida do edifício passou a ser um instante, o da inauguração. Passaram-se 10 anos. Se demolissem este edifício ninguém protestaria. Quando está fora dos jornais, está fora. Venha o próximo. De preferência antes da construção, assim em imagens computorizadas imunes à oxidação. Como se diz? A não-inscrição. A não-inscrição da arquitectura moderna.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Escatologias



Um dos princípios fundadores deste blogue é não postar vídeos com contenham ou façam referência a Ricardo Araújo Pereira, em defesa do não-afunilamento do espectro de conteúdos e da manutenção de alguma, como direi, originalidade. Como podeis observar, acabo de abrir uma excepção, pois acredito que estamos perante um ponto de viragem na carreira de RAP, comparável com o primeiro sketch no Perfeito Anormal - A Minha Vida Dava Um Filme Indiano - onde muitos, eu incluído, puderam constatar pela primeira vez a sua espantosa semelhança com Adam Sandler. Há momentos neste vídeo, vertiginosos, em que se percebe uma convulsão física e de carácter digestivo na cara do Ricardo, em que tudo pode descambar sem aviso prévio, assim, zás, a destruição da reputação de um artista com recurso a pedaços de pudim flan brevemente mastigados. Ou seja, o humor foi aqui levado a um limite quase escatológico, o que acho ser inédito em Portugal. Isto se não considerarmos Os Malucos do Riso como pura escatologia, mas aí a natureza do carácter escatológico do humor é necessariamente outra, mais envolvida com o que foi preciso escrever para se chegar àquele ponto.

O Código da Estrada

Acabei de ouvir Marques Mendes, em entrevista ao Rádio Clube, dizer que está «mais próximo» de Manuel Alegre do que José Sócrates, porque, «sabe, eu sou um social-democrata com fortíssimas preocupações sociais.» Ficámos a saber que Marques Mendes é um cumpridor radical do código da estrada: ultrapassagens só pela esquerda.

O Meia-Hora

Não tenho grande opinião sobre os jornais gratuitos. Isto é o mesmo que dizer que não confio no optimismo daqueles que dizem «ao menos as pessoas estão a ler alguma coisa». Se me perguntarem, prefiro que não leiam nada a ler o Destak. Ainda assim, não sou capaz de negar que há uma dessas publicações que salta fora da mediania geral: o Meia-Hora. É um jornal sóbrio, curto, de tom profissional, não tablóide, centrado nos temas políticos, nacionais e internacionais, com bons colunistas (Filomena Mónica e Luciano Amaral, por exemplo). É o único que me consegue uns minutos de atenção. Ora, isto tudo para chegar onde quero chegar. Há tempos vi uma entrevista com o director do Meia-Hora onde este explicava o target (acho que é assim que se diz) do jornal: as classes A e B. Isto é muito estranho. Serei o único a desconfiar deste conceito? Um jornal gratuito para as classes A e B? Para meditar.

domingo, 23 de setembro de 2007

Cate... cismo?

O que assusta neste post de Carlos Abreu Amorim é dá a entender que o autor acha que Ricky Gervais está a falar a sério. Ou seja, como se não bastasse vermos o ateísmo reduzido ao stand-up, percebemos que CAA relega o humor de Gervais para um segundo plano, tornando-o apenas num veículo para a desmontagem (oh, necessária, é preciso acordar as consciências) do livro do Genesis. Até certo ponto, é enternecedor.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

smoke and mirrors / special effects / a little fear a little sex

O Estado Civil, simultaneamente o blogue mais confessional e mais profissional do Pedro Mexia*, faz (ou fez) 2 anos de existência. Assinalar isto é apenas marcar um ponto no fim da frase, a meio de um parágrafo, num dos primeiros capítulos do livro, mas não deixa de ser essencial.

* Talvez devesse dizer o blogue profissionalmente confessional.

À atenção de Paula Bobone

Também uso frequentemente essa técnica, sobretudo em casamentos. A minha mulher* tenta sempre impedir-me zelando por algum bom-senso social, através de pisadelas e beliscões, mas de vez em quando lá salta a questão do casamento dos homossexuais ou da ordenação das mulheres no seio (ah, nunca a palavra foi tão bem aplicada) da Igreja Católica. Tenho uma especial afeição por este último tema, pois tenho vindo a aprender que é uma win-win situation: nunca vi ninguém defender a exclusividade masculina sem recorrer a interpretações literais da Bíblia, o que é sempre engraçado. E se vais lançar uma bojarda para cima da mesa (literalmente), arruinando a tua reputação aos olhos de desconhecidos, mais vale que saias de lá vencedor.

Faço tenções (ah, como o maradona escreveria «tensões») de usar esta expressão o maior número de vezes possível.

