domingo, 10 de julho de 2005

Sometimes it takes simple models to better understand complex behaviour

A cidade é complexa. Quanto maior é, mais complexa se torna. Esta é uma ideia simples e de pouca contestação. A cidade, como palco e fado da civilização (o Homem decidiu, desde os primórdios, viver em comunidade), é alvo fácil e justo de todo o tipo de análises. Depois do racionalismo moderno e da sua atracção pelo funcional, as pesquisas sobre o urbanismo abriram-se aos mais variados tipos de pensamento académico. Sociologia, geografia, psicologia, economia, climatoligia, muitas outras ias, foram chamadas a dialogar sobre o planeamento urbano. A coisa atingiu proporções de demência ao ponto de ter transformado as escolas de arquitectura em centros relativistas onde se ensinava tudo menos arquitectura. Isto foi detectado a tempo e agora o panorama é mais contido. Sociologia sim, mas no seu devido lugar. O problema nasce, na minha opinião, da dificuldade de articular a análise com a acção. Sim, sem dúvida, as análises sociológicas (vejam nesta minha sociologia uma generalização de todas as áreas científicas exteriores à arquitectura e urbanismo) são estimulantes e interessantes. Mas sempre que se tentou desenhar sobre esses pressupostos, a coisa não resultou. Defendo que o urbanismo é, na sua génese e núcleo duro, uma actividade que se caracteriza pelas opções simples, uma grande dose de bom senso, e uma falta gritante de sex-appeal. Foi esta procura do sex-appeal intelectual nos anos 70 que transformou o urbanismo numa amálgama optimista onde, numa atitude com contornos de politicamente correcto, tudo passou a ser relevante. Como disse, ao nível da análise académica o interesse e a pertinência da interdisciplinaridade é inquestionável. Mas querer transpôr isso para o planeamento em si é encarar a cidade como um organismo controlável, espectável, reliable. Coisa que, manifestamente, não é. Não é possível traçar um modelo complexo para a urbe porque ao mínimo desvio (quer irá sempre acontecer) o modelo cai por terra e torna-se obsoleto. O urbanismo é tão mais eficaz quanto mais simples são os seus propósitos, propósitos esses que, devido a essa procura da simplicidade, devem ser correctos. E é aqui que a sociologia tem o seu papel: na elaboração de estudos que minimizem a margem de erro das opções urbanísticas. No fundo, deve ser passiva, não activa. Porque para a cidade quero o mesmo que para tudo o resto: que o princípio da liberdade e auto-regulação prevaleça. Ninguém gosta de crescer entre espartilhos.