sexta-feira, 13 de novembro de 2009

The Strokes (1998-2009)



Para quem tem nos Strokes a bóia de salvação para a idade adulta, assistir deste modo tão evidente à destruição das condições materiais e espirituais para a sua continuação em actividade causa a maior das consternações. E isto não é fatalismo, é uma constatação que sobrevive à informação posta a circular de que os Strokes se irão reunir em janeiro para dar início às gravações do quarto álbum. Mas qual quarto álbum, Julian, pergunto-te eu? A verdade é que os sucessores de Is This It (Room on Fire e First Impressions of Earth) são o suficiente para afastar qualquer suspeita sobre a solidez do seu sucesso (a questão do «difícil segundo álbum» foi resolvida à nascença), mas não acrescentaram nenhum ingrediente à receita. Não vem daí mal nenhum ao mundo: a constante «reinvenção» é uma exigência cretina. Os Strokes faziam o que faziam e faziam-no muitíssimo bem. Os álbuns a solo que entretanto foram saindo de Albert Hammond Jr. e Fabrizio Moretti (Little Joy) mostraram que havia mais música nos membros dos Strokes mas que não era material para a banda. Era outra coisa. Phrazes for the Young não partilha dessa distância em relação à nave-mãe: o álbum é exactamente aquilo que esperaríamos dos Strokes caso estes decidissem tentar fazer «outra coisa». A estrutura das canções é mais arrojada e a instrumentação muito mais diversificada. Se os Strokes são a reinvenção dos anos 70, Phrazes for the Young alarga o espectro temporal da revisitação para a década seguinte. Nada disto seria tão assustadoramente ameaçador para a sobrevivência dos Strokes não fosse um pormenor completamente jaw-dropping: Julian Casablancas toca every single instrument do álbum. Tudo, pá, tudo: ele foi ali ao quarto do lado e fez isto! É verdade, é verdade: em entrevista recente, Casablancas confessa que só gravou este álbum porque «não tinha nada que fazer» durante a pausa dos Strokes. Isto é tristíssimo para quem tem uma banda; isto é tristíssimo para mim, é tristíssimo para o Nick Valensi, o Albert Hammond Jr, e para o Fabrizio Moretti. Isto é tristíssimo para a humanidade: é a prova como há gajos que são tão superiores aos outros ao ponto de tornar os outros dispensáveis. Os Strokes, tal como os conhecemos, acabaram. Se é para voltar a estúdio em janeiro, há ali muito trabalho a fazer, muito mesmo.