sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Uuuu uuu uuuuu uuuuuuu
Elogiar os Oioai em público requer aquele tipo de confiança necessária ao heterossexual para comentar a beleza masculina alheia: ou estamos muito seguros de nós, ou caímos no ridículo. E como eu não estou nada seguro de mim mas já perdi o medo de cair no ridículo (comecei a escrever em blogues numa época em que o Pedro Mexia ainda não sabia pôr imagens no blogue), vou elogiar os Oioai. Reparem, a música comercial portuguesa é como o governo de Santana Lopes: está permanentemente na incubadora à espera de ser pontapeada. Falo da música comercial, a música pop que não aspira a ficar na história e que só quer divertir-se enquanto pode. Música como os Coldplay, que pode perfeitamente passar na telenovela e estar simultaneamente na estante lá de casa sem que isso nos faça perder amigos. Eu não gosto dos Coldplay, eu detesto os Coldplay, eu atropelaria o Chris Martin à primeira oportunidade, mas que isto não enfraqueça a força argumentativa da minha comparação. Os Oioai (enfim, eu bem sei o difícil que é dar o nome a uma banda, acreditem) fizeram um primeiro álbum muito bom. Muito bom no capítulo da gestão de expectativas: nunca ninguém falou no «difícil» segundo álbum. E o segundo aí está, apresentado por este Ponto Fraco que acabei de ouvir na Radar a caminho do trabalho porque hoje é sexta-feira que se lixe a pegada ecológica. Eu já tinha ouvido o Ponto Fraco duas ou três vezes e confesso que lhe reconhecia apenas alguns méritos ao nível da produção. Mas hoje, no meu superlativo sistema de som automóvel (tenho um rádio a cassetes), a coisa bateu de outra maneira. Subi o volume, fechei as janelas ao nevoeiro, e concentrei-me na canção. É um canção do caralho. É uma canção melhor do que 90% das canções dos Coldplay. Está muito bem feita, até aqueles uuuu uu uuu uu u uuuuus que parecem extraídos de uma canção dos Arcade Fire qualquer. Os Oioai (Pedro Puppe) nunca deram entrevistas para enquadrar aquilo que fazem. São honestos: fazem música para sacar gajas, não tenho a menor dúvida disso. E este Ponto Fraco deve estar a ser um grande ponto forte a favor de Puppe & Ca. Os Oioai são a melhor banda do mundo? Não são: são assim uma espécie de Toranja on Prozac. Desejo as maiores felicidades aos Oioai.
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
Um logotipo com coisas a andar à roda
O logotipo do Google Chrome é bem catita,
sem dúvida, como se viu nas autárquicas,
mas confesso que isto já me anda a cansar:
sem dúvida, como se viu nas autárquicas,
mas confesso que isto já me anda a cansar:
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
terça-feira, 27 de outubro de 2009
It's not a gold star
«If President Obama really had to get a gift postmarked Scandinavia this month, he would probably, on the whole, have preferred the Olympics. At least at the Olympics the judges wait till after the race to give you the gold medal. They don’t force it on you while you’re still waiting for the bus to take you to the stadium. They don’t give it to you in anticipation of possible future feats of glory, like a signing bonus or an athletic scholarship. They don’t award it as a form of gentle encouragement, like a parent calling “Good job!” to a toddler who’s made it to the top rung of the monkey bars. It’s not a plastic, made-in-China “participation” trophy handed out to everyone in the class as part of a program to boost self-esteem. It’s not a door prize or a goody bag or a bowl of V.I.P. fruit courtesy of the hotel management. It’s not a gold star. It’s a gold medal. (...)»
Hendrik Hertzberg
Hendrik Hertzberg
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Rosario
Seven Pounds, que por motivos técnico-tácticos acabei por alugar ontem, é uma lamechice bidimensional de todo o tamanho quem nem a boa prestação de Will Smith salva, embora todos os fotogramas que contam com a presença de Rosario Dawson sejam absolutamente louváveis.
País em contenção
Eu não sei como foi o vosso fim-de-semana, mas o meu ficou marcado pelo mais escandaloso caso de publicidade enganosa de há muitas gerações que foi a primeira página do Expresso, que anunciava, lembro, com chamada fotográfica e tudo, um debate entre José Tolentino Mendonça e José Saramago sobre a Bíblia. Debate? O que realmente lá está, condensado numa página apenas, pode resumir-se a isto:
Tolentino: Ai é, é.
