quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A funcionária da EMEL

Às vezes deixo o meu filho em casa dos meus pais. É frequente não haver lugares para estacionar perto da porta do prédio («perto da porta do prédio», isto saiu-me assim sem esforço, atenção), pelo que sou forçado a um comportamento que não me orgulha: deixar o carro em cima da passagem de peões com os quatro piscas. Não demoro mais de cinco minutos, mas ainda assim sei que ao fazê-lo estou a ser um selvagem. Mas hoje, gloriosamente, havia um lugar que prontamente aproveitei. Demorei os mesmos cinco minutos e, quando voltei, tinha uma funcionária da EMEL à minha espera com uma multa. Moral da história? Não, não é esse que vocês estão a pensar. Acontece que esta funcionária da EMEL era uma cidadã de leste que apresentava um desempenho estético muito pouco consentâneo com aquilo que esperamos de um funcionário da EMEL. Além de impossivelmente bonita, foi absurdamente simpática: quando me viu chegar ao carro sorriu, mostrou-me o papel com a multa já passada e explicou «deixei o seu carro para último, mas já não pude esperar mais». Ainda respondi qualquer coisa antes de cair em mim. Não é todos os dias que acontecem pessoas assim. Eu deveria estar agradecido por haver pessoas assim a passar multas da EMEL. Porque, e era aqui que eu gostaria de chegar, esta funcionária da EMEL não era apenas alguém abençoado pela mãe natureza (obrigado mãe natureza), isso foi apenas uma coisa que lhe aconteceu, mas era alguém que não dormia à sombra da bananeira: ela estava pintada como se fosse à ópera (eu ouvi distintamente a orquestra). Não sei se perceberam: isto é uma pessoa que se levanta todos os dias para passar multas de estacionamento e perde tempo de manhã para se pôr bonita (algo que, imagino, não lhe requer muito esforço). Cavaco, está aqui uma condecoração por dar.