sábado, 30 de agosto de 2008
Rua Augusta
À atenção dos olheiros: por volta das 11:30 da manhã de hoje, na rua Augusta, estava um anjo loiro de olhos azuis a fazer coisas angelicais com um violino. Duvido que ela fale português, mas estou certo que se conseguirá estabelecer algum tipo de comunicação.
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
Obama
O tema de capa desta semana da Economist (Obama) gera três artigos que convém ler: «Leaders», a reportagem biográfica, e uma nota sobre o primeiro debate entre Obama e McCain. Depois de ontem ter assistido a um jornalista da Fox News, que cobria a convenção, descrever o anúncio oficial da nomeação do Barack (parece que agora é assim que toda a gente lhe chama) como «algo de especial» (não sei se já disse que isto foi na Fox), ler hoje a Economist consumou a minha sensação de que o mundo está de pernas para o ar. A Economist diz que McCain ganhou o debate (facilmente), explica o porquê da vantagem de McCain nas sondagens e traça um passado político nada, mesmo nada, abonatório para Obama. Parece que este é o destino do bom Barack: afundar-se nas desilusões dos seus próprios apoiantes, agora que eles estão a acordar do estado de dormência em que se deixaram cair e a avaliar seriamente as suas capacidades. O mundo, excepto os tipos da Fox (da Fox!), sente-se «traído» pelo super-homem e não está a gostar. De resto, o melhor discurso da convenção até agora foi de Michelle Obama, que assim se tornou na primeira mulher afro-americana seriamente candidata ao lugar de Hillary Clinton.
terça-feira, 26 de agosto de 2008
insolently charismatic, upper middle-class Englishman
Plano: copiar isto para o word, reduzir para letra pequenina por causa da pegada ecológica, imprimir e ler a caminho de casa.
Adenda: Trebuchet MS, tamanho 10: 10 páginas (parágrafo simples). Entre o planeta e os teus olhos, escolhe os teus olhos.
Adenda 2: À atenção de Heloísa Apolónia: mandei imprimir em «fast draft».
Adenda: Trebuchet MS, tamanho 10: 10 páginas (parágrafo simples). Entre o planeta e os teus olhos, escolhe os teus olhos.
Adenda 2: À atenção de Heloísa Apolónia: mandei imprimir em «fast draft».
Lucy in the sky with diamonds
Entretanto, para provar a pertinência das políticas de Jean-Claude Trichet, a transparência do sistema económico russo, e a incompetência dos dirigentes do Bétis, Nélson foi transferido para Sevilha por 5,5 milhões de euros e o Zenit abdicou de 30 milhões de euros por Danny.
Horror musical
Diziam que Sweeney Todd era um filme obrigatório. Eu, obrigado, lá fui. Agora penitencio-me por ter sido tão incauto. Estava lá escrito com todas as letras, o infame pleonasmo: «a horror musical». O pior Tim Burton de que tenho memória, 116 minutos de lenta agonia e desinspiradíssima criatividade, péssima composição de personagens, péssima banda sonora (then again, é um musical, não se deve esperar muito de musicais), péssima fotografia (oooh, aaah, tudo negro e cinzento a contrastar com o vermelho vivo do sangue), péssimo tudo, caraças. Só se salvam os breves minutos do Ali G, uma pequeníssima lufada de ar fresco no bafio reinante. Uma trampa pegada.
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
O Chiado
Siza Vieira, ao Público de hoje, citado pelo Eduardo Pitta:
«Os preços do Chiado são um entrave tremendo. [...] As rendas são caríssimas. Não se encontrou um meio jurídico de as controlar. [...] Algumas casas são habitadas permanentemente. Outras pertencem a pessoas de fora de Lisboa, que as deixam vazias grande parte do tempo. O administrador de um banco pagou um milhão de euros por um apartamento num último andar na Rua Garrett. É dos poucos habitantes que não se queixam da falta de estacionamento, porque o edifício tem parque. Mas se quiser um produto de primeira necessidade, terá que descer à Baixa ou subir a Santa Catarina.»
Nota:
- Os «meios jurídicos de controlo das rendas» foi o que nos trouxe até a este estado de degradação generalizado, e que potenciou o incêndio do Chiado. Ser comunista não pode ser desculpa para não se aprender com os erros.
- O «apartamento de um milhão de euros» foi desenhado por Siza Vieira.
- O Chiado é talvez a área mais bonita de Lisboa. Por isso, é a mais procurada. Por isso, é a mais cara. Por isso, é comprada por «administradores de bancos». E é assim que deve ser. Um dia, se eu chegar a administrador de um banco, também vou comprar o apartamento que quiser.
