sexta-feira, 25 de junho de 2010

Form follows function



Aqua Tower, Chicago, Studio Gang Architects



Torre de Escritórios / Amoreiras, Lisboa, Saraiva e Associados

A história da arquitectura do século XX conta-se através de uma sucessão de tentativas de matar o pai, sendo que o pai é o movimento moderno, o período heróico do arranque do século na europa central durante a reacção aos destroços da primeira guerra. Elaboraram-se manifestos e pontos de ordem que, entre outras coisas, radicalizaria a máxima de Louis Sullivan, um dos pré-modernos mais influentes, de que «form follows function»; no auge da Grande Tentação de mudar o mundo, Corbusier chegaria mesmo a gritar que a casa deveria ser uma «máquina de habitar» (mas depois Corbusier foi à Índia e aos trópicos e felizmente a coisa morreu por aí.) Depois do Movimento Moderno, chegaram os filhos: o regionalismo crítico que não gostava do seu estilo internacional (Aalto, Siza), o pós-modernismo que não gostava do seu espartilho da função (Venturi, Taveira), o espiritualismo que não gostava do seu ateísmo acéptico (Wright, Manuel Vicente?), etc, etc. O capitalismo global fez o resto, e a chegada do branding à arquitectura fez com o seu primeiro objectivo fosse o de circular (there is no such thing as bad publicity). Hoje é muito difícil identificar tendências, agrupar autores, definir escolas: é cada um por si. Ainda assim, a máxima de Sullivan não morreu e um bom projecto continua a ter que evidenciar uma relação estreita entre a forma e a função: no caso da Aqua Tower (o maior projecto alguma vez encomendado a uma mulher nos EUA), a forma são as varandas ondulantes, a função é a necessidade de lidar com os fortes ventos e a procura de vistas que fintem o skyline de Chicago. Sullivan ficaria orgulhoso, ainda que percebesse que há várias formas que respondem à mesma função e que o papel do arquitecto é escolher a mais sedutora. E Jeanne Gang escolheu-a com um acerto e uma simplicidade que mereceu o aplauso da crítica. Mas a linha que separa as formas pouco convencionais acertadas das formas pouco convencionais despropositadas é muito ténue e já não há críticos nem tempo nem espaço para a procurar. O caminho da arquitectura no século XXI está demasiado armadilhado para o caminharmos de olhos vendados.