segunda-feira, 17 de janeiro de 2005

Mailbox: Centros

«Eu também concordo, a rua é a unidade urbana por excelência. Os canais de circulação, as linhas que estruturam a malha urbana e através das quais configuramos a nossa mais comum imagem da cidade, quando as percorremos. Não acredito que alguém prefira o ambiente de redoma dos centros comerciais ao da rua, mas só quando esta está bem tratada e respeitada. Já o centro comercial oferece de tudo um pouco o que a sociedade de consumo rápido necessita. O horário, a impessoalidade, a diversidade concentrada, o conhecimento prévio do que se vai encontrar, a arrumação, a limpeza e a segurança. Mas o que faz os centros ganharem não é simplemente a segurança nem os outros mais. É o estacionamento. Imaginemos este cenário perfeito: o indivíduo sai do seu condomínio, de carro, pela garagem, faz todo o caminho pelos acessos rápidos até entrar no estacionamento do centro. Compras feitas, voltinha dada, eis que regressa pelo mesmo caminho. Facilidade total, há que reconhecer. Experiência urbana, zero. A vitória dos centros comerciais é proporcional ao declínio da qualidade do espaço público. A facilidade do novo mundo de consumo deixa as ruas e praças mais desertas. Sem estacionamento e acessibilidade rápida, não há facilidade. Maior parte, isto é um problema de acessos e estacionamento. Para o diagnóstico completo, a doença que falta referir: a desertificação dos centros urbanos, as zonas consolidadas, sobretudo o histórico, com a perca da população residente para a periferia e suburbio. Os suburbios e periferia cresceram sem infraestruturas planeadas. São pedaços desagregados. Os centros comerciais, os grandes, colocam-se lá, onde podem e onde é preciso. Periferia, e até suburbio mais recentemente. A combinação é perfeita. Como no ditado “Juntou-se a fome à vontade de comer”. O centro comercial é o tudo, onde não havia nada.

O Campera e o Freeport são propostas de consumo ainda mais radicais. Para compensar, simulam pequenas aldeias tradicionais. Ao contrário do Colombo, estes não tem matéria-prima constante à sua volta de onde se alimentar da mesma maneira massiva. É uma questão de moda. E não se vai à feira popular todos os dias.»

Susana

ACT: Só agora percebi que o original está aqui.