segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Ao fundo, D. Sebastião



Ao homem pacato é negado o luxo de não comemorar a «passagem de ano», de se deixar ficar quieto a olhar pela janela (na imagem: da janela, no meu outro blogue). Para isso o homem pacato teria de ser também um homem sem amigos, sem telefone, recolhido num canto esquecido da geografia, tão esquecido que nem está assinalado nos tomtoms. Como o homem pacato está inserido numa rede social, uma comunidade de pessoas de maioria não pacata, a recusa a convites para champanhe e passas - geralmente com muitos desconhecidos à mistura, nas passagens de ano há sempre muitos desconhecidos, gente que não conhece a nossa cara e que portanto está disposta a acreditar que o ano que se inicia trará «tudo de bom» para nós - é geralmente mal interpretada. Dia 1 de Janeiro é feriado, dia mundial da Paz, com maiúscula, numa escolha acertadíssima por parte de quem escolhe os feriados - haverá alguma Alta Autoridade para o efeito? A Paz, o sossego, o silêncio, uma ideia de continuidade versus esta ideia de ruptura total - não há quem não exclame que «este ano vai ser tudo diferente» - é uma ideia que agrada mais ao homem pacato, que apenas deseja um ano igualmente bom ao que passou, não pior, não melhor. Porque quem habitualmente junta os desejos de transformação ao champanhe só pode ser um homem pessimista, incapaz de acreditar num futuro melhor quando está sóbrio, que desconfia do mundo real e que se refugia na irrealidade do fogo de artifício desfocado pelo Raposeira. Dia 1, dia mundial da Paz, quanto tudo o que sobra da folia da noite passada é uma cefaleia filha da puta, já nada se apresenta com a mesma auréola divina, já tudo voltou ao mesmo de sempre, o mesmo de sempre de que pretendemos fugir, para onde?, ninguém sabe, bebe mais um copo, irmão. O mesmo de sempre que é exactamente aquilo que o homem pacato desejou mas a quem ninguém deu ouvidos. Ao homem pacato é exigido - exigem-lhe - que comemore a «passagem de ano», coisa de que desconfia: afinal, o que há para comemorar se um ano bom chegou ao fim e está aí à porta um ano desconhecido?

domingo, 30 de dezembro de 2007

Um agradecimento

O Pedro Mexia incluiu este blogue na sua lista de melhores do ano. Não vale a pena fingir que é mais uma lista como as outras: foi por causa do Pedro que eu comecei a escrever - A Coluna Infame, lembram-se? - e foi ao Pedro quem eu mais tentei copiar, sem sucesso. Não usarei nem falsa modéstia nem humor - enfim - para reagir. Serei sincero. Obrigado.

Embora fique claro que o «Pedro Mexia» da blogosfera não usa a mesma tabela crítica do «Pedro Mexia» crítico literário: é óbvio que on-line os critérios de qualidade são mais desleixados. Aliás, nem é de «qualidade» que se fala quando se avalia blogues mas de afinidades e cumplicidades mais ou menos acríticas, numa elevação do «gosto» a critério último de avaliação. Mas é assim que tem de ser.

SMS para «Rogério Casanova»

Que eu saiba, não.

SMS para Tiago Galvão

Sim, confirmo essa «felicidade».

The Ivo Canelas Show



Não devemos cair na tentação de esperar de Call Girl cinema de autor, a não ser se percebermos que uma das características de António-Pedro Vasconcelos é a sua aptidão para nos entreter e bem. Estamos perante um exemplo de cinema comercial português, uma categoria que não conta com muitos exemplares que se apresentem, situação que tem contribuído para o definhamento de uma suposta «indústria» cinematográfica portuguesa. Call Girl, que é honesto no seu pressuposto, funciona bem e não depende em exclusivo de Soraia Chaves para cativar o público - embora esta taxa seja muito alta no sector masculino da audiência, não há como negar esta evidência. Passemos às fragilidades: o argumento, ou se quisermos, o trabalho de escrita. Nem só de diálogos vive o argumentista, e se em Call Girl as palavras das personagens não nos envergonham - sobretudo no calão da gíria masculina - já a trama que lhe serve de base é algo simplista e pouco elaborada. Como o são também as personagens, e é aqui que Soraia Chaves sai a ganhar porque para além de Maria só a personagem do inspector da PJ interpretado por Ivo Canelas - já lá iremos - se pode orgulhar de não ser totalmente bidimensional. Até um certo ponto é pena que António-Pedro Vasconcelos denote uma tendência para mostrar e contar em demasia - e não falo da pele da protagonista que nunca chega a fartar - fazendo um filme que não dá espaço para a surpresa e que não convida o espectador a entrar no jogo: tudo é explicado como se faz às crianças. A única surpresa que o filme nos dá, uma espécie de twist sem consequências, é tão descabido que mesmo que se não fosse um spoiler não mereceria mais do que uma linha. Já o trabalho dos actores está uns furos acima do dos argumentistas. Nicolau Breyner é perfeito na pele do autarca simplório e bem intencionado mas muito permeável às pressões; Ana Padrão tem uma brevíssima passagem pelo ecrã que deixa saudades (é um crime contratá-la para aparecer 5 minutos, como disse ontem o Pedro Mexia no Público); José Raposo é consistente no papel de colega mais velho de Ivo Canelas, como o é Maria João Abreu no papel de amante quarentona e carente do autarca; até Sofia Grillo, cuja presença é ainda mais breve do que a de Ana Padrão, deixa boa impressão. Para esquecer só mesmo Joaquim de Almeida, e este é um dos poucos pontos em que estou de acordo com o Pedro Mexia. Aqui chegados, sobram Soraia Chaves e Ivo Canelas. Se de Soraia Chaves já muito se tem falado, já Ivo Canelas - que tem um nome que apetece repetir várias vezes, este Ivo Canelas - não tem tido a merecida projecção. E a verdade é que Ivo Canelas é o grande solista de Call Girl, com uma interpretação que rivaliza em magnetismo com Soraia Chaves, o que não é dizer pouco, num tipo de papel que costuma ser uma armadilha para os actores por ser uma personagem algo espalhafatosa, gingão, hiper-confiante e ruidoso. Canelas fá-lo com mestria. Por favor contratem este tipo para mais filmes. Numa nota um bocadinho mais geek, julgo que o apartamento de Maria se situa num edifício do Parque das Nações desenhado por Manuel Aires Mateus, pormenor que não posso garantir, mas que a ser verdade não deixa de ter o seu interesse.