Saramago: Ai não é, não.
Esqueçam o défice, a dívida, e as dores: o grande problema do país é não conseguir produzir discussões intelectuais na praça pública, nem quando se convoca um nobel e uma pessoa como Tolentino Mendonça, que é uma pessoa quase tão superior às outras como o Paulo Rangel. Não sei se o problema foi das «elites» (Tolentino e Saramago) ou do jornalista que fez a condensação. De qualquer modo, a conclusão é a mesma: estamos todos perdidos.
domingo, 25 de outubro de 2009
Pôr o pessoal a trabalhar
(...) O que pensa do novo treinador, Jorge Jesus?
Se é verdade que vocês jornalistas andam a dizer, parece que ele é um homem que põe aquela tropa a trabalhar. E eu aprecio sempre quem põe o pessoal a trabalhar.
Medina Carreira, em entrevista ao Expresso
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Isto na minha cabeça faz todo o sentido
No balcão da Segurança Social onde vou trabalha um conjunto de funcionários que transformam aquele espaço de atendimento numa espécie de recreio de liceu de pessoas de meia-idade com dificuldades em fazer a devida emancipação da moda dos anos 90.
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Kafka era português (2)
(Tesouraria da Segurança Social. Entra um indivíduo extremamente bem parecido)
- Bom dia. Eu estou aqui para pedir uma declaração de inexistência de dívidas à Segurança Social [daqui para a frente «SS»], mas como eu sei que tenho algumas dívidas disseram-me que podia vir aqui à tesouraria liquidá-las desde já.
- De quando são as dívidas?
- Não sei bem, mas sei que são de 2009 porque fiz alguns pagamentos com atraso.
- Tem de saber.
- 2009, já lhe disse, não sei o mês ao certo.
- Então vamos começar por 2008.
(tecla tecla tecla)
- Ora cá está: o senhor tem uma dívida de fevereiro de 2008.
- Isso não pode ser.
- Está aqui (mostra o monitor).
- Mas eu tenho uma declaração de inexistência de dívidas de abril de 2008.
- Bom dia. Eu estou aqui para pedir uma declaração de inexistência de dívidas à Segurança Social [daqui para a frente «SS»], mas como eu sei que tenho algumas dívidas disseram-me que podia vir aqui à tesouraria liquidá-las desde já.
- De quando são as dívidas?
- Não sei bem, mas sei que são de 2009 porque fiz alguns pagamentos com atraso.
- Tem de saber.
- 2009, já lhe disse, não sei o mês ao certo.
- Então vamos começar por 2008.
(tecla tecla tecla)
- Ora cá está: o senhor tem uma dívida de fevereiro de 2008.
- Isso não pode ser.
- Está aqui (mostra o monitor).
- Mas eu tenho uma declaração de inexistência de dívidas de abril de 2008.
- Isso não quer dizer nada.
- Como?
- Isso não quer dizer nada.
- Mas em abril de 2008 a SS passou-me uma declaração a dizer que eu não tinha dívidas...
- Isso não quer dizer nada.
- As declarações não servem para nada?
- Não. Às vezes as dívidas demoram meses a cair no sistema.
(O indivíduo bem parecido suspira, derrotado)
- Então, se essa dívida aí está, é porque eu a tenho, não é? É que assim pago já.
- Não.
- Não como?
- Aqui é a tesouraria, é para pagamentos. Para apuramento de valores é na senha I. Eles lá é que lhe vão dizer se tem ou não dívidas.
- Mas o sistema não é o mesmo?
- É.
- Então vão detectar as mesmas dívidas que o senhor detectou.
- Pode ser que sim, pode ser que não.
- Mas...
- Tem de ser na senha I.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Impossível
(...) Ver um jogo do SLB e divertir-me, é como assistir acordado a um discurso do Ministro das Obras Públicas: é impossível. Se eu me quiser divertir a ver futebol, vejo um qualquer jogo da Premier League ou o Barcelona com o Real Madrid, mas nunca, nunca, um jogo com o SLB, porque há coisas com as quais eu simplesmente não brinco. (...)
(Where else?)
