quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Um pedido de desculpas a Ian McEwan

A RTPN transmitiu ontem às 23.30 um programa intitulado Conversas de Escritores, mas infelizmente o plural do título revelou-se publicidade enganosa: em estúdio esteve apenas um escritor - Ian McEwan - e José Rodrigues dos Santos. E aquilo que aconteceu naquela sala do CCB com vista para o Planetário e o Mosteiro dos Jerónimos não foi tecnicamente uma conversa - foi uma entrevista. Durante 30 minutos, Rodrigues dos Santos tentou passar em revista toda a carreira de McEwan, num inglês assinalável, reconheça-se, e desde cedo McEwan percebeu que teria de recorrer ao monólogo para salvar a emissão. A performance foi a todos os títulos espectacular. Perante um arsenal de perguntas totalmente impossíveis de responder («Qual é o seu romance preferido», «Prefere a forma ou o conteúdo», «Fez investigação para escrever do ponto de vista da mulher?»), só numa ocasião Rodrigues dos Santos deixou McEwan sem resposta, quando fez referência ao alegado interesse do inglês sobre o «misticismo», imaginando uma resposta positiva que lhe daria a oportunidade de puxar dos codexes ou lá o que é. McEwan, claramente induzido em erro devido ao nome do programa, tentou por várias vezes conversar com Rodrigues dos Santos, o que provocou momentos surreais como aquele em que, para tentar explicar que não pensava no Nobel, McEwan perguntou ao seu interlocutor «do you?» (neste momento tive pena que a entrevista não estivesse a ser conduzida por José António Saraiva.) Houve também um momento em que fiquei com a nítida sensação de que Rodrigues dos Santos não leu os romances de McEwan, quando indagou sobre a possível adaptação cinematográfica de On Chesil Beach, uma pergunta que me pôs aos gritos aqui em casa (impossível! impossível! impossível!) de tal forma que até McEwan me ouviu: «impossível», disse ele.

Mais de metade da entrevista foi a falar de Salman Rushdie.