Este último é já de 2004, mas eu só o descobri este ano e a lista é minha, faço o que eu quero. Boa noite a todo o auditório.
quinta-feira, 29 de dezembro de 2005
2005 (1)
Este último é já de 2004, mas eu só o descobri este ano e a lista é minha, faço o que eu quero. Boa noite a todo o auditório.
terça-feira, 27 de dezembro de 2005
A César o que é de César
Cristo vivo
sábado, 24 de dezembro de 2005
Big Flop
(Safam-se Jack Black a fazer de Jack Black e Adrian Brody a fazer de Adrian Brody. O resto é lixo.)
quinta-feira, 22 de dezembro de 2005
quarta-feira, 21 de dezembro de 2005
O «debate»
terça-feira, 20 de dezembro de 2005
2009
Quarenta e três finalistas de Arquitectura do Instituto Superior Técnico (IST) respondem hoje a um desafio que lhes foi lançado pelo arquitecto, que é responsável pela cadeira de projecto do final do curso: como sofisticar o bairro de Chelas, libertando-o do estigma de ghetto que sempre lhe esteve colado?
(...)
Pura utopia? "Estes trabalhos têm um certo grau de utopia que é útil e necessário. Mas também houve preocupações de exequibilidade". Manuel Salgado garante que não passou despercebido aos futuros arquitectos o facto de Chelas ter um vale por onde várias linhas de água escorrem para o rio, o que constitui uma condicionante à construção. Na Avenida da Liberdade há uma situação semelhante, e não é por isso que ali continuam hoje as hortas que em tempos lá existiram, observa.
O presidente da câmara e o secretário de Estado do Ordenamento do Território estão entre os convidados para a apresentação dos trabalhos dos finalistas no IST.
in Público, 20.12.05
domingo, 18 de dezembro de 2005
quarta-feira, 14 de dezembro de 2005
Aires Mateus: round two
terça-feira, 13 de dezembro de 2005
Patético*
Vamos partir do princípio que, de facto, aquele pano branco à volta da cabeça deste senhor obviamente surdo é uma indicação sobre a sua, óbvia, surdez. Vamos partir do princípio que, à semelhança do que se passa com os cegos e os óculos escuros, que, como sabemos, é uma associação impossível de falhar, ou seja, sempre que um indivíduo por nós passa na rua envergando um par de lentes corta-sol assola-nos logo aquele sentimento misto de culpa e compaixão para quem infelizmente é detentor de uma deficiência física extremamente aborrecida, dizia, partiremos então do princípio que o facto de esta figura aqui retratada ostentar um pano sobre a orelha só pode significar que não tem a capacidade de ouvir. Vamos, inclusivé, partir do princípio que nos deverá saltar ao conhecimento imediatamente ao vermos esta imagem que este senhor é surdo. Iremos, posto isto, partir do princípio que esta é uma imagem neutra, simples, que terá sido produzida por um qualquer designer estagiário para ilustrar uma campanha a favor das vítimas da surdez, ou seja, dos surdos. Trocando por miúdos, vamos partir do princípio que todos nós somos capazes de, ao mirar prostrados esta maravilhosa escolha de ilustração, proceder ao mecanismo de raciocínio que nos levará no seguinte caminho: imagem - pano - orelha - surdez, assim, sempre em frente, sem medos. Ora, partindo do princípio que isto tudo faz sentido, será que é suposto ignorarmos que estamos perante um auto-retrato de Van Gogh e que aquele pano branco não, não é um sinal alusivo à sua surdez, mas o resultado trágico da sua instabilidade psíquica que foi responsável por um célebre ataque de auto-mutilação que levaria o artista holandês a cortar a sua própria orelha aos 23 dias de Dezembro de 1888, em Arles**?
* No tal Quadro de Honra esta nota aparece, ironia ironia, junto ao infinito imaginário do eixo do referencial com esta denominação.
** É que se não é suposto ignorarmos esta pequena informação, de que forma deveremos relacioná-la com, relembro, as pessoas que adquirem «deficiências auditivas devido às suas actividades laborais»? Ora, só podemos imaginar, e estando nós conscientes da «actividade laboral» de Van Gogh, será que o nosso amável jornalista nos quis implicitamente sugerir toda uma imagética envolvendo pincéis e (aqui está a subtileza) um novo meio de pintura, avançando quiçá com uma alternativa natural aos óleos e acrílicos?
domingo, 11 de dezembro de 2005
Watts e Kidman
Chegará o dia em que, inevitavelmente, o mundo terá que se dividir entre aqueles que preferem Naomi Watts a Nicole Kidman e aqueles de mau gosto.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2005
Uma questão pertinente
Esther Mucznik dedica o seu artigo de hoje a responder a esta pergunta («Laicidade e liberdade religiosa», sem link, no Público).
quarta-feira, 7 de dezembro de 2005
Símbolos
segunda-feira, 5 de dezembro de 2005
Blogosfera
Tiago Galvão, no seu já obrigatório Diário.
Outro exemplo, não resisto: Uma leitora diz que eu lhe falo ao coração. A última mulher a quem eu fiz isso teve um ataque cardíaco.
sábado, 3 de dezembro de 2005
Beta gira
P.S: Se toda a gente se plagia, quem plagia VPV?
sexta-feira, 2 de dezembro de 2005
Bom blogue
terça-feira, 29 de novembro de 2005
Weisz & Cª
Uma boa realização (Meirelles) para um fraco argumento, uma adequada interpretação (Weisz) e uma extraordinária fotografia.
Fraco porque não sabe aproveitar a polémica política (o retrato feito das grandes multinacionais face a uma oprimida África é demasiado redutor e moralista, não tanto pela situação por si mas mais pela caracterização simplista dos "bons" e dos "maus"), centrando-se numa "história de amor" com pouca história. O argumento tem, no entanto, um momento feliz: todo o tempo durante o qual se suspeita da fidelidade de Tessa, momento esse em que a interpretação de Fiennes quase que chega a fazer sentido e Weisz brilha. Aliás, a «gaja da múmia» está a revelar-se uma actriz digna de registo (já o era por outras razões). No geral faltou a Meirelles a violência a que não se poupou em A Cidade de Deus.
Fazendo as contas ando lá pela loucura dos eighties
Estado Civil
O ar da coisa
Aproximo-me da maquete de conjunto, que já apresenta os projectos desenvolvidos. Inclino-me sobre a dita cuja, olho com atenção.