(Where else?)
terça-feira, 20 de outubro de 2009
O património»
Há um paradoxo interessante na questão da preservação do património (entre muitos outros), que é o seguinte:
a) O Estado (seja através do IGESPAR ou das câmaras municipais ou de outros) tem a obrigação de defender o interesse público.
b) O Estado identifica o «património» como interesse público e traça uma estratégia para o proteger.
c) Essa estratégia passa por obrigar privados a investir em edifícios velhos e a manter os seus sistemas construtivos e as suas tipologias porque elas são de «interesse público».
d) Os investidores, cuja missão é colocar no mercado produtos que correspondam à expectativa do mercado, não gostam destas imposições e recusam-se a investir, porque percebem que o mercado não vai aceitar apartamentos de 350 m2 com duas casas-de-banho, nem T3 com 60 m2, apenas porque em 1890 essas eram as tipologias que o mercado pedia.
e) Este confronto revela uma incompatibilidade entre aquilo que o «mercado» quer e o «interesse público»: o «interesse» é «público» e «abstracto», por oposição ao «mercado» que será «privado» e «concreto».
Quem acha normal a existência desta incompatibilidade está a fazer uma declaração ideológica, está a impor uma determinada visão em detrimento de outra, está a considerar o «interesse público» o resultado de uma avaliação necessariamente muito estrita e sem adesão colectiva.
Se o Estado está verdadeiramente preocupado em resolver a questão da degradação do património, tem de fazê-lo com a ajuda dos privados, não contra eles. Não perceber isto é insistir numa atitude terceiro-mundista.
Isto, na cabeça de alguém algures, fará sentido
No dia em que é tornado público que Portugal quer entrar na corrida para organização do Mundial de 2018 ou 2022 (com Espanha), ficamos a saber que em Aveiro se discute a demolição do estádio que foi construído para o Euro 2004.
Protecção civil
Agora digam lá se esta chuva não torna menos penoso o trabalho? O segredo do «desenvolvimento» está todo no clima.
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Teotónio Pereira
A RTP2 passou no sábado um documentário sobre a vida de Nuno Teotónio Pereira, o que me deu a oportunidade de lembrar o quanto eu gosto deste homem que de vez em quando ainda se cruza comigo nas estações do metro como se fosse um comum mortal. Não é, não é, Teotónio Pereira é o expoente máximo (meço bem as palavras) da geração que fez da arquitectura portuguesa aquilo que a arquitectura portuguesa é hoje, que desenhou o Franjinhas e o Bloco das Águas Livres e as igrejas do Sagrado Coração de Jesus e de Almada e que parece estar sempre em paz. As imagens de arquivo mostraram-no a sair de Caxias, calmíssimo, de sorriso sereno, e mostraram-no também num comício cheio de gente aos berros a dizer que «a revolução tinha de ir até ao fim» que tinha de «ser radical» e mais não sei o quê, e mesmo aí a minha simpatia por ele não foi beliscada. A minha mulher assistiu ao fim do programa e conseguiu ouvir Nuno Teotónio Pereira explicar que fazia arquitectura «de dentro para fora», conceito que ela percebeu muito bem porque eu já a levei a ver a igreja do Sagrado Coração de Jesus, «de dentro para fora e não de fora para dentro, como se faz hoje, em que a imagem é tudo, que é uma atitude que eu critico muito», pelo que quando passámos ontem em frente a umas moradias projectadas por Frederico Valsassina ali no Estoril, uma toda em vidro muito exposta, outra toda em madeira muito simples, ela disse logo «estas casas não foram desenhadas de dentro para fora», pois claro que não foram, o Teotónio Pereira não pode estar em todo o lado e a maneira como ele e a sua geração fazia arquitectura morreu.
Kafka era português
Há várias razões para o Estado não ser uma pessoa de bem e não é preciso invocarmos histórias de concursos de contentores nem compras de submarinos. O diabo está nos pormenores, e a nossa vida, por azar, está cheia de pormenores. Há um ano e meio apresentei um pedido nas finanças de isenção de pagamento de IMT sobre a compra da minha casa. Para isso foi-me pedido uma declaração de ausência de dívidas à Segurança Social. Fui à Segurança Social, não tinha dívidas, trouxe o papel. Agora, 18 meses depois, o «processo» começou a andar e, surpresa das surpresas, a declaração da Segurança Social que eu entreguei a tempo e horas já não está válida, pelo que o Estado me pede uma outra, «actualizada». 18 meses. Eu que já paguei 140 euros de multa por ter entregado uma declaração do IVA com um dia de atraso. E depois querem que sejamos todos «socialistas» e o caralho.