O que para aí vai

O futebol é o futebol e não há mais nada no futebol para além do futebol é também dizer que a moral do futebol é a moral do futebol.

maradona

Dos jogadores da bola

Desde que deixei de ver televisão que me sinto alheado das conversas sobre coisas que as pessoas vêem nos telejornais, forçando-me a proferir aquela frase tantas vezes repetida pelos jogadores da bola nos meses de Junho e Dezembro: só sei o que vem nos jornais.

Desta luta

Acho que posso ser um deísta. Não me orgulho, mas não posso negá-lo. E isto é triste, porque me parece que um deísta é um crente que perdeu a fé, e eu ainda não estou preparado para assumir que perdi a fé. Desta luta ainda não desisti.

La Poétique de l'espace

Não é raro ouvirmos comensais amigos a confundir poesia com versos que rimam e que têm muita graça. O Mário, dizem, tem um jeitão para a poesia, faz-te umas estrofes de um minuto para o outro sobre qualquer coisa e com imensa graça. Há tempos, um antigo colega de liceu, que acabou por ir parar ao cinema (filma Maios de 68 em Alfama, segundo me explicou), disse-me que sempre se interessou pela arquitectura mas que nunca ponderou seguir a carreira porque o que lhe interessava era o lado poético da arquitectura. Infelizmente, este lado poético não são estrofes a rimar: são uma honesta tentativa de conferir significado e intenção artística ao tijolo argamassado. Digo infelizmente porque é isso que qualquer um de nós aspira fazer, e que só alguns conseguem. Quando na maior parte das ocasiões, e é isto que ninguém diz, tudo o que é necessário são umas estrofes que rimem e que tenham alguma graça.

* La Poétique de l'espace é um livro notável de Gaston Bachelard. Parece ser sobre edifícios, mas é sobretudo sobre a nossa alma.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Draft

O que é ser-se viciado no blogue? É construir, durante o almoço e com a Economist na mão*, mentalmente um post pré-datado, título e vírgulas incluídos. 11 dias, para ser preciso.

* Não digam nada. A revista agora chega lá a casa pelo correio. I married a socialist.

What's in a name (2)

O português (e sim, generalizo) adora ver-se retratado de forma negativa.

Sérgio Lavos, uma pessoa que escreve muito bem, e que se a vida fosse um romance escrito por mim seria o mesmo Sérgio Lavos do União da Madeira. Infelizmente, não deve ser.

What's in a name

No outro dia disseram-me (não estou aqui para denunciar ninguém) que eu poderia ser jogador de râguebi. Não pelo físico - por muito que me esforce a minha barriga só me consegue uns tímidos 80 quilos na balança - mas por algo que sempre me atormentou, que carrega uma conotação que me precede em todas as ocasiões. No entanto, em quase tudo o resto, estou muito grato aos meus pais.

Acordei generoso

Ricky Gervais Politics Tour Live 1
Ricky Gervais Politics Tour Live 2
Ricky Gervais Politics Tour Live 3
Ricky Gervais Politics Tour Live 4
Ricky Gervais Politics Tour Live 5
Ricky Gervais Politics Tour Live 6
Ricky Gervais Politics Tour Live 7

(Seguindo esta dica do Pedro Marques Lopes)

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Deus na Cruz-Quebrada

Federer confirmado no Estoril-Open 2008.

Campo de Ourique vs Chelas

In making innovation and experiment into the norm, while waging war against ornament, detail, and the old vernaculars, modernism led to a spectacular loss of knowledge among ordinary builders and to a pretension to originality in a sphere where originality, except in the rare hands of genius, is a serious threat to the surrounding order.

(...)

Because architecture is a practice dominated by talentless people, manifestos and theories of the kind the modernists proliferated are especially dangerous, for they excite people to be bold and radical in circumstances where they should be modest and discreet. The modernists discarded millennia of slowly accumulating common sense for the sake of shallow prescriptions and totalitarian schemes. When architects began to dislike the result, they ceased to be modernists and called themselves postmodernists instead.

(...)

The modernist program focused on work, discipline, and the regimented life of the new proletariat: Le Corbusier's definition of a house as a "machine for living" says more about his conception of life than his ideal of architecture. Life, for the modernists, was all work and no play, with just an occasional stroll outside for hygienic reasons.

(...)

The effect shows a freedom from constraint that reminds you why constraints are a good idea.

(...)

Our present need is not for the uncoordinated and dislocated architecture that the postmodernists would wish on us but for an architectural grammar that would permit talentless people once again to build inoffensively.