- Boa tarde, posso ajudá-lo?
Cinquentas, fato e gravata mal amanhados, bigode, eis o meu agente imobiliário evidentemente orgulhoso.
- Não, estou só a ver...
Arrependo-me rapidamente.
- ... por acaso até pode, espere lá. Diga-me só uma coisa, porque é que há arquitectos que estão aqui a desenvolver projectos que não aparecem ali no painel?
Aponto para um cartaz king-size com os retratos dos artistas tal e qual poster de estrela rock.
Pausa.
Ar de espanto do meu interlocutor.
- Porque é que diz isso?
- Olhe, por exemplo, aquela bolacha ali é do Graça Dias e do Egas José Vieira, e não vejo a cara deles ali atrás.
Intrigado.
- É arquitecto?
- Sou.
- Pois, isso tem a ver com as fases do projecto. Estamos a reservar alguns nomes para a segunda fase. Olhe, sabe de quem são estas aqui da ponta?
E aponta para três ou quatro caixas iguais às outras.
- Não.
- São do Chipperfield.
Orgulho, orgulho, orgulho.
- É para dar um ar mais internacional à coisa.
Não garanto, mas há fortes hipóteses de ter visto ali uma piscadela de olho.
- Obrigado, boa tarde.
João, vai conferir o projecto do Graça Dias e do Egas José Vieira. Uma autêntica aspirina para essa tua indisposição.
Dar uso à palavra
sábado, 26 de novembro de 2005
Frase
Pedro Mexia, Encontros para cegos, in GR 255
Ser um grande cronista é isto: numa crónica que não é das melhores, ter uma frase destas. Justificou a estampa.
Ponto
João Pedro George
Também se poderá acrescentar, no entanto, que um indivíduo que está sempre a dizer que cá dentro é que é bom é um parvo. Ponto.
A duas velocidades
Follow the leader
sexta-feira, 25 de novembro de 2005
Under the bridge com aquecimento central e lugar de estacionamento
quarta-feira, 23 de novembro de 2005
1984
Something is rotten in the state of Sweden
Arrogantly modest Sweden, é o título do artigo assinado por Claes Sörstedt na A10 #6, onde se tenta perceber porque razão é a arquitectura Sueca dos últimos 20/30 anos tão desinteressante. A prosa arrasa o país e traça um cenário desolador da arquitectura contemporânea. Não anda muito longe dos lusos lamentos. Ilustro:
(...) It is important to stress that the architect's role has been marginalized. There are almost no formal requirements for an architect that cannot be met by a civil engineer, technical draughtsman or even a layman. The architect is reduced to a slightly arty consultant, never fully responsible. The virtue of professionalism is highly praised while design integrity is not a core issue. (...)
Pelo caminho ficam críticas ao socialismo (que baixou o nível de exigência e instituiu padrões banais para satisfação de todos, criando a cultura da repetição e do aborrecimento) e ao conservadorismo (que se aproveitou da crise do moderno para politizar fortemente a arquitectura moderna e promover uma ideia romantizada da tradição). Tudo para descrever a Suécia como um país arrogante, saudosista e extremamente aborrecido. Tirando, claro, as «blond cover girls», Claes Sörstedt consegue, em três páginas, destruir o mito do «Modelo Sueco».Gostei.
Imagem: primeiro resultado para «Swedish Model» no Google Images
domingo, 20 de novembro de 2005
Pormenorzinho irritante, hein?
Great ideas for kitchens
Direito por linhas tortas
Não ganhei para o susto?
É um intelectual português, com certeza
sexta-feira, 18 de novembro de 2005
Não era preciso partir logo para o insulto
quarta-feira, 16 de novembro de 2005
Sedução
Pedro Mexia
No meu caso, e há testemunhas, a ingenuidade (muito) pateta e (tristemente) verídica resultou numa estranha sedução que, evitando individualizar responsabilidades, provavelmente serve para explicar muita coisa.
terça-feira, 15 de novembro de 2005
Um grande bem haja
segunda-feira, 14 de novembro de 2005
«Perdoem-me por não avisar ninguém sobre o meu regresso»
O que te vale é que eu tenho aqui uns detectores de presenças que te anunciam a milhas, pondo a sirene a tocar sempre que o domínio-magnata se aproxima. Isso, repito, é o que te vale, porque senão, e na eventualidade de se terem passado mais do que uns míseros quatro dias, tinhas levado umas boas lambadas, tinhas.
sexta-feira, 11 de novembro de 2005
Voltar ao bairro
«O apoio a Cavaco Silva é um combate cultural»
Isto não é um post sobre Soares. Não é também sobre Cavaco. É sobre um combate entre mentalidades distintas, entre mundividências opostas, entre modelos de vida rivais, que em Portugal tem dado sempre o mesmo resultado. Nestas eleições, temos a opção laxista, paternalista, proclamatório-panfletária, defensora de um modelo decrépito, ideologicamente podre. E temos a opção responsável, sensata, moderna.
Corrijo: a opção é só uma.
Francisco Mendes da Silva, no Pulo do Lobo
quinta-feira, 10 de novembro de 2005
terça-feira, 8 de novembro de 2005
domingo, 6 de novembro de 2005
quarta-feira, 2 de novembro de 2005
terça-feira, 1 de novembro de 2005
Um livro, Pedro Mexia e uma loira de um metro e noventa com uns calções curtíssimos
Uma coisa que me impressiona nalgumas capitais europeias, especialmente em Londres, é a avalanche de gente que lê nos transportes públicos. Jornais, acima de tudo, mas também livros. E muitos livros policiais, sentimentais, científicos, BD, poesia, biografia, ensaio.
Aqui, não vemos isso muitas vezes. Um ou outro estudante a empinar a matéria, um ou outro Dan Brown, uma ou outra novelista tipo gaja, e estamos conversados. Os nossos hábitos de leitura, segundo indicam os estudos, são diminutos. Mas nem nesse tempo de inactividade por excelência que é o movimento urbano as pessoas aproveitam. E não custava assim muito. (...)
