quinta-feira, 29 de dezembro de 2005

2005 (1)

Não tenho grande capacidade de síntese nestas alturas, e o pouco tempo livre de que disponho não dá azo a grandes elaborações. Mas posso ir tentanto. Então falemos dos melhores álbuns de 2005. Cá ficam:







Este último é já de 2004, mas eu só o descobri este ano e a lista é minha, faço o que eu quero. Boa noite a todo o auditório.

terça-feira, 27 de dezembro de 2005

A César o que é de César

Que este blogue serve para denegrir a imagem do seu autor, isso não constitui surpresa. Agora, a sua utilização para troçar uma terceira pessoa é que já me parece abusivo. Não sede injustos, o bobo aqui sou eu.

Isto anda para aí um vírus

Cristo vivo

Não quis provar nada nem, acreditem, fazer nenhuma declaração. Quis apenas relacionar o Natal com a figura de Cristo. Uma relação perigosa nos dias que correm. Uma relação, pessoalmente, algo ténue (infeliz e imperdoavelmente). Ainda assim arrisquei e aqui coloquei uma imagem de Cristo (morto, sim) de que gosto muito. Teologicamente desfasado com o calendário, este quadro de Mantegna é no entanto exageradamente táctil. Apresenta-nos um corpo deitado, inerte. Um homem morto que é chorado por duas pessoas, um homem e uma mulher, que em nada se anunciam como Maria e S. João. A importância dada ao corpo é invocada pela perspectiva que, ao dificultar o trabalho da proporção na definição do corpo humano, prende-nos nos pormenores que nos surpreendem (e terão surpreendido muito mais em 1480). A invulgaridade desta pessoa é-nos sugerida pela sua boa forma física: em todos os aspectos é um corpo quase ideal que aqui vemos. Se excluíssemos as chagas e o contexto, veríamos uma imagem da finidade humana, da sua extrema e imprevisível fragilidade, da morte como fim natural de todos nós. Não é um velho ou um doente que morre mas um homem no auge da sua vida. E é ao acentuar os ossos e a carne de Cristo, bem como a relativa indiferença com que representa o choro de Maria e S. João, que Mantegna nos assola com o choque do real e retira Cristo da distância institucional que a sua condição muitas vezes cria. Esta dimensão irreal de Cristo é acentuada no Natal, onde o homem é passado a menino. O Natal celebra quase um acontecimento abstracto e utópico, um ideal de amor humano que encontra na criança a metáfora perfeita. Mas o Natal é o nascimento de um homem que, apesar de dividir todos os outros acerca da sua condição divina, mudou o mundo. Não sei se isso é o suficiente para o deificar, mas sei que é o suficiente para o recordar. Ano a ano, no Natal. E o resto é palha.

sábado, 24 de dezembro de 2005

Bom Natal



Andrea Mantegna

Big Flop

King Kong é desproporcionado, exagerado, musculado, ruidoso, inverosímil, incomodativo, mau. E tem um macaco lá no meio.

(Safam-se Jack Black a fazer de Jack Black e Adrian Brody a fazer de Adrian Brody. O resto é lixo.)

quinta-feira, 22 de dezembro de 2005

E nós com ele

O Carlos MacGuffin Carapinha está a perder qualidades.

Sensibilidades

Quanto ao uso do preservativo, estou com Ratzinger: sou contra.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

O «debate»

Só é possível analisar um debate entre dois candidatos à presidência de um país da União Europeia quando os dois decidem comportar-se como tal. Infelizmente (ainda que felizmente para mim e muitos mais, que vêem o objectivo desejado cada vez mais perto) isso ontem não aconteceu. Perante Cavaco esteve um derrotado desesperado e desesperante, obcecado pela figura que tinha à frente e, talvez o mais triste, sem capacidade para descer o nível da conversa, apesar das continuadas tentativas. Por muito que isso custe a Soares, ele vai ser presidente.

terça-feira, 20 de dezembro de 2005

2009

Manuel Salgado defende estação do TGV para Chelas

Quarenta e três finalistas de Arquitectura do Instituto Superior Técnico (IST) respondem hoje a um desafio que lhes foi lançado pelo arquitecto, que é responsável pela cadeira de projecto do final do curso: como sofisticar o bairro de Chelas, libertando-o do estigma de ghetto que sempre lhe esteve colado?
(...)
Pura utopia? "Estes trabalhos têm um certo grau de utopia que é útil e necessário. Mas também houve preocupações de exequibilidade". Manuel Salgado garante que não passou despercebido aos futuros arquitectos o facto de Chelas ter um vale por onde várias linhas de água escorrem para o rio, o que constitui uma condicionante à construção. Na Avenida da Liberdade há uma situação semelhante, e não é por isso que ali continuam hoje as hortas que em tempos lá existiram, observa.
O presidente da câmara e o secretário de Estado do Ordenamento do Território estão entre os convidados para a apresentação dos trabalhos dos finalistas no IST.


in Público, 20.12.05

domingo, 18 de dezembro de 2005

Puro deleite



(Caro André: lamento, o meu é muito mais bonito.)

quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Aires Mateus: round two

O João defende que a exposição Aires Mateus: arquitectura é verdadeiramente uma exposição de arquitectura (ao contrário do que eu sugeri), não acreditando nessa «desconformidade entre a exposição e a arquitectura». Ou seja, nas palavras do João, neste caso a comunicação da arquitectura é feita em «concordância com o pensamento arquitectónico que se pretende comunicar.» Percebo o argumento (Manuel Graça Dias tem um ponto de vista semelhante, desenvolvido no Expresso desta semana) Seja. Aceito. Estamos então perante algo cada vez mais artístico, em todos os sentidos da palavra: criativo, único, independente, plástico, livre, emotivo, essencial. E estamos perante mais uma prova de que os arquitectos cada vez mais querem desenhar para arquitectos, porque só estes (raras são as excepções) serão capazes de acompanhar todas as intenções tão puramente apresentadas, podendo colocar-se na posição priviligiada do apreciador. Porque a procura tão intensa da radicalidade dos gestos arquitectónicos deixa pelo caminho todas as notas de rodapé essenciais à compreensão do todo. Ao fechar ao máximo, como o fazem os irmãos Aires Mateus, o buraco da fechadura por onde se espreita a arquitectura, é inegável que o fascínio é maximizado em detrimento da informação, da explicação, da discussão. Esta exposição serve para impressionar. Ao fazer isso usa a própria arquitectura que é escolhida, descontextualizando as obras e reutilizando os fragmentos dessa operação dando-lhes um novo significado ou, e aqui reside a base da nossa discordância, recuperando esse significado conceptual primário que as coisas tiveram antes de terem sido largadas no mundo. Esta é a dúvida: arquitectura sem pessoas é arquitectura?

terça-feira, 13 de dezembro de 2005

Patético*

O senhor responsável pela página Quadro de Honra da revista Dia D (suplemento de qualidade do Público de segunda-feira) achou por bem ilustrar uma pequena nota que fez relativa ao elevado número de pessoas que adquirem «deficiências auditivas devido às suas actividades laborais», com esta imagem:



Vamos partir do princípio que, de facto, aquele pano branco à volta da cabeça deste senhor obviamente surdo é uma indicação sobre a sua, óbvia, surdez. Vamos partir do princípio que, à semelhança do que se passa com os cegos e os óculos escuros, que, como sabemos, é uma associação impossível de falhar, ou seja, sempre que um indivíduo por nós passa na rua envergando um par de lentes corta-sol assola-nos logo aquele sentimento misto de culpa e compaixão para quem infelizmente é detentor de uma deficiência física extremamente aborrecida, dizia, partiremos então do princípio que o facto de esta figura aqui retratada ostentar um pano sobre a orelha só pode significar que não tem a capacidade de ouvir. Vamos, inclusivé, partir do princípio que nos deverá saltar ao conhecimento imediatamente ao vermos esta imagem que este senhor é surdo. Iremos, posto isto, partir do princípio que esta é uma imagem neutra, simples, que terá sido produzida por um qualquer designer estagiário para ilustrar uma campanha a favor das vítimas da surdez, ou seja, dos surdos. Trocando por miúdos, vamos partir do princípio que todos nós somos capazes de, ao mirar prostrados esta maravilhosa escolha de ilustração, proceder ao mecanismo de raciocínio que nos levará no seguinte caminho: imagem - pano - orelha - surdez, assim, sempre em frente, sem medos. Ora, partindo do princípio que isto tudo faz sentido, será que é suposto ignorarmos que estamos perante um auto-retrato de Van Gogh e que aquele pano branco não, não é um sinal alusivo à sua surdez, mas o resultado trágico da sua instabilidade psíquica que foi responsável por um célebre ataque de auto-mutilação que levaria o artista holandês a cortar a sua própria orelha aos 23 dias de Dezembro de 1888, em Arles**?

* No tal Quadro de Honra esta nota aparece, ironia ironia, junto ao infinito imaginário do eixo do referencial com esta denominação.

** É que se não é suposto ignorarmos esta pequena informação, de que forma deveremos relacioná-la com, relembro, as pessoas que adquirem «deficiências auditivas devido às suas actividades laborais»? Ora, só podemos imaginar, e estando nós conscientes da «actividade laboral» de Van Gogh, será que o nosso amável jornalista nos quis implicitamente sugerir toda uma imagética envolvendo pincéis e (aqui está a subtileza) um novo
meio de pintura, avançando quiçá com uma alternativa natural aos óleos e acrílicos?

domingo, 11 de dezembro de 2005

Watts e Kidman



Chegará o dia em que, inevitavelmente, o mundo terá que se dividir entre aqueles que preferem Naomi Watts a Nicole Kidman e aqueles de mau gosto.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2005

Uma questão pertinente

A recente polémica sobre os crucifixos nas escolas levanta uma questão interessante: por que razão não se ouve uma única voz representativa das confissões não católicas no coro exigindo a retirada desses símbolos? (...)

Esther Mucznik dedica o seu artigo de hoje a responder a esta pergunta («Laicidade e liberdade religiosa», sem link, no Público).

quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

Símbolos

Haverá algo mais arreligioso do que um par de ursos polares? Enquanto anda meio portugal a discutir a retirada massiva dos cinco crucifixos que ainda restavam nas escolas públicas mais remotas (acho bem, fica registado, apesar de considerar que um símbolo religioso esquecido e, provavelmente, ignorado numa parede de uma sala de aula, que como sabemos, é objecto do maior dos afectos por parte dos alunos, está longe de ser uma ofensa ou uma violação de uma qualquer liberdade fundamental), houve alguém que se lembrou de afastar do Natal o seu lado religioso. O que sobra?, pode perguntar-se. Parece que muita coisa. E parece também que fazer associar o menino Jesus, vá lá, as palhinhas e os pastores, vá lá, o burro e a vaca ao Natal é uma atitude semelhante a ter crucifixos pendurados em pregos nas paredes. Uma claríssima violação constitucional. Uma barbárie. E este Estado que se diz laico. Onde é que já se viu, querer tornar o Natal numa coisa cristã. Vai daí e os senhores responsáveis pela decoração natalícia da estação de metro da Alameda lembraram-se de, em vez do ofensivo presépio (v. palinhas, jesus, vacas e burros), presentear a laicidade natalícia respirada pela maioria dos utentes do transporte público subterrâneo de Lisboa com, vejam bem, um par de ursos polares cobertos por uma substância que me parece querer representar neve. Está bem. Concordo. A opressão natalícia já vinha sendo exercida há demasiados anos sobre a significativa comunidade esquimó portuguesa.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

Blogosfera

Tenho uma relação de amor-ódio com as mulheres. Eu amo-as. Elas odeiam-me.