Excertos de After Modernism, de Roger Scruton, que não dispensam a leitura completa

A arquitectura actual despreza o seu carácter público em detrimento da manifestação artística que possa representar. O discurso arquitectónico está colado ao discurso artístico; e a discussão política está vergada à força mercantil que os arquitectos passaram a representar. De um certo modo, os arquitectos não percebem os limites da sua acção, porque não estão dispostos a aceitar que só o talento extremo pode justificar a excepção. É este ponto que Roger Scruton defende bem. Scruton não gosta da arquitectura moderna, mas não gosta sobretudo daquilo que ela advoga: uma cultura desenfreada no novo, um culto pela originalidade, uma negação do vernacular, etc, etc, e todos conhecemos o resto. Onde eu discordo é na solução. Scruton defende um regresso aos modelos que sabemos que funcionam. O clássico e o vernacular, ambos com uma aceitação popular alargada. Obviamente, não posso estar de acordo com isto, mas não deixo de recomendar vivamente este texto de Scruton, que explica muito bem o porquê do falhanço do modernismo. E não me venham dizer que não falhou.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

O paradoxo

O ateísmo decide tomar como provado um facto (a não existência de Deus) através da impossibilidade de se provar o seu contrário. Eu prefiro não excluir uma hipótese improvável, com todas as implicações que essa improbabilidade impõe (a separação entre o Estado e a Igreja, por exemplo). Ao querer impor um facto impossível de provar, o ateísmo comete a imprudência de se deixar entrar no campo da fé, e fica refém de todas as reservas que levanta sobre a religião. Talvez devesse olhar com mais atenção para a religião, e perceber que nestas coisas a dúvida tem um papel muito mais preponderante do que a certeza. Em vez disso, o ateísmo tem a pretensão de se apresentar como conclusão lógica de um dado conjunto de premissas incontestáveis.

Não há volta a dar: um ateu e um religioso estão condenados a discordar eternamente. Sob o olhar atento de Deus.

Scruton

Architectural modernism rejected the principles that had guided those who built the great cities of Europe. It rejected all attempts to adapt the language of the past, whether Greek, Roman, or Gothic: it rejected the classical orders, columns, architraves, and moldings; it rejected the street as the primary public space and the facade as the public aspect of a building. Modernism rejected all this not because it had any well-thought-out alternative but because it was intent on overthrowing the social order that these things represented—the order of the bourgeois city as a place of commerce, domesticity, ambition, and the common pursuit of style.

Modernism in architecture was more a social than an aesthetic project. Le Corbusier, the Russian constructivists, and Hannes Meyer when director of the Bauhaus claimed to be architectural thinkers: but the paltriness of what they said about architecture (compared with what had been said by the Gothic and classical revivalists, for example) reveals this claim to be empty. They were social and political activists who wished to squeeze the disorderly human material that constitutes a city into a socialist straitjacket. Architecture, for them, was one part of a new and all-comprehending system of control. (...)

After Modernism, Roger Scruton

domingo, 16 de setembro de 2007

Marx was right all along

Perante isto, torna-se insustentável continuar a insistir na morte da sociedade de classes.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Hitchens no Daily Show

Podia começar por garantir que este era o último post sobre Christopher Hitchens, mas não posso. Quero só apontar para os vídeos de 3 presenças suas no Daily Show. No mais recente, Hitchens responde assim à pergunta de Jon Stewart «How are you?»: «It's a bit early to say.»

Aquele em que Hitchens aparece de barba é dedicado ao Daniel Oliveira.

E, ao sexto dia, o Homem fez Deus

Um dos argumentos centrais na tese ateísta de Hitchens (e não só, Saramago, por exemplo) é este: Deus, ou deus, é «man-made», ou seja, criado pelo Homem. Não chega a ser um argumento, na realidade, é apenas um facto que se impõe a qualquer ateu. Ora, o curioso é que eu, sendo crente, estou disposto a concordar com essa premissa. No que eu divirjo dos ateístas é no facto de não excluir a existência de facto de Deus, apesar de estar disposto a aceitar que a nossa ideia de Deus foi criada por nós, e por isso sujeita a mutações impostas pela conjuntura histórica.

Decidi comprar God is Not Great, pois acho que já lhe percebi o tom. Vou ter coisas para dizer. Sem querer pôr o carro à frente dos bois, acho que Hitchens está a confundir coisas que não deve confundir. Ou seja, Hitchens não está disposto a separar a «Religião» das manifetações políticas daqueles que dizem agir em seu nome. Mas esperaremos calmamente a volta do correio.

Galvão da man

«The Big One»?

E «fino observador da realidade»? Quando quiseres passa pela tesouraria para levantares o teu cheque.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

O Pereira

Francisco José Viegas, na sua coluna de crítica do mundo da restauração na NS' de 28 de Julho, afirma, a propósito do fabuloso Pereira, em Cascais, que «o mundo ainda não está totalmente perdido». Acontecimentos que presenciei e protagonizei hoje levam-me a concluir que, apesar de concordar com FJV na essência da sua afirmação, será talvez mais sábio reformular a frase para «o mundo já esteve mais longe de estar totalmente perdido.»