Adenda: Omiti um pormenor importante: o IMT foi pago por mim à data da escritura. Toda esta cantiga é para a sua devolução.
sábado, 17 de outubro de 2009
Grandes momentos do jornalismo português
Foi hoje anunciado o vencedor do Prémio Nobel da Literatura.
Quem é que ganhou?
Herta Müller.
Nunca ouvi falar. Você já ouviu?
Não, até hoje de manhã... Mas o seu próprio nome aparece constantemente como um potencial vencedor...
Isso é um erro. O meu nome é falado na imprensa, mas não na Suécia. Isso é apenas falatório.
Dá alguma importância ao prémio?
No ano passado, foi atribuído a Harold Pinter, e ele é um óptimo escritor [Na verdade, Pinter recebeu o Nobel em 2005]. Há dois anos, o prémio foi para Doris Lessing, que também é uma escritora muito boa. Mas, no cômputo geral, o Nobel não vai para grandes escritores.
Conhece o trabalho de José Saramago?
Não, não conheço.
Philip Roth (que esperamos todos não estar com alzheimer), em entrevista a João Luz, no Actual de hoje
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Quem não sente
Maitê outra vez, cá vamos nós, isto cansa-me. Mais grave do que a reacção ao vídeo da Maitê só mesmo a reacção à reacção ao vídeo da Maitê. Parece que a intelligentsia acordou toda para a condenação da, como é, «falta de sentido de humor» da nação que não admite que se «brinque» com ela. Ora, eu não dou à Maitê mais importância do que ela tem (e para a minha geração tem muita, não me canso de tentar explicar isto), mas acho totalmente legítimo que a nação não tenha gostado. Não assinei petições e estou ligeiramente nas tintas para o que a Maitê pensa ou deixa de pensar de Portugal, mas o país é o país e não me agrada que se espere «sentido de humor» a cada vez que um cidadão estrangeiro decida fazer pouco de nós lá na sua televisão, sobretudo em casos como o da Maitê em que não se vislumbra ali nenhuma qualidade humorística relevante. Se não é para termos com Portugal uma relação afectiva, então estamos cá para quê?
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Fez questão
(...) Fiz questão de fazer a minha intervenção em português, inglês, francês, alemão e italiano para mostrar que as relações de proximidade entre o Parlamento Europeu e os Parlamentos Nacionais dependem, entre outras coisas, de um esforço de comunicação de todos. (...)
Paulo Rangel, lá no Facebook dele, há pouco
Marcos pede Helena em casamento, Helena aceita, Luciana tem um ataque de nervos
Por falar em charme, e porque o telecomando tem um uso totalmente democrático lá em casa em qualquer altura que não seja a de um jogo do Benfica, se a minha mulher pudesse escolher eu teria este aspecto aos 60 anos:
Ou então aos 30: suspeito que tanto faz.
Ou então aos 30: suspeito que tanto faz.
O vídeo da Maitê
Antes de mais, quero começar por expressar a minha mais profunda desilusão. Quando comecei a ouvir os rumores de que circulava da net «um vídeo da Maitê», esperava outra coisa. Eu cresci, minhas hormonas cresceram (repararam na omissão do artigo definido como remissão para o sotaque brasileiro?), com Maitê e num tempo onde não havia Tv Cabo muito menos internet. «Um vídeo da Maitê», nos anos 80, podia ser muita coisa; mas «um vídeo da Maitê» em pleno século XXI anuncia outras qualidades que este vídeo da Maitê não tem. Paciência, haja confiança. E o que nos diz este vídeo da Maitê? O Francisco José Viegas já enquadrou devidamente o assunto, mas eu gostava de adicionar mais um elemento para a compreensão deste vídeo da Maitê (ah, como eu gostava que este vídeo da Maitê não precisasse de compreensão): as más companhias. Quem acompanha de perto a imprensa sentimental sabe com quem Maitê tem privado; com que português Maitê tem privado. Qual é o espanto? Pensavam que ele ia para lá como embaixador da portugalidade? Que nada. Ele foi para lá xingar de nós mesmo. Que é o que ele faz bem, que é o que lhe dá charme: olha só aí a Maitê para o provar.
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Posso afirmar, com 90% de certeza, que John Kerry será o próximo presidente dos EUA
Rui Oliveira e Costa, sempre empenhado em demonstrar-nos que as sondagens não são o único assunto que não domina, acabou de dizer na RTP-N que sempre achou Alex Ferguson «um bocado bluff».