Vou concordando, inquieto, olhando à volta. Não por muito tempo, já que a minha atenção se centra no que levo para ler, no que ando a ler em público (Freakonomics). Viajo de pé encostado a um dos bancos, perto da porta de entrada. A carruagem pára em mais uma estação. São sete da tarde, lá fora está já escuro e chove. Está frio. Uma loira de um metro e noventa, calções minúsculos, ténis de jogging e mochila às costas entra. Não é fácil ignorá-la. Encosta-se ao banco que está à minha frente. Os meus olhos reencontram o caminho das páginas que seguro. Mais uma estação e chego ao meu destino (assim como todos os restantes passageiros, a estação é terminal). Fecho o livro e, para meu espanto, a loira de um metro e noventa com os calções microscópicos está a olhar para mim, rindo. Aponta para o livro e diz com aquela naturalidade que só os nativos dos países de língua oficial inglesa têm, como se estivessem permanentemente em casa (neste caso com sotaque americano):
Do you like it?
Espantado por ser abordado pela primeira vez na vida por uma loira de um metro e noventa, só consigo ripostar:
So far...
Ao que a loira de um metro e noventa com uns calções (não sei se já mencionei este facto) da irmã mais nova responde:
I've read it some time ago. It's very good.
Outro sorriso e foi à vida dela. E eu fui à minha, esfregando as mãos de contente com material postável fresquinho.
sábado, 29 de outubro de 2005
Coisas que me lixam o fim do mês
A capa, essa, é muito, muito, muito boa.
sexta-feira, 28 de outubro de 2005
Já era para ter feito o copy paste de manhã, mas entretanto não fiz
(...) Sei que esta é uma preocupação, assim aradidamente (mas não erroneamente) descrita, considerada mesquinha por quelas bandas. Falamos de pessoas que lêem livros, sabem poesias de cór, vão à cinemateca; eles é só história, museus, viagens ao estrangeiro; mudam de casa porque, e passo a citar, "já não têm lugar para pôr os livros"; borbulham neles as últimas teorias de como organizar a sociedade, fumegam ferozes dialéticas entre justiça e igualdade, rabujam pelas péssimas traduções que se fazem em Portugal, vivem dilacerados pela paupérrima escolha de livros em língua estrangeira da Fnac (não se consegue encontrar um Poe), etc, etc, etc.
De facto, nós, os cavaquistas, pelo menos este tipo de cavaquista, não achamos que isso seja muito importante, não nos cabe na cabeça comprar uma casa sem lareira no topo da qual coloquemos um relógio ao estilo francês do século XVIII. Conquistada a liberdade, sem sabermos como nem por quem nem quanto custou, esquecidos e desinteressados de como foram as lutas pela liberdade e pela democracia, só nos interessamos por ter um granda carrão. Aliás, preferimos comer McDonald's todos os dias a não ter aquele carro. "Quanto é que ganhas?" é a única pergunta que nos liga ao próximo, a inveja domina-nos um pouco os dias e se nos levantamos de manhã é para mitigá-la fazendo com que sejam os outros a ter inveja de nós.
Sou eu, é o meu mundo, é onde vou votar, é onde mais gosto de viver. Não quero um político com ideias para o país; principalmente, não quero um político com ideias para mim; quero que me "deixem trabalhar", e achar-me sozinho, a mim, e ao meu país.
Cavaconomics, por maradona (aos 28 dias do mês de outubro)
quinta-feira, 27 de outubro de 2005
Why prostitutes earn more than architects
The delicate balance between these factors helps explain why, for instance, the typical prostitute earns more than the typical architect. It may seem as though she should. The architect would appear to be more skilled (as the word is usually defined) and better educated (again, as usually defined). But little girls don't go up dreaming of becoming prostitutes, so the supply of potencial prostitutes is relatively small. Their skills, while not necessarily "specialized", are practiced in a very specialized context. The job is unpleasent and forbidding in at least to significant ways: the likelihood of violence and the lost opportunity of having a stable family life. As for demand? Let's just say that an architect is more likely to hire a prostitute than vice versa.
Steven D. Levitt & Stephen J. Dubner, Freakonomics, ed. Allen Lane 2005
terça-feira, 25 de outubro de 2005
Não fui eu que disse
Um pateta passeia-se pelo bosque até encontrar um casarão. Aí passa o tempo a esconder-se das pessoas (as pessoas aparecem geralmente com as caras cortadas ou desfocadas) e a comer corn flakes. Às tantas morre. (As pessoas põem-se a andar). Ouve-se um coro. Baixa o pano. Respira-se de alívio. (As pessoas que restam põem-se a andar).
Last Days (II)
- Então, o que é que achaste do filme?
- Bem ... podia ter menos duas horas.
- Mas foi só uma hora e meia.
- Exacto. Assim nem sequer tínhamos saído de casa.
Last Days (III)
Seria uma boa fita para dormir, não fosse o gajo lá para o meio arranhar uma guitarra.
Last Days (V)
- Quem é Michael Pitt? O irmão do Brad Pitt?
- Não, é o amigo do Gus Van Saint.
Foi o Eduardo.
Last Days, de Gus Van Sant
Last Days, de Gus Van Sant
* E, pela mesma ordem de ideias, do cinema cipriota, do cinema gabonês, do cinema costa-riquenho, do cinema filipino, da TVI e do cinema francês.
domingo, 23 de outubro de 2005
Aires Mateus e a agenda conceptual
Diogo Seixas Lopes
O visitante mais distraído sairá certamente baralhado da exposição Aires Mateus: arquitectura. Ou, na melhor das hipóteses, ficará com a nítida sensação que entre esta arquitectura que se expõe nas salas de exposições e o seu mundo, pouco há de comum. A explicação é simples. Apesar do nome, traiçoeiro, esta não é uma exposição de arquitectura.
O que é apresentado, de uma forma magnífica através de um espaço expositório desenhado pelos próprios que encerra em si mesmo alguns dos conceitos expostos, não é arquitectura mas um conjunto, extremamente limitado, de ideias sobre o espaço. Dir-se-ia que estamos perante um período artístico de uma dupla de autores (embora, e inevitavelmente, seja o nome de Manuel Aires Mateus que ocorre mais frequentemente), um conjunto de trabalhos quase monotemáticos. Mas não é tanto na selecção dos trabalhos que a recusa em mostrar arquitectura se faz (ainda que também), mas mais no modo como se decide seduzir o visitante: muito poucas fotografias (e quando elas aparecem não tencionam contar nenhuma história, mas antes ficar refém destes preconceitos), desenhos sem legendas nem informação (desenhos que pela sua coerência gráfica e poder de síntese formam um conjunto de obras em si mesmo) e, os actores principais da mostra, maquetes-esculturas, lisas, brancas, quase monolíticas (com algumas excepções, como a extraordinária maquete em corte do Centro Cultural de Sines).
