OLHA EU
Durante os últimos cinco anos, boa parte da minha vida profissional foi passada a escrever textos humorísticos para Herman José. Fiz boas piadas (a modéstia é para os vaidosos). Também fiz más piadas, inevitavelmente. Nunca apareci na televisão, nem por um motivo nem por outro. Depois do Herman ter sido intimado a prestar declarações no âmbito do processo Casa Pia, a SIC fez uma reportagem sobre isso. Lá apareço eu, quatro ou cinco vezes, ao lado do artista, numa gravação das crónicas da rádio. Deus, se existe, está a gozar comigo. E tem graça, o velhote.
(27/05/2003) RAP
Gato Fedorento, O Blog - pag. 206
Ando a ler o livro do Gato Fedorento. Fica a nostalgia do tempo em que tinha de dar muitas piruetas para tentar explicar a quem quer que fosse quem era o Ricardo Araújo Pereira. Fica, também, a sensação de que o blogue foi engolido pelo programa de televisão. Excelente, diga-se, nenhum reparo. Mas o blogue corre o risco de se tornar apenas num fenómeno que serviu de rampa de lançamento para outras coisas, o que é uma enorme injustiça. O Gato Fedorento foi um dos melhores blogues portugueses, na altura certa, e não apenas pelo humor mas principalmente pela qualidade da escrita (nem sempre de orientação marcadamente humorística). Lembro-me do Pedro Mexia ter escrito, em tempos, sobre a sensação de ciúme que o invade sempre que um artista semi-oculto por si admirado é descoberto pelo grande público. Reconheço que o sucesso massivo do Gato Fedorento me causa um sentimento parecido, mas o que me leva a escrever isto é saber que o melhor humor que estes tipos fazem não se oferece a toda a gente. Ou seja, mesmo depois do seu sucesso, Portugal continua rir-se dos Malucos do Riso como se nada fosse. Isto, meus amigos, é que é o atraso estrutural.