Pouco passava das nove e meia da manhã quando, à saída do Metro, corrijo, ainda dentro do túnel de saída do Metro, me preparava para ultrapassar um casal de jovens muito loiros. Ele misturava o couro cabeludo de um surfista com o cabedal de um jogador de râguebi, e não teria mais do que 20 anos; ela claramente estava sub-vestida dada aquela hora da manhã (ainda que considerando o calor) e era mais nova talvez em 2 anos. Os dois aparentavam ser estudantes do externato que há ali perto, aquelas escolas privadas destinadas a subir a média do secundário aos estudantes calões, que pagam por valor, por disciplina. Apesar de estar com os auriculares do iPod no sítio para onde foram concebidos, não deixei de ouvir o que se passou a seguir. Subitamente pararam os dois, ou parou ela primeiro, forçando-o a parar e a voltar para trás. Não ouvi a conversa que os levou até àquele ponto - relembro que estava a ouvir música - mas o grito que ela deu foi bastante perceptível: «Estúpido!» A bem da verdade deveria perder algum tempo a descrever o tom com que isto foi dito, pois acho que é mais relevante para o desenrolar da história do que o significado da palavra em si, mas infelizmente falta-me o fôlego. O mesmo tom foi usado por ele, não tinha passado um segundo, no seu contra-ataque: «Puta!». Indiferentes às outras pessoas que partilhavam com eles aquele túnel (sendo nove e meia da manhã não eram poucas), continuaram a trocar argumentos - estúpido! - e pontos de vista - puta! - até os deixar de ouvir. A saída do Metro fica no trajecto que liga o café para onde me dirigi e o meu local de trabalho, pelo que quanto passei de novo pelas escadas que dão acesso ao túnel, reparei que o casal ainda ali estava, talvez há dez minutos, e que o conteúdo da sua conversa não tinha mudado. Era ele que falava e tinha agora entrado nos diminutivos, embora não carinhosos: «Ai minha puta, minha puta, minha putinha».

O senhor que me calhou à frente na fila do supermercado, já ao fim do dia, tinha idade para ser meu avô, ou pelo menos não escandalizaria assim fosse. Segurava um conjunto de 6 pacotes de leite, um saco com fruta, e mais qualquer coisa que não identifiquei. A fila era relativamente longa dada a exiguidade do espaço, e avançava lentamente. A dada altura, o senhor teve de abrir a mala que tinha consigo por motivos que só o interessavam a ele. Pousou o que segurava no chão, pois os movimentos necessários para abrir e fechar a mala requeriam a atenção de ambas as mãos. Como percebeu que essa actividade poderia atrasar o andamento da fila, convidou-me a passar à frente, convite a que acedi por não saber das suas intenções com a mala. Veio a revelar-se apenas uma consulta fugaz, e rapidamente o senhor estava de volta a posição de espera na fila. Quando me apercebi disto, que foi imediatamente pois tinha-me deixado em alerta, sugeri que o lugar que eu deveria ocupar na fila era o original, ou seja, imediatamente atrás do contemporâneo dos meus avós. O que se seguiu foi uma troca de pontos de vista discordantes sobre as nossos respectivas posições, discussão amigável que acabou com a minha derrota: cedi à amabilidade do meu companheiro de fila e deixei-me ficar à sua frente, com a consciência tranquilizada pela escassez daquilo que me preparava para comprar. A fila era única para duas caixas, ou assim o pensávamos os dois - pois o seu argumento final para me convencer a permanecer à sua frente foi o de que, e cito, havia «duas caixas». Imediatamente depois disto dois homens, mais novos, bastante mais novos, mostraram que discordavam desta nossa conclusão e precipitaram-se para a caixa da esquerda, não nos deixando outra alternativa que não esperar pacientemente a nossa vez na caixa da direita. Não sei porque não disse nada, mas a verdade é que a situação me incomodou, sobretudo porque tornou evidente que o exemplo de civismo que eu acabara de receber do simpático velho representara um modo de estar que cada vez colhe menos adeptos, e que, mais grave, parece que só prejudica quem o segue.

Durante a cena no supermercado veio-me à cabeça a cena no Metro, e tudo isto me entristeceu. «Houvesse mais velhos», não pude deixar de pensar, «que se lixe a sustentabilidade da segurança social.» Por isso é que acho que o mundo já esteve mais longe de estar perdido. Mesmo que frequentemos mais assiduamente o Pereira, se isso não se nos apresentar como um acto desesperado de hedonismo selvagem por parte de alguém a quem lhe foi revelado o iminente apocalipse.