Os irmãos Aires Mateus têm uma obsessão. Não é preciso saber qual é. À segunda obra que observamos ficamos com essa sensação. Uma obsessão, em primeiro lugar, em construir um percurso coerente, demasiado coerente. A arquitectura (pelo menos alguma dela, esta que é escolhida para expor) nas mão de Manuel e Francisco Aires Mateus transforma-se rapidamente num objecto fechado, numa abstracção poderosa de tudo aquilo que são os elementos exteriores à própria construção, a começar pelas pessoas. Tudo em nome do superior interesse da arte, do conceito, do tal espaço conceptual puro, intocado. Publicado.
A exposição divide-se, sabiamente, em dois capítulos: casas e obras públicas. E é na primeira parte, dedicada à encomenda unipessoal privada, que a instrumentalização (aparente, não sabemos, nem interessa saber, se o é de facto) do outro é mais óbvia. O cliente é visto como uma oportunidade e a encomenda como mais um opus desta carreira obsessiva. E que palavras poderíamos escolher para ilustrar esta obsessão? Uma série de binómios, sendo que o que caracteriza esta arquitectura é o que fica entre eles: cheio-vazio, positivo-negativo, forma-fundo, espaço-matéria, etc. É uma arquitectura que parece ser mais escavada do que desenhada, o que é transmitido pela definição claríssima, em quase todos os projectos, de um volume simples de origem, um paralelipípedo cheio e pesado, ao qual são retirados bocados, sempre de planta rectangular. Claro que há objectos que saem desta lógica, como a Casa em Azeitão, mas nessas a diferença entre estupefacção e o deleite espacial, e a adequação do trabalho à função que lhe está na origem ainda é maior. Sempre quis vez a Casa de Azeitão habitada, por uma família, com loiça suja na cozinha, cadeiras feias na sala, e um sistema de home-cinema que leva fios de um lado para o outro.
Quanto às obras públicas pego num exemplo para seguir do particular para o geral. Exemplo que demonstra claramente que esta não é uma exposição de arquitectura, mas mais uma exposição (e não consigo resistir ao apelido) mediática de um conjunto, insisto, limitado de conceitos arquitectónicos.
Visitei este verão o Centro Cultural de Sines. Sines é uma cidade que tem resistido muito bem ao desenvolvimento industrial que lhe é inerente. Resistido talvez não seja a melhor palavra. O que Sines tem feito é lidado muito bem com a condição simultânea de vila histórica e de cidade portuária estratégica. Ou seja, e trocando por miúdos, o centro histórico de Sines vale a pena. É neste centro histórico que se implanta a obra de Manuel e Francisco Aires Mateus. Mais uma vez é o noção de corpo estranho que salta primeiramente à vista. O Centro Cultural é um objecto, um objecto quase fechado, de linguagem autónoma, que agita Sines (ouvi duas velhotas comentar, e dizia a primeira velhota para a segunda velhota, «eu acho bonito, percebe, é muito bonito e moderno, mas acho que o deveriam ter posto noutro sítio, mais moderno, e não aqui, no centro histórico). No entanto, o maior gesto do projecto é, a meu ver, o atravessamento pedonal que permite, passagem pública que cose muito bem o novo edifício com a envolvente pré-existente. Esta é a glória do gesto arquitectónico, e o modo natural como esse atravessamento é feito (nem por um segundo duvidamos que aquele é um espaço puramente público) é o que justifica tudo o resto. O conceito, a estrutura, a linguagem: tudo se torna secundário perante a implantação urbana da coisa. Ora, na exposição decide-se não fazer referência a esta característica, fundamental, do projecto. Não é apresentado nenhum desenho de conjunto, não se tenta explicar esta envolvente, não há interesse nenhum em mostar a arquitectura: apenas se glorifica o conceito formal. Sines, ou Sagres, ou Sacavém: não interessa.
O que justifica esta exposição é a qualidade destes conceitos, desta obessão. É impossível ficar indiferente a força gráfica e formal desde conjunto de obras. Manuel e Francisco Aires Mateus apresentam uma obra do seu tempo, o tempo da rápida comunicação das coisas. Um conceito, uma ideia, um gesto. Ponto final, está feita a obra. Nada pode ser supérfluo, nada pode ser redundante, nada pode ser desperdiçado, nada pode ser marginal. O que resulta nos tais objectos fechados, puros, intocados, museológicos. Esta escolha tão radical é simultanemente a maior força e a maior fragilidade da obra arquitectónica da dupla Aires Mateus.
sábado, 22 de outubro de 2005
airesmateus.com
Museu da Arquitectura de Lisboa, 2001
Agora que toda a gente fala na exposição dos senhores, é uma boa altura para dar um saltito ao recém-inaugurado sítio oficial.
sexta-feira, 21 de outubro de 2005
Na margem certa
Já descobriram a vacina para a gripe das aves
A sloppy challenge only makes the ball jump up to Manuel Fernandes, who controls on his chest and volleys first time, catching Viera slightly off his line with a dipping effort from 35 metres. Fantastic response by the visitors.
quinta-feira, 20 de outubro de 2005
Mas é que é pena
Outro, não o mesmo, jornalista da SIC, igualmente abalrroado pela comitiva cavaquista
Olha que chato
Jornalista da SIC, albarroado pela comitiva cavaquista
Este homem sabe muito
Presi... Prof. Cavaco Silva, agora mesmo
O blogger a recibos verdes
Houve uma altura, não muito longínqua, em que ignorava horários e mesmo assim tinha dinheiro suficiente. Hoje em dia, para ter dinheiro suficiente, já só posso desrespeitá-los timidamente. Isto sim é precariedade.