«Os preços do Chiado são um entrave tremendo. [...] As rendas são caríssimas. Não se encontrou um meio jurídico de as controlar. [...] Algumas casas são habitadas permanentemente. Outras pertencem a pessoas de fora de Lisboa, que as deixam vazias grande parte do tempo. O administrador de um banco pagou um milhão de euros por um apartamento num último andar na Rua Garrett. É dos poucos habitantes que não se queixam da falta de estacionamento, porque o edifício tem parque. Mas se quiser um produto de primeira necessidade, terá que descer à Baixa ou subir a Santa Catarina.»
Nota:
- Os «meios jurídicos de controlo das rendas» foi o que nos trouxe até a este estado de degradação generalizado, e que potenciou o incêndio do Chiado. Ser comunista não pode ser desculpa para não se aprender com os erros.
- O «apartamento de um milhão de euros» foi desenhado por Siza Vieira.
- O Chiado é talvez a área mais bonita de Lisboa. Por isso, é a mais procurada. Por isso, é a mais cara. Por isso, é comprada por «administradores de bancos». E é assim que deve ser. Um dia, se eu chegar a administrador de um banco, também vou comprar o apartamento que quiser.
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
Claro
A China baniu um álbum do iTunes chinês porque alguns atletas olímpicos o descarregaram. Ai, a liberdade de expressão. Mas depois vai-se a ver e aquilo é o Sting e a Alanis Morissette a cantar pela «paz no Tibete», «direitos humanos» e «liberdade religiosa». Pela primeira vez estou de acordo com Pequim.
Lançamento de crónica
(...) Não gosto de uivar com os lobos e fui cúmplice. Eu, que se fizesse 18,05 m em lançamento de crónica (a minha especialidade), então Roberto Pompeu de Toledo, cronista brasileiro da Veja, lançaria a 180,5m. Eu, perante esse meu fiasco, seria capaz de uma frase irónica. E, apesar disso, não deixaria de ser o profissional sério que sou. E Fortes?
Ferreira Fernandes
Ferreira Fernandes
Ainda o guia Record época 2008/2009
quero terminar a minha participação por hoje vergando-me perante quem eu mais gosto, pelo maradona, onde o maradona, adepto do Sporting, presta homenagem a Naide Gomes, atleta do Sporting, e a Marco Fortes, atleta do Sporting, dias após de ter enxovalhado Vanessa Fernandes, atleta do Benfica, naquela que está a ser (sem ironias) a melhor cobertura bloguística dos Jogos Olímpicos, apesar de ainda estar por colocar uma foto do Nelson Évora, atleta do Benfica.
P.S.: Que fique claro que eu tenho uma grande admiração pela Naide Gomes, até porque (a par do Nelson Évora para quem gosta dessas coisas) a Naide Gomes não só representa um nível competitivo fora do comum em Portugal, como também apresenta uma performance estética absolutamente fora do comum em Portugal (ver «Rosa Mota» ou «Fernanda Ribeiro»), e se nós ignorarmos estas questões essenciais estamos a trair as bases que construíram a nossa «civilização» como tal. É a barbárie.
P.S.: Que fique claro que eu tenho uma grande admiração pela Naide Gomes, até porque (a par do Nelson Évora para quem gosta dessas coisas) a Naide Gomes não só representa um nível competitivo fora do comum em Portugal, como também apresenta uma performance estética absolutamente fora do comum em Portugal (ver «Rosa Mota» ou «Fernanda Ribeiro»), e se nós ignorarmos estas questões essenciais estamos a trair as bases que construíram a nossa «civilização» como tal. É a barbárie.
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
terça-feira, 19 de agosto de 2008
Mesmo perdoando-lhe o gerúndio
Não há vento, porém a névoa parece mover-se em lentos turbilhões como se o próprio bóreas, em pessoa, a estivesse soprando desde o mais recôndito norte e dos gelos eternos. O que não está bem, confessemo-lo, é que, em situação tão delicada como esta, alguém se tenha posto aqui a puxar o lustro à prosa para sacar alguns reflexos poéticos sem pinta de originalidade. (...)
Isto é um grande início de romance. É tão bom que nem vou lê-lo sob pena de o resto não estar à altura destas duas frases.
E estas últimas frases? O que é isto? Não estou preparado para começar a gostar de Saramago:
(...) Fez plof e sumiu-se. Há onomatopeias providenciais. Imagine-se que tínhamos de descrever o processo de sumição do sujeito com todos os pormenores. Seriam precisas, pelo menos, dez páginas. Plof. (...)