Tiago Galvão, no seu já obrigatório Diário.

Outro exemplo, não resisto: Uma leitora diz que eu lhe falo ao coração. A última mulher a quem eu fiz isso teve um ataque cardíaco.

sábado, 3 de dezembro de 2005

Beta gira

Parece que o Vasco ficou tão espantado quanto eu. De facto, e é isso que até ver se constata, Vasco Pulido Valente elogiou realmente alguém. Ora, e não sendo eu dado a especulações do foro táctico-íntimo, surgem desde logo uma série de suposições todas elas passando pelo facto de o objecto do elogio de VPV apresentar, digamos, um aspecto um bocadinho acima da média do que aos intelectuais diz respeito. Brains and looks, ou coisa que o valha. Uma coisa é certa: este pode ser o início de uma nova era no colunismo português.

P.S: Se toda a gente se plagia, quem plagia VPV?

sexta-feira, 2 de dezembro de 2005

Bom blogue

Venturi, casas de imigrante, e o link para o site de José Forjaz. Começou muito bem, odespropósito.

«Gira», sei

O que é uma beta?

terça-feira, 29 de novembro de 2005

Weisz & Cª



Uma boa realização (Meirelles) para um fraco argumento, uma adequada interpretação (Weisz) e uma extraordinária fotografia.

Fraco porque não sabe aproveitar a polémica política (o retrato feito das grandes multinacionais face a uma oprimida África é demasiado redutor e moralista, não tanto pela situação por si mas mais pela caracterização simplista dos "bons" e dos "maus"), centrando-se numa "história de amor" com pouca história. O argumento tem, no entanto, um momento feliz: todo o tempo durante o qual se suspeita da fidelidade de Tessa, momento esse em que a interpretação de Fiennes quase que chega a fazer sentido e Weisz brilha. Aliás, a «gaja da múmia» está a revelar-se uma actriz digna de registo (já o era por outras razões). No geral faltou a Meirelles a violência a que não se poupou em A Cidade de Deus.

Fazendo as contas ando lá pela loucura dos eighties

Segundo dados agora revelados pelo Instituto Nacional de Estatística, os portugueses casam cada vez mais tarde. Em 1994, os homens casavam-se em média aos 26,7 anos. Em 2004, casam-se em média aos 28, 6. É bom saber que estou à frente do meu tempo: vivo, digamos, em 2024.

Estado Civil

O ar da coisa

(A propósito da indignação do João, que eu não partilho, sobre o Bom Sucesso - Design Resort, Leisure, Golfe & SPA, relato uma curta conversa que mantive na passada Feira do Imobiliário, em Lisboa.)

Aproximo-me da maquete de conjunto, que já apresenta os projectos desenvolvidos. Inclino-me sobre a dita cuja, olho com atenção.

- Boa tarde, posso ajudá-lo?

Cinquentas, fato e gravata mal amanhados, bigode, eis o meu agente imobiliário evidentemente orgulhoso.

- Não, estou só a ver...

Arrependo-me rapidamente.

- ... por acaso até pode, espere lá. Diga-me só uma coisa, porque é que há arquitectos que estão aqui a desenvolver projectos que não aparecem ali no painel?

Aponto para um cartaz king-size com os retratos dos artistas tal e qual poster de estrela rock.

Pausa.

Ar de espanto do meu interlocutor.

- Porque é que diz isso?

- Olhe, por exemplo, aquela bolacha ali é do Graça Dias e do Egas José Vieira, e não vejo a cara deles ali atrás.

Intrigado.

- É arquitecto?

- Sou.

- Pois, isso tem a ver com as fases do projecto. Estamos a reservar alguns nomes para a segunda fase. Olhe, sabe de quem são estas aqui da ponta?

E aponta para três ou quatro caixas iguais às outras.

- Não.

- São do Chipperfield.

Orgulho, orgulho, orgulho.

- É para dar um ar mais internacional à coisa.

Não garanto, mas há fortes hipóteses de ter visto ali uma piscadela de olho.

- Obrigado, boa tarde.

João, vai conferir o projecto do Graça Dias e do Egas José Vieira. Uma autêntica aspirina para essa tua indisposição.

O drama, a tragédia, o horror

(...) Os auscultadores e os SMS isolam os jovens do mundo. (...)

João César das Neves

Dar uso à palavra

Quando pressiono por duas vezes seguidas na tecla 8 do meu telemóvel a primeira palavra que o dicionário reconhece é «tv». Talvez isto seja uma metáfora. Talvez para muitos isto seja um sinónimo. Ou a triste realidade. Para mim é apenas um contratempo.

sábado, 26 de novembro de 2005

Frase

Nos chats, pelo contrário, entre o primeiro contacto e o primeiro encontro é um instantinho. E, às vezes,entre o primeiro encontro e o primeiro contacto ainda mais é mais rápido.

Pedro Mexia, Encontros para cegos, in GR 255

Ser um grande cronista é isto: numa crónica que não é das melhores, ter uma frase destas. Justificou a estampa.

Ponto

Um indivíduo que está sempre a dizer que lá fora é que é bom é um provinciano. Ponto.

João Pedro George

Também se poderá acrescentar, no entanto, que um indivíduo que está sempre a dizer que cá dentro é que é bom é um parvo. Ponto.

A duas velocidades

A A10 tem vindo a reforçar uma realidade: a melhor arquitectura da Europa vem da Suíça, da Irlanda, da Finlândia, da Dinamarca, da Península Ibérica (sim, nós também) e, surpreendentemente, do Leste (Croácia e Eslovénia). O Reino Unido tem mau gosto, por França também se entusiasmaram pelo ferro e o vidro (Nouvel, Perrault), em Itália ainda ninguém lhes disse que já estamos no sec. XXI e que o Rossi já está nos livros de História, da Alemanha chegam só sedes de empresas, na Áustria são todos autistas e julgam-se o que não são (ou seja, todos mini-Coop Himmelb(l)au). Quer dizer, basicamente é isto. Ah, quase me esquecia da Holanda. Da Holanda só me apraz dizer o seguinte: prefiro MVRDV à OMA.

Follow the leader

O Blogue de Esquerda acabou com dignidade. Mérito do José Mário Silva, que se desdobra agora a solo no A Invenção de Morel, e acompanhado no Aspirina B. Quem conhece minimamente a blogosfera sabe que não se pode perder o rasto ao José Mário. Ficam aqui as setas, então.

sexta-feira, 25 de novembro de 2005

Under the bridge com aquecimento central e lugar de estacionamento

No edifício ao lado do meu, o banco público gerado pelo desenho da loja do rés-do-chão sempre serviu de dormitório para gente sem-abrigo. Sempre me incomodou. O dormir na rua é das violências maiores que imagino possam ser inflingidas a um ser humano. Significa a perda total de dignidade, de companhia, de afectos. Aquela gente não tem ninguém, nenhuma família, um amigo que lhes ofereça um bocado de tecto. Alguns podem ter merecido essa condição, outros podem ser apenas vítimas de um percurso de vida azarado, outros simplesmente nunca terão conhecido outra condição. Não sei, nem (e isto faz parte da nossa condição urbana) quero saber. Para mim são apenas pessoas com as quais não me quero relacionar, sob pena de estabeler um qualquer vínculo emocional sem consequências práticas para a vida deles. Nunca lhes disse boa-noite, nunca lhes dei esmola, nunca me vieram pedir nada. Passo por eles a caminho de casa, de noite, com frio, e fico sempre impressionado. Lembro-me que sou católico e que, mais do que uma qualquer obrigação ética, isso me define como alguém que não é indiferente ao outro. Não sei o que fazer. Registo só a minha consternação pelo facto, consternação essa que admito ter-se tornado mais evidente desde que a loja foi ocupada por uma agência imobiliária.

quarta-feira, 23 de novembro de 2005

1984

Recebo um e-mail (no endereço pessoal, não o do blogue) de uma empresa que desconheço com o assunto «Forma, boa nutrição e controlo de peso». Só quero saber uma coisa: quem é que se chibou?

Something is rotten in the state of Sweden



Arrogantly modest Sweden, é o título do artigo assinado por Claes Sörstedt na A10 #6, onde se tenta perceber porque razão é a arquitectura Sueca dos últimos 20/30 anos tão desinteressante. A prosa arrasa o país e traça um cenário desolador da arquitectura contemporânea. Não anda muito longe dos lusos lamentos. Ilustro:

(...) It is important to stress that the architect's role has been marginalized. There are almost no formal requirements for an architect that cannot be met by a civil engineer, technical draughtsman or even a layman. The architect is reduced to a slightly arty consultant, never fully responsible. The virtue of professionalism is highly praised while design integrity is not a core issue. (...)

Pelo caminho ficam críticas ao socialismo (que baixou o nível de exigência e instituiu padrões banais para satisfação de todos, criando a cultura da repetição e do aborrecimento) e ao conservadorismo (que se aproveitou da crise do moderno para politizar fortemente a arquitectura moderna e promover uma ideia romantizada da tradição). Tudo para descrever a Suécia como um país arrogante, saudosista e extremamente aborrecido. Tirando, claro, as «blond cover girls», Claes Sörstedt consegue, em três páginas, destruir o mito do «Modelo Sueco».Gostei.

Imagem: primeiro resultado para «Swedish Model» no Google Images

domingo, 20 de novembro de 2005

Pormenorzinho irritante, hein?

Vital Moreira usa constantemente o pretérito imperfeito do conjuntivo quando se refere à possibilidade de Cavaco ser eleito.

Great ideas for kitchens

Uma das grandes diferenças que sentimos quando passamos de estudante a arquitecto é que passamos a dar menos atenção aos livros que estão na estante assinalada como Arquitectura e mais aos da secção Decoração.

My moleskine



Confesso, estou vaidoso.

Direito por linhas tortas

Sobre o caso das duas miúdas que se beijaram numa escola de Gaia: o professor que as repreendeu fez mais pela causa gay do que dez anos de desfiles na avenida.

Não ganhei para o susto?

Pode uma perda de controlo do carro na auto-estrada ser uma experiência religiosa? Pode, se duas horas depois repararmos, durante um improvável zapping, que devíamos dar mais atenção a quem a merece.

É um intelectual português, com certeza

As poses do Pereira Coutinho na Grande Reportagem. Sem comentários.

sexta-feira, 18 de novembro de 2005

Descobriram isso agora, foi?

Basicamente é isso.