O Silva
quarta-feira, 19 de outubro de 2005
Gostamos da vida como ela tem de ser para poder passar a toda a hora nas televisões sem ser censurada por uma lei qualquer que nos impede de dizer f*
Fruta fresca
terça-feira, 18 de outubro de 2005
Há coisas que me chateiam, nomeadamente haver pessoas que, por contingências da vida, nunca verão o golo do Manuel Fernandes
segunda-feira, 17 de outubro de 2005
Conjunto de apartamentos na Calçada dos Barbadinhos
Fotografia de Fernando Guerra
Gostava de vos chamar a atenção para esta obra. Eu ando há dias com isto na mão (arquitectura ibérica, [habitar] nº 10), para trás a para a frente. Literalmente. Tem-me dado um gozo que não vos conto. É este tipo de arquitectura que surpreende. Pela discrição, pelo acerto, pela beleza, pela serenidade, pela elegância. E, sobretudo, pela ausência de tiques ou de maneirismos formais. Assim sim.
sexta-feira, 14 de outubro de 2005
terça-feira, 11 de outubro de 2005
Dá saúde e faz crescer
segunda-feira, 10 de outubro de 2005
Se está na televisão deve ser verdade
domingo, 9 de outubro de 2005
Não fazer a mínima do que é perder
E a esta hora ainda sou indeciso
sábado, 8 de outubro de 2005
Early morning com isto já é meio dia
«A mais célebre foi um episódio em que uma "dominatrix" francesa lhe pregou (literalmente) o escroto numa tábua de madeira. Tudo em frente às câmaras.» (p. 36)
«(...) "parar com o processo de privatizações, levando o Estado a reapropriar-se do controlo bancário e dos sectores estratégicos da vida económica; para com o processo de falências e de encerramento de empresas; revogar o Código de Trabalho e defender a Segurança Social e todos os serviços públicos". Em suma, "romper com um ciclo de destruição do país iniciado há mais de 20 anos", diz-nos.» (Diz-nos Carmelinda Pereira, p. 48)
«Sentado no público está o apresentador Júlio Isidro e família. Lembra que foi ele a lançar o mágico [Luís de Matos] para os focos da TV.» (p. 51)
«Um apoiante comentou: "Eu voto no PS. Pela senhora... e pelo senhor... Mas mais pela senhora.» (Sendo a senhora a Bárbara e o senhor o Manuel Maria, p. 53)
Enfim, adequado.
quinta-feira, 6 de outubro de 2005
quarta-feira, 5 de outubro de 2005
Bestseller
João «Bulldozer» Pedro George
terça-feira, 4 de outubro de 2005
É que não há revogações que aguentem
Outra vez o setenta e três setenta e três
O problema é simples: Há um conjunto de engenheiros, desenhadores, etc., que são capazes de produzir projectos com a legalidade e qualidade suficiente para serem aprovados pelos mesmíssimos arquitectos das autarquias e estruturas consultivas que subscrevem o manifesto da OA onde alegam o contrário dos seus pareceres: que apenas os arquitectos são capazes de produzir arquitectura.
Manuel Pinheiro
Acontece que o território nacional se encontra num estado perfeitamente execrável, e acontece também, sem medos, que isso se deve aos "projectos" que foram sendo aprovados (os legais e os menos legais) desta gente que possui essa extraordinária habilidade que é cumprir os mínimos para que um conjunto de plantas, cortes e alçados seja licenciado junto da autarquia. Como não acredito que mais leis ou melhores leis mudem alguma coisa, parece-me que só há uma solução para a coisa: a mudança radical da exigência do consumidor. Ou seja, o impossível. Cada um tem a merda que merece, e nós merecemos a merda que temos, porque somos um país pobre e entre um apartamento de 60 metros quadrados no Cacém com garagem que custa 20 mil contos e um apartamento de 50 metros quadrados nos Terraços de Brangança que custa 45 mil contos só podemos escolher o primeiro, a arquitectura que se lixe. É um beco sem saída, lamento, o mercado não resolve a situação. Nem tão pouco é legítima essa comparação entre os gestores e os arquitectos porque a actividade de gestão diz apenas respeito aos directamente envolvidos na coisa, enquanto que a arquitectura é quase sempre uma actividade com um altíssimo impacto público. Há um interesse colectivo (o chamado "território nacional") que não pode ser deixado à mercê da selvagem colecta do metro quadrado por parte do construtor. E é por isso que assinarei quantas vezes forem precisas para que o decreto seja revogado. Por muita merda que os arquitectos façam é sempre melhor do que a "arquitectura" do desenhador a contracto com a Simões e Orlando Construções (nome fictício). A situação é dramática e exige uma porrada valente. Ou seja, obrigatoriedade dos projectos de arquitectura serem assinados por arquitectos. Há um potencial enorme que anda a ser desperdiçado (centenas e centenas de arquitectos à espera de uma oportunidade) e só uma sociedade egoísta e mal-encarada não fará os possíveis para rentabilizar esse capital humano. Só assim podemos nós (como se chama agora, a sociedade civil) ter uma réstia de esperança em como o gajo que desenhou o prédio que vai ser construído do outro lado da rua tem o mínimo de sensibilidade para aquilo a que chamamos de espaço público.
segunda-feira, 3 de outubro de 2005
domingo, 2 de outubro de 2005
«Um contabilista que se queixa de que já não há valores»
Pedro Mexia, «As Bodas», Grande Reportagem 247
quinta-feira, 29 de setembro de 2005
Funeral
Até porque apenas estamos prestes a eliminar uma equipa que até hoje só practicamente conseguiu eliminar o Benfica...
.... não há razão alguma para amanhã de manhã aparecerem jornais a dar "crédito" a quem nunca o mereceu. Já lá dizia o outro, com inolvidável agileza (?): "não tem crédito quem elimina quem já eliminou o Benfica: tem crédito quem elimina qualquer outro clube", o que não é manifestamente o caso, excepto quando é razão para uma humilhação maior, como perder a final da Taça UEFA no próprio estádio.
Posted by maradona
Acreditem que é verdade (jamais me lembraria de uma tirada destas se não fosse verdade): vi, por mera coincidência, a última parte do jogo enquanto o álbum dos Arcade Fire rodava no sistema sonoro que, e Peseiro deve ter as orelhas a arder, tem como título a palavra que apadrinha este post.