Twenty-two years

Standing at the punch table swallowing punch
can’t pay attention to the sound of anyone
a little more stupid, a little more scared
every minute more unprepared

I made a mistake in my life today
everything I love gets lost in drawers
I want to start over, I want to be winning
way out of sync from the beginning

I wanna hurry home to you
put on a slow, dumb show for you
and crack you up
so you can put a blue ribbon on my brain
god I’m very, very frightening
I’ll overdo it

Looking for somewhere to stand and stay
I leaned on the wall and the wall leaned away
Can I get a minute of not being nervous
and not thinking of my dick
My leg is sparkles, my leg is pins
I better get my shit together, better gather my shit in
You could drive a car through my head in five minutes
from one side of it to the other

I wanna hurry home to you
put on a slow, dumb show for you
and crack you up
so you can put a blue ribbon on my brain
god I’m very, very frightening
I’ll overdo it

You know I dreamed about you
for twenty-nine years before I saw you
You know I dreamed about you
I missed you for
for twenty-nine years

Slow Show, The National

That being said

Pacheco Pereira / MEC? Bom, muito bom, admito. Mas nenhum deles tem aquela arrogância mal-criada de Hitchens (que é um dos meus pontos favoritos). Mas também eu não tenho tempo para isto (por enquanto). Queria só mesmo dizer (porque é preciso esclarecê-lo) que também acho que God is Not Great - sem ter lido o livro - é uma coisa hiper-oportunista e, digo-o mesmo, nada condizente com Hitchens. E acrescento que sempre que vejo Hitchens debater religião, discordo em quase tudo, mas não consigo evitar ficar a torcer por ele: primeiro o estilo, só depois o conteúdo.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Uma questão sem discussão

É evidente que Scolari, quando acordar amanhã, já não pode ser seleccionador nacional. Não tanto pela incompetência técnica - que é flagrante, é constrangedor ver alguém cometer os mesmíssimos erros com 4 dias de intervalo - mas porque aquilo não se faz. Não se faz, ponto.

São umas atrás das outras

As vírgulas

Já nem digo um curso superior: não percebo como é que, a escrever desta maneira, Pedro Santana Lopes acabou o liceu.

I want to congratulate you on being the person who has confused me the longest



(ilustração de André Carrilho)

On the Limits of Self-Improvement, Part I, por Christopher Hitchens (obrigado Tiago e Francisco.)

E, ou mas, tenho uma coisa melhor: os MP3 da presença de Hitchens numa coisa chamada Book-Tv, da C-SPAN. Como se sabe, o melhor de Hitchens é a voz (o tom, o accent, scotch, a dicção, está lá tudo). Mais: às tantas, uma telespectadora liga e decide abrir deste modo as hostilidades:

«I want to congratulate you on being the person who has confused me the longest.»

Ao que Hitchens diz: «Oh!», com ponto de exclamação e tudo.

O vídeo está aqui.

É oficial: estamos na Hitchens Week.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Learning from India

Só mais uma achega: correr com os chineses, nada contra. Mas por favor não corram com os indianos. Há uma mercearia indiana na Rua dos Fanqueiros, a dois quarteirões de minha casa, que tem sido a minha safa em muitas ocasiões: o estabelecimento está aberto até às 9 da noite - 9 da noite - sábados e domingos incluídos - domingos incluídos. E quando lá chegamos um pouco depois da hora, digamos, às 9:15, nunca batemos com o nariz na porta: a porta é-nos aberta e, para não sujar o chão que está a ser lavado, a senhora vai pessoalmente buscar aquilo que precisamos. Com um sorriso na cara. E a secção do caril é divinal. Comércio tradicional? É tudo uma questão de horários.

Foi por isto que eu votei nestes gajos

Estacionar em segunda fila com tolerância zero

Early morning bojardas

Algumas bojarda matinais que não vou perder tempo a explicar:

- Maria José Nogueira Pinto tem razão naquela coisa da Chinatown (eu vivo na Baixa, portanto, lá está). No Metro de hoje (maradona, onde estás tu?), Sá Fernandes, que é contra, como é contra qualquer ideia que não seja dele ou de Ribeiro Teles, diz que é preciso «um novo discurso político». Entre isto e a «nova ordem ecológica» do palhaço da rua sésamo não há diferenças, portanto, lá está: Nogueira Pinto tem razão.

- Kate McCann é culpada. Estou com a vox populi nesta. Justiça popular nas ruas, já. A razão? Só uma: não é possível manter aquele aspecto com uma filha desaparecida. Kate McCann, para quem ainda não percebeu, é extraordinariamente bonita.

- O CDS já veio pedir explicações à RTP pela não transmissão dos jogos de râguebi. Esta é auto-explicativa.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Christopher

(Mesmo, mesmo no fim do vídeo:)

- The only people that do not have doubts today are dogmatic atheists. People like you, Chris.
- Christopher.

