quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Life imitates art

Roberto Saviano, em entrevista recente a propósito de Gomorra, revelou que o meio mafioso de Nápoles tem n'O Padrinho uma fonte de inspiração estética incontornável. O que, à primeira vista, é surpreendente. Julgávamos, julgamos sempre, que O Padrinho é um retrato - mais ou menos fiel, não interessa - que interpreta e revela uma realidade que só alguns conhecem. Essa ainda continua a ser, nos dias que correm, uma qualidade que procuramos na nossa ficção: a verosimilhança. Ou, se quisermos, a capacidade de nos fazerem crer que «aquilo é mesmo assim». E assim andamos, de retrato em retrato, ingénuos sobre os efeitos que essa ficção tem na nossa vida e das alterações de comportamento que provocam. O exemplo da máfia napolitana é especialmente curioso e até paradoxal: o facto de os mafiosos serem permeáveis às influências de hollywood prova que devem andar algo distantes da composição das personagens de Puzo e Coppola. Isto não deixa de ser o maior elogio que se pode fazer ao artista, o de criar um imaginário tão forte que altera a ideia que as suas fontes têm delas próprias. É bonito de se ver, mas como todas as medalhas tem o seu reverso: é mais ou menos inegável que estamos a assistir à telenoveladatvização da sociedade portuguesa.