terça-feira, 16 de junho de 2009

A «extrema-direita»

Os partidos da extrema-direita subiram todos (incluindo, na cabeça de Manuela Azevedo, o partido «pirata» sueco) e a Europa tremeu. Por cá, suspirámos de alívio porque é a extrema-esquerda que ocupa esse lugar de protesto; por muito que não gostemos do Bloco de Esquerda - e não gostamos - não comparamos esse tipo de radicalismo ao radicalismo xenófobo ou racista, nem achamos que o Partido Comunista representa algum tipo de ameaça ao sistema democrático. No entanto, parece-me que a baixa votação da extrema-direita em Portugal não se deve à falta de inclinação natural do eleitorado português para votar nesse campo político; deve-se, na minha opinião, à falta de um líder carismático. Quem viu entrevistas de Pim Fortuyn percebe imediatamente o abismo que vai entre o holandês e aquele senhor do PNR. E quem anda «nas ruas» sabe que os «valores» defendidos pela extrema-direita têm, como se diz, penetração eleitoral, sobretudo a área da imigração e da segurança. As pessoas que conheço que são de extrema-direita (e conheço algumas: condenam África ao fracasso, querem fechar as fronteiras, acham que «os pretos» estragaram isto, defendem Salazar inquestionavelmente, etc) não votam na extrema-direita porque não existe em Portugal uma escolha credível nesse campo. O Bloco de Esquerda não cresceu nos últimos anos apenas pela simpatia que geraram algumas das suas propostas num eleitorado receptivo (o aborto e o casamento homossexual, sobretudo); cresceu sobretudo devido à adequação da linguagem de Francisco Louçã à televisão (Louçã é um mestre do soundbyte) e a alguma simpatia que pessoas como Miguel Portas são capazes de gerar (apesar daquelas atordoadas idiotas sobre a semana de trabalho de 35 horas para «gerar emprego», Miguel Portas é sempre aquela pessoa com quem apetece beber uma sagres). À extrema-direita só falta um líder que saiba articular duas frases seguidas (algo que o Pinto Coelho manifestamente é incapaz) e que deixe cair o tom violento e crispado das palavras. Isto não nos deve sossegar: o eleitorado está aí para ser conquistado.