O râguebi

Acontece eu não desgostar totalmente de râguebi. Junte-se isso a ter alguns amigos e familiares que são verdadeiros entusiastas e eu estou à frente da televisão para ver a selecção. E mesmo os All Blacks ou os Wallabies. Das regras, percebo o básico (as faltas baralham-me, e as linhas também), o suficiente para me entusiasmar durante um jogo sem me sentir alheado. Dito isto, não percebo a indignação de quem desejava ver os jogos na RTP. O râguebi é um desporto sem expressão em Portugal, jogado e acompanhado por uma pequeníssima elite (sim, elite, faça-se a média da declaração de IRS dos pais dos jogadores). Não estou com isto a desvalorizar o feito de, sobretudo, Tomaz Morais. Mas não deixa de ser estranho que as vozes que se levantam contra a inexistência de um suposto «serviço público» sejam as mesmas que exigem «menos estado» e melhores condições para a «iniciativa privada». O conceito de «serviço público» é muito discutível e os direitos de transmissão de um Campeonato do Mundo simplesmente não foram comportáveis para RTP - devido à baixa audiência esperada . Esses encargos passaram para um canal privado, que faz deles o que muito bem entender. A direita (sim, o râguebi é um desporto da direita e, se calhar, até de direita - literalmente darwinista) devia estar contente, não indignada.

domingo, 9 de setembro de 2007

A rentrée que interessa

(...) A maior dos meus amigos (para ser modesto) que têm empregos, graus académicos de respeito, relações duradouras e até já casa e carro comprados com o seu próprio dinheiro, julga-se superior a mim. E bem. Porque são. Sinto-me um verme. Abaixo de carraças, baratas e até da Mia Farrow. É que, pelos menos, essa conseguiu manter uma relação sexual com Woody Allen e isso merece um mínimo de crédito. Entretanto, tive tempo suficientemente para descobrir que sou estúpido. Tentei ler o Guerra e Paz do Tolstói e, ainda mal tinha arranhado a superfície com uma esponja de algodão, já estava perdido. Nem relacionando as personagens com jogadores de futebol (por exemplo, Kutuzov é o ex-jogador do Sporting, e por aí adiante). A questão é que nem sequer percebo assim tanto de futebol russo. No que toca a Proust, estou há dois anos para passar da primeira página do primeiro volume. O gajo desliga a luz, acende a luz, diz que vai dormir, mas não adormece e eu já estou a roncar. Quanto ao Dostoiévski (deve ter sido a primeira vez que escrevi o nome direito sem ir ao Google) os gajos dele vivem todos na merda. E eu sou ideologicamente contra a merda. Por isso, vai-se a ver e estou fodido com os russos. Também descobri que sou idiota. A entidade maternal arranjou-me um encontro com um chilena (não digam nada, esta semana disse-me que já sabia com quem me havia de casar). Depois de jantar (que fui eu a pagar por inteiro; ela ofereceu-se para dividir a conta, só que eu recusei, mas ela não insistiu, ora, é preciso insistir, toda a gente sabe que a primeira recusa para dividir quaisquer custos não conta, recusa-se sempre por boa educação; e eu teria dividido de bom grado), decidimo-nos por um passeio à beira mar. Havia um pontão (aqueles muros que entram pelo mar adentro). Ela quis ir ao pontão. Fomos ao pontão. E eu, tive este naco de conversa:
‘Sabes como é que foi inventado o pontão?’
Ela: ‘Não.’
Eu: ‘Foi assim: O Vasco da Gama estava a olhar para o mar em Sines, virou-se para um gajo e disse: ‘Meu, vou descobrir o caminho marítimo para a Índia.’ E o outro: ‘Eu também.’ E o Vasco: ‘Eu cá vou de barco.’ E o outro: ‘Eu não. Vou pôr um monte de pedras umas em cima das outras até lá chegar.’ Só que desistiu a meio.’
E ela, muito séria: ‘Foi?’
E eu, depois de uma pausa, para a deixar matutar aquilo que pretendia ser uma piada: ‘Não. Na verdade, o outro gajo, apesar de ter demorado ligeiramente mais tempo, conseguiu lá chegar. Como é que pensas que inventaram as pontes?’
E ela, com ar arrogante, como se estivesse a olhar para um idiota completo: ‘Não sei. Mas não foi assim.’
E nunca mais me quis ver.

Tiago Galvão, nascido a 28.03.85

Ainda aquela cena dos livros

Fui informado, ainda que sob um pedido de silêncio que agora desrespeito, que o comentário feito a esta lista peca por omissão, faltando adicionar os números 6 e 10. O rigor acima de tudo.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Os banais



Há dois tipos com carisma neste agrupamento. Obviamente, Matt Berninger, que não tem só carisma mas também uma aceitação bastante simpática junto do público feminino, o que é logo uma volta de avanço; e Bryan Devendorf, o baterista, uma espécie de John Lennon suburbano, ou um Tiago Cavaco com um visual Jesus Cristo. O resto são dois gémeos guitarristas, cada um mais acabrunhado do que o outro (um deles ainda tem um cabelo desordenado, mas nem assim chega a rock-star), e um baixista apenas presente, de longe o instrumentista menos inventivo, com um aspecto de frequentador do Alcântara nos anos 90. Ou seja, há esperança para nós, os banais.