Não era preciso partir logo para o insulto

«Boa tarde, podia falar com o arquitecto Leandro, por favor?»

quarta-feira, 16 de novembro de 2005

Sedução

Ainda que estivesse ao meu alcance, a «sedução» é coisa que não me interessa. Etimologicamente, «seduzir» é «enganar». E eu ainda mantenho viva essa ingenuidade pateta e verídica que são os «sentimentos».

Pedro Mexia

No meu caso, e há testemunhas, a ingenuidade (muito) pateta e (tristemente) verídica resultou numa estranha sedução que, evitando individualizar responsabilidades, provavelmente serve para explicar muita coisa.

terça-feira, 15 de novembro de 2005

Um grande bem haja

Há uma música do Quinteto Tati onde às tantas se ouve «tenho 23 anos e já não faço planos». Podia, podia, elaborar sobre isto, tecer considerações catastrofistas sobre toda uma geração, criticar o modelo social europeu, criticar a crónica falta de iniciativa do povo lusitano, aludir ao desencanto dos jovens num país onde ainda se leva a sério Mário Soares, perder-me em linhas e parágrafos sobre a solidão urbana que leva a malta dos blogues a escrever posts às 2 da manhã referida algures em tempos por Pacheco Pereira, ou, quiçá, dizer «tenho 23 anos e faço planos». Podia, mas vou dormir.

segunda-feira, 14 de novembro de 2005

Regionalismo crítico



Leça da Palmeira



Vals

(Fotografias de Fernando Guerra)

«Perdoem-me por não avisar ninguém sobre o meu regresso»

Estás perdoado, .

O que te vale é que eu tenho aqui uns detectores de presenças que te anunciam a milhas, pondo a sirene a tocar sempre que o domínio-magnata se aproxima. Isso, repito, é o que te vale, porque senão, e na eventualidade de se terem passado mais do que uns míseros quatro dias, tinhas levado umas boas lambadas, tinhas.

sexta-feira, 11 de novembro de 2005

Voltar ao bairro

De tempos a tempos, invariavelmente, aparece uma crónica a elogiar Campo de Ourique. Hoje foi a vez de Miguel Sousa Tavares (no Público, sem link). E cada vez que as leio, invariavelmente, apetece-me voltar a Campo de Ourique.

«O apoio a Cavaco Silva é um combate cultural»

(...)

Isto não é um post sobre Soares. Não é também sobre Cavaco. É sobre um combate entre mentalidades distintas, entre mundividências opostas, entre modelos de vida rivais, que em Portugal tem dado sempre o mesmo resultado. Nestas eleições, temos a opção laxista, paternalista, proclamatório-panfletária, defensora de um modelo decrépito, ideologicamente podre. E temos a opção responsável, sensata, moderna.

Corrijo: a opção é só uma.


Francisco Mendes da Silva, no Pulo do Lobo

quinta-feira, 10 de novembro de 2005

Pulo do Lobo

Ora aí está o blogue que o Pedro Lomba não conseguiu fazer.

terça-feira, 8 de novembro de 2005

Parecem coelhos a sair das tocas

Quando mija um português, ameçam mijar logo dois ou três.

domingo, 6 de novembro de 2005

quarta-feira, 2 de novembro de 2005

terça-feira, 1 de novembro de 2005

Os dramas do mundo moderno

Tenho o disco rígido cheio de merda.

Pequenas vitórias

Desenhar um T1 de 45 m2 e ficar com inveja dos seus hipotéticos habitantes.

Um livro, Pedro Mexia e uma loira de um metro e noventa com uns calções curtíssimos

Entro no metro com a crónica de hoje do Pedro Mexia na cabeça:

Uma coisa que me impressiona nalgumas capitais europeias, especialmente em Londres, é a avalanche de gente que lê nos transportes públicos. Jornais, acima de tudo, mas também livros. E muitos livros policiais, sentimentais, científicos, BD, poesia, biografia, ensaio.

Aqui, não vemos isso muitas vezes. Um ou outro estudante a empinar a matéria, um ou outro Dan Brown, uma ou outra novelista tipo gaja, e estamos conversados. Os nossos hábitos de leitura, segundo indicam os estudos, são diminutos. Mas nem nesse tempo de inactividade por excelência que é o movimento urbano as pessoas aproveitam. E não custava assim muito. (...)

Vou concordando, inquieto, olhando à volta. Não por muito tempo, já que a minha atenção se centra no que levo para ler, no que ando a ler em público (Freakonomics). Viajo de pé encostado a um dos bancos, perto da porta de entrada. A carruagem pára em mais uma estação. São sete da tarde, lá fora está já escuro e chove. Está frio. Uma loira de um metro e noventa, calções minúsculos, ténis de jogging e mochila às costas entra. Não é fácil ignorá-la. Encosta-se ao banco que está à minha frente. Os meus olhos reencontram o caminho das páginas que seguro. Mais uma estação e chego ao meu destino (assim como todos os restantes passageiros, a estação é terminal). Fecho o livro e, para meu espanto, a loira de um metro e noventa com os calções microscópicos está a olhar para mim, rindo. Aponta para o livro e diz com aquela naturalidade que só os nativos dos países de língua oficial inglesa têm, como se estivessem permanentemente em casa (neste caso com sotaque americano):

Do you like it?

Espantado por ser abordado pela primeira vez na vida por uma loira de um metro e noventa, só consigo ripostar:

So far...

Ao que a loira de um metro e noventa com uns calções (não sei se já mencionei este facto) da irmã mais nova responde:

I've read it some time ago. It's very good.

Outro sorriso e foi à vida dela. E eu fui à minha, esfregando as mãos de contente com material postável fresquinho.

sábado, 29 de outubro de 2005

Coisas que me lixam o fim do mês

Esta notícia no PostHabitat. Charls Jencks, Iconic Building, Amazon. Não há como enganar.



A capa, essa, é muito, muito, muito boa.

sexta-feira, 28 de outubro de 2005

Já era para ter feito o copy paste de manhã, mas entretanto não fiz

E o João chegou-se à frente. De qualquer forma, o maradona fica desde já nomeado o meu porta-voz oficial sobre o qualquer assunto que inclua o conceito «Cavaco», ainda que apenas dispersa e vagamente.

(...) Sei que esta é uma preocupação, assim aradidamente (mas não erroneamente) descrita, considerada mesquinha por quelas bandas. Falamos de pessoas que lêem livros, sabem poesias de cór, vão à cinemateca; eles é só história, museus, viagens ao estrangeiro; mudam de casa porque, e passo a citar, "já não têm lugar para pôr os livros"; borbulham neles as últimas teorias de como organizar a sociedade, fumegam ferozes dialéticas entre justiça e igualdade, rabujam pelas péssimas traduções que se fazem em Portugal, vivem dilacerados pela paupérrima escolha de livros em língua estrangeira da Fnac (não se consegue encontrar um Poe), etc, etc, etc.

De facto, nós, os cavaquistas, pelo menos este tipo de cavaquista, não achamos que isso seja muito importante, não nos cabe na cabeça comprar uma casa sem lareira no topo da qual coloquemos um relógio ao estilo francês do século XVIII. Conquistada a liberdade, sem sabermos como nem por quem nem quanto custou, esquecidos e desinteressados de como foram as lutas pela liberdade e pela democracia, só nos interessamos por ter um granda carrão. Aliás, preferimos comer McDonald's todos os dias a não ter aquele carro. "Quanto é que ganhas?" é a única pergunta que nos liga ao próximo, a inveja domina-nos um pouco os dias e se nos levantamos de manhã é para mitigá-la fazendo com que sejam os outros a ter inveja de nós.

Sou eu, é o meu mundo, é onde vou votar, é onde mais gosto de viver. Não quero um político com ideias para o país; principalmente, não quero um político com ideias para mim; quero que me "deixem trabalhar", e achar-me sozinho, a mim, e ao meu país.


Cavaconomics, por maradona (aos 28 dias do mês de outubro)

quinta-feira, 27 de outubro de 2005

Why prostitutes earn more than architects

(...) an immutable law of labor: when there are a lot of people willing and able to do a job, that job generally doesn't pay well. This is one of four meaningful factors that determine a wage. The others are the specialized skills a job requires, the unpleasentness of a job, and the demand for services the job fulfills.
The delicate balance between these factors helps explain why, for instance, the typical prostitute earns more than the typical architect. It may seem as though she should. The architect would appear to be more skilled (as the word is usually defined) and better educated (again, as usually defined). But little girls don't go up dreaming of becoming prostitutes, so the supply of potencial prostitutes is relatively small. Their skills, while not necessarily "specialized", are practiced in a very specialized context. The job is unpleasent and forbidding in at least to significant ways: the likelihood of violence and the lost opportunity of having a stable family life. As for demand? Let's just say that an architect is more likely to hire a prostitute than vice versa.


Steven D. Levitt & Stephen J. Dubner, Freakonomics, ed. Allen Lane 2005

Sonhando acordado com locais distantes 54

Rúbrica volátil.

Antes e depois

Antes ainda não era eu.

terça-feira, 25 de outubro de 2005

Não fui eu que disse

Last Days

Um pateta passeia-se pelo bosque até encontrar um casarão. Aí passa o tempo a esconder-se das pessoas (as pessoas aparecem geralmente com as caras cortadas ou desfocadas) e a comer corn flakes. Às tantas morre. (As pessoas põem-se a andar). Ouve-se um coro. Baixa o pano. Respira-se de alívio. (As pessoas que restam põem-se a andar).

Last Days (II)

- Então, o que é que achaste do filme?
- Bem ... podia ter menos duas horas.
- Mas foi só uma hora e meia.
- Exacto. Assim nem sequer tínhamos saído de casa.

Last Days (III)

Seria uma boa fita para dormir, não fosse o gajo lá para o meio arranhar uma guitarra.

Last Days (V)

- Quem é Michael Pitt? O irmão do Brad Pitt?
- Não, é o amigo do Gus Van Saint.


Foi o Eduardo.

É que não há pachorra

Last Days, de Gus Van Sant

Até faz sentido: afinal, era um filme sobre o suicídio.

Last Days, de Gus Van Sant

Se o nível é para manter, esperamos que tenham sido os últimos dias de Gus Van Sant.

Last Days, de Gus Van Sant

Nunca mais digo mal do cinema português*.

* E, pela mesma ordem de ideias, do cinema cipriota, do cinema gabonês, do cinema costa-riquenho, do cinema filipino, da TVI e do cinema francês.

domingo, 23 de outubro de 2005

Aires Mateus e a agenda conceptual

Não se trata de uma mostra monográfica mas sim de uma escolha de trabalhos emblemáticos da agenda formal e conceptual dos arquitectos, pontos de partida e chegada da sua prática.

Diogo Seixas Lopes

O visitante mais distraído sairá certamente baralhado da exposição Aires Mateus: arquitectura. Ou, na melhor das hipóteses, ficará com a nítida sensação que entre esta arquitectura que se expõe nas salas de exposições e o seu mundo, pouco há de comum. A explicação é simples. Apesar do nome, traiçoeiro, esta não é uma exposição de arquitectura.

