sexta-feira, 12 de outubro de 2007
Bola preta
The Inner Life of Martin Frost é um filme que queremos rapidamente esquecer porque expõe cruelmente todas as fragilidades que julgávamos (ou queríamos acreditar) não existir na escrita de Paul Auster. É um filme sobretudo mal feito e muito mal contado, pretensioso e mal interpretado. A ingenuidade do argumento revela-se na incapacidade de construir personagens de carne e osso, na incapacidade de meter vida naquilo tudo. Tudo se passa, percebemos, num universo austeriano idílico, sem o contacto do «mundo exterior», como às tantas é dito por Martin Frost. O problema é que a breve aparição do «mundo exterior» é a única coisa que não se deita fora no filme: a personagem de Michael Imperioli, um canalizador trotskista aspirante a escritor que pensa que Nova Iorque é uma ilha ao largo da costa europeia. Isso e Sophie Auster, a verdadeira salvadora do filme, emprestando a sua «voz de anjo» e os seus olhos azuis aos últimos 10 minutos deste desastre cinematográfico, numa cena final que parece ser um acto de contrição de Auster. Felizmente, já li tudo o que tinha para ler de Paul Auster, porque acho que depois disto não conseguiria ler mais nada. Bola preta.