Ou seja, Call Girl é um filme bem conseguido que acrescenta aos pecados originais do cinema comercial mais uns quantos que lhe vêm da inexperiência portuguesa no campo, que não chegam apesar disso para ferir de morte o exercício. E Soraia Chaves assume-se por direito como o sex-symbol do cinema português, o que é muito agradável: já estávamos à demasiado tempo a viver às custas de Alexandra Lencastre.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Era só isto que eu precisava de ouvir

Mestre Alfred Hitchcock referiu-se a dado momento aos seus filmes como sendo fatias de bolo. Aproprio-me da formulação do saudoso Alfred para dizer que um bife por muito bom que seja nunca deixa de ser bife. Call Girl, claro está, é um bom naco: e isto, acreditem se quiserem, não pretende ter qualquer subentendido brejeiro aplicado à silhueta da protagonista. É filme de "gajo" para onde se deve ir com o espírito daquele que pega num jornal ou numa revista (num livro?) para passar o tempo. E é cinema na medida em que assim o definem as características de produção, distribuição e exibição, mas não quer ser sétima arte coisa nenhuma. Exibe razoável competência industrial (que não temos), personagens e situações credíveis e diálogos bem armados, carregados de vernáculo e chico-esperteza lusitana. Call Girl parece-me ter por principal modelo o Instinto Fatal, de Paul Verhoeven (APV fala antes em O Anjo Azul, de Sternberg...), que deu popularidade universal a Sharon Stone: a música é a esse nível esclarecedora. Trata-se claramente de uma fantasia masculina: tira o chapéu ao Cães Danados de Tarantino e a narrativa tem alguns condimentos bem pulpy. À nossa escala contribuirá para projectar a carreira de Soraia Chaves. E justifica tornar-se num sucesso de bilheteira. Até porque há dias em que um bom bife (em sangue) é a melhor coisa que nos podem dar.

Ricardo Gross

Юлія Тимошенко



No passado dia 18 de Dezembro Yulia Timoshenko assumiu o cargo de Primeira-Ministra da Ucrânia, facto que não poderíamos deixar passar em claro.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Do coração

Não entendo quem me lê. Há blogues em número suficiente para ocupar o que resta das vidas de todos aqueles que não são eremitas incomparavelmente melhores do que o meu. Ainda assim, as pessoas lêem-me. Notem, eu escrevo porque preciso. Não me lembro porque começou. Já só sei que preciso. Gosto que me leiam, não minto, mas o síndroma marxista de não querer ser sócio de um clube que me aceite com membro (ah, não era esse marxista, seu safado) assume-se sempre quando estou na presença de alguém que se diz meu leitor: não sei se quero ser lido por quem me lê. Porque quem lê uma linha escrita por mim decide, conscientemente e aparentemente de livre vontade, não ler outra coisa qualquer e eu tenho parca tolerância ao mau gosto. Para além da minha mãe, que se preocupa com o que eu faço, e da minha sogra, que se preocupa com o que eu faço à sua filha, não reconheço ao meu blogue a capacidade de atrair seja quem for. Se eu pudesse, não escrevia mais. Dedicava o meu tempo a ler mais ou a lavar mais vezes a casa-de-banho. Não que ela ande suja. Não anda. Era só uma figura de estilo cujo nome me escapa. Aliás, é um voto de fé que faço declarar isto uma figura de estilo, porque razão razão tinha a minha professora de português do 11º ano - não me lembro do seu nome, apenas recordo uma permanente de 80 centímetros de envergadura - que, ao entregar-me a prova global carimbada com um 16, soltou: «Não sei se o milagre foi seu ou se foi meu». Também não sei, era sobre Os Maias e eu tinha lido só 235 das 689 páginas. O livrinho amarelo da Europa-América fez o resto, o que serve de retrato do nosso sistema de ensino, da Europa-América e de mim próprio. Boa noite.

Had Napolean

Mrs Clinton leads her troops through the snow with such discipline that, had Napolean copied it, he might have conquered Russia.

The Economist, December 22nd 2007 - January 4th 2008, pag. 73

Estreia hoje



E a minha mulher já me deu autorização.

Mais que fazer

Absolutamente delicioso este troço de correspondência escola - setinha - família, aqui reproduzida no Abrupto, que reproduzo aqui:

De: Prof. de Ciências
Para: Enc. de Educ.

