quarta-feira, 4 de julho de 2007

Quando ninguém sabia quem era o Pedro Lomba

Nas últimas entrevistas que tenho ouvido sobre blogues começa a ser raro ouvir referências à Coluna Infame. Isto porque a maioria dos actuais bloggers não sabem o que foi, ou sabem mas já não se lembram (o que é mais grave). Ao fim de quatro anos nisto (pertenço à tal geração do verão de 2003), começam a aparecer os primeiros sinais de falta de identificação com o fenómeno. Eu comecei a escrever um blogue por causa da Coluna, por causa do João Pereira Coutinho, do Pedro Lomba, e sobretudo do Pedro Mexia; mas também por causa do Ricardo Araújo Pereira; e dos Marretas; e do José Mário Silva. E percebo que sou um elitista desavergonhado: isto era muito mais giro quando ninguém sabia quem era o Pedro Lomba.
Por falar em Pedro Lomba: circula por aí um sketch sobre um blogodependente. A coisa até tem graça, mas eu quero lembrar que só pode achar piada àquilo (nunca tinha escrito a palavra «àquilo» num post e sempre quis escrever «àquilo») quem não é da geração do verão de 2003 (além de elitista, sou ressabiado). Em jeito de homenagem recupero um post escrito pelo Pedro Lomba que foi publicado no Marretas, no dia seguinte a eu ter escrito o primeiro post:

UM BLOGODEPENDENTE EM RECUPERAÇÃO
Uma semana sem postar e os achaques aparecem. Acordamos de noite. Suores frios. Pesadelos. Uma indisposição permanente. Tomamos comprimidos mas não vale a pena. Não melhoramos. Estamos pior cada dia que passa. A melancolia ganha terreno. Toma-nos os dias, a vontade. Ficamos mais fracos. Mais bárbaros, mais susceptíveis. A inveja visita-nos. Tornamo-nos leitores de blogs que não conhecíamos, de blogs que não líamos e de blogs que nos insultam. As horas de dependência não diminuem. Aumentam. E depois relemos o que escrevemos. E reprovamos o que escrevemos. E lamentamos o dia em que postámos pela primeira vez. O dia em que o vício começou. O dia de não-retorno. Consultamos especialistas. Consultamos familiares. Consultamos quem não quer ser consultado. E pensamos que só há uma maneira de pôr termo a isto. De acabar com este sofrimento. Pensamos em voltar. Pensamos em voltar com pequenos e tímidos comentários. Que se lixe a doença. Que se dane a dependência. Os blogues são o nosso mundo, a nossa verdade. Não podemos e não queremos fugir-lhes. São só uns postezitos e já voltamos à cama.