quarta-feira, 11 de junho de 2008

Saramago on Agustina

Na última LER Saramago é entrevistado (um dos truques já apreendidos pelos jogadores de futebol da selecção nacional para dar uma aparência mais complexa a frases banais consiste em trocar a ordem natural dos elementos da frase). Li a LER mas não li a entrevista (estou para o Saramago como os camionistas para o trabalho: em bloqueio), falha que a minha mulher tentou corrigir lendo ela a dita, fazendo-me o resumo, e realçado o pormenor que mais a estimulou: às tantas Saramago fala de Agustina para dizer que ficou muito ofendido (mais ou menos isto) quando a escritora disse em entrevista que só havia dois escritores portugueses dignos do Nobel: Virgílio Ferreira e ela própria. Há nesta reacção de Saramago deselegância, sobranceria, e uma falta de astúcia intelectual gritante. É deselegante referir-se a Agustina quando sabe que Agustina não está em condições de responder (e não é possível que Saramago não o saiba); é sobranceira esta sua obsessão pelo Nobel, esta insegurança permanente e infantil, estes amuos; e é profundamente obtuso não perceber que Agustina não se leva tão a sério como o exilado de Lanzarote (apesar de ter razão).