quinta-feira, 19 de julho de 2007

Dá-lhes, Casanova

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Começando por baixo, parece-me que Tintim no Congo é "racista, desumano e cruel" da mesma maneira que certas nuvens no céu se assemelham a ovelhas, saxofones ou cafeteiras Moulinex; é preciso tiranizar o ângulo de visão e estar à procura do que se quer ver.
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Mas admito ter dúvidas sobre isto, o que me coloca em desvantagem imediata perante qualquer pessoa que não as tenha. O Comboio Azul não parece ter grandes dúvidas sobre isto. "Não tenho dúvidas", para não deixar dúvidas, é a primeira frase do post, o que me deixa algumas dúvidas.
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Talvez isto não seja nada mais grave que uma falha nos circuitos de distribuição das dúvidas, porque é tristemente frequente eu sentir o peso de dúvidas a mais, o que me faz suspeitar que provavelmente ando por aqui há anos a sentir as dúvidas de terceiros, incluindo as do Comboio Azul.
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É indiscutível que os africanos desenhados no livro são caricaturizados (os lábios grotescamente inchados, etc), mas, e porque nestas coisas é por vezes necessário reiterar o pateticamente óbvio, convém lembrar que estamos a falar de bonecos num livro de banda desenhada, e que a cabeça do próprio Tintim é um pêssego corado com dois furinhos no meio.
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Porque a questão de fundo é essa: quem sucumbe à tentação estruturalista de olhar para um álbum de BD como um atalho para diagnosticar maleitas culturais arrisca-se a encontrar inúmeros elementos objeccionáveis.
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Podia continuar, mas tenho de trabalhar. O que acabei de fazer foi escolher frases avulsas deste grande (nos dois sentidos) post do "Rogério Casanova". Foram escolhidas quase ao acaso. Saiam a correr para os quiosques de jornais, ou mesmo para as livrarias, e tragam-me, em 20 minutos, frases destas. Não conseguem. É o triunfo da blogosfera, vermes.