FNAC 2

Vi um sem-abrigo (ou alguém que se assemelhava a um) rodeado de sacos de plástico (dezenas), com os sapatos sujos de cal e areia (um operário da construção civil?), sentado junto à secção da Literatura de Viagem, totalmente absorvido por um livro (infelizmente não vi qual). Passei por ele algumas vezes, num intervalo de tempo de pelo menos 30 minutos, e a sua concentração nunca baixou daquele estado de semi-transe.

Agora é aquela parte do post em que evito o cliché de como os livros nos fazem viajar para locais distantes e inacessíveis.

FNAC 1

Ontem fui à FNAC com um objectivo, e não há nada pior do que ir à FNAC com um objectivo. Resultado: ia saindo de lá com as mãos a abanar. Entre o orgulho do viciado que se julga curado e a sensação de frustração pelo tempo perdido, lá trouxe o On Chesil Beach que, como mandam as regras, começa com uma frase quase perfeita:

They were young, educated, and both virgins on this, their wedding night, and they lived in a time when a conversation about sexual difficulties was plainly impossible.

O objectivo, esse, saiu gorado.

Num mundo pós-Calzedonia

Os cartazes da Tezenis.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Totalmente desprovida de sentido de humor



Não vou perder um minuto sequer a discutir qual é a melhor série de televisão de sempre, assunto que deixo resolvido com a imagem em cima. Perco, sim, os minutos que forem precisos a desmontar este insulto do Bruno Alves a toda a gente que já viu dois ou três filmes de acção, e dois ou três episódios de 24. O Vasco Barreto já aflorou o assunto mas, porque nunca viu nenhum episódio de 24, foi demasiado brando. Deixando o Matt Damon para outras aragens (o filme ainda não estreou por cá), passo a explicar. Eu não tenho Tv Cabo, tenho uma antena no prédio que me dá os 4 canais de sinal aberto que se captam na zona de Lisboa. Não me queixo. Foi uma escolha, ainda que muito dificilmente aceite por toda a gente que sabe do facto. Olham para nós como quem olha para um leproso, e eu não sei como é que se olha para um leproso. Dito isto, reconheço que lá por casa se dá muito uso ao leitor de DVD, e, como o orçamento não dá para tudo, familiares bem intencionados fizeram chegar uma caixa com a primeira série de 24. «Vê», disseram, «está toda a gente viciada nisso», dizendo «viciada» como se de uma coisa boa se tratasse. O Vasco centrou-se num aspecto da série, lançando dúvidas sobre a honestidade de alguma coisa cuja maior qualidade parece ser o seu carácter folhetinesco. Pois bem Vasco, pois bem Bruno: não sei se essa será a maior qualidade da série, mas sei que se isso for uma qualidade é a única. E digo se, porque não foi o fim abrupto de cada episódio que me levou a ver, penosamente, os primeiros (e únicos) 7 ou 8 espécimes da coisa. A verdade é que 24 é uma série escrita com os cotovelos, mal interpretada, ridiculamente filmada (com uma fotografia maniqueísta, abusando do contraste e dos tons azuis, talvez sugerindo, subtilmente - ah ah ah - frieza) e, pecado último e primeiro de qualquer série que se preze, totalmente desprovida de sentido de humor. E se eu vi 7 ou 8 episódios foi porque durante 7 ou 8 episódios esperei por aquilo que estava a viciar toda a gente, espera essa que se veio a confirmar infrutífera. Eu gostava de continuar a dissecar o conteúdo da série, mas não sei onde é que ele se foi enfiar. E começo a duvidar da sanidade mental de quem me rodeia. Talvez 24 seja como outro vício qualquer: algo que envergonha quem se deixou apanhar na teia, que prejudica a saúde e desvirtua comportamentos. Por isso, Bruno, eu percebo que se veja o 24 (não, não percebo, mas temos de ser tolerantes), aceito, sem conceder, que aquilo seja viciador, mas nunca mais repitas essa frase em público, e não caias na tentação de usar a palavra «Hollywood» com esse tom depreciativo: afinal, onde é que achas que eles foram desencantar o - mono dos monos - Kiefer Sutherland?

P.S: E Extras, meu amigo.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Que não mudaram a minha vida

10 livros que não mudaram a minha vida:

1. Ulisses, de James Joyce;
2. Dom Quixote, de Cervantes;
3. Guerra e Paz, de Leão Tolstoi;
4. Anna Karenina, de Leão Tolstoi;
5. Lolita, de Nabokov;
6. The Great Gatsby, de F. Scott Fitzgerald;
7. Catch-22, de Joseph Heller;
8. A Montanha Mágica, de Thomas Mann;
9. O Ano da Morte de Ricardo Reis, de José Saramago;
10. Crime e Castigo, de Fiodor Dostoievski.