O que é apresentado, de uma forma magnífica através de um espaço expositório desenhado pelos próprios que encerra em si mesmo alguns dos conceitos expostos, não é arquitectura mas um conjunto, extremamente limitado, de ideias sobre o espaço. Dir-se-ia que estamos perante um período artístico de uma dupla de autores (embora, e inevitavelmente, seja o nome de Manuel Aires Mateus que ocorre mais frequentemente), um conjunto de trabalhos quase monotemáticos. Mas não é tanto na selecção dos trabalhos que a recusa em mostrar arquitectura se faz (ainda que também), mas mais no modo como se decide seduzir o visitante: muito poucas fotografias (e quando elas aparecem não tencionam contar nenhuma história, mas antes ficar refém destes preconceitos), desenhos sem legendas nem informação (desenhos que pela sua coerência gráfica e poder de síntese formam um conjunto de obras em si mesmo) e, os actores principais da mostra, maquetes-esculturas, lisas, brancas, quase monolíticas (com algumas excepções, como a extraordinária maquete em corte do Centro Cultural de Sines).

Os irmãos Aires Mateus têm uma obsessão. Não é preciso saber qual é. À segunda obra que observamos ficamos com essa sensação. Uma obsessão, em primeiro lugar, em construir um percurso coerente, demasiado coerente. A arquitectura (pelo menos alguma dela, esta que é escolhida para expor) nas mão de Manuel e Francisco Aires Mateus transforma-se rapidamente num objecto fechado, numa abstracção poderosa de tudo aquilo que são os elementos exteriores à própria construção, a começar pelas pessoas. Tudo em nome do superior interesse da arte, do conceito, do tal espaço conceptual puro, intocado. Publicado.

A exposição divide-se, sabiamente, em dois capítulos: casas e obras públicas. E é na primeira parte, dedicada à encomenda unipessoal privada, que a instrumentalização (aparente, não sabemos, nem interessa saber, se o é de facto) do outro é mais óbvia. O cliente é visto como uma oportunidade e a encomenda como mais um opus desta carreira obsessiva. E que palavras poderíamos escolher para ilustrar esta obsessão? Uma série de binómios, sendo que o que caracteriza esta arquitectura é o que fica entre eles: cheio-vazio, positivo-negativo, forma-fundo, espaço-matéria, etc. É uma arquitectura que parece ser mais escavada do que desenhada, o que é transmitido pela definição claríssima, em quase todos os projectos, de um volume simples de origem, um paralelipípedo cheio e pesado, ao qual são retirados bocados, sempre de planta rectangular. Claro que há objectos que saem desta lógica, como a Casa em Azeitão, mas nessas a diferença entre estupefacção e o deleite espacial, e a adequação do trabalho à função que lhe está na origem ainda é maior. Sempre quis vez a Casa de Azeitão habitada, por uma família, com loiça suja na cozinha, cadeiras feias na sala, e um sistema de home-cinema que leva fios de um lado para o outro.

Quanto às obras públicas pego num exemplo para seguir do particular para o geral. Exemplo que demonstra claramente que esta não é uma exposição de arquitectura, mas mais uma exposição (e não consigo resistir ao apelido) mediática de um conjunto, insisto, limitado de conceitos arquitectónicos.

Visitei este verão o Centro Cultural de Sines. Sines é uma cidade que tem resistido muito bem ao desenvolvimento industrial que lhe é inerente. Resistido talvez não seja a melhor palavra. O que Sines tem feito é lidado muito bem com a condição simultânea de vila histórica e de cidade portuária estratégica. Ou seja, e trocando por miúdos, o centro histórico de Sines vale a pena. É neste centro histórico que se implanta a obra de Manuel e Francisco Aires Mateus. Mais uma vez é o noção de corpo estranho que salta primeiramente à vista. O Centro Cultural é um objecto, um objecto quase fechado, de linguagem autónoma, que agita Sines (ouvi duas velhotas comentar, e dizia a primeira velhota para a segunda velhota, «eu acho bonito, percebe, é muito bonito e moderno, mas acho que o deveriam ter posto noutro sítio, mais moderno, e não aqui, no centro histórico). No entanto, o maior gesto do projecto é, a meu ver, o atravessamento pedonal que permite, passagem pública que cose muito bem o novo edifício com a envolvente pré-existente. Esta é a glória do gesto arquitectónico, e o modo natural como esse atravessamento é feito (nem por um segundo duvidamos que aquele é um espaço puramente público) é o que justifica tudo o resto. O conceito, a estrutura, a linguagem: tudo se torna secundário perante a implantação urbana da coisa. Ora, na exposição decide-se não fazer referência a esta característica, fundamental, do projecto. Não é apresentado nenhum desenho de conjunto, não se tenta explicar esta envolvente, não há interesse nenhum em mostar a arquitectura: apenas se glorifica o conceito formal. Sines, ou Sagres, ou Sacavém: não interessa.

O que justifica esta exposição é a qualidade destes conceitos, desta obessão. É impossível ficar indiferente a força gráfica e formal desde conjunto de obras. Manuel e Francisco Aires Mateus apresentam uma obra do seu tempo, o tempo da rápida comunicação das coisas. Um conceito, uma ideia, um gesto. Ponto final, está feita a obra. Nada pode ser supérfluo, nada pode ser redundante, nada pode ser desperdiçado, nada pode ser marginal. O que resulta nos tais objectos fechados, puros, intocados, museológicos. Esta escolha tão radical é simultanemente a maior força e a maior fragilidade da obra arquitectónica da dupla Aires Mateus.

sábado, 22 de outubro de 2005

airesmateus.com



Museu da Arquitectura de Lisboa, 2001

Agora que toda a gente fala na exposição dos senhores, é uma boa altura para dar um saltito ao recém-inaugurado sítio oficial.

sexta-feira, 21 de outubro de 2005

Na margem certa

O rio também pode ser apenas o tempo. Talvez nem seja preciso o casamento para impor essa sensatez que se sobrepõe ao romantismo. Basta uma série de dias, uns seguidos aos outros, de convivência mútua. Gostava de acreditar que sim, que o único rio que realmente importa é o tempo. E, nesse caso, não é sem orgulho que percebo que ainda estou deste lado. Sem perspectivas de mudar de margem, mesmo (ou especialmente) quando há perspectivas para tudo o resto.

Já descobriram a vacina para a gripe das aves

Tenho, mormente, uma série de textos sobre arquitectura que esperam por uma folha em branco, dez minutos de repouso, e um bom copo de vinho para ameaçarem ver a luz do dia. Como de momento essas condições não estão reunidas, aproveito para recordar o golo do Manuel Fernandes no encontro da passada terça-feira no El Madrigal, a contar para o grupo D da Liga dos Campeões, que a UEFA decidiu descrever do seguinte modo (e passo a citar):

A sloppy challenge only makes the ball jump up to Manuel Fernandes, who controls on his chest and volleys first time, catching Viera slightly off his line with a dipping effort from 35 metres. Fantastic response by the visitors.

quinta-feira, 20 de outubro de 2005

Mas é que é pena

«Estou a ser apertado.»

Outro, não o mesmo, jornalista da SIC, igualmente abalrroado pela comitiva cavaquista

Olha que chato

«Assim vou cair, e é bom que ninguém caia.»

Jornalista da SIC, albarroado pela comitiva cavaquista

Este homem sabe muito

«Pedi a suspensão da minha militância no PSD.»

Presi... Prof. Cavaco Silva, agora mesmo

O blogger a recibos verdes

Subscrevo:

Houve uma altura, não muito longínqua, em que ignorava horários e mesmo assim tinha dinheiro suficiente. Hoje em dia, para ter dinheiro suficiente, já só posso desrespeitá-los timidamente. Isto sim é precariedade.

O Silva

quarta-feira, 19 de outubro de 2005

Gostamos da vida como ela tem de ser para poder passar a toda a hora nas televisões sem ser censurada por uma lei qualquer que nos impede de dizer f*

A nova campanha da TMN tem por slogan «gostamos da vida como ela é». Ou algo do género, cito de memória. A ideia é associar a marca à constância do quotidiano, como algo quase omnipresente. Para isso produziu uma série de spots onde retrata cenas perfeitamente naturais e banais. Perfeitamente? Não. Serei o único a estranhar que aquele tipo que simula a falta durante o jogo de futebol com os amigos diga «fogo» e «gatuno»?

«Sentir como Jesus sentia»

Enfim, é um repertório vasto.

«Na na na na, na na na»

José Cid.

«Toca o bicho»

Nel Monteiro.

Fruta fresca

Se, de facto, a música influencia o tipo de arquitectura que é feita, então esta gente que se cuide: passa Marco Paulo no sound system do atelier.

terça-feira, 18 de outubro de 2005

Há coisas que me chateiam, nomeadamente haver pessoas que, por contingências da vida, nunca verão o golo do Manuel Fernandes

E queria também lembrar, aos quiçá mais distraídos, que aquela equipa de amarelo não era, apesar de poder parecer, o Paços de Ferreira.

segunda-feira, 17 de outubro de 2005

Conjunto de apartamentos na Calçada dos Barbadinhos



Fotografia de Fernando Guerra

Gostava de vos chamar a atenção para esta obra. Eu ando há dias com isto na mão (arquitectura ibérica, [habitar] nº 10), para trás a para a frente. Literalmente. Tem-me dado um gozo que não vos conto. É este tipo de arquitectura que surpreende. Pela discrição, pelo acerto, pela beleza, pela serenidade, pela elegância. E, sobretudo, pela ausência de tiques ou de maneirismos formais. Assim sim.

Ser

A beleza não se pode medir nem comparar. Eu hoje vi a mulher mais bonita do mundo. Qual mundo?

Birthday

O sobrinho dela nasceu na sexta-feira. Coisa que, digo eu, já dava um postzinho, já.

Aniversário

A blogosfera nasceu há três anos, como lembra religiosamente o Tiago.

sexta-feira, 14 de outubro de 2005

Ide a correr...

... porque o maradona passou uma noite particularmente inspirada.

terça-feira, 11 de outubro de 2005

Dá saúde e faz crescer

Dizemos mais disparates, somos mais imponderados, sentimo-nos imortais. I know that feeling. Só que, no meu caso, pela primeira vez sinto-me adulto.

segunda-feira, 10 de outubro de 2005

Se está na televisão deve ser verdade

Acabo de descobrir, através da SIC, que está uma grua de obra a tombar na minha rua. Eu juro-vos que quando vi a polícia e o troço cortado mesmo em frente a minha casa pensei que era apenas uma betonagem. Afinal não. Parece que aquilo está em riscos de cair. Pelas minhas contas não me acerta.

Angie (porque toda a gente diz por aí, e provavelmente com alguma razão, que as eleições na Alemanha são mais importantes do que as autárquicas)



(Eu já me habituei.)

domingo, 9 de outubro de 2005

E agora um post que não tem nada a ver com as eleições

Este foi um óptimo fim-de-semana.

