segunda-feira, 23 de maio de 2005

Aquele que sempre preferiu fazer a falar



Fizesse eu a história da arquitectura e Renzo Piano seria ensinado nas escolas. Há no sorriso deste homem uma vontade de transformar o mundo que a sua arquitectura denuncia. Aliás, pode dizer-se que esta arquitectura é desenhada pelo sorriso fácil deste Genovês filho de construtor, que encontrou em Paris uma pátria adoptiva. É pena que a sua obra, no contexto académico, seja constantemente encostada ao rótulo técnico, o seu nome listado juntamente com Norman Foster, Richard Rogers ou Nicholas Grimshaw, arquitectos que fazem da técnica um fim e não um meio. Piano é diferente. Diz-se artesão. Gosta do detalhe, do encaixe, da tectónica que tem elevado a arte. O bom Frampton gosta dele, e eu também. É um escape real do beco sem saída em que se está a enfiar a arquitectura contemporânea, fascinada pelo não-lugar, pela não-materialidade, pela não-arquitectura. Renzo Piano (que, e fica uma nota pessoal, encaixa num estranho perfil de herói que tenho: o seu nome são palavras de cinco letras) desenha para construir, enquanto outros desenham para falar.