terça-feira, 17 de julho de 2007

P. G. Wodehouse no metrô

A sério? Um ateu, é o que ele é? Eu próprio nunca me interessei por esse tipo de coisa. Na verdade, na escola particular até cheguei a receber um prémio por Conhecimento da Bíblia.

Época de Acasalamento, P. G. Wodehouse, em tradução de Alexandre Soares Silva, com adaptação para português de Portugal de Carla Hilário Quevedo e Fernanda Mira Barros.

Esse livrinho daí é perfeito. Pelo menos as primeiras 31 páginas - não escondo o meu entusiasmo. A verdade é que não estamos preparados para o humor. Ouvimos falar, as pessoas comentam, o Coutinho apregoa. Mas não estamos preparados, não com esta inteligência e elegância. E a edição é bonitinha, amarela, a capa é bonita e tem uma foto de P. G. Wodehouse na página 3 a escrever. Hoje, no metro, bem à minha frente, estava um sujeito igual ao Wodehouse, tirando os óculos, que não tinha. Eu segurei o livro à minha frente, aberto na página que tem a foto do escritor, braços esticados à altura dos olhos, e coloquei-me lado a lado com o meu colega de carruagem. E disse: «O senhor é igual a P. G. Wodehouse. Já alguém lhe tinha dito?» Ao que ele respondeu:

- Quem?
- P. G. Wodehouse.
- Não sei quem é.
- É um escritor.
- Nunca ouvi falar.
- Você não lê o João Pereira Coutinho?
- Quem?
- Se lesse já teria ouvido falar.
- Não ouvi.
- Mas você é impecavelmente parecido, curioso, não é?
- Curioso porquê?
- Porque ele acabou de ser traduzido pelo Alexandre Soares Silva, e eu acabei de comprar o livro, e você está aqui mesmo à minha frente.
- Alexandre quê?
- Soares Silva.
- Não conheço.
- Ele traduziu o P. G. Wodehouse.
- Pare de falar nesse homem, por favor.

E chegámos à estação do Campo Pequeno, pelo que saí.