A cobertura que interessa

A cobertura que interessa destas eleições, pelo maradona.

Projecção

O engenheiro vai dar um grande presidente.

Não fazer a mínima do que é perder

Conclusões da tentativa de declaração digna de Manuel Maria Carrilho: ele devia ter ganho, os lisboetas queriam que ele ganhasse e só não ganhou porque o dout... hã, professo... hã, engenheiro Carmona Rodrigues cometeu o desplante de ter mais votos do que ele. Que grande ordinário.

Acho que vou para o Altis, é que é mesmo aqui ao lado

Where's Waldo?

Caraças,

adoro isto. Um grande abraço, Manuel Maria.

Qual STAPE, qual quê

Dúvida metódica

Há mais algum país da Europa onde os comunistas tenham 10% dos votos na capital?

E a esta hora ainda sou indeciso

Mais uma vez saio de casa mais para cumprir um dever do que para exercer um direito.

sábado, 8 de outubro de 2005

Early morning com isto já é meio dia

Um gajo levanta-se Sábado bem cedinho (10:00 da manhã) porque decidiu e muito bem ir passear para um local que inclusive é património mundial, pega numa revista para companhia de actividade matinal se é que me entendem bem, e leva com coisas destas:

«A mais célebre foi um episódio em que uma "dominatrix" francesa lhe pregou (literalmente) o escroto numa tábua de madeira. Tudo em frente às câmaras.» (p. 36)

«(...) "parar com o processo de privatizações, levando o Estado a reapropriar-se do controlo bancário e dos sectores estratégicos da vida económica; para com o processo de falências e de encerramento de empresas; revogar o Código de Trabalho e defender a Segurança Social e todos os serviços públicos". Em suma, "romper com um ciclo de destruição do país iniciado há mais de 20 anos", diz-nos.» (Diz-nos Carmelinda Pereira, p. 48)

«Sentado no público está o apresentador Júlio Isidro e família. Lembra que foi ele a lançar o mágico [Luís de Matos] para os focos da TV.» (p. 51)

«Um apoiante comentou: "Eu voto no PS. Pela senhora... e pelo senhor... Mas mais pela senhora.» (Sendo a senhora a Bárbara e o senhor o Manuel Maria, p. 53)

Enfim, adequado.

quinta-feira, 6 de outubro de 2005

Ah, e tal

Mestre Silva, n. a 6 de Outubro.

quarta-feira, 5 de outubro de 2005

Bestseller

Um aviso, desde logo: o texto que se segue é embaraço para a escritora e penoso para os leitores em geral. Margarida Rebelo Pinto repete-se imoderadamente, copia frases de uns para outros livros, utiliza por vezes citações de escritores sem lhes atribuir a origem, tem deslizes de ortografia e comete erros gramaticais, as personagens, as situações, os temas e a estrutura narrativa são sempre os mesmos, as vidas que relata são homogéneas e monótonas, há incongruências catastróficas no vocabulário dos narradores, retirando-lhes toda a credibilidade, as representações dos homens e das mulheres são padronizadas, estereotipadas e simplistas, a escrita toca as raias do mau gosto e do anedótico, o estilo é uniforme e preguiçoso. Tudo considerado, livros deploráveis, falhados e vulgares. Não é fácil afirmar estas coisas, no início senti-me inclusivamente desapontado. É que o fenómeno Margarida Rebelo Pinto era-me simpático. Quando a comecei a ler até estava predisposto a gostar dela.

João «Bulldozer» Pedro George

terça-feira, 4 de outubro de 2005

É que não há revogações que aguentem

Não esquecer que estes senhores tem o poder discricionário de aprovar ou desaprovrar projectos a seu bel-prazer.

Outra vez o setenta e três setenta e três

O que se passa é muito simples. O que se passa é que o parágrafo que se segue é a mais pura das verdades:

O problema é simples: Há um conjunto de engenheiros, desenhadores, etc., que são capazes de produzir projectos com a legalidade e qualidade suficiente para serem aprovados pelos mesmíssimos arquitectos das autarquias e estruturas consultivas que subscrevem o manifesto da OA onde alegam o contrário dos seus pareceres: que apenas os arquitectos são capazes de produzir arquitectura.

Manuel Pinheiro

Acontece que o território nacional se encontra num estado perfeitamente execrável, e acontece também, sem medos, que isso se deve aos "projectos" que foram sendo aprovados (os legais e os menos legais) desta gente que possui essa extraordinária habilidade que é cumprir os mínimos para que um conjunto de plantas, cortes e alçados seja licenciado junto da autarquia. Como não acredito que mais leis ou melhores leis mudem alguma coisa, parece-me que só há uma solução para a coisa: a mudança radical da exigência do consumidor. Ou seja, o impossível. Cada um tem a merda que merece, e nós merecemos a merda que temos, porque somos um país pobre e entre um apartamento de 60 metros quadrados no Cacém com garagem que custa 20 mil contos e um apartamento de 50 metros quadrados nos Terraços de Brangança que custa 45 mil contos só podemos escolher o primeiro, a arquitectura que se lixe. É um beco sem saída, lamento, o mercado não resolve a situação. Nem tão pouco é legítima essa comparação entre os gestores e os arquitectos porque a actividade de gestão diz apenas respeito aos directamente envolvidos na coisa, enquanto que a arquitectura é quase sempre uma actividade com um altíssimo impacto público. Há um interesse colectivo (o chamado "território nacional") que não pode ser deixado à mercê da selvagem colecta do metro quadrado por parte do construtor. E é por isso que assinarei quantas vezes forem precisas para que o decreto seja revogado. Por muita merda que os arquitectos façam é sempre melhor do que a "arquitectura" do desenhador a contracto com a Simões e Orlando Construções (nome fictício). A situação é dramática e exige uma porrada valente. Ou seja, obrigatoriedade dos projectos de arquitectura serem assinados por arquitectos. Há um potencial enorme que anda a ser desperdiçado (centenas e centenas de arquitectos à espera de uma oportunidade) e só uma sociedade egoísta e mal-encarada não fará os possíveis para rentabilizar esse capital humano. Só assim podemos nós (como se chama agora, a sociedade civil) ter uma réstia de esperança em como o gajo que desenhou o prédio que vai ser construído do outro lado da rua tem o mínimo de sensibilidade para aquilo a que chamamos de espaço público.

segunda-feira, 3 de outubro de 2005

O cantinho do consumista



Transbordo estilo.

domingo, 2 de outubro de 2005

E, de repente, o outro lado do mundo fica mesmo ao virar da esquina

So para dizer que esta tudo bem.

Mail de um amigo que está em Bali.

«Um contabilista que se queixa de que já não há valores»

(...) O casamento é a única festa que tem dois lados. Duas tropas, às vezes bastante fandangas. Os do lado dela e os do lado dele. Isso faz com que a boda seja também um constante estudo e enfrentamento. As pessoas exibem status. Exibem esposas troféus. Testam piadas. Comentam cós e alinhavos. Há sempre três casais (geralmente amigos da noiva) cuja relação está colada com cuspo., o que se nota tão penosamente que apetece organizar ali mesmo uma festa de divórcio. Depois, há os engates. Há sempre duas meninas (geralmente amigas da noiva) que têm uns decotes do outro mundo e a quem os amigos solteiros (e alguns casados) perguntam coisas que não lhes interessam nada. Depois, há os tipos que discutem política, e que dizem que a culpa de todo é do Costa Gomes ou do Gomes da Costa. Há os literatos, que recitam Omar Khayyam enquanto debicam azeitonas. Há os cépticos, que repetem o dito segundo o qual uma pessoa na China comunista pode sair de casa mas não do país e uma pessoa casada pode sair do país mas não de casa. Há gente gargalhando a bandeiras despregadas. Há gente com uma expressão obstipada. Clichés sobre a noiva como estava linda e como ela teve muita sorte porque o Rodrigo é uma jóia de moço tão diferente do Vasco que não valia mesmo nada e já anda com uma vadia e fez mesmo sofrer a Joaninha que é amorosa o Vasco tinha era uns olhos verdes muito giros lá isso benza-o Deus. (...)

Pedro Mexia, «As Bodas», Grande Reportagem 247

quinta-feira, 29 de setembro de 2005

Funeral

Antes que o maradona se lembre de fazer aquilo que frequentemente faz:

Até porque apenas estamos prestes a eliminar uma equipa que até hoje só practicamente conseguiu eliminar o Benfica...
.... não há razão alguma para amanhã de manhã aparecerem jornais a dar "crédito" a quem nunca o mereceu. Já lá dizia o outro, com inolvidável agileza (?): "não tem crédito quem elimina quem já eliminou o Benfica: tem crédito quem elimina qualquer outro clube", o que não é manifestamente o caso, excepto quando é razão para uma humilhação maior, como perder a final da Taça UEFA no próprio estádio.

Posted by maradona

Acreditem que é verdade (jamais me lembraria de uma tirada destas se não fosse verdade): vi, por mera coincidência, a última parte do jogo enquanto o álbum dos Arcade Fire rodava no sistema sonoro que, e Peseiro deve ter as orelhas a arder, tem como título a palavra que apadrinha este post.

Lugares de encanto



A laje do primeiro piso, maciça; a feliz homogeneidade cromática em obra dada pela inexistência de tijolo no mercado açoriano; o volume de cima, mais pesado, que, aliado à laje maciça e lisa, carrega de dramatismo os vazios resultantes da geometria do piso térreo; os buracos, três, em cima, escavados ordeira e regularmente; o apoio lá ao fundo que, sabiamente, é uma secção de parede e não apenas um pilar; os balanços, aparentemente difíceis, aparentemente simples; a sensação de massa e espessura, reforçando o volume em vez do plano; o céu azul improvável do grupo central.

«Vou para casa»

Agora, disjuntiva; num horizonte não muito longínquo, conjuntiva.

quarta-feira, 28 de setembro de 2005

Confesso que até é nessas que a minha angústia é maior

Até em situações muitíssimo castas um tipo sente a angústia da performance.

