segunda-feira, 10 de abril de 2006

Eu é mais manifestos

Já se percebe que não estou em condições para atacar Koolhaas nas condições ideais. Talvez daqui a uns dias, e valerá a pena insistir, porque a entrevista é tão má, tão má, mas tão má, que será um post fácil. Deixo apenas um aperitivo. O entrevistador (inspirado), entra a matar, com o pé em cima do estatuto político que Koolhaas vai reclamando, com perguntas deste calibre: What is a socialist like you doing designing shops for fashion house Prada and its world of luxury? Os pés de Koolhaas, esses, começam desde o início a meter-se pelas mãos. Apenas um exemplo. O herdeiro de Corbusier justifica assim a ligação que persegue entre arquitectura e política:

All important architecture of the last century was strongly influenced by political systems. Look at the Soviet system, with its constructivism and Stalinism, Weimer with its Modern style, Mussolini and, of course, the Nazis and Albert Speer's colossal structures.

Bela companhia que Rem Koolhaas escolheu para si, diria. E um belo exercício de retórica deturpada. O que Koolhaas aqui faz é inverter o nexo de causalidade: não é verdade que toda a arquitectura interessante do último século tenha sido influencidada pelos sistemas políticos, mas antes todos os sistemas políticos determinantes utilizaram a arquitectura. E essa arquitectura está longe de ser «toda a arquitectura importante». Aliás, se as desligarmos dos respectivos sistemas políticos, pouco sobra para admirar. E Frank Lloyd Wright? E Mies van der Rohe? E Alvar Aalto? Isto tem mesmo de seguir para outros posts.