Isto é um grande início de romance. É tão bom que nem vou lê-lo sob pena de o resto não estar à altura destas duas frases.
E estas últimas frases? O que é isto? Não estou preparado para começar a gostar de Saramago:
(...) Fez plof e sumiu-se. Há onomatopeias providenciais. Imagine-se que tínhamos de descrever o processo de sumição do sujeito com todos os pormenores. Seriam precisas, pelo menos, dez páginas. Plof. (...)
Rousseau em Telheiras
É difícil de sacudir a sensação de que o ensino equestre representa uma tentativa, por parte dos homens, para vergar a potência e a beleza do cavalo aos seus mesquinhos padrões de garbo e graciosidade.
Alexandre Andrade
Alexandre Andrade
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
Ensaio sobre a cegueira
(....) Depois de Soljenitsine, tudo mudou. E a defesa do comunismo tornou-se um lamentável ensaio sobre a cegueira.
Mexia
Entretanto descobrimos lá em casa um exemplar de O Arquipélago do Gulag que não sabíamos habitar a nossa estante. Foi durante uma insónia, num raide nocturno que fiz às prateleiras para escolher o meu próximo livro. Ainda não acabi o Salinger, mas espero que haja aí fora alguém que partilhe este meu prazer: o momento da escolha. Estar casado também é isto, descobrir coisas inesperadas na estante (que é curta, nada de extravagâncias). A minha mulher não soube explicar à primeira a origem do Soljenitsine. Depois lembrou-se: é um dos romances que havia em duplicado em casa dos pais dela e que ela trouxe sem nenhum objectivo imediato. Ainda não está explicada a duplicação de casa dos meus sogros, mas de qualquer maneira posso já anunciar que o livro seguinte será The Bedroom Secrets of the Master Chefs, de Irvine Welsh (o tipo que escreveu Trainspotting), que está à venda na FNAC (edição de capa dura) por 5,68 ou 6,87€ ou um preço assim desses. Entretanto, chegámos a Setembro, o Pedro Mexia está de volta, e esta do «ensaio sobre a cegueira» é muito, muito boa.
Mexia
Entretanto descobrimos lá em casa um exemplar de O Arquipélago do Gulag que não sabíamos habitar a nossa estante. Foi durante uma insónia, num raide nocturno que fiz às prateleiras para escolher o meu próximo livro. Ainda não acabi o Salinger, mas espero que haja aí fora alguém que partilhe este meu prazer: o momento da escolha. Estar casado também é isto, descobrir coisas inesperadas na estante (que é curta, nada de extravagâncias). A minha mulher não soube explicar à primeira a origem do Soljenitsine. Depois lembrou-se: é um dos romances que havia em duplicado em casa dos pais dela e que ela trouxe sem nenhum objectivo imediato. Ainda não está explicada a duplicação de casa dos meus sogros, mas de qualquer maneira posso já anunciar que o livro seguinte será The Bedroom Secrets of the Master Chefs, de Irvine Welsh (o tipo que escreveu Trainspotting), que está à venda na FNAC (edição de capa dura) por 5,68 ou 6,87€ ou um preço assim desses. Entretanto, chegámos a Setembro, o Pedro Mexia está de volta, e esta do «ensaio sobre a cegueira» é muito, muito boa.
sábado, 16 de agosto de 2008
Ou... a morte
Luanda é uma cidade mais interessante que Berlim. (...) O que faz Luanda uma cidade mais interessante que Berlim? Não, seguramente, a chamada «qualidade de vida» (...) O que faz Luanda uma cidade mais interessante que Berlim é... a vida. (...)
Paula Moura Pinheiro, na Única de 15 de Agosto de 2008
P.S: Eu vi logo que aquele ranking da Monocle não cheirava bem...
Paula Moura Pinheiro, na Única de 15 de Agosto de 2008
P.S: Eu vi logo que aquele ranking da Monocle não cheirava bem...
Não há almoços grátis
A Ordem dos Arquitectos, presidida por João Rodeia, veio lamentar a decisão da CML de indeferir a emissão de licença para um edifício no Largo do Rato - «uma situação que coloca em causa todo o meritório trabalho desenvolvido por um conjunto alargado de técnicos da administração pública que avaliou o projecto» - projectado por Frederico Valsassina e Manuel Aires Mateus, apoiantes da lista de João Rodeia às eleições da OA.
Adenda: O projecto foi aprovado no IPPAR durante a presidência de João Rodeia.
Adenda: O projecto foi aprovado no IPPAR durante a presidência de João Rodeia.