Pedro Mexia

Protocolo

(...) Se Bush se recusasse a assinar, sei lá, um tratado que diminuisse as emissões de metano pelo peido, cá veríamos com toda a certeza uma quantidade inestimável de boas consciências a apontar-lhe o dedo, ai aquele peida-se, ai aquele não se peida, e medidas drásticas seriam pedidas para a redução da flatulência mundial (o que implicaria mandar calar o Manuel Monteiro, que neste momento range uma frases na RTP). (...)

maradona

segunda-feira, 26 de setembro de 2005

Sex is a risky game, because if you're not careful, it will cut you wide open

Confesso que vi o Kinsey estabelecendo paralelismos constantes com alguma realidade católica em Portugal (não conheço outra, aceito que seja semelhante). A brutalidade de um acto que pode ser tratado como puramente animal, fisiológico, anatómico (mas que corre sérios perigos se levado à letra, como mostra o filme), face à inadequação das regras sociais herdadas silenciosamente que confortavelmente vão servindo para artificializar a relação entre o público e o privado. O filme explora a fragilidade da chamada normalidade no que ao sexo diz respeito, expondo certos comportamentos sociais como absurdos e patéticos (então como agora), mas também o perigo que se corre quando se tenta tornar o sexo um mero acto entre mamíferos. Provavelmente a virtude estará algures entre o salão paroquial e a gay parade, entre a contenção daquilo que é permitido na esfera pública e a perversão inevitável do íntimo. Para um católico que vive na era Ratzinger (chiça que eu não consigo escrever um post sobre o assunto sem cair na tentação de invocar o santo nome) e que percebe que um dos grandes equívocos do Vaticano é essa tentativa de uniformizar comportamentos à luz de uma moral pública, o filme é, acima de tudo, divertido e esclarecedor. Mas fica sempre a sensação que é claramente benéfico para todos que muitas coisas não saiam do campo do privado. Só é preciso é saber dosear essa relação com muito bom-senso e, concomitantemente (só deus sabe o quanto desejava escrever um post com esta palavra), manter a cabecinha muito arejada.

domingo, 25 de setembro de 2005

O mundo é mesmo uma aldeia

E o Vital Moreira anda a gozar comigo.

Isto sim, não é altruísta

Sinto-me com vontade de andar com uma t-shirt com o número 9 estampado ostensivamente. E não tem nada a ver com futebol.

Tanzânia

A análise económica também explica o altruísmo. Não duvido. Mas acho que se este raciocínio é certo o conceito de altruísmo sofre algumas mutações. Ainda assim penso na abnegação implícita no puro pensamento altruísta. Mesmo nessa situação acho que a minha posição não se alteraria. Isto é, partindo do princípio que me poderia esquecer da minha própria existência, o melhor resultado disto tudo seria o mesmo. As justificações seriam outras, ou melhor, seriam apenas uma parte do que me faz estar relativamente convicto. Confesso que isto tudo me dá jeito, e penso se não me estou a trair, se não estou a condicionar as premissas de partida para meu próprio benefício. Mas sempre que aqui volto chego à mesma conclusão. Neste caso não há espaço para o meu egoísmo. É verdadeiramente inócuo. E isso é reconfortante.

1+1=2

Isto não é uma simples conta de somar.

Tudo o que seja diferente disto, mesmo que não seja a Tanzânia, para mim será sempre a tanzânia.

E ao quarto blogue um template de jeito

Para quem tinha dúvidas que isto era o que parecia, aí está uma série de posts como prova irrefutável. É o que se chama uma entrada a pés juntos. Uma dose concentrada de mexianismo. Ou seja, uma boa notícia.

sexta-feira, 23 de setembro de 2005

Choice or fate?

Hoje, logo hoje, vinte minutos depois, anunciam-me o que está na caixa do correio. O tema, o título, o timing: não há muitas coincidências como esta.

terça-feira, 20 de setembro de 2005

Até já

Caros amigos,

Hesitei muito antes de escrever este texto. Se o escrevo é porque reconheço que a única maneira de fazer com que os malefícios que essa hesitação me traz desapareçam é, de uma vez por todas, dar o passo em frente. Comecei a escrever na blogosfera no longínquo mês de julho de 2003. Aliás, a blogosfera de hoje muito pouco tem a ver com essa blogosfera de então. Lembro-me do prazer que foi ver as primeiras linhas nascerem para a world wide web. As primeiras reacções, os primeiros links, os primeiros mails. Enfim, toda a adrenalida da primeira vez. Desde então, tenho escrito sobre muita coisa. A quantidade de lixo que se foi acumulando é boa prova disso. Muitas horas perdidas diante do ecrã, a debitar ideias com pouco mérito. Foi desgastante, mas recompensador em muitos momentos. Nos últimos tempos a balança tem-se desiquilibrado, e tem-me faltado energia e motivação para alimentar o tamagotchi. Sinto-me, de certo modo, gasto e vencido, com pouca coisa de nova para dar. Leio menos blogues do que então, e os que leio com maior prazer têm, nos últimos tempos, desaparecido aos poucos. Ainda assim, parece-me algo despropositado anunciar o fim de um blogue. Se a espontaneidade e o carácter informal sempre foram aclamados como virtudes da blogosfera, parece-me fazer pouco sentido decretar que o blogue chegou ao fim. Menos sentido faz que se queira acabar com um blogue. Há muitas maneiras de deixar de escrever na internet. Uma delas é deixar de escrever, simplesmente. Deixar de abrir a página do blogger, deixar de publicar. Que a coisa se arraste, como uma ruína que ninguém chegou a destruir, um vestígio de algo que já passou por melhores dias. Não quero com isto dizer que vou deixar de escrever. Aliás, nem garanto que passe a escrever menos. O que aqui faço é um acto de honestidade, um agradecimento a quem me lê, vá lá, regularmente. Não estranhem se a actividade por estes lados adquirir um ritmo esquizofrénico. Será um blogue menos coerente (se é que o foi algum dia), mais estranho. No entanto saibam que são todos bem-vindos, sempre que quiserem. Por isso, é sem dramatismos que declaro que este blogue não acaba aqui.

segunda-feira, 19 de setembro de 2005

On location



- E tu, o que fazes?
- Construo um arranha-céus.

(Imagem da construção da nova sede do NY Times, de Renzo Piano.)

sexta-feira, 16 de setembro de 2005

Mau mau maria 2

No debate de ontem ficaram explícitas as «deficiências de carácter» mencionadas por Manuel Salgado. E vejo agora que «deficiências de carácter» é um polido eufemismo.

Mau mau maria

Parece que Carrilho fez uma triste figura ontem. Mas alguém se surpreendeu?

Notas da inauguração da Catalysts!

A ExperimentaDesign abriu ontem ao público, com uma exposição dedicada ao poder cultural do design de comunicação, Catalysts!. Evento ligeiramente (eufemisticamente) panfletário, monotemático e activista. O Iraque e Bush dominam a atenção mundial do «poder cultural do design de comunicação». E, claro, o mesmo de sempre: contra o capitalismo, contra a globalização, contra, contra, contra. É a previsibilidade da manifestação que lhe retira interesse. Não que, graficamente, os trabalhos não sejam sujestivos, mas o facto de parecerem fazer parte de uma campanha comum, com objectivos políticos banais e ocos, transforma o «poder cultural do design de comunição» num comício ilustrado do Bloco de Esquerda.

quinta-feira, 15 de setembro de 2005

Agenda



Inaugura hoje a Experimenta Design 2005. No que respeita à arquitectura, destaca-se:

- 16 de Setembro, sexta-feira, a partir das 15:00, conferência com Renny Ramakers e Massimiliano Fuksas;
- A partir de 17 de Setembro, Sábado, a exposição Casa Portuguesa, Modelos Globais para Casas Locais;
- 17 de Setembro, Sábado, a partir das 15:00, conferência com Souto de Moura e Philippe Starck.

P.S: O site do Fuksas é um mimo.

A blogosfera é isto, meus amigos

Como todas as pessoas para quem a questão Ambiental (utilizemos a letra capital) é apenas um apetrecho mais na suas guerrinhas políticas (ai o Bush, ai o capitalismo predador), a doutora Joana Amaral Dias do Bicho Carpinteiro não utiliza a cabeça que eu uma vez já vi que ela possuía para falar deste tipo de assuntos. (...)

(maradona)

E segue, segue, segue...

quarta-feira, 14 de setembro de 2005

Fabrizio

terça-feira, 13 de setembro de 2005

first we take manhattan

A Susana reiniciou a sua escrita aqui.

Arquitecto, fotógrafo, pintor



Fascinante, o blogue das artes e dos ofícios do Gonçalo Afonso Dias.

Fica na memória

Parece que o assunto é sério, mesmo. O Vasco Barreto anunciou o fim d'A Memória Inventada. É um rude golpe. Conto ainda escrever qualquer coisa sobre o blogue, uma nota explicativa sobre o porquê do MI não poder nem dever acabar. Aquele abraço, companheiro Vasco (e vão três as vezes que usei este trocadilho, enfim, três vezes em dois anos e tal a escrever não é assim tão mau, mas espanta-me a minha falta de resistência a esta muleta, serei assim tão coxo?, já para não falar na falta de gosto que é o título deste post).

A construção de uma estante 1

Esta série, que já teve outro(s) nome(s), esteve apenas hibernada. Eu não o sabia, mas desconfiava. A verdade é que a partir do momento em que o anterior pretexto deixou de fazer sentido, este blogue, pelo menos parte importante, ficou meio órfão. Mas atento, à espera que surgisse um outro pretexto. Parece que é chegado o momento. Porquê uma estante? Bom, porque realmente foi mesmo uma estante que deu a ideia. Está lá, podem confirmar, é em pinho mas foi toda raspada e encerada com uma cor mais escura, ou seja, está com bom aspecto. A poeira ainda não saiu totalmente dos meus pulmões, mas o brilho já descansa e os livros descansam sobre ele. Digamos que se tratou de uma operação com um valor acrescentado bastante evidente. Aliás, diria que tudo isto trata de acrescentar valor, de um modo exponencial, de uma forma bastante indiscriminada. Posso não servir de muito para tocar piano a quatro mãos, mas pelo menos está confirmado que me dá prazer construir uma estante a quatro mãos. Esta série, que se constitui neste número um, é sobre isso: aquele tipo de coisas que só se fazem a quatro mãos.

segunda-feira, 12 de setembro de 2005

A luta continua

Garcia Pereira já saltou para o barco.

Sms para Ronald Koeman

Moreira; Nélson, Anderson, Luisão, Léo; Petit, Manuel Fernandes; Karagounis, Simão; Miccoli, Nuno Gomes. Abraço.

Quando o lirismo ameaça ser produtivo

Manuel Alegre ainda é candidato a candidato.

Mickey Mouse no comité central

Abriu hoje ao público a Disneyland Hong Kong. É oficial: o capitalismo chegou à China.

6-3, 2-6, 7-6 (1), 6-1

domingo, 11 de setembro de 2005

9.11



Quatro anos, hoje.

Federer vs. Agassi

The guy plays great defense, plays great offense. He has a great hold game and he has a great break game. You play a bad match against Pete, you lose 6‑4, 7‑5. You play a good match against Pete, you lose 6‑4, 7‑5. You play a good match against Federer, you lose 6‑4, 7‑5. You play a bad match against Federer, you lose 1 and 1.

