domingo, 14 de outubro de 2007

O casamento (1)

As novas tecnologias introduziram um novo flagelo no vulgarmente denominado «copo de água»: o vídeo. Não há casamento que não tenha o seu. O ritual é o da praxe: findo o café, servido o digestivo, e lá está o amigo da noiva a colocar o computador em posição. O resultado é sempre o mesmo, ou seja, uma elegia funerária. Fotos dele em bebé, fotos dela em bebé, fotos dele em criança, fotos dela em criança, fotos dele com os amigos, fotos dela com as amigas. Depois conhecem-se e o vídeo acaba. Ponto final, história contada, história fechada. O que se diz durante aqueles minutos é o que se diz numa cerimónia de casamento, mas condensado: a liberdade chegou ao fim, a vida de solteiro acabou. Os amigos e as amigas despedem-se, em fade out, com banda sonora apropriada. Nada disto é triste porque está tudo demasiado bêbado. É hora de festejar os noivos, de glorificar a sua eterna felicidade. A sua nova etapa, o caminho que maravilhosamente decidiram percorrer de mão dada. Mas o raio do vídeo volta para nos assombrar com as suas recordações. Viagens de finalistas, festas de adolescentes, jogatanas de futebol. A partir desse dia tudo passa e estar arrumado no passado. No passado irrecuperável e feliz. Viva os noivos.