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
The Savages
Junto a minha a voz ao coro de hossanas a The Savages, apesar de ser um filme que não surpreende: esperamos Seymour Hoffman a fazer de Seymour Hoffman, Laura Linney a fazer de Laura Linney, e levamos com Seymour Hoffman a fazer de Seymour Hoffman e Laura Linney a fazer de Laura Linney.
Bastante menos evidente
O Ricardo Gross é a segunda pessoa, no intervalo de tempo de uma semana (aprendi esta com a minha professora de Física do 12º ano do Pedro Nunes: «espaço de tempo» não só é uma expressão de duvidosos méritos estéticos como é também uma aberração científica), a elogiar Into the Wild, com o respectivo acto de contrição por tê-lo menosprezado no cinema (sendo a outra pessoa João Pereira Coutinho, no Expresso.) Confesso que isto me atarantou um pedacito (esta aprendi com a minha professora de matemática do 9º ano do Pedro Nunes, que dizia sempre «um pedacito» quando tinha a oportunidade) porque também eu afastei para o lado a obra de Sean Penn e isto é gente cuja opinião cinematográfica aprendi a respeitar. Mas o que me traz verdadeiramente aqui hoje não é Into the Wild mas sim outra adaptação: Atonement. Quando Atonement passou no cinema não me apresentei à chamada porque o trailer não me convenceu (filme de época, aquele canastrão do Último Rei das Escócia, etc, etc) e porque queria, enfim, «ler o livro». Entretanto a vontade de «ler o livro» passou-me, não sei bem porquê, lá aluguei o filme e trouxe a cassete para casa (esta aprendi com a minha mãe: chama sempre «cassetes» aos DVDs). Não só achei o filme, vá lá, bom, como cresceu em mim a suspeita de que Atonement poderia muito bem ser um opus maior de McEwan, como já tinha lido e ouvido a pessoas de bem, embora algo incrédulo. Esta minha sensação de desconforto por provavelmente ter perdido o estado de virgindade perante uma obra de McEwan adensou-se com o facto de o Rogério Casanova ter dito ontem que a «mestria narrativa» de Saturday é «bastante menos evidente do que em Atonement». E agora o que é que eu faço?
In serial form, for Chrissake
(...) já fui capaz de perceber (extrapolando a amostra «capítulos 1 a 6» para o todo) que a obra tem uma cadência bastante regular (...)
Eu próprio, ontem, vangloriando-me da minha ignorância: está lá, na ficha técnica, para provar que se devem sempre ler as fichas técnicas: «First published in serial form in the USA 1945-6».
Eu próprio, ontem, vangloriando-me da minha ignorância: está lá, na ficha técnica, para provar que se devem sempre ler as fichas técnicas: «First published in serial form in the USA 1945-6».
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
Sem criatividade
Os fãs de John Mayer ouvem «Your Body is a Wonderland» e louvam-lhe a «poesia», a «metáfora», a «sensibilidade». Mas depois vai-se ver o currículo do artista e chega-se à conclusão que nada daquilo é filtrado: Mayer limita-se a descrever, com um grau de exactidão quase científico, aquilo que vê.
Calendário
Calendário do Euro 2008: 7 de Junho a 29 de Junho.
Calendário dos Jogos Olímpicos 2008: 8 de Agosto a 24 de Agosto.
Calendário das minhas férias: 20 de Julho a 4 de Agosto.
Topa-se a milhas que sou casado.
Calendário dos Jogos Olímpicos 2008: 8 de Agosto a 24 de Agosto.
Calendário das minhas férias: 20 de Julho a 4 de Agosto.
Topa-se a milhas que sou casado.
Ou vice-versa
O 6º capítulo de The Catcher in the Rye tem a exacta duração do meu percurso diário de metro. Apesar de não ser crítico literário já fui capaz de perceber (extrapolando a amostra «capítulos 1 a 6» para o todo) que a obra tem uma cadência bastante regular, o que me leva a concluir que J. D. Salinger se antecipou por 50 anos às equipas editoriais dos jornais gratuitos na elaboração do perfeito acompanhante para quem viaja diariamente entre a «Baixa-Chiado» e o «Campo-Pequeno», ou vice-versa.
terça-feira, 12 de agosto de 2008
Brincar à literatura
Sinto-me tão pouco preocupado com o Benfica que chego a colocar a hipótese de ter entrado em pânico sem dar por isso, por Rogério Casanova, onde Rogério Casanova vergasta com sentido de autoridade algumas opiniões, por exemplo as minhas.