Andre Agassi, ontem, após ter garantido o lugar na final

Periculum in mora

Também não sei. Dá para perceber que é latim. Eu arriscaria a dizer que mora deve ter a ver com tempo. Já lhe perguntei, ela já me explicou, mas já me esqueci. O melhor é passar por lá e perguntar. Ah, é aqui.

sábado, 10 de setembro de 2005

Saramago e o boletim

Saramago apoia dois candidatos à Presidência da República. Depois de Fernando Rosas ter anunciado que Louçã «encabeçaria a lista (sic) do BE às presidenciais», e do camarada Jerónimo de Sousa ter dito que «os camaradas do comité central escolheram para candidato do partido comunista às presidenciais o camarada Jerónimo de Sousa», já nada me espanta. Um pouco por todo o lado tenta-se descobrir razões para este duplo (e impossível) apoio de Saramago. Ora eu avanço, reparem a subtileza, também com duas explicações, ambas baseadas (e shame on you, comentadores, por não darem a devida importância ao percurso literário do nobel) na obra do escritor. Ora cá vai a explicação número um: #1: Saramago é o homem duplicado, logo, tem direito a dois votos. Explicação número dois (esta parece-me mais verosímil): #2: Depois de, nas últimas eleições, Saramago ter apelado ao voto em branco, o bom José ter-se-á arrependido (ou levado uma reprimenda do comité) o que o leva a querer compensar nas próximas presidenciais. Vai daí, toma lá dois apoios, uma para agora e outro pela outra que já lá vai. Quem pode, pode.

Fazem-me sinais que Saramago, depois da última sondagem que dá uma vantagem expressiva a Cavaco, terá afirmado que, para derrotar a direita, extenderá o seu apoio a Francisco Louçã, àquela senhora do POUS, Carmelinda qualquer coisa, a Garcia Pereira, e a qualquer outro candidato que na sua declaração de candidatura use a palavra «Abril», «capitalismo», «camarada», ou «Bush».

Resistance is useless

A Memória Inventada fez uns pequenos ajustes. Mete isto aqui, tira isto dali. Consequência: a Colecção Armando (ou seja, o arquivo que reunia os textos da bola do maradona) foi parar às urtigas. O Tulius ainda tentou disfarçar, aludindo a uma hipotética homenagem. Leio o sucedido de forma bem diferente. A verdade é que os textos do maradona, estejam eles onde estiverem, têm uma tendência suicida que não pode ser travada. Está-lhes no sangue. É a sua natureza. E, provavelmente, se esses textos alguma vez chegarem a ver a luz do dia em forma de papel, diria que esse volume fará as delícias dos pirómanos. Lembram-se do genérico do Mission Impossible?

sexta-feira, 9 de setembro de 2005

A política que interessa



O governo da Ucrânia caiu. Yulia Tymoshenko foi afastada. Creio não ser exagero afirmar que ficamos todos a perder.

EPUL - Lista dos cabr... vencedores do concurso

O sorteio dos 305 apartamentos do empreendimento Epul Entrecampos aconteceu ontem. A mim não me calhou nada. Mas há por aí felizes contemplados que devem estar ainda à espera de saber que o são, já que o servidor do site parece que está meio entupido. Eu já saquei a lista dos vencedores. Quem é amigo, quem é?

Lista de Vencedores EPUL Entrecampos (pdf)

(É preferível fazer um save as com o botão direito do rato)

Eu gosto é do Inverno

Sinto-me mais em casa quando chove.

quinta-feira, 8 de setembro de 2005

Vaticínio preliminar com base nuns quantos debates televisivos

Carmona Rodrigues vai ganhar a câmara de Lisboa. Folgadamente.

Este é um comentário baseado no binómio possível para líder da autarquia: Carmona / Carrilho. Acontece que Carrilho é, e isto surpreende-me, muito pior do que imaginava. Carrilho não se aguenta em campanha, não domina os assuntos de que fala, não sabe nada de nada. António Vitorino produziu, há dias (numa convenção qualquer do PS para as autárquicas, uma coisa ali debaixo da pala do Siza com a maioria dos lugares vazios) uma afirmação cujo alcance só agora verdadeiramente se tornou evidente (e passo a citar de memória): «Respeito muito quem consegue calcular a distância entre pilares de uma ponte, quem sabe calcular a profundidade de um túnel, mas o que Lisboa precisa é de alguém que saiba interpretar a alma da cidade (...)». Ou seja, e traduzindo, isto foi um atestado à incompetência do candidato-filósofo. Parece que já o estou a ver, em conferência de imprensa, a dizer que não faz ideia de quanto irá custar a nova ponte sobre o Tejo, mas que consegue perceber que a alma lisboeta está apreensiva.

quarta-feira, 7 de setembro de 2005

n. 1987



Sharapova, por exemplo, é 31 (trinta e um) anos mais nova que Navratilova.

E ainda falam do dr. Soares



Martina Navratilova, 48 (quarenta e oito) anos (n. 1956), acaba de se qualificar para as meis-finais do US Open, na vertente de pares. A sua parceira (nos courts, nos courts), Anna-Lena Groenefeld, é 29 (vinte e nove) anos mais nova (n. 1985). Se isto não é uma história que merece ser contada, então não sei o que é.



Martina em Wimbledon, no ano de 1978 (mil novecentos e setenta e oito)

Objectivamente

Turner, o pintor mais amado do mundo.

A candidata

Ia dizer que se assumia como uma surpresa, mas isso seria ter memória fraca. O facto é que Maria José Nogueira Pinto tem feito uma óptima pré-campanha, tem-se revelado muito preparada, e tem ganho folgadamente os debates televisivos com os outros candidatos. Digam o que quiserem, mas esta vai ser das campanhas mais divertidas para a Câmara de Lisboa dos últimos tempos.

Ó tempo, volta pra trás

É costume dizer-se que os comunistas vivem noutro tempo, recusando-se a aceitar e a lidar com a modernidade. Agora chega a prova. Note-se na data indicada no site oficial do MRPP.

Presidenciais

No debate sobre as presidenciais, parece-me que todos andam a negligenciar a questão fundamental: Garcia Pereira, onde estás tu?

Soon

Para quem se tinha habituado a ler este blogue, não desesperem. Para já posso adiantar que o template está com aspecto.

O passeio de Roger



O comentador do Eurosport português (recuso-me de repetir o lamento) fartou-se e fartou-se de dizer que para Federer ganhar a Kiefer teria de «elevar o seu jogo», ou seja, e entende-se por isto, teria de jogar melhor. Ora isso não aconteceu. Mas a verdade é que Kiefer é, de facto, melhor do que os outros até agora. A diferença esteve no resultado: 3-1 em vez dos habituais 3-0. Federer continua a jogar como se estivesse a fazer um favor a alguém. É quase desesperante assistir à sua aparente displicência. Parece que contra o suíço todos jogam mal, ou pelo menos, pior. Federer não corre que nem um doido, não se atira para o chão, não faz 20 ases por jogo, não grita nem geme, não faz winners («pontos ganhantes», bela invenção destas vozes nocturnas da TV Cabo) a torto e a direito, não tem propriamente sorte. São os outros. Jogam mal, falham muito, ficam nervosos. Ou então é só ilusão de óptica: parecem maus, mas temos de dar o desconto. Afinal, do outro lado está Federer, tão calmo e sólido que nem se digna a ter treinador. Este tipo enerva-me.

terça-feira, 6 de setembro de 2005

The Blake show

Concordo. Seja qual for o outcome do torneio, o US Open 2005 já tem esta cara:



Até porque nestes torneios de duas semanas é extremamente aborrecido (chato com a potassa) assistir aos jogos de Federer dos primeiros sete dias. O sacana do suíço nem chega a meter a segunda, deixa-se ir em ponto morto, tão morto que, para um olho mais destreinado, parece que está jogar mal e está prestes a perder o jogo, sendo que os ganha, sem excepção, por três sets a zero. O gajo não tem culpa de ser o melhor praticante do desporto que alguma vez se dignou a aparecer, mas a malta paga a assinatura da TV Cabo, há que ter respeito por quem paga e mostrar um bocadinho mais de empenho.

Freddy vs. Jason 5

O debate à volta destes «dois amantes», como lhes chama Wigley, é sobre duas visões que partem do mesmo princípio: a rejeição do modernismo. Eisenman adopta a incerteza como ideologia e, renegando todos os canones modernos, inventa o seu próprio cosmos, as suas próprias regras, tão mutáveis como qualquer outra coisa. Krier, face à evidência do falhanço tremendo do moderno*, adopta a certeza como ideologia, ou seja, recorre àquilo que entende ser os valores intemporais da arquitectura, ou seja, o classicismo. De qualquer das maneiras, salta a vista que este é um debate impossível em Portugal e, de certa maneira, um pouco por toda a Europa. Em Portugal a arquitectura que se ensina é sinónimo de arquitectura moderna. Este é um valor intocável. O preconceito formal, que ninguém admitirá, rege toda a aprendizagem arquitectónica. O que Krier defende e, em grande medida, o que é defendido pelo New Urbanism, é uma extravagência marginal não admitida nas universidades. Claro que isto tudo menoriza o debate intelectual na arquitectura portuguesa, se é que ele existe.

* (...) What at long last I got to take my parents to visit something modern, Le Corbusier's Marsseille block left us all speechless with shock. Not one of us, not even myself, could believe that this was what I have been admiring in pictures and texts for so long. For weeks I tried to overcome my anavoidable disappointment. I found myself for the first time in my life justifying to my parents something I deeply felt to be unacceptable. (...)

Leon Krier, «Coming to Terms with Janus», Eisenman Krier / Two Ideologies

Bla bla bla

É por estas e por outras que eu, quando for grande, quero ser o Mark Wigley:

(...) If architects have a unique form of speech, what is it for us to listen? How do we listen in architecture? This is the side of the conversation that is usually left out. For example, we speak of "talking on the phone" but never of "listening on the phone". If two people are talking, the question of listening does not come up. It is almost as if we think of listening as being private, what goes on in the head, and talking is what is public. In pointing to a conversation, we point to that which is visible, that which is public. And because listening is thought of as a private and passive activity rather than a public one, we have not developed the science of listening. We have not thought about the nuances of how to listen. In our field, we have not asked, what is to listen to an architect, or to listen to a building? Architects are so busy talking that they forget to listen. They act as if they do not have time to listen to each other or to their clients. In factm listening to our client is a polemical position. For achitects to declare they are very interested in the unique interests of their clients is already taking a particular position, like Neutra, presenting himself as a especially gifted listener and having himself photographed listening to his clients, blurring the role od the architect and the role of the shrink, the shrink being the paradigm of the listener. Most architects simply pretend they are not listening because it is a sign of strength not to listen, to be the one who talks. As architects get more and more successful, they stop going to conferences that they are not speaking at and spend less and less time listening to the other speakers. They stop listening, even to their own voices, perhaps. (...)

Mark Wigley, «The Art of Listening to Architecture», Eisenman Krier / Two Ideologies

Crítica à Casa da Música

Interessante e pertinente a opinião de Nuno Lourenço sobre a Casa da Música, hoje, no Público (sem link):

(...) Nada me choca as paredes inclinadas, revestimentos de alumínio ou espaços obtusos, pois não se trata aqui do gosto visual ou do valor plástico, aspectos em que o edifício revela a sua força. Mas importa concluir que, pelo que acima foi dito, tudo se conjuga para que tenhamos a instituição ao serviço do edifício, em vez do edifício ao serviço da instituição. A cultura ao serviço da arquitectura, em vez da arquitectura ao serviço da cultura. A cidade ao serviço da música, em vez da música ao serviço da cidade.

