É escandalosamente óbvio, e ainda mais escandaloso se torna após o visionamento do «debate» da RTPN, que o único resultado das eleições de amanhã para os não sei quê nacionais da Ordem dos Arquitectos que não envergonharia a classe seria a vitória de Manuel Vicente. A minha decisão de votar em Manuel Vicente - isto se aquela carta que recebi ontem a pedir-me 70 e tal euros para pagar «cotas» não vier a tornar-se um impeditivo, como diria Sócrates, anti-democrático* - estava já tomada há muito, mas confesso que se baseava única e exclusivamente num factor «positivo», se quisermos: gosto de Manuel Vicente. Mas o que me atropelou que nem um alfa-pendular neste «debate» (mania de se chamar «debates» a estas entrevistas simultâneas) foi a evidente melhor preparação de Manuel Vicente em relação à concorrência, pormenor que, não escondo, me surpreendeu. Estou a ser faccioso. Estou, pois estou, é mandarem as reclamações na volta do correio a ver se eu me importo. Termino este meu «apelo ao voto» (sinto-me, sei lá, quase «cívico» a dizer isto) com um pormenor auto-biográfico que julgo vir colorir esta minha intervenção aqui hoje (obrigado a todos por terem vindo): Manuel Vicente foi meu professor e na primeira vez que foi chamado a avaliar o trabalho por mim realizado disse: «vê lá se é na arquitectura que és feliz, há outros caminhos, sabes?» Tive 10, em 20, o que só prova a extraordinária intuição de Manuel Vicente para estas coisas da arquitectura. Foi o melhor 10 da minha carreira (enfim, foi o único, depois vieram outros professores não tão dotados a quem eu consegui enganar melhor).
* Anti-democrático (definição José Sócrates): tudo aquilo que é feito contra a nossa vontade.