P.S: Casanova, achas que fui ler o James Wood por acaso? Nãa, eu já sabia o que aí vinha e fui documentar-me previamente sobre o (provável) conteúdo do teu ataque. Já tenho inclusivamente montada uma defesa poderosíssima das minhas posições, ilustrada com alusões ao sistema táctico de Quique Flores e à problemática da integração de Di Maria na equipa após a Argentina ganhar o ouro nos Jogos Olímpicos, que infelizmente não vou poder explanar por manifesta falta de tempo provocada pela minha atarefadíssima vida profissional.
P.S.2: E se o Casanova sabe de cor que a citação de Bellow que epigrafa (mãe do Casanova?) Saturday inclui a expressão «late failure of radical hopes», nunca mais escrevo nada na vida, nem sequer aquela carta inflamada que estou a equacionar dirigir ao Paul Finch.
P.S: Casanova, achas que fui ler o James Wood por acaso? Nãa, eu já sabia o que aí vinha e fui documentar-me previamente sobre o (provável) conteúdo do teu ataque. Já tenho inclusivamente montada uma defesa poderosíssima das minhas posições, ilustrada com alusões ao sistema táctico de Quique Flores e à problemática da integração de Di Maria na equipa após a Argentina ganhar o ouro nos Jogos Olímpicos, que infelizmente não vou poder explanar por manifesta falta de tempo provocada pela minha atarefadíssima vida profissional.
P.S.2: E se o Casanova sabe de cor que a citação de Bellow que epigrafa (mãe do Casanova?) Saturday inclui a expressão «late failure of radical hopes», nunca mais escrevo nada na vida, nem sequer aquela carta inflamada que estou a equacionar dirigir ao Paul Finch.
Ainda sobre os recordes do mundo que têm caído que nem Joões Pintos na grande área
Ninguém me convence de que aquela piscina não tem um metro a menos.
0.08
Quero daqui enviar um fortíssimo apelo à população para vejam todos a final dos 4 x 100 livres masculinos em natação, sob pena de, enfim.
Wood
Para encerrar o capítulo McEwaniano recomenda-se vivamente o texto de James Wood (ainda que Wood force muito a barra de Saturday como história interior de uma conjuntura altamente politizada, mas enfim.)
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
This or that
O parágrafo da vergonha (bolds meus):
The recent debate about the ethics of working in China, given what is going on in Tibet, has raised once again the dilema of working with (or within) regimes which may not be particularly appealing. There is a certain attraction in declaring that one will not pratise in a certain country because of its behaviour in respect of this or that. The problem is just how far do you take it? There are many people how think Israel should be boycotted because of its treatment of Palestinians, that the Us and UK should be boycotted because of their invasion of Iraq, that either India or Pakistan should be boycotted because of their treatment of each other, or that Russia should be boycotted because of its treatment of the Chechens. The history of the world is a history of some people behaving badly; criticism of China behaving like an imperial power is a bit rich coming from countries who behave like imperialists themselves when it suits them, or who no longer do so because they have lost their empires. (...)
Paul Finch, China: Talking is better than shouting, The Architectural Review July 2008
Afinal foi mesmo Paul Finch quem assinou este repugnante bocado de prosa, uma tentativa distorcida de justificar a recente imigração para a China (ou Rússia ou Dubai) dos grandes escritórios de arquitectura. A verdade é esta: os arquitectos estão a trabalhar para a China (e para a Rússia, e para o Dubai) porque é aí que o dinheiro está. Ponto. A partir daqui tudo o que se disser terá só a intenção de desculpabilizar as consciências liberais (na asserção anglo-saxónica do termo) do ocidente. E é exactamente isso que Finch tenta aqui fazer de um modo muito ingénuo. Será preciso explicar que não é «o que se está a passar no Tibete» a principal razão para a condenação da China? Que o problema Chinês não é o seu «comportamento imperial»? E que é particularmente triste ver um cidadão inglês juntar no saco das nações que se «portam mal» o Reino Unido e os Estados Unidos? Nick Coen é que tem razão: o 11 de Setembro e o Iraque lixaram a cabeça à esquerda.
The recent debate about the ethics of working in China, given what is going on in Tibet, has raised once again the dilema of working with (or within) regimes which may not be particularly appealing. There is a certain attraction in declaring that one will not pratise in a certain country because of its behaviour in respect of this or that. The problem is just how far do you take it? There are many people how think Israel should be boycotted because of its treatment of Palestinians, that the Us and UK should be boycotted because of their invasion of Iraq, that either India or Pakistan should be boycotted because of their treatment of each other, or that Russia should be boycotted because of its treatment of the Chechens. The history of the world is a history of some people behaving badly; criticism of China behaving like an imperial power is a bit rich coming from countries who behave like imperialists themselves when it suits them, or who no longer do so because they have lost their empires. (...)