Não mudaram porque não li. "A minha mulher"* já leu (que eu saiba) os números 4, 5, 7 e 9 da lista. Não sei se mudou a vida dela, mas ela mudou a minha, portanto será talvez pertinente começar uma corrente intitulada Os 10 Livros que Mudaram a Pessoa Que Nos Mudou. Ou mesmo Os 10 Livros que Não Mudaram a Pessoa Que Nos Mudou. Ou As 10 Páginas do Teletexto Que Me Marcaram, eventualmente seguida de d'Os 10 Provérbios Chineses Que O Meu Cão Decorou.

* Tu tens mas é inveja.

E tu, espera lá que eu já te atendo.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

«Esta arte»

(...) No geral, vi uma arte de umbigo ou assente em mensagens políticas maniqueístas. A arte sempre foi profundamente política e, até, subversiva. O que é notório, no entanto, na bienal de Veneza é que a arte se parece hoje esgotar na política. Não se sustenta enquanto arte mas sim através da adesão ou oposição que provoca a mensagem política que veicula. Por detrás das provocações sem substância, a grande maioria dos artistas representados em Veneza parece incapaz ou receosa de nos desafiar. Preferem antes o refúgio que lhe garantem os adeptos da sua mensagem política mais do que da sua arte. É uma arte que não permite várias leituras nem transmite a complexidade do mundo, antes se satisfaz em tomar posição. Eu tomo posição contra esta arte.

Miguel Poiares Maduro, no Geração de 60

Piano e Koolhaas

Charlie Rose conversa com Renzo Piano e com Rem Koolhaas (várias vezes, e entre outros). Vale a pena ver os vídeos e perceber como é que estes dois arquitectos representam modos estar radicalmente opostos e como é que isso se reflecte naquilo que desenham. Eu estou com a bonomia de Piano, mas muitos estarão com Koolhaas na sua cruzada ideológica*. Façam favor.

* Tenho cada vez menos paciência para a retórica do holandês, ao mesmo tempo que vou gostando mais dos seus edifícios. O que ele diz é abjecto - sobretudo quando fala dos EUA. Mas o que os seus colaboradores desenham é quase sempre sugestivo, e tem evoluído bastante nos últimos tempos.

The Peters Projection Map



Nunca concordei com o Daniel Oliveira. A espaços, não discordei totalmente, mas Daniel Oliveira sempre foi sinónimo de opinião absolutamente contrária à minha. Às vezes, na dúvida sobre onde me colocar sobre determinado assunto, ia ler o Daniel Oliveira para saber aquilo que não devia pensar. Inclusivamente, Daniel Oliveira é ferrenho do Sporting. Dito isto, confesso que gosto de o ler. Acho-o (não sei porque carga de água) genuíno, sincero, bem intencionado. Ou seja, exactamente aquilo que não acho do Bloco de Esquerda. Pode ser só o tom de voz na televisão, ou qualquer coisa de irracional assim. Por isso, imaginem o meu espanto e vertigem ao perceber que o Daniel Oliveira é um fã de West Wing. O meu mundo, tal como o mapa do trecho que Daniel Oliveira escolheu, ficou um pouco distorcido.

domingo, 2 de setembro de 2007

«Absolutely stunning goal»

Agora, o mesmo golo comentado por alguém que efectivamente gosta da sua profissão.

sábado, 1 de setembro de 2007

«Este tipo de remates»



Sempre me incomodou a falta de emotividade dos comentadores desportivos portugueses (avé Carlos Barroca). Versam sobre o futebol como se de política internacional se tratasse, usando o tom grave da respeitabilidade, escolhendo palavras cuidadas na busca do respeito intelectual que julgam - talvez acertadamente - em perigo, derivado a um complexo de inferioridade evidente e omnipresente, que só desespera quem está a assistir aos jogos. Tomemos este exemplo de António Tadeia, um homem que até se destaca dos seus pares por perceber efectivamente do jogo. Vejam o que ele diz sobre este golo do Jankulovski, sobre este passe do Pirlo - este passe do Pirlo. Não, não vejam o vídeo. Eu digo-vos como António Tadeia descreve o dito, para depois vossas excelências tentarem adivinhar como se processou o golo. Ora cá vai:

«Cruzamento largo e subida rara - tem sido hoje - de Marek Jankulovski, a aplicar um pontapé de primeira. Teve alguma sorte, também, mas também é preciso saber-se fazer este tipo de remates.»

Agora vão ver o vídeo e expliquem-me onde é que está a «sorte» e que «tipo de remate» é este, por favor, porque eu nunca tinha visto. Deve ser o tipo «remate de primeira na passada ao poste mais distante com passe a quarenta metros vindo das costas», provavelmente. Está nos livros.