Mensagem: Informo que a sua educanda não realiza os trabalhos de casa pela 3ª vez, prejudicando a sua avaliação.
Agradecia que a chamasse à atenção.
Sem outro assunto, XXX.

De: Encargado de Educação
Para: Senhora de Ciências

Mensagem: Venho por este meio que eu como encargada de educação. Sei que por lei os alunos não são obrigados a trazer trabalhos de casa, pelo horário que tem de sair as 18 horas e 30 minutos da Escola. E os pais quando chegão a casa tem mais que fazer do que saber se eles tem trabalhos ou não.
Maria.

Como é óbvio a razão - apesar de não acompanhada pela ortografia - está toda do lado da «encarregada de educação».

Deixa que eu te mostre a minha conta bancária e depois falamos

(...) Todos estes nomes têm uma particularidade: são pessoas de sucesso. (...)

Ahahahahahahahahahah, ai, uhuhuhuhuhuhu, eheheheheh, iii... ahahahahahahah, eheheh, cum cara... ahahahahah, aii, ai. Valeu.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Redacted



Redacted, de Brian de Palma, é um exercício formal interessantíssimo. Tem como ponto de partida a construção de uma narrativa com recurso a uma espécie de manta de retalhos em forma de vídeo, uma aglutinação coerente de vários suportes, quase todos mimetizando o vídeo amador. Os eventos que se passaram antes, durante e depois de um incidente que ficou famoso são contados através do vídeo amador de um soldado, de um pseudo-documentário francês, notícias de telejornal, vídeos no YouTube das mulheres dos soldados, etc. A agarrar todo o filme está a ideia fortíssima de que a câmara nunca é anónima. Ou seja, sabemos sempre quem está a filmar e em que condições o está a fazer. Mesmo quando De Palma precisa de recorrer a uma câmara anónima - ou seja, nas cenas em que foi preciso mostrar eventos cujos protagonistas não poderiam estar conscientes do observador - sabemos sempre de onde nos vêm as imagens: ora de uma câmara de segurança ou de uma câmara dissimulada num capacete. Formalmente irrepreensível, tudo o resto é propagandístico e até certo ponto sem muito sentido. De Palma, como todo o profissional de Hollywood, vê na guerra do Iraque uma espécie de Vietname II, uma mania pela sequela muito típica daquela classe profissional, e não quis perder a oportunidade de nos deixar o seu grito de alerta. O problema é que escolheu um motivo errado: não faz sentido por em causa uma guerra recorrendo aos seus crimes. A existência de crimes de guerra não compromete a validade ou necessidade da mesma, e o que De Palma faz neste Redacted é a denúncia de um determinado crime - hediondo - da guerra do Iraque, omitindo, como sempre o faz Hollywood, o facto de os seus suspeitos - enfim - terem sido formalmente acusados e esperarem o desfecho do processo que os pode levar à pena de morte. Pelo que nos é contado no filme, ficamos com a sensação de que a culpa morre solteira, o que é desonesto e compromete a seriedade da obra.

Uma última nota: o filme é produzido por Joana Vicente, filha do «nosso» Manuel Vicente, que é já um dos principais nomes do cinema digital americano.

Efeméride

Entretanto ontem comemorou-se mais um aniversário de um almoço de Natal que despoletou na minha mãe um acontecimento caracterizado na gíria como «rebentamento de águas», que levou a que no dia posterior a esse - cá estamos - viesse a nascer aquele que viria a ser o seu primogénito. Yours truly.

Uma evidência que é evidência

O Tiago Cavaco - que está em analepse youtubística num post imperdível intitulado «Uma prenda de Natal», vão ver - fala bem sobre uma evidência que é evidência para todos os que têm os olhos abertos:

Blogosfericamente falando
Dois mil e sete foi do Casanova. Por muito mas sobretudo por isto: num país em que a cultura pertence a gente que mais facilmente adormece a fazer amor que a ler um livro, o Pastoral Portuguesa é um abrigo e uma desculpa para a esperança.

O Maniche

Acabei de ver um indivíduo igualzinho ao Maniche de fato de treino na fila para comprar o passe do Metro. Apesar de saber que o Maniche recebeu recentemente guia de marcha do Atlético de Madrid e que portanto deve estar a precisar de poupar porque o subsídio de desemprego não dá para grandes luxos, acho que não era o Maniche mas apenas alguém muito parecido com o Maniche, que por sinal tem aspecto de quem vai de fato de treino para o Metro renovar o passe, embora acredite que não vá.

Bento XVI

Joseph Ratzinger, aliás, Bento XVI escreve como um académico (que é). Ao lê-lo, naquilo que é essencial e não dogmático, começamos a dar o benefício da dúvida ao Espírito Santo. Afinal, parece que este era mesmo o homem certo na altura certa. A cada um os seus méritos: Ratzinger nunca chegará a gerar um décimo da simpatia que Wojtyla gerava, mas chegará muito mais longe para aqueles que sempre desconfiaram de grandes multidões. João Paulo II falava para a grande família católica e não precisava que a comunidade deixasse de cantar para o ouvir; Bento XVI fala directamente ao nosso ouvido e exige silêncio e atenção. Mas não nos pede para concordarmos com ele, o que é um sinal da mais elevada maturidade intelectual. E de respeito pelo leitor também.

A propósito de uma encíclica e de um livro cuja leitura iniciei há dias.