Paul Finch, China: Talking is better than shouting, The Architectural Review July 2008
Afinal foi mesmo Paul Finch quem assinou este repugnante bocado de prosa, uma tentativa distorcida de justificar a recente imigração para a China (ou Rússia ou Dubai) dos grandes escritórios de arquitectura. A verdade é esta: os arquitectos estão a trabalhar para a China (e para a Rússia, e para o Dubai) porque é aí que o dinheiro está. Ponto. A partir daqui tudo o que se disser terá só a intenção de desculpabilizar as consciências liberais (na asserção anglo-saxónica do termo) do ocidente. E é exactamente isso que Finch tenta aqui fazer de um modo muito ingénuo. Será preciso explicar que não é «o que se está a passar no Tibete» a principal razão para a condenação da China? Que o problema Chinês não é o seu «comportamento imperial»? E que é particularmente triste ver um cidadão inglês juntar no saco das nações que se «portam mal» o Reino Unido e os Estados Unidos? Nick Coen é que tem razão: o 11 de Setembro e o Iraque lixaram a cabeça à esquerda.
Sábado
Caro Bruno,
os tipos lá do Slate's Audio Book Club também acusaram Saturday de simplismo político para justificar o seu fracasso com romance que «nada acrescenta». Eu compreendo as críticas, mas não as acompanho: Saturday não é um romance político, é um exercício de estilo que aborda um dia da nossa contemporaneidade (a de 2003, pelo menos) e que por isso não pode negar o respectivo enquadramento político. E não é difícil de acreditar que a leitura desse enquadramento político aos olhos de um neurocirurgião que não lê romances e da sua filha que estuda literatura numa universidade onde os professores consideram a «demência» um reflexo social, seja exactamente aquele que nos é apresentado. Aliás, McEwan faz questão em nos dizer que essa «informação» chega sobretudo pela televisão, uma televisão quase omnipresente que vai repetindo as imagens da manifestação e da aterragem do avião em chamas. Mas isto já é dizer demais: não se pode ler Saturday à luz do comentário político que daí se poderá extrair. É preciso ler Saturday por essa «mestria narrativa» que não se pode pôr de parte, sob o risco de nos estarmos a afastar do essencial.
os tipos lá do Slate's Audio Book Club também acusaram Saturday de simplismo político para justificar o seu fracasso com romance que «nada acrescenta». Eu compreendo as críticas, mas não as acompanho: Saturday não é um romance político, é um exercício de estilo que aborda um dia da nossa contemporaneidade (a de 2003, pelo menos) e que por isso não pode negar o respectivo enquadramento político. E não é difícil de acreditar que a leitura desse enquadramento político aos olhos de um neurocirurgião que não lê romances e da sua filha que estuda literatura numa universidade onde os professores consideram a «demência» um reflexo social, seja exactamente aquele que nos é apresentado. Aliás, McEwan faz questão em nos dizer que essa «informação» chega sobretudo pela televisão, uma televisão quase omnipresente que vai repetindo as imagens da manifestação e da aterragem do avião em chamas. Mas isto já é dizer demais: não se pode ler Saturday à luz do comentário político que daí se poderá extrair. É preciso ler Saturday por essa «mestria narrativa» que não se pode pôr de parte, sob o risco de nos estarmos a afastar do essencial.
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
O Triunfo dos Porcos
Leio no Ípsilon que saiu uma nova tradução portuguesa de Animal Farm que «abdica» do título mais ou menos «oficioso» que a obra sempre teve em Portugal (O Triunfo dos Porcos), para o substituir por um mais bem comportado A Quinta dos Animais. O tradutor, Paulo Faria, justifica o gesto apelidando o título da tradução original como «infeliz» e «espalhafatoso e panfletário». Acontece que A Quinta dos Animais é um mau título (soa mal em português), e não nos convence de que os «animais» não têm, à luz da leitura da obra, a mesma conotação que têm os «porcos» originais, conotação que terá levado à indignação de Paulo Faria. Ou seja, a alteração do título representa várias derrotas simultâneas: perdeu-se um título forte para um título fraco; não se evitou o carácter «panfletário» (eu que sempre achei que Animal Farm era, por natureza, «panfletário»); e forçou o tradutor a revelar uma posição discutível. Animal Farm, a par de Our Gang (haverá tradução portuguesa?), de Roth, é a melhor sátira política que li e que - teremos que culpar Orwell por esta - retrata os líderes da revolução socialista russa como «porcos», numa escolha que não terá sido por acaso. O Triunfo dos Porcos era um título acertadíssimo. Não havia necessidade.