Lugares de encanto
A laje do primeiro piso, maciça; a feliz homogeneidade cromática em obra dada pela inexistência de tijolo no mercado açoriano; o volume de cima, mais pesado, que, aliado à laje maciça e lisa, carrega de dramatismo os vazios resultantes da geometria do piso térreo; os buracos, três, em cima, escavados ordeira e regularmente; o apoio lá ao fundo que, sabiamente, é uma secção de parede e não apenas um pilar; os balanços, aparentemente difíceis, aparentemente simples; a sensação de massa e espessura, reforçando o volume em vez do plano; o céu azul improvável do grupo central.
quarta-feira, 28 de setembro de 2005
Protocolo
maradona
segunda-feira, 26 de setembro de 2005
Sex is a risky game, because if you're not careful, it will cut you wide open
domingo, 25 de setembro de 2005
Isto sim, não é altruísta
Tanzânia
E ao quarto blogue um template de jeito
sexta-feira, 23 de setembro de 2005
Choice or fate?
terça-feira, 20 de setembro de 2005
Até já
Hesitei muito antes de escrever este texto. Se o escrevo é porque reconheço que a única maneira de fazer com que os malefícios que essa hesitação me traz desapareçam é, de uma vez por todas, dar o passo em frente. Comecei a escrever na blogosfera no longínquo mês de julho de 2003. Aliás, a blogosfera de hoje muito pouco tem a ver com essa blogosfera de então. Lembro-me do prazer que foi ver as primeiras linhas nascerem para a world wide web. As primeiras reacções, os primeiros links, os primeiros mails. Enfim, toda a adrenalida da primeira vez. Desde então, tenho escrito sobre muita coisa. A quantidade de lixo que se foi acumulando é boa prova disso. Muitas horas perdidas diante do ecrã, a debitar ideias com pouco mérito. Foi desgastante, mas recompensador em muitos momentos. Nos últimos tempos a balança tem-se desiquilibrado, e tem-me faltado energia e motivação para alimentar o tamagotchi. Sinto-me, de certo modo, gasto e vencido, com pouca coisa de nova para dar. Leio menos blogues do que então, e os que leio com maior prazer têm, nos últimos tempos, desaparecido aos poucos. Ainda assim, parece-me algo despropositado anunciar o fim de um blogue. Se a espontaneidade e o carácter informal sempre foram aclamados como virtudes da blogosfera, parece-me fazer pouco sentido decretar que o blogue chegou ao fim. Menos sentido faz que se queira acabar com um blogue. Há muitas maneiras de deixar de escrever na internet. Uma delas é deixar de escrever, simplesmente. Deixar de abrir a página do blogger, deixar de publicar. Que a coisa se arraste, como uma ruína que ninguém chegou a destruir, um vestígio de algo que já passou por melhores dias. Não quero com isto dizer que vou deixar de escrever. Aliás, nem garanto que passe a escrever menos. O que aqui faço é um acto de honestidade, um agradecimento a quem me lê, vá lá, regularmente. Não estranhem se a actividade por estes lados adquirir um ritmo esquizofrénico. Será um blogue menos coerente (se é que o foi algum dia), mais estranho. No entanto saibam que são todos bem-vindos, sempre que quiserem. Por isso, é sem dramatismos que declaro que este blogue não acaba aqui.
segunda-feira, 19 de setembro de 2005
On location
- E tu, o que fazes?
- Construo um arranha-céus.
(Imagem da construção da nova sede do NY Times, de Renzo Piano.)
sexta-feira, 16 de setembro de 2005
Mau mau maria 2
Notas da inauguração da Catalysts!
quinta-feira, 15 de setembro de 2005
Agenda
Inaugura hoje a Experimenta Design 2005. No que respeita à arquitectura, destaca-se:
- 16 de Setembro, sexta-feira, a partir das 15:00, conferência com Renny Ramakers e Massimiliano Fuksas;
- A partir de 17 de Setembro, Sábado, a exposição Casa Portuguesa, Modelos Globais para Casas Locais;
- 17 de Setembro, Sábado, a partir das 15:00, conferência com Souto de Moura e Philippe Starck.
P.S: O site do Fuksas é um mimo.
A blogosfera é isto, meus amigos
(maradona)
E segue, segue, segue...
quarta-feira, 14 de setembro de 2005
terça-feira, 13 de setembro de 2005
Fica na memória
A construção de uma estante 1
segunda-feira, 12 de setembro de 2005
Sms para Ronald Koeman
Mickey Mouse no comité central
domingo, 11 de setembro de 2005
Federer vs. Agassi
Andre Agassi, ontem, após ter garantido o lugar na final
Periculum in mora
sábado, 10 de setembro de 2005
Saramago e o boletim
Fazem-me sinais que Saramago, depois da última sondagem que dá uma vantagem expressiva a Cavaco, terá afirmado que, para derrotar a direita, extenderá o seu apoio a Francisco Louçã, àquela senhora do POUS, Carmelinda qualquer coisa, a Garcia Pereira, e a qualquer outro candidato que na sua declaração de candidatura use a palavra «Abril», «capitalismo», «camarada», ou «Bush».
Resistance is useless
sexta-feira, 9 de setembro de 2005
A política que interessa
O governo da Ucrânia caiu. Yulia Tymoshenko foi afastada. Creio não ser exagero afirmar que ficamos todos a perder.
EPUL - Lista dos cabr... vencedores do concurso
Lista de Vencedores EPUL Entrecampos (pdf)
(É preferível fazer um save as com o botão direito do rato)
quinta-feira, 8 de setembro de 2005
Vaticínio preliminar com base nuns quantos debates televisivos
Este é um comentário baseado no binómio possível para líder da autarquia: Carmona / Carrilho. Acontece que Carrilho é, e isto surpreende-me, muito pior do que imaginava. Carrilho não se aguenta em campanha, não domina os assuntos de que fala, não sabe nada de nada. António Vitorino produziu, há dias (numa convenção qualquer do PS para as autárquicas, uma coisa ali debaixo da pala do Siza com a maioria dos lugares vazios) uma afirmação cujo alcance só agora verdadeiramente se tornou evidente (e passo a citar de memória): «Respeito muito quem consegue calcular a distância entre pilares de uma ponte, quem sabe calcular a profundidade de um túnel, mas o que Lisboa precisa é de alguém que saiba interpretar a alma da cidade (...)». Ou seja, e traduzindo, isto foi um atestado à incompetência do candidato-filósofo. Parece que já o estou a ver, em conferência de imprensa, a dizer que não faz ideia de quanto irá custar a nova ponte sobre o Tejo, mas que consegue perceber que a alma lisboeta está apreensiva.
quarta-feira, 7 de setembro de 2005
E ainda falam do dr. Soares
Martina Navratilova, 48 (quarenta e oito) anos (n. 1956), acaba de se qualificar para as meis-finais do US Open, na vertente de pares. A sua parceira (nos courts, nos courts), Anna-Lena Groenefeld, é 29 (vinte e nove) anos mais nova (n. 1985). Se isto não é uma história que merece ser contada, então não sei o que é.