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Agustina
No Câmara Clara de ontem, dedicado a Agustina Bessa-Luís, fiquei a saber que Agustina se referiu em tempos a Sophia de Mello Breyner como «uma mulher que tem a cortesia de parecer vulnerável». Agora vou ali apagar o blogue todo.
O caso de Helena Roseta
O caso de Helena Roseta não deixa de ser extraordinário: desvincula-se do PS em «ruptura» com a direcção por esta não a nomear candidata pelo partido à CML (e pelo meio lança acusações de «falta de democracia» interna), candidata-se por um movimento independente, faz uma boa campanha, e obtém um óptimo resultado que lhe dá todas as condições para «fazer a diferença» perante um PS fragilizado. Depois, previsivelmente, não fez diferença nenhuma, fez da sua passagem pela vereação uma passagem irrelevante, e, dois anos depois, decide que a «independência» não serve para nada e aceita concorrer em numa «coligação» muito peculiar que dá pelo nome de «PS», mostrando assim que as «causas» são para as ocasiões. Há que juntar à lista das «mortes políticas» de ontem o nome de Helena Roseta.
E tu, quantos nazis tens na tua freguesia?
Tomando esta astuta observação do Rogério Casanova como sugestão, proponho que cada um divulgue e tente isolar os nazis da sua freguesia. Eu começo já: se à primeira vista a Madalena parece uma freguesia orgulhosamente Nazi-Free (0 votos para a Câmara), os 2 votos que o partido obteve para a Assembleia Municipal mancham a honra do convento e revelam que a estratégia para a chegada ao poder do nacionalismo luso é ou obscura ou simplesmente - à imagem do seu líder - muito obtusa.
A Câmara Municipal de Lisboa
Os últimos dois anos de gestão Costa transformaram a Câmara Municipal de Lisboa numa instituição sem palavra. O caos que se instalou na gestão urbanística paralisou todos os investimentos privados que se vão tentando fazer na cidade. O actual executivo terraplanou a base de entendimento que existia e não conseguiu substituí-la por outra. Ninguém se entende. Ao mesmo tempo, foram distribuídas várias encomendas através de adjudicação directa a gabinetes seleccionados para a execução de trabalhos importantes em Lisboa, sem que para isso tivesse havido concurso público. Politicamente, Costa nunca foi mais do que uma voz do governo nos paços do concelho, com a trapalhada que tem sido a «gestão» do dossier da frente ribeirinha como exemplo maior. Agora que tem maioria absoluta e que Sócrates está por aí por mais 4 anos, pode ser que Costa ganhe juízo e comece a olhar para a presidência da Câmara Municipal de Lisboa como um cargo que merece a sua atenção, e não como mero trampolim político. Se isso não acontecer, estamos todos perdidos.
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Suction with Valcheck
Suction with Valcheck, o novo blogue de uma pessoa que eu não conheço e não sei que é, de uma pessoa que eu sei quem é mas que não conheço porque a única vez que me cruzei com ela foi a uma hora e num sítio que impossibilitaram qualquer troca de palavras civilizada*, e de uma pessoa que eu sei quem é e que conheço porque fui simpaticamente apresentado, tendo no entanto respondido a essa simpatia com uma inexplicável falta de qualidades sociais que muito correctamente poderia ser descrita como antipatia ou simplesmente estupidez**.
* Lembrei-me de que isto não é verdade: não foi a única vez, mas agora não quero estar aqui a estragar o post todo.
** Não sei se ficou claro, mas a antipatia e a estupidez são, evidentemente, minhas. Quem me conhece sabe que é assim.
* Lembrei-me de que isto não é verdade: não foi a única vez, mas agora não quero estar aqui a estragar o post todo.
** Não sei se ficou claro, mas a antipatia e a estupidez são, evidentemente, minhas. Quem me conhece sabe que é assim.
O metropolitano, uma peixeirada, e filosofia de algibeira
As filas espantosas que se têm formado aos guichets do Metro para as entregas dos formulários dos passes têm decorrido de uma forma especialmente ordeira e civilizada. Demasiado ordeira e civilizada, até, pelo que não foi com surpresa que assisti hoje de manhã a uma bem definida peixeirada. Uma senhora gritava veementemente com a funcionária do Metropolitano de Lisboa, devidamente afastada da fila transformada em assistência, com o dedo espetado junto