«o nunca ter fumado um charro emergiu, nos círculos onde me movo, como uma excentricidade prestigiante»

Porque nunca fumei um charro, por Bruno Sena Martins:

1- É ilegal (começo com uma piada)
2- "A minha cultura é a do álcool" (com as devidas distâncias, permitam-me que me sinta em casa na frase lapidar de Vasco Pulido Valente)
3- Sou dado a vícios e uma vez neles entrado estou desgraçado. Por isso dou corda a poucas coisas com reconhecível compleição de vício (p. ex. nunca instalei jogos no meu pc, não vejo séries que agarrem (com excepções), deixei de ver novelas antes de deixar de gostar delas, raciono a compra de caju nos 3 quilos por mês).
4- Escolho os vícios em vez de os acumular (tampouco tenho pretensão de os extirpar)
5- Por nunca me ter iniciado no tabaco nunca aprendi a "travar" (parece que para os charros é um "gesto anatómico" basilar)
6- Por nunca ter aprendido a travar, sempre contei com o espectro do ridículo a adjuvar-me quando era o momento de dizer "passo"
7- Numa inversão dramática, a partir de certo momento, o nunca ter fumado um charro emergiu, nos círculos onde me movo, como uma excentricidade prestigiante comparável a saber a Odisseia de cor (sou muito sensível a glórias imerecidas).

sábado, 22 de dezembro de 2007

Bom Natal

(...)

Porque se desviaram de Deus?

Exacto. Porque, repare: Deus é ateu. Deus não coloca a questão de Deus. Na autêntica perspectiva religiosa, e nomeadamente no cristianismo, Deus manifesta-se não por causa dele mas por causa das mulheres e dos homens, da sua felicidade. E por isso remete o homem também para a autonomia. As Igrejas têm dificuldade em aceitar a autonomia dos seres humanos. Falar de outro Deus é poder e domínio. Ora, uma religião ou é liberdade ou não serve para nada. É a isso que se chama salvação. Então, os crentes só têm que fazer o que Deus fez: interessarem-se pela Humanidade. E este é que é o grande culto a prestar a Deus.

E é neste paradigma que situa também o cristianismo.

Uma religião opressora, que humilha o Homem, interpreta-se mal a si própria. Repare que Jesus, no capítulo 25 do evangelho de Mateus, diz que no «Juízo Final» - quando se refere à realidade última de cada pessoa e da História - não se perguntará por actos religiosos, por actos de culto, mas si por coisas corpóreas, materiais: «Deste-me de comer, foste visitar-me à cadeia, vestiste-me...» Portanto, a relação do crente com Deus só se torna autêntica se efectivamente for uma dignificação de todos os seres humanos.

(...)

Entrevista a Anselmo Borges, Actual 22.12.07

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

2007 (6)

A Pastoral Portuguesa.

Runners-up, ou A Lista de Blogues Cujo Fim Me Deixaria Profundamente Contrariado: A Causa Foi Modificada, Devaneios, Diário, Estado Civil, hARDBLOG, A Memória Inventada, A Origem das Espécies e Voz do Deserto. Para 2008 prometo começar a ler mais blogues, até porque já descobri uma série deles que só por preguiça ainda não fazem parte da minha rotina.

2007 (5)

2007 (4)




2007 (3)

2007 (2)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Sinais dos tempos

«A sua opinião é soberana, ainda não chegámos à Venezuela.»

(Um operador de telemarketing, agora mesmo, tentando convencer-me a receber o «delegado comercial» de um banco para 10 minutos de conversa sobre um cartão qualquer.)

2007 (1)

Serviço público

www.fhm.pt

Zapping 2

Na TVI:

- Ohohohohohohoh, sou o Pai Natal e trago bué de prendas!
- És mesmo estúpido, o Pai Natal não diz «bué».
- Como é que sabes?

Entretanto, da Wikipedia:

A razão para tanto sucesso é simples: é impossível não ficar contagiado com tanta boa disposição! Cada programa é recheado de anedotas, contadas por uma excelente equipa de actores, onde os mais de 350 cenários não passam despercebidos. Do manicómio à prisão, dos amigos pescadores aos alentejanos, as situações criadas fazem rir o país inteiro. Gargalhadas e bom humor estão sempre presentes neste programa que, todos os dias, nos diverte até à exaustão.

10 euros em como o IP que escreveu isto é de Carnaxide, ou Outurela, ou lá onde é que aquilo é.

Por exemplo, «Os blogues do ano», ou assim

Quero começar a trabalhar mas está difícil:

«Pedro Mexia» apareceu hoje no concurso televisivo do Malato como uma das hipóteses de resposta. O concorrente escolheu precisamente essa hipótese. Era a resposta errada.

Pedro Mexia

Eu tinha um gerador de gráficos no meu ZX Spectrum que fazia umas coisas daquelas, mas com mais variáveis.

maradona

E mesmo ao lado, no estaminé das novidades, um belíssimo paperback do Against the Day! Tomei a liberdade de lá enfiar um papelinho com o meu nome e número de telefone, na eventualidade de o comprador querer esclarecer alguma dúvida, ou simplesmente ser meu amigo.

«Rogério Casanova»

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Excessiva

Brasília



Brasília tem asas? Terá, mas não tem patas. E assim fica difícil de equilibrá.

