segunda-feira, 22 de outubro de 2007
E nisto ninguém fala
As declarações de Watson têm a elevação intelectual de um alcouce, certo. E têm entretido muitos, que decerto assistem ao espectáculo acompanhados por cerveja e umas alcagoitas. Mas até agora ninguém tocou no ponto fundamental, na maior enormidade que disse Watson. Os argumentos têm balançado de um lado para o outro que nem alforrecas, relativamente disformes, centrados num só tema: o facto de um cientista acreditar que há raças superiores e inferiores, crença (porque não foi algo que Watson terá aprendido com a ciência, mas com a sua experiência - teve uma empregada preta que não era inteligente) disparatada e racista. Mas o que Watson alegou é mais grave do que isso: Watson afirmou que o problema do sub-desenvolvimento de África está no facto de nós, os brancos, partirmos do princípio que eles, os pretos, são tão inteligentes quanto nós. Isto pressupõe que se nós, os brancos, passássemos a considerar que eles, os pretos, nos são inferiores, África sairia da catástrofe em que se encontra, declarando por decreto essa relação de superioridade e arrogando-nos o direito da gestão territorial de toda a zona subsariana. É aqui, nesta lógica neo-colonial (ena, pareço o Boaventura), que Watson diz o seu verdadeiro disparate. E nisto ninguém fala.