Adenda: Leio que no Brasil o título escolhido foi A Revolução dos Bichos. Cá para mim isto também é «panfletário».
Adenda: Leio que no Brasil o título escolhido foi A Revolução dos Bichos. Cá para mim isto também é «panfletário».
Nota
Há três coisas que me afastam do Acampamento de Jovens do Bloco de Esquerda: o «Bloco de Esquerda»; os «Jovens»; e o «Acampamento».
Errata
Obviamente, a crónica do Pedro Lomba a que fiz referência no post anterior não se chama «A arte do concelho» mas sim «A arte do conselho». Obviamente, não cheguei lá sozinho, foi necessária a intervenção de ajuda externa, a qual agradeço desde já. E um grande pedido de desculpas ao Pedro Lomba por tê-lo feito passar por um especialista em assuntos autárquicos, o que não é nada bonito.
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
Resumo em forma de poema
A arte do conselho, por Pedro Lomba, (parceria Complexidade e Contradição / Europa - América):
Estou em casa e recebo o telefonema de uma ex-amiga.
(Senti logo as entranhas do ego num revolvimento eufórico.)
Ouço-a falar prosaicamente sobre o namorado
que a uma semana do casamento tinha sido infiel.
Pedia-me uma opinião cartesiana sobre o que devia fazer.
Lá lhe disse o seguinte: não cases, cancela tudo.
Ela detestou o plano.
Meses depois, encontro-os na rua,
brandos, recém-casados, comprometidos.
Não me falaram.
Estou em casa e recebo o telefonema de uma ex-amiga.
(Senti logo as entranhas do ego num revolvimento eufórico.)
Ouço-a falar prosaicamente sobre o namorado
que a uma semana do casamento tinha sido infiel.
Pedia-me uma opinião cartesiana sobre o que devia fazer.
Lá lhe disse o seguinte: não cases, cancela tudo.
Ela detestou o plano.
Meses depois, encontro-os na rua,
brandos, recém-casados, comprometidos.
Não me falaram.
O Paul Finch deve estar a banhos
Primeiro, um protesto: de vez em quando aqui o painel desta merda aparece-me em inglês, outras em português. Não sei se estão a ver: às vezes é «new post», outras é «nova mensagem». Isto transtorna-me (e cá vai a terceira frase seguida com dois pontinhos): é como se o blogger estivesse a condicionar o conteúdo do que escrevo de uma maneira muito subtil, indicado se devo «postar» alguma coisa ou escrever alguma «mensagem». Eu não gosto de mensagens, não gosto sequer de sms's nem da dos Police que vem dentro da garrafa. E, sobretudo, nada daquilo que escrevo tem «mensagem», no sentido em que as parábolas infantis têm sempre uma «mensagem», ou os evangelhos. Portanto, e isto é para os engenheiros do Google que lêm este blogue (...ogue, ...ogue, ...ogue), faz favor de me meter esta coisa sempre em inglês.
Agora, outro assunto: o primeiro parágrafo do editorial da Architectural Review deste mês, escrito se não se me falha a memória pela Catherine Slessor (o Paul Finch deve estar a banhos), que versa sobre a China e os arquitectos na China e essas merdas, é das coisas mais demagógicas, repugnantes, rasteiras, nojentas, insultuosas, distorcidas, ressabiadas, ofensivas, bloco de esquerdistas que já li. Assim que me lembrar de ir ao carro buscar o meu exemplar desta revista que vergonhosamente assinei, venho aqui postá-lo (ao parágrafo) que é para vocês verem se não tenho razão.
Agora, outro assunto: o primeiro parágrafo do editorial da Architectural Review deste mês, escrito se não se me falha a memória pela Catherine Slessor (o Paul Finch deve estar a banhos), que versa sobre a China e os arquitectos na China e essas merdas, é das coisas mais demagógicas, repugnantes, rasteiras, nojentas, insultuosas, distorcidas, ressabiadas, ofensivas, bloco de esquerdistas que já li. Assim que me lembrar de ir ao carro buscar o meu exemplar desta revista que vergonhosamente assinei, venho aqui postá-lo (ao parágrafo) que é para vocês verem se não tenho razão.