Paris

Conheço gente que flanou em Paris, precisamente na ocasião de um Erasmus de Direito. Gente que me arrastou até às portas da Sorbonne; até aos crepes do bexigoso da esquina - ainda que um belo crepe, reconheça-se; até Saint Germain des Prés, passando por Saint Michel, indo até à Rue de Rivoli, ao Pompidou (embora aqui os papéis se tenham invertido) e, claro, ao Jardin du Luxembourg, e mais uma série de pontos de um mapa de recordações mais ou menos enigmático. Gente que é boa gente, sem dúvida, diria mesmo excepcional. Gente que, Gonçalo, ficou agarrada a Paris como um Maradona à cocaína, é este o aviso que te deixo.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Parem as rotativas, ou Da superioridade da civilização francesa



Sarkozy, primeiro entre iguais.

Deitar o menino fora para ficar com a água do banho

À nossa volta (falo por nós, leitor) as pessoas lamentam-se sobre a perda de significado do Natal; como a quadra já não é o que era; como tudo parece ser um grande aborrecimento; como até o «estar com a família» já não é o que era. As «famílias» também já não são o que eram, as pessoas divorciam-se, voltam a casar, emigram, uma chatice. Compreendo o lamento mas, se me permitem, avanço com a causa. O pecado capital. A raiz do mal. E como hoje vai chover e eu estou bem disposto disponho-me a partilhar convosco o segredo: o Natal é uma festa religiosa. Um feriado cristão, uma celebração que não é só deste mundo. O Natal é a festa que assinala o nascimento de Jesus Cristo, um judeu de Nazaré que se disse Filho de Deus e alguns acreditaram. Os descendentes desses e os descendentes destes foram perpetuando a tradição: dia 25 de Dezembro, a data que se escolheu, celebra-se o dia do nascimento do Salvador, que nasceu filho de Maria e de pai incógnito. Isto, meus amigos, é o Natal. Não tem nada a ver com sonhos, filhoses, prendas, pais natal e bacalhau. Nem tem, na essência, a ver com a «família». O que tem acontecido nos últimos tempos é uma purga do significado religioso do Natal, do significado religioso da nossa existência, valha-nos Hitchens. Uma preguiçosa atitude que deita fora o menino mas que quer ficar com a água do banho porque ela é quentinha. O resultado está à vista: o «esvaziamento» do Natal. Lamento, mas não há volta a dar. Ou se é cristão ou então o Natal é perfeitamente dispensável e apenas e só mais um aborrecimento. Uma despesa. Uns dias infernais, de centros comerciais e cartão de crédito. Se querem paz e sossego ignorem-no. É assim.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Da série Se Sá Carneiro chegasse hoje a Portugal

Estamos nisto

Há minutos ouvi José Miguel Júdice dizer que se Sá Carneiro chegasse hoje a Portugal não fundaria o PSD porque o actual PS é um modelo de «sá-carneirismo». E acabo de ouvir um jornalista no mesmo Rádio Clube dizer que António José Teixeira é um «moderado», embora tenha feito uma declaração de interesses onde se declarava «amigo» de Teixeira. Estamos nisto. Sócrates equiparado a Sá Carneiro, António José Teixeira apresentado como «moderado». Moderado, ou seja, equidistante de Soaristas, Guterristas, Coelhistas, António-José-Seguristas, Socratistas, Costistas, Sampaiistas, Almeida-Santistas...

Sexiest



«Architects 'are sexiest', but they prefer Lawyers.» É este o mote do Registo Civil. Claro que devemos estar na presença de um advogado, porque não há nenhuma base de dados empírica que sugira e sustente uma afirmação destas e cujo pressuposto me parece falacioso. Ou seja, ganhamos menos, mas temos mais glamour. E se me dão licença, vou ali para o canto acreditar no Pai Natal.

Na imagem: um arquitecto.

(Na versão original surge um dado interessante: enquanto que os arquitectos masculinos aparecem no topo da lista das preferências femininas, o mesmo não acontece com as mulheres: «However, female members of the profession fared less well and did not feature in the top 10 of male preferences.» Sobre isto não faço comentários. Considerem isto um «silêncio corporativista.»)

domingo, 16 de dezembro de 2007

Do insulto

Tu até és parecido com o António José Teixeira.

Topava-se que era um académico

Tinha a Bíblia sublinhada e anotada.

sábado, 15 de dezembro de 2007

A ilustre casa de Casanova

Não fosse a lista que antecede «o Complexidade» tão ilustre e eu teria de me chatear com esse «mais ou menos por esta ordem». Desta vez escapaste, Casanova.

Há muito que decidi - um blogger semi-profissional é um blogger preparado - eleger «o Pastoral» como o melhor blogue de 2007. Portanto, quanto eu o fizer oficialmente não venham para aqui dizer que isto é retribuição de favores, ou assim. Aliás, gente que não percebe que o Pastoral Portuguesa é o melhor blogue de 2007 não merece que se continue a dialogar.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

By the way

Visit X09.eu

Adenda: Escreve Eduardo Pitta:

(...) Porém, em matértia de referendo, ou seja, da exigência de referendo, convinha que fossem mais claros, dizendo, de uma vez por todas, que não querem a Europa. Mas ainda não vi nenhum com tomates para o fazer.

