quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Bom dia

- Depois da exibição do Casillas ontem nunca mais digo nada do Roberto.

- Alguém deveria explicar ao meu filho que a hora mudou.

- Não sei se vos disse, mas no outro dia vi dois deputados do CDS no Continente (cada um com a sua família, nas compras).

- Foi no Continente de Telheiras; não sei se vos disse, mas não gosto mesmo nada de Telheiras. Telheiras - e aqui não distingo entre a «parte velha» e a «parte nova» - é o exemplo de como nós não sabemos planear subúrbios como deve ser. Aquilo é uma plantação de edifícios altos e feios sobre uma malha urbana absurda (é só rotundas e pracetas) com passeios de 2,5 metros de largura, passeios esses, ou não estivéssemos em Portugal, já cheios de carros e pilaretes verdes para impedir os carros de estarem onde as pessoas querem que eles estejam. Porque é que aquilo não é um bairro simpático, com jardins e edifícios baixinhos, hã?

- Há uma ruralidade latente em todo o português. Ando a pensar muito nisto há algum tempo e bate certo. Explica a falta de amor que temos pela cidade e pela vida urbana, e a falta de civismo que daí nasce. O civismo é uma coisa urbana, não é rural. O civismo é sermos bem-educados com qualquer pessoa com quem nos cruzemos na rua, sobretudo quando são anónimos, pessoas que não sabemos quem são. O civismo é percebermos que há outras pessoas ao nosso lado que também estão a tentar viver as suas vidas, e que devemos contribuir para facilitar essas vidas. No campo, no meio rural, não há civismo porque toda a gente sabe quem toda a gente é, isto é, a familiaridade destrói o anonimato, que é o mais bonito do civismo. O português não é cívico; é mesmo anti-cívico. Quem tem carta de condução sabe o que digo. Foder os outros parece ser o que motiva o português a sair da cama, porque está convencido de que o andam a foder a ele (este é um ciclo vicioso fácil de entender). Isto acontece porque o português, no fundo, não gosta da cidade. Despreza a cidade, acha-a um mal menor, é apenas o sítio onde arranjou emprego mas mal possa volta para a terra, para a casa com a horta, para o campo de onde a sua família veio mas que entretanto também já está todo fodido. Isto entristece-me. A cidade é a invenção mais bonita da humanidade, e custa-me vê-la tão mal tratada. Custam-me, doem-me, os passeios de Lisboa, as caleiras das árvores de Lisboa, os carros por todo o lado, a Rua Castilho e a Av. Álvares Cabral só com uma faixa por causa do estacionamento em segunda fila. Espero que seja uma questão de geração, isto, e que com o passar do tempo se vá perdendo de vez este apelo pelo campo e que as pessoas decidam de vez ser urbanas e deixar o campo para as empresas agrícolas e seus funcionários, e que se acabe com este novo-riquismo da segunda casa, do casebre para onde as pessoas fogem ao fim-de-semana porque ficar aqui é que não, isto é mau demais. Espero, mas não estou a ver isso a acontecer.

- Fui cortar o cabelo. Reparo que começam a ser menos frequentes os comentários sobre os meus cabelos brancos. Isto significa que começo a ter uma idade mais compatível com cabelos brancos. Eles já não surpreendem. Foda-se.