Um diz que fica feliz quando vê uma ex-namorada infeliz. Outro diz o inverso, e pelo caminho cita Updike para dizer que «perceber que uma ex-namorada já não se quer deitar connosco é experimentar uma "pequena morte"». Não sei do que falam estes senhores porque, em bom rigor, só tenho uma ex-namorada. Que caiu no esquecimento. Percebam: quando digo que caiu no esquecimento não quero usar um eufemismo para esconder um trauma por resolver. A verdade é que o acontecimento (começar, disfrutar, acabar) foi há muito tempo e eu - e ela - era uma pessoa tão diferente daquilo que sou hoje que só nestas ocasiões o assunto me vem à memória. Feliz, ou infeliz, a verdade é que não me interessa. Não consigo sequer colocar-me numa posição em que tenha de escolher. Por altruísmo prefiro imaginá-la feliz num banho de ambrósia, mas até isso é uma perda de tempo. Isto, meus amigos, é que é uma pequena morte: perceber que uma relação e todas as memórias que ela produziu nem à prateleira mais inacessível da estante foi parar. Que se perdeu numa mudança qualquer e agora talvez pertença a outra pessoa, que viu na sua poeira algo que me escapou.
E depois querem que eu tenha boas recordações da «adolescência», que exalte a «juventude» como a melhor altura da vida, que seja nostálgico antes dos 30. Está tudo doido.