Com tomates ou sem tomates, com todo o respeito, não é essa a questão. Eu desejo um referendo mas não quero Portugal fora da Europa. Eu desejo um referendo porque entendo que este é o momento de haver uma legitimação popular da «Europa», coisa que nunca houve na maior parte dos estados membros (como por exemplo Portugal). Eu desejo um referendo e, provavelmente, votaria «sim», como espero que a maioria votasse. Não quero inviabilizar o crescimento desta inevitabilidade, nem quero abrandar o comboio. Quero, sim, que a Europa perceba que já deixou de ser há muito uma simples organização de estados, uma simples cooperação estratégica (económica e política) supra-nacional. Temo que cada passo que se dá à revelia do povo seja uma perigosa fuga em frente. Aqueles que temem a expressão do voto popular - que são aqueles que consideram que tudo isto são matérias que o «povo» não entende - esperam vencer pelo cansaço, depositando no tempo a esperança de que este todas as feridas sarará. É uma posição optimista e, de certo modo, arriscada. Eu percebo a inquietação: deixar que a aprovação de um Tratado Constitucional dependa de uma dada conjuntura em 27 estados é difícil de aceitar. Concedo. Então que se dê liberdade aos diversos estados membros de realizar o referendo quando bem entenderem, fazendo uma ratificação parcial, estado a estado, como se fez no Euro, por exemplo. Deixar que isto ande para a frente sem referendo não devia ser uma opção. É uma atitude perigosa e cobarde. Ou seja, sem tomates.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Spick and span



Bom gosto

Ora, o José Mário Silva passou a ser o Bibliotecário de Babel, um espécie de blogue profissional não institucional sobre livros, que se põe debaixo da asa de Borges e que abre com referências a Miguel Esteves Cardoso, para nos fazer lembrar que o José Mário, além de escrever bem, tem um bom gosto invulgar e ideologicamente desempoeirado.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Sentido de humor

Volta não volta lá aparece numa das revistas semanais uma reportagem sobre o Opus Dei, os seus membros, as suas práticas, as suas bizarrias. Desta feita foi na Sábado, mas fico com a sensação de que a reportagem é sempre a mesma, mais vírgula, menos vírgula. E fico também com a sensação de que os tipos do Opus Deis são uns caras gozados (não com esse sentido, galera) e que toda aquela informação é falsa, uma espécie de troça que eles fazem com os nossos preconceitos e fantasmas. Por exemplo, alguém acredita que uma organização adulta diz a um membro adulto que este precisa de aconselhamento ou autorização para ler Eça? Ou Paul Auster? Eu não acredito. Acho que é o Opus Dei a brincar com os leitores. No fundo, como todos sabemos, o apurado sentido de humor é a característica mais evidente nos membros (não esses) do Opus Dei.

You have

jesus christ you have confused me
cornered, wasted, blessed and used me
forgive me girls i am confused
stiff and pissed and lost and loose

Cardinal Song, The National

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Terry Jones passa o Natal em Lisboa

Ricardo Araújo Pereira entrevista Terry Jones, amabilidade de Francisco Mendes da Silva.

O soviético Óscar



Comovo-me com quem se comove com Niemeyer. Não falo dos seus edifícios - porque a arte pela arte é sempre inimputável - nem do seu urbanismo - ainda que bastante mais discutível - falo sim do homem, do velhinho de 100 anos que impressiona pela sua vitalidade. Intelectual, também, apontam-nos. Eu, se me permitem, dispenso. Na entrevista publicada na edição deste sábado do Expresso, o bom Óscar diz-nos que a «débâcle soviética» foi o fim trágico de uma maravilhosa revolução que estava em curso, e acrescenta que o seu maior sonho é uma «sociedade igualitária». Noutra entrevista, aqui, afirma sobre Fidel: «Creo que el ejemplo de coraje y patriotismo de Fidel estará siempre en el corazón del pueblo cubano.» Tudo isto seria perdoável se a senilidade o tivesse tornado inválido. Mas não. Cuidado. O homem está em «óptimo estado» e trabalha como se tivesse 30 anos. Tenham medo.

Se é para entrar no jogo d'O meu velhinho de 100 anos é melhor do que o teu, então eu cito a entrevista de Manuel de Oliveira ao mesmo Expresso. Ganhei.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Apontamentos para uma auto-biografia



Ontem estive a 15 metros de distância de Terry Jones.

A sala do S. Luiz estava às moscas. Deixo-me de moralismos fatalistas, resisto ao impulso insultuoso e fico apenas melancolicamente deprimido: eles não sabem o que fazem, Terry.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Magia



A verdade é que já não estávamos preparados para gostar de um novo álbum de Bruce Springsteen.

Serviço público

O Público de hoje traz uma recensão ao livro de Ricardo Araújo Pereira feita por Miguel Esteves Cardoso. No meu quiosque ainda sobravam dois ou três exemplares, fica ali na esquina da Elias Garcia com a Defensores de Chaves.

Separata

Omissão grave: não queria deixar passar em claro que me esqueci de mencionar o Ricardo Gross neste post. O Ricardo Gross é talvez a pessoa que melhor escreve sobre música (e cinema) aqui no rectângulo, uma escrita que é clara e solta, apaixonada e comprometida, desassombrada e de certo modo independente. Seria ingratidão nossa esquecer que é a Atlântico que lhe dá guarida.

Road trip

O João tem andado pelos interstícios do país, o espaço que sobra entre Lisboa e Porto e que não se vê da A1, locais onde a nossa falta de atenção tem permitido uma genuinidade desconcertante, uma espécie de território em auto-gestão. A ler.

