segunda-feira, 4 de abril de 2011

D. Quixotes

Tenho acompanhado, evidentemente contra a minha vontade (o chamado «espaço mediático» está entupido com o assunto), as reacções à conquista por parte do Futebol Clube do Porto do seu vigésimo quinto título de campeão nacional de futebol e não pude deixar de reparar que os adeptos do Futebol Clube do Porto, quase sem excepção, estão a forçar uma narrativa bélica contra o Benfica. O treinador do futebol sénior do clube, André Vilas Boas, que logo na entrevista curta após o jogo lembrou que «o adepto» que há nele prevalece sempre sobre o profissional, veio repetir a ideia do «grito de revolta», e outros exemplos lhe seguiram. Essa «revolta», como sabemos, deve-se ao sentimento de injustiça que o Futebol Clube do Porto mantém em relação ao campeonato da época passada, ganho pelo Benfica, que o Futebol Clube do Porto acha seu por direito, já que não concorda que se suspendam jogadores que agridam funcionários de segurança dos estádios, ao mesmo tempo que concorda em absoluto que se expulsem jogadores por estes serem mais altos do que os outros (o episódio de Cardozo em Braga). Ou seja, baseado em matéria de facto, este sentimento de «revolta» do Futebol Clube do Porto não faz sentido nenhum. A interpretação que faço é a de que os adeptos do Futebol Clube do Porto ainda não perceberam que o Futebol Clube do Porto não é mais o clube provinciano e regional que Pinto da Costa herdou que fazia depender toda a sua identidade da, simplifico, luta contra os mouros, e que, paradoxalmente, tal e qual aquilo que se verifica no islamismo radical, tomam por recentes acontecimentos remotos. Nesse sentido, os adeptos do Futebol Clube do Porto, um clube que ganhou 18 campeonatos em 29 anos de presidência de Pinto da Costa («Deus», como lhe chamou ontem um religioso na rua), precisam de sentir que as suas vitórias foram conquistadas à custa do Benfica, um clube que este ano está a 16 pontos do primeiro lugar, porque esse dado parece engrandecer o feito do Futebol Clube do Porto, um clube que, na cabeça dos seus adeptos, parte sempre em desvantagem devido às coisas. É isto que faz do Benfica o maior clube de Portugal. Não é o número de adeptos ou o número de títulos: é o facto de continuar a ser tido como o alvo a abater. Que esta vitória do Futebol Clube do Porto sirva como bálsamo a alguns adeptos do Sporting só reforça esta ideia. Contra os canhões, marchar, marchar.