Martina em Wimbledon, no ano de 1978 (mil novecentos e setenta e oito)
A candidata
Ó tempo, volta pra trás
Presidenciais
O passeio de Roger
O comentador do Eurosport português (recuso-me de repetir o lamento) fartou-se e fartou-se de dizer que para Federer ganhar a Kiefer teria de «elevar o seu jogo», ou seja, e entende-se por isto, teria de jogar melhor. Ora isso não aconteceu. Mas a verdade é que Kiefer é, de facto, melhor do que os outros até agora. A diferença esteve no resultado: 3-1 em vez dos habituais 3-0. Federer continua a jogar como se estivesse a fazer um favor a alguém. É quase desesperante assistir à sua aparente displicência. Parece que contra o suíço todos jogam mal, ou pelo menos, pior. Federer não corre que nem um doido, não se atira para o chão, não faz 20 ases por jogo, não grita nem geme, não faz winners («pontos ganhantes», bela invenção destas vozes nocturnas da TV Cabo) a torto e a direito, não tem propriamente sorte. São os outros. Jogam mal, falham muito, ficam nervosos. Ou então é só ilusão de óptica: parecem maus, mas temos de dar o desconto. Afinal, do outro lado está Federer, tão calmo e sólido que nem se digna a ter treinador. Este tipo enerva-me.
terça-feira, 6 de setembro de 2005
The Blake show
Até porque nestes torneios de duas semanas é extremamente aborrecido (chato com a potassa) assistir aos jogos de Federer dos primeiros sete dias. O sacana do suíço nem chega a meter a segunda, deixa-se ir em ponto morto, tão morto que, para um olho mais destreinado, parece que está jogar mal e está prestes a perder o jogo, sendo que os ganha, sem excepção, por três sets a zero. O gajo não tem culpa de ser o melhor praticante do desporto que alguma vez se dignou a aparecer, mas a malta paga a assinatura da TV Cabo, há que ter respeito por quem paga e mostrar um bocadinho mais de empenho.
Freddy vs. Jason 5
* (...) What at long last I got to take my parents to visit something modern, Le Corbusier's Marsseille block left us all speechless with shock. Not one of us, not even myself, could believe that this was what I have been admiring in pictures and texts for so long. For weeks I tried to overcome my anavoidable disappointment. I found myself for the first time in my life justifying to my parents something I deeply felt to be unacceptable. (...)
Leon Krier, «Coming to Terms with Janus», Eisenman Krier / Two Ideologies
Bla bla bla
(...) If architects have a unique form of speech, what is it for us to listen? How do we listen in architecture? This is the side of the conversation that is usually left out. For example, we speak of "talking on the phone" but never of "listening on the phone". If two people are talking, the question of listening does not come up. It is almost as if we think of listening as being private, what goes on in the head, and talking is what is public. In pointing to a conversation, we point to that which is visible, that which is public. And because listening is thought of as a private and passive activity rather than a public one, we have not developed the science of listening. We have not thought about the nuances of how to listen. In our field, we have not asked, what is to listen to an architect, or to listen to a building? Architects are so busy talking that they forget to listen. They act as if they do not have time to listen to each other or to their clients. In factm listening to our client is a polemical position. For achitects to declare they are very interested in the unique interests of their clients is already taking a particular position, like Neutra, presenting himself as a especially gifted listener and having himself photographed listening to his clients, blurring the role od the architect and the role of the shrink, the shrink being the paradigm of the listener. Most architects simply pretend they are not listening because it is a sign of strength not to listen, to be the one who talks. As architects get more and more successful, they stop going to conferences that they are not speaking at and spend less and less time listening to the other speakers. They stop listening, even to their own voices, perhaps. (...)
Mark Wigley, «The Art of Listening to Architecture», Eisenman Krier / Two Ideologies
Crítica à Casa da Música
(...) Nada me choca as paredes inclinadas, revestimentos de alumínio ou espaços obtusos, pois não se trata aqui do gosto visual ou do valor plástico, aspectos em que o edifício revela a sua força. Mas importa concluir que, pelo que acima foi dito, tudo se conjuga para que tenhamos a instituição ao serviço do edifício, em vez do edifício ao serviço da instituição. A cultura ao serviço da arquitectura, em vez da arquitectura ao serviço da cultura. A cidade ao serviço da música, em vez da música ao serviço da cidade.
O que não espanta. Rem Koolhaas é um cínico, um «crítico chique», como lhe chama Eisenman, alguém que defende a inexistência de algo como o lugar, que assume um discurso apocalíptico sobre a cidade contemporânea. A sua arquitectura é sempre um statement e, talvez paradoxalmente, hiper-formalista. Koolhaas desenha objectos e entrega a folha com o respectivo texto explicatório. Constrói as paredes e condiciona a reacção. Um panfletário, à boa moda Corbusiana. Alguém que fala muito, mas ouve pouco (ver post acima).
segunda-feira, 5 de setembro de 2005
Paris como exemplo
Uma defesa de Haussmann, um ataque à arquitectura moderna. Tudo à volta da parede de rua e da questão da escala. Vale a pena ler, aqui.
A importância de Fernando Távora: o homem certo na altura certa
Na época em que Fernando Távora atingiu a maioridade na arquitectura, o desafio que se debatia um pouco por todo o lado consistia na resposta à pergunta o que fazer com o Movimento Moderno? O único consenso era que se tinha de fazer alguma coisa. O modelo, porque o Movimento Moderno sempre se baseou em modelos, aparentemente já não servia. E já não servia por duas razões fundamentais: a primeira tinha a ver com a frieza de um estilo que ambicionava ser internacional, como um franchising que se multiplicava; a segunda residia no facto de muitos arquitectos começarem a sentir o espartilho da regra, do livro de instruções. Esse debate gerou, grosso modo, duas saídas: a revisão do modernismo e a negação do modernismo. À primeira chamar-se-ia mais tarde o Regionalismo Crítico, à segunda chamou-se, desde o início, Pós-Modernismo.
Portugal nunca teria dimensão (em quantidade de obras e de autores) suficiente para se tornar palco físico dos dois ensaios. A esta conjuntura intelectual junta-se o período político das ditaduras de direita na Europa, que traziam a sua própria cartilha arquitectónica no bolso do casaco. Salazar advogaria uma arquitectura que pudesse ter escrito Portugal na testa, uma arquitectura da escala doméstica, desenhada ao estilo português, estilo esse que se definiria por caprichos formais e tiques de memória. Em Lisboa, a capital do império, sentava-se Salazar, e talvez por isso a vanguarda tenha encontrado no Porto o ambiente propício para a sua gestação.