Choque de civilizações

Ao meu lado, no café, uma mulher escolheu para pequeno-almoço um café e uma chamuça.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Ouroussoff



Writing about your employer’s new building is a tricky task. If I love it, the reader will suspect that I’m currying favor with the man who signs my checks. If I hate it, I’m just flaunting my independence. So let me get this out of the way: As an employee, I’m enchanted with our new building on Eighth Avenue. (...)

What's in a name

«Agora vamos mudar para o Chiado, para aquele edifício do Siza Vieira. Aquele do Siza Vieira, que é do Siza Vieira. Na rua do Alecrim, aquele novo do Siza Vieira. Um que fizeram agora, do Siza Vieira, do lado esquerdo de quem desce para o Cais do Sodré. Pessoalmente acho aquilo feiíssimo.»

A EN1

A geografia da EN1 é o compêndio do nosso desprezo pela paisagem num comércio demagógico pelo progresso.

João Miguel Amaro Correia

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

1 para 3

Podias ter avisado. Teríamos feito umas sessões de leituras comparadas, ou lá ou que é.

Porque dá-se a coincidência de ter sido esta novela umas das poucas que eu levei até ao fim. Devo andar num ratio de 1/3, ou similar.

Meets

Foi com alguma surpresa que vi o nome do Pedro Mexia no novo conselho editorial da Atlântico. Surpresa positiva, claro, a que se deve juntar Maria de Fátima Bonifácio (não sei se já pertencia a este conselho ou não) e João Pereira Coutinho (embora este último julgo que já lá estava). Se a isto lembrarmos o Pedro Lomba, juntarmos José Miguel Júdice, António Carrapatoso ou Alexandre Relvas, por exemplo, percebemos que este conselho editorial é uma espécie de Coluna Infame meets gente respeitável, o que não deixa de ter a sua graça. A revista, essa, mudou outra vez de grafismo, embora o resultado não me entusiasme, mas também não atrapalha. Quanto ao conteúdo está mais ou menos na mesma e isto é uma boa notícia. Uma revista onde escrevam regularmente o Rui Ramos, o João Pereira Coutinho, o maradona, o Tiago Cavaco, o Franscisco Mendes da Silva e o Tiago Galvão será sempre uma borla, mesmo a 4 euros. Ah, e de vez em quando lá aparecem Vasco Pulido Valente e Maria Filomena Mónica, embora sempre em edições separadas, vá-se lá saber porquê.

Por assim dizer

A Origem das Espécies deslocou-se.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Lisboa, ou o caciquismo supra-municipal



Depois queixem-se de que no «Sul» o «Norte» seja mal visto.

(A imagem é de uma extrema violência e pode impressionar os leitores mais sensíveis.)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Problemas

Portugal tem problemas. Um deles é a diferença de tom de voz e de atitude que Fátima Campos Ferreira apresenta quando fala com o senhor ministro da Segurança Social ou com o senhor presidente da Câmara de Murça. Eu vi, de dedo apontado, a criatura dizer a um autarca que conseguiu a enorme proeza de inverter a lógica de desertificação do chamado interior do país que este «tinha de mudar isso», sendo «isso» um subsídio que a autarquia dá aos casamentos, porque «isso» prejudica as mães solteiras. Não é só a incomensurável estupidez desta asserção que me lançou ao post, foi sobretudo a evidência de que Fátima Campos Ferreira julgava estar a representar uma espécie de comportamento bem pensante cosmopolita face a um labrego do interior que lá por acaso foi eleito presidente de câmara, buscando com o seu sorriso irónico afinidades com a plateia de Lisboa, provavelmente integralmente constituída por pessoas que votaram sim no aborto, que são a favor de casamentos entre pessoas do mesmo sexo, que acham que uma união de facto é equiparável a um casamento, que são ateias, que falam inglês, que têm tv cabo, que, que, que. Este problema é como a santíssima trindade, tem três realidades distintas: (1) é um problema em si mesmo o facto de Fátima Campos Ferreira existir; (2) é um problema alguém ter tido a ideia de lhe oferecer um prime-time; (3) é um problema eu estar aqui a dar atenção a isto, sendo que esta última dimensão é a que me afecta mais.

Uma nova forma de escrita musical

Não fora estas modernices da interpretação e do carácter ahistórico e não literal dos textos e estavam reunidas as condições para garantir que o que eu vou dizer a seguir é tão verdadeiro quanto a Bíblia: a transcrição que o maradona fez da letra desta música cantada pela Aretha Franklin tem a exactidão de uma partitura manuscrita por Johann Sebastian Bach, letra a letra.

Bonito de se ver

Está bonito de se ver a esquerda a dizer, a propósito da derrota de Chávez no referendo que lhe daria o poiso de presidente até 2050, que afinal a Venezuela ainda é uma democracia, ao contrário do que esses tipos mal intencionados da direita insistem.

Acho que isso tem um nome

Sobre o que se passa na Atlântico eu tenho uma tese: o Tiago Galvão roubou a password ao Tiago Mendes.

O Abrupto ilustrado pelo Complexidade e Contradição



Duas notinhas: isto tudo porque adquiri um aparelho de tirar retratos digitais que me deixou muito orgulhoso. É da Pentax, e é a terceira do meu historial, sendo também a terceira marca, depois da Canon e da Nikon, e não foi nenhuma insatisfação que quebrou a minha fidelidade a estes fabricantes, foi mesmo capricho. Ou seja, nestas coisas sou promíscuo.