O que não espanta. Rem Koolhaas é um cínico, um «crítico chique», como lhe chama Eisenman, alguém que defende a inexistência de algo como o lugar, que assume um discurso apocalíptico sobre a cidade contemporânea. A sua arquitectura é sempre um statement e, talvez paradoxalmente, hiper-formalista. Koolhaas desenha objectos e entrega a folha com o respectivo texto explicatório. Constrói as paredes e condiciona a reacção. Um panfletário, à boa moda Corbusiana. Alguém que fala muito, mas ouve pouco (ver post acima).

segunda-feira, 5 de setembro de 2005

Paris como exemplo

Something to consider: only two buildings in this post are products of true genius—the ones by Gustave Eiffel and Hector Guimard. Maybe it’s time we stopped demanding the originality that only genius can deliver, and adopt an architectural style that makes good-looking buildings easier to provide. Isn’t this the reason Art Deco is preferable to its severe brother, orthodox Modernism?

Uma defesa de Haussmann, um ataque à arquitectura moderna. Tudo à volta da parede de rua e da questão da escala. Vale a pena ler, aqui.

A importância de Fernando Távora: o homem certo na altura certa

Na época em que Fernando Távora atingiu a maioridade na arquitectura, o desafio que se debatia um pouco por todo o lado consistia na resposta à pergunta o que fazer com o Movimento Moderno? O único consenso era que se tinha de fazer alguma coisa. O modelo, porque o Movimento Moderno sempre se baseou em modelos, aparentemente já não servia. E já não servia por duas razões fundamentais: a primeira tinha a ver com a frieza de um estilo que ambicionava ser internacional, como um franchising que se multiplicava; a segunda residia no facto de muitos arquitectos começarem a sentir o espartilho da regra, do livro de instruções. Esse debate gerou, grosso modo, duas saídas: a revisão do modernismo e a negação do modernismo. À primeira chamar-se-ia mais tarde o Regionalismo Crítico, à segunda chamou-se, desde o início, Pós-Modernismo.

Portugal nunca teria dimensão (em quantidade de obras e de autores) suficiente para se tornar palco físico dos dois ensaios. A esta conjuntura intelectual junta-se o período político das ditaduras de direita na Europa, que traziam a sua própria cartilha arquitectónica no bolso do casaco. Salazar advogaria uma arquitectura que pudesse ter escrito Portugal na testa, uma arquitectura da escala doméstica, desenhada ao estilo português, estilo esse que se definiria por caprichos formais e tiques de memória. Em Lisboa, a capital do império, sentava-se Salazar, e talvez por isso a vanguarda tenha encontrado no Porto o ambiente propício para a sua gestação.

Távora viaja (os CIAM) e volta com a cartilha do Movimento Moderno na memória, mas já anotada e preparada para ser revista. Conservador por formação, Fernando Távora embarca na difícil tarefa de seguir a sua convicção, a de que a arquitectura moderna tem, forçosamente, de realizar o seu casamento com o sítio, o contexto, a especificidade portuguesa, ao mesmo tempo que distancia da especificidade portuguesa que se constrói na cabeça do regime. Surge o Inquérito e, surpresa, afinal a arquitectura da história do território português é depurada, funcional, tectónica, delicada, integrada. Salazar apenas vê beirados nos desenhos e a trapaça passa incólume. Estava aberto o caminho para o Regionalismo Crítico em Portugal.

Apesar da sua obra construída, é na sala de aula que a sua influência se fará sentir com maior intensidade. Numa época em que os alunos de arquitectura um pouco por todo o lado ainda bebiam directamente da Carta de Atenas e dos cinco pontos de Corbusier, Távora ensina o que sabe: a extraordinária capacidade de se fazer vanguarda com as mesmas pedras de sempre, as mesmas texturas, e mesma escala. Em Lisboa Teotónio Pereira assumia-se como a grande referência mas, ao contrário de Távora, a sua arquitectura assumia-se como manifesto, de traço mais vincado, nunca esquecendo o activismo como atitude. Por isso o seu percurso far-se-ia mais a solo, com muitos convidados, mas sem a capacidade aglutinadora de Távora para gerar escola.

É quando Siza entra no panorama que Távora vê materializado o seu esforço como educador. A partir da Casa de Chá da Boa Nova (em que, quase metaforicamente, Távora indica a Siza o local da futura obra-prima para, imediatamente depois, se afastar e deixar o discípulo por conta própria) Fernando Távora começa a orientar o seu percurso para a preocupação com o património. Descansado por ver a vanguarda entregue em boas mãos (será Siza quem emprestará de vez o nome ao novo moderno de Portugal), Távora encontrará paz nas pedras do seu país milenar. O trabalho de introdução do modernismo estava feito (anotado, revisto, e reinventado pelas suas próprias mãos). Ideologicamente, Távora sempre foi um peixe fora de águas, e talvez tenha sido essa independência (nem progressista como os seus colegas arquitectos, nem reaccionário como o seu país aristocrata) que o tenha libertado para o essencial. E por ter partilhado essa essência, por ter sabido comunicá-la como ninguém, Portugal tem hoje uma identidade arquitectónica que se sabe única e extremamente moderna.

Ontem morreu uma parte importante do século XX português. Mas, felizmente, ficaram e ficarão as pedras para contar a história.

sábado, 3 de setembro de 2005

Fernando Távora (1923-2005)



Pormenor da imagem de capa da Arquitectura e Vida nº37 (Abril 2003)

Público.pt: Morreu o arquitecto Fernando Távora
DN: O mestre da nossa arquitectura
JN: Morreu o arquitecto da modernidade

A ler também, no Público (sem link), os artigos de hoje.

Maestria, imponência, classe

A coerência é uma coisa muito bonita. E o estilo discursivo dos comentadores tauromáquicos da RTP é uma autêntica cereja em cima do bolo.

Always use a condomínio

Queria chamar a atenção para os comentários a este post ali em baixo. A conversa está interessante, apareçam.

Ponto de situação no US Open

No Arthur Ashe, Roger Federer lá vai fazendo o favor de se manter acordado perante a mediania tenística de Fabrice Santoro* (o primeiro set acabou agora agorinha mesmo em 7-5, já que quando o marcador mostrava um 5-2 o suíço não foi capaz de manter o estado de vigília). Já que aqui estamos, como se define Roger Federer? O comentador do Eurosport lusitano (ai ai, que saudades da dupla David Mercer e Frew McMillan) poderá ter definido a coisa (involuntariamente, claro está) quanto, comentando uma esquerda impossível de Federer, deixou escapar um «era isto que faltava a Sampras». Ou seja, Federer é tudo aquilo que Sampras foi mais a esquerda meteórica. Por enquanto os números ainda pendem para o lado do americano de origem grega, mas não durará muito até que a expressão o melhor jogador de ténis de sempre assente em Federer com autoridade estatística.

*Não é só pelo contraste de hoje, perante Federer, que afirmo isto. Santoro bate a direita com duas mãos. I rest my case.

Sondagem muito pouco científica

Se os «ouvintes» e «telespectadores» que têm passado os dias a comentar a situação em New Orleans são uma amostra representativa do eleitorado nacional, então o único adversário sério de Mário Soares nas próximas presidenciais responde pelo nome de Francisco Anacleto.

sexta-feira, 2 de setembro de 2005

A Inveja



Eu quero ser o preparador físico de Maria Sharapova.
A Voz está de volta:

Verdade: aos jovens católicos que foram à Alemanha ver o Papa (mau sítio para ver o Papa - sinal dos tempos?) falta estilo. Um pouco do charme discreto dos subúrbios no qual os evangélicos são prósperos. Mas o que aborrece de morte os críticos destas jornadas é o facto de ser possível juntar mais de um milhão de gente nova sobre outra inspiração que não o sex, drugs and rock'n'roll.
O Maio de 68 não tolera o Agosto de 05.

Efeitos retroactivos

O nome desta banda.

Katrina

No meu imaginário New Orleans é aquela cidade do permanente fim de tarde sépia, onde a alma negra passeia lentamente o seu sorriso, assistindo ao vivo ao nascimento do jazz. De todas elas era a que menos merecia uma coisa destas. No meu imaginário.

Ritmos

- Não sei como queres ir viver para Lisboa.
- Prefiro.
- Era incapaz.
- Sou incapaz de aqui continuar.
- Não percebo, é que aqui a vida é muito mais calma.
- Exactamente. A vida aqui é muito calma.

«É impossível estarmos tristes com uma vista daquelas»

A última dose de romantismo que nos é permitido na cidade contemporânea é ocupar uma casa sobre-valorizada por causa da vista, magnífica, sobre o castelo, o rio, e as ruínas do convento do carmo.

quinta-feira, 1 de setembro de 2005

Público, privado, e patine

(...) Mas apesar de tudo, são mais os condomínios privados de nome do que de génese. São assim baptizados pelos ávidos promotores, apenas porque existe uma sala comum com aparelhos de musculação ou um segurança 24h/dia.
À partida não acredito que sejam opção do arquitecto, (que tem uma forte responsabilidade social), mas sim do promotor, que consegue desta maneira, vender "mais" qualidade e uma falsa segurança.
Quase parafraseando, poderíamos afirmar que se trata de levar o modelo da violentíssima cidade do Rio de Janeiro para Lisboa...

Pedro Duarte Bento, postHABITAT

Só estranho, neste texto, que o Pedro Duarte Bento não acredite que o condomínio fechado seja uma opção do arquitecto, atribuinto a este uma «forte responsabilidade social». Talvez até assim seja, mas confesso que não partilho desta atribuição de um suposto código ético à classe dos arquitectos que os impede de fazer coisas más. Mas há aqui uma atitude de base que acho mais importante: esta consideração de que o arquitecto é sempre um defensor do público face ao privado, estando aqui implícita uma conotação moral antagónica. Se assim é, então as sucessivas queixas (com bastante fundamento) dos arquitectos sobre os respectivos maus pagamentos deixam de fazer sentido. O que é absurdo. Se a lei permite a construção de um condomínio privado e essa for a vontade do promotor, não vejo razão para nos lamentarmos. Pessoalmente condidero tudo o que sejam tentantivas para manter as pessoas no centro da cidade muito benvindas. Classe alta incluida, o centro não é só para os jovens. Se há um mercado que pede condomínios privados, então que se façam os ditos cujos. No entanto, e ao contrário do que parece ser o senso-comum, não acredito que os condomínios privados urbanos possam competir com os da periferia, que terão sempre melhores condições. Por isso os condomínios privados urbanos serão sempre absorvidos pela cidade que os rodeia. Preocupa-me mais, isso sim, os inúmeros edifícios degradados do centro de Lisboa. Se os substituissem por condomínios acho que ficávamos todos a ganhar.

P.S: Que fique claro que eu não gosto do modelo de condomínio. Não me imagino feliz num sítio desses. Mas esta minha opção não pode ser argumento para os ilegalizar. Mais do que não gostar dos condomínios, não gosto de quem os quer deitar todos abaixo. Porque a cidade ainda é o sítio mutável de congregação da diversidade.