Maria João Avillez é, grosso modo, uma boa entrevistadora. Ontem, contudo, desceu muito baixo e deixou-se levar pela emoção durante a entrevista a José Sá Fernandes. Foram demasiadas pequenas coisas, como repetir constantemente «se fosse eleito», que deixaram bem claro que o candidato a incomoda. Mas erros grosseiros também, como apelidar de «bucólica e saudosista» (também repetida várias vezes) a ideia de instaurar uma rede de pequenas hortas privadas ou de restabelecer a ideia de Passeio Público na avenida da Liberdade. Acontece que José Sá Fernandes tem um programa eleitoral assente, no que toca à política urbana, nas ideias que Ribeiro Telles tem vindo a defender há vários anos, todas elas penosamente ignoradas, todas elas importantíssimas para Lisboa, todas elas bem estruturadas e coerentes. Quando percebeu que não era por aí que iria conseguir apanhar o gato com o rabo de fora, Maria João Avillez tentou descredibilizar a preparação do advogado para o lugar, perguntando que provas tinha ele de que seria um bom presidente da câmara. «Dez anos de actividade cívica», respondeu Sá Fernandes, ao que Avillez ripostou «não é a mesma coisa» (do que ser presidente). Pois não, não é a mesma coisa. As candidaturas autárquicas deveriam ser exclusivo daqueles que já foram presidentes de câmaras. Nem que tenha sido só por 6 meses.
A minha irritação nasceu da óbvia falta de preparação que Maria João Avillez demonstrou. Insisto: apelidar de «bucólicas e saudosistas» as propostas de Ribeiro Telles para Lisboa é um tremendo disparate. E porque roçou a falta de respeito. Quem ficou a ganhar foi obviamente José Sá Fernandes, que saiu da entrevista com a sua posição reforçada. É um bom candidato à câmara. Não fosse o Bloco de Esquerda e estaria na rua a fazer campanha. Por Lisboa.