Segunda notinha: Mas só nestas coisas. Esta mão, que eu não nego que me pertence, será toda a pele própria que aparecerá por aqui antes da minha senilidade. Senilidade pela qual, aproveito a oportunidade que me dão, eu anseio desesperadamente. Estou aqui que nem um Nuno Gomes à espera dos golos. Claro está, se eu mantiver um blogue na senilidade será compreensivelmente rated R e não prometo que honrará os meus netos, naquilo que será uma falta de solidariedade institucional familiar intergeracional mas ao contrário: manchar o nome por cima e não por baixo como costuma ser apanágio destas coisas.

Olha que me sujas o estuque, pá

Naomi Watts

(...) Nesse sentido, Naomi Watts não tem felizmente nada a ver com a mulher concreta ou inventada dos tempos moderníssimos, como a «feminista capitalista» das séries televisivas ou a inocente vestida à puta dos videoclips. Naomi sofre e sente, como toda a gente, mas não tem medo de sentir e sofrer à frente dos outros. Essa coragem é que nos comove, porque a vemos tão pouco. E poucas vezes treme assim nuns olhos tão azuis e tão líquidos.

Pedro Mexia

domingo, 2 de dezembro de 2007

On Chesil Beach



A lista de melhores romances de 2007 começa daqui para baixo.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Desvantagens de ter um blogue individual

Não poder, sem cair no ridículo, usar o plural.

Por isso vou andar também por aqui, devidamente acompanhado, provavelmente com a assiduidade e empenho do Gattopardo.

Jesualdo

Leio nas secções desportivas dos jornais decentes - isto porque mesmo estando o Miguel Esteves Cardoso na primeira página d'O Jogo resisti e poupei assim uns 90 cêntimos, ou lá o que aquilo custa, que vou já aplicar no meu recém-criado PPR - que o Benfica vai entrar hoje em campo com o mesmo onze que humilhou - eerr... - o A.C. Milan. À partida acho bem, em equipa que ganha - eerr... - não se mexe, princípio que não me envergonha. Mas há qualquer coisa que me deixa intranquilo, que nem mesmo a boa exibição contra a melhor equipa do mundo há 3 dias apazigua. Contra o Porto as regras mudam no estádio da luz, é assim há demasiado tempo. Não falo só das arbitragens, falo de uma incapacidade que se apodera dos gémeos e das coxas dos nossos jogadores, um atrofio dos respectivos cérebros, uns sururus que vêm das bancadas. Não, não estou optimista, não faço ideia se vamos ganhar mesmo considerando Jesualdo. Jesualdo, já que aqui estamos, que é o cidadão português que apresenta o maior diferencial entre as suas capacidades e o modo peculiar como o próprio as avalia, resultando isto num homem que é todo um convite à agressão violenta. Ou seja, era importante para o país que o Benfica ganhasse hoje, mas não sei.

Vêm aí os Hunos, por Filipe Nunes Vicente, o blogger mais subvalorizado do mundo

(I)

O árbitro de Sábado é da Associação de Futebol do ...Porto.. Tanto melhor: sempre se recordam os bons tempos. Pode ser que jogue o Stepanov. Para compensar.

(II)

Átila trouxe Rúgios, Hérulos, Turíngios, Saxões, Alanos e Burgúndios. E também o Lisandro Lopez . Nós só temos o Cardozo.

(III)

A táctica. A gente faz alinhar de início o Cardozo disfarçado de Adu para entreter os bárbaros. A cinco minutos do fim, quando os gajos estiverem a mudar o óleo ao Stepanov, a gente mete o Adu disfarçado de Cardozo. É tiro e queda.

(IV)


O mundo seria melhor sem eles ? Talvez. Mas derrotá-los faz o mundo ainda melhor.

(V)

Amanhã recebemos na Luz gente estranha. Os hunos reverenciam o seu chefe e seguem-no cegamente, como é próprio dos bárbaros. Se o chefe se apaixona por uma lavadeira da Ribeira adoram-na como se da princesa Honória se tratasse; quando a lavadeira cai em desgraça é vítima dos mais variados impropérios. Não têm personalidade.

(VI)

O Cardozo tem de ser neutralizado. Pode parecer esquisito, tratando-se de um jogador nosso, mas é mesmo assim. Outra possibilidade é enfiar-lhe duas botas esquerdas nos pés.

(VII)

A única vantagem de receber a trupe do sobrinho de Roas reside no facto de o Cardozo poder aprender com o Lisandro.

(VIII)

Manhã da batalha. Céu carregado como as chuteiras do Petit, ameaços de água. Pode ser que o Luís Filipe se constipe. Não vou poder ver o jogo em casa. Não é conveniente enfiar-me debaixo da mesa em casa de terceiros.

No Mar Salgado.

10 dos 12

Li no Expresso de hoje - não sei em que página, o primeiro caderno acabou de ser sequestrado pelas separatas de Natal, uma operação concertada com a edição de sábado do Público, pelo que só depois de esgotar o plafond do meu cartão de crédito para o mês de Dezembro os rebeldes prometem libertar os reféns - uma notícia que era mais ou menos isto: «Na escola da CGTP 83% dos professores são precários», ou isso. Na notícia ficamos a saber que 10 dos 12 professores da tal escola da CGTP estão a recibos verdes, não têm subsídios de férias, e são contemplados ao final do mês com um salário baixíssimo. Pondo de lado a minha solidariedade com os 10 dos 12, esta notícia fez-me o dia.