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Robert Wenn and Antonio Camia
Acabei ontem o Saturday, do Ian McEwan, perfazendo assim um total de 3 obras-primas literárias (isto partindo do pressuposto que eu sou capaz de identificar «obras-primas literárias») noutros tantos romances de McEwan (On Chesil Beach, Amsterdam, e Saturday, não ordenados cronologicamente pela data de publicação mas pela data da minha leitura, como o leitor mais atento reparou) que li. O mundo é bonito, ou então é só a minha vida: menos de 12 horas após ter fechado o livro, não sem antes ler em absoluta sintonia as 145 páginas de citações elogiosas da imprensa que o volume carrega, estou a trabalhar ao som desta entrevista de McEwan ao Charlie Rose, que deve ser uma pessoa muito simpática apesar de não perceber nada de literatura, ao contrário de mim (reparem como ele ignora completamente a tentativa de McEwan de dirigir a conversa para o «aspecto técnico» que é escrever um romance no «presente», em oposição ao «passado», isto tempos verbais, claro.) Entretanto descobri uma coisa sobre o McEwan e sobre o seu Enduring Love que vi numa notícia do Guardian de 1999 (quem nunca citou uma notícia do Guardian com quase 10 anos que atire a primeira pedra) e que dedico ao Casanova, embora eu acredite que a probabilidade de o Casanova não conhecer este episódio é tão alta como a de eu um dia escrever um romance tão bom como o Saturday.
com o devido respeito, quero que o Roger Kimball se foda
Tenho a mania que gosto de umas merdas de arquitectura. Mas como estou sempre a ser relembrado, não gosto propriamente de "arquitectura", apenas ocupo de vez em quanto umas horas a sentir as emoções provocadas por umas peças de escultura monumental. Roger Kimball, aquele gajo da New Criterion, tem trabalhado muito nos erros ontológicos e suposta falência civilizacional que a arquitectura moderna alegadamente corrobora, mas, com o devido respeito, quero que o Roger Kimball se foda. Gosto do aspecto visual exterior da arquitectura moderna. Gosto do Gehry, Weisman Art Museum incluido. Gosto do Centro Pompideu. Gosto do Norman Foster. De facto, não vou muito à bola com o Calatrava, mas é só porque aquilo é branco, se pintassem os tubos de outra cor eu já gostava. Agora, depois da exposição no CCB, até já gosto da Unité d'Habitation. Mas o que eu queria aqui realçar é o novo Estádio Olímpico de Pequim, esculturado pelos fantásticos Pierre de Meuron e Jacques Herzog. Pode-se ficar indiferente a isto, mas tem que se gostar.
maradona
maradona
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
«E a Garagem Vitória?»
Existirão quatro coisas que Deus não conhece: o pensamento dos Jesuítas, os bens e propriedades dos Franciscanos, o número de congregações religiosas femininas existentes e as motivações do discurso e críticas arquitectónica urbanística portuguesa.
De um grande texto do João sobre o «mono» do Largo do Rato.
De um grande texto do João sobre o «mono» do Largo do Rato.
Bálsamo
O bálsamo do verão? A Monocle incluiu Lisboa na lista das melhores cidades do mundo para se viver. Foi um 24º lugar num total de 25, o que prova que a coisa foi bem feita: uma classificação mais alta deixaria dúvidas.
A Monocle revelou-se uma revista interessantíssima (não a conhecia). Neste número destaco, por exemplo, o artigo sobre o edifício de apartamentos perfeito, uma leitura nada negligenciável para os arquitectos. E Alain de Botton, um voz lúcida e incómoda (para os arquitectos) quando fala sobre a cidade e a arquitectura.
Em cada um
Para se ser feliz é só preciso ler o Complexidade e Contradição (e eu não vou repetir isto): torrada de pão alentejano (admite algumas variantes) + manteiga «Mimosa» (não admite variante de espécie alguma) + queijo flamengo «Terra Nostra» (admite variante «Limiano», mas não aquela merda do iogurte) + doce de tomate «A Farrobinha» (não admite variantes).
Há uma sexagenária em cada um de nós.
Há uma sexagenária em cada um de nós.
domingo, 3 de agosto de 2008
Embora te digam o contrário
Embora te digam o contrário, o passado é aquilo que se move à tua frente, enquanto o futuro te persegue, silencioso, lá atrás.
no B-Site
no B-Site
sábado, 2 de agosto de 2008
Retomamos
Obrigado aos que cá vieram abrir as janelas e regar as plantas. Passaram-se coisas, como costuma acontecer quando os dias se sucedem, e o enigma da estranha atracção das rádios rurais por Mark Knopfler ficou mais uma vez por resolver. E o Pedro Mexia terá descoberto que a Adriana Lima é virgem: lá terá o homem de interromper as férias outra vez e vir de Boliqueime explicar isto à nação.
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