segunda-feira, 29 de outubro de 2007
Logo ao Luís Amado, pá
via O Insurgente
Não sei porquê, este gesto incomodou-me. Talvez seja porque tenho alguma estima por Luís Amado - gosto sinceramente dele - mas acho que isso não explica tudo. É algo de mais profundo. Dissequemos então a cena. Num primeiro momento vemos Sócrates à procura de alguém com quem falar, ou à espera que alguém lhe venha dizer qualquer coisa. Vê uma câmara apontada para ele e percebe nesse momento que é como Cristiano Ronaldo, parado não rende. Depois repara que está ali Luís Amado, mesmo à mão de semear, mas hesita. Valerá a pena interagir com este, como dizer, subalterno? Hesita mais um pouco até que a presença da câmara se tornar insuportável, sufocante. Aí Sócrates toma a decisão e cá vai disto, sempre dá para encher uns segundos. Estica a mão e, talvez pela quinta vez, endereça os parabéns a Amado. Amado, que estava também a olhar para o horizonte à procura de algum dinamarquês ou alemão ou alguém respeitável assim, vê aquela mão ali estendida e prepara-se para consumar o acto. Eis senão quanto, para gáudio de Sócrates, aparece um bife qualquer (não sei quem seja, ajudem-me) como resposta às preces de Sócrates uns segundos antes. A melhor parte é esta: o tipo ainda está uns bons metros atrás de Amado, pelo que daria tempo para apertar o bacalhau ao Ministro dos Negócios Estrangeiros antes de cumprimentar seja lá quem for. Mas não, Sócrates decide abortar a operação de cortesia com o seu ministro, e precipita-se nas costas deste (uma belíssima imagem) para um terceiro que apareceu no horizonte. Amado, porque é português, não ficará decerto melindrado com esta sacanice.
Esta é a metáfora aqui implícita que me chateia. Tudo é demasiado europeu, aqui. A prontidão com que se trai um compatriota para não causar um incidente protocolar é assustadora. E é isto que parece ser o Tratado: um fenómeno puramente protocolar que exige uma ou duas pulhices às gentes nacionais. Mas também, e acima de tudo, este vídeo incomoda porque revela bem a personalidade de Sócrates, mas isso já não nos surpreende.