O que escreveu parece ser sempre mais urgente do que como escreveu. Podemos não saber porque razão ganhou alguém o Nobel, mas ficamos sempre a saber os temas e as agendas e as geografias. Não saindo ainda do capítulo das informações irrelevantes, ficamos a saber, por exemplo, através de Hélder Macedo - que é «amigo pessoal» da escritora - que Doris Lessing é «muito amável e generosa» e que «dá muito apoio» aos «escritores mais novos», apaziguando assim as almas de quem não conhece Doris Lessing, lançando para cima da mesa as suas qualidades humanas. Também por parte da academia há sempre a necessidade de explicar o que um determinado escritor representa, ou seja, de justificar o prémio através daquilo que é representado e que não tem necessariamente a ver com literatura - por exemplo e neste caso, o feminismo. Nada disto tem a ver com Doris Lessing, a quem nunca li uma linha. Mas, a continuar assim, a nossa relação vai mesmo ficar por aqui.