Távora viaja (os CIAM) e volta com a cartilha do Movimento Moderno na memória, mas já anotada e preparada para ser revista. Conservador por formação, Fernando Távora embarca na difícil tarefa de seguir a sua convicção, a de que a arquitectura moderna tem, forçosamente, de realizar o seu casamento com o sítio, o contexto, a especificidade portuguesa, ao mesmo tempo que distancia da especificidade portuguesa que se constrói na cabeça do regime. Surge o Inquérito e, surpresa, afinal a arquitectura da história do território português é depurada, funcional, tectónica, delicada, integrada. Salazar apenas vê beirados nos desenhos e a trapaça passa incólume. Estava aberto o caminho para o Regionalismo Crítico em Portugal.
Apesar da sua obra construída, é na sala de aula que a sua influência se fará sentir com maior intensidade. Numa época em que os alunos de arquitectura um pouco por todo o lado ainda bebiam directamente da Carta de Atenas e dos cinco pontos de Corbusier, Távora ensina o que sabe: a extraordinária capacidade de se fazer vanguarda com as mesmas pedras de sempre, as mesmas texturas, e mesma escala. Em Lisboa Teotónio Pereira assumia-se como a grande referência mas, ao contrário de Távora, a sua arquitectura assumia-se como manifesto, de traço mais vincado, nunca esquecendo o activismo como atitude. Por isso o seu percurso far-se-ia mais a solo, com muitos convidados, mas sem a capacidade aglutinadora de Távora para gerar escola.
É quando Siza entra no panorama que Távora vê materializado o seu esforço como educador. A partir da Casa de Chá da Boa Nova (em que, quase metaforicamente, Távora indica a Siza o local da futura obra-prima para, imediatamente depois, se afastar e deixar o discípulo por conta própria) Fernando Távora começa a orientar o seu percurso para a preocupação com o património. Descansado por ver a vanguarda entregue em boas mãos (será Siza quem emprestará de vez o nome ao novo moderno de Portugal), Távora encontrará paz nas pedras do seu país milenar. O trabalho de introdução do modernismo estava feito (anotado, revisto, e reinventado pelas suas próprias mãos). Ideologicamente, Távora sempre foi um peixe fora de águas, e talvez tenha sido essa independência (nem progressista como os seus colegas arquitectos, nem reaccionário como o seu país aristocrata) que o tenha libertado para o essencial. E por ter partilhado essa essência, por ter sabido comunicá-la como ninguém, Portugal tem hoje uma identidade arquitectónica que se sabe única e extremamente moderna.
Ontem morreu uma parte importante do século XX português. Mas, felizmente, ficaram e ficarão as pedras para contar a história.
sábado, 3 de setembro de 2005
Fernando Távora (1923-2005)
Pormenor da imagem de capa da Arquitectura e Vida nº37 (Abril 2003)
Público.pt: Morreu o arquitecto Fernando Távora
DN: O mestre da nossa arquitectura
JN: Morreu o arquitecto da modernidade
A ler também, no Público (sem link), os artigos de hoje.
Maestria, imponência, classe
Always use a condomínio
Ponto de situação no US Open
*Não é só pelo contraste de hoje, perante Federer, que afirmo isto. Santoro bate a direita com duas mãos. I rest my case.
Sondagem muito pouco científica
sexta-feira, 2 de setembro de 2005
Verdade: aos jovens católicos que foram à Alemanha ver o Papa (mau sítio para ver o Papa - sinal dos tempos?) falta estilo. Um pouco do charme discreto dos subúrbios no qual os evangélicos são prósperos. Mas o que aborrece de morte os críticos destas jornadas é o facto de ser possível juntar mais de um milhão de gente nova sobre outra inspiração que não o sex, drugs and rock'n'roll.
O Maio de 68 não tolera o Agosto de 05.
Katrina
Ritmos
- Prefiro.
- Era incapaz.
- Sou incapaz de aqui continuar.
- Não percebo, é que aqui a vida é muito mais calma.
- Exactamente. A vida aqui é muito calma.
«É impossível estarmos tristes com uma vista daquelas»
quinta-feira, 1 de setembro de 2005
Público, privado, e patine
À partida não acredito que sejam opção do arquitecto, (que tem uma forte responsabilidade social), mas sim do promotor, que consegue desta maneira, vender "mais" qualidade e uma falsa segurança.
Quase parafraseando, poderíamos afirmar que se trata de levar o modelo da violentíssima cidade do Rio de Janeiro para Lisboa...
Pedro Duarte Bento, postHABITAT
Só estranho, neste texto, que o Pedro Duarte Bento não acredite que o condomínio fechado seja uma opção do arquitecto, atribuinto a este uma «forte responsabilidade social». Talvez até assim seja, mas confesso que não partilho desta atribuição de um suposto código ético à classe dos arquitectos que os impede de fazer coisas más. Mas há aqui uma atitude de base que acho mais importante: esta consideração de que o arquitecto é sempre um defensor do público face ao privado, estando aqui implícita uma conotação moral antagónica. Se assim é, então as sucessivas queixas (com bastante fundamento) dos arquitectos sobre os respectivos maus pagamentos deixam de fazer sentido. O que é absurdo. Se a lei permite a construção de um condomínio privado e essa for a vontade do promotor, não vejo razão para nos lamentarmos. Pessoalmente condidero tudo o que sejam tentantivas para manter as pessoas no centro da cidade muito benvindas. Classe alta incluida, o centro não é só para os jovens. Se há um mercado que pede condomínios privados, então que se façam os ditos cujos. No entanto, e ao contrário do que parece ser o senso-comum, não acredito que os condomínios privados urbanos possam competir com os da periferia, que terão sempre melhores condições. Por isso os condomínios privados urbanos serão sempre absorvidos pela cidade que os rodeia. Preocupa-me mais, isso sim, os inúmeros edifícios degradados do centro de Lisboa. Se os substituissem por condomínios acho que ficávamos todos a ganhar.
P.S: Que fique claro que eu não gosto do modelo de condomínio. Não me imagino feliz num sítio desses. Mas esta minha opção não pode ser argumento para os ilegalizar. Mais do que não gostar dos condomínios, não gosto de quem os quer deitar todos abaixo. Porque a cidade ainda é o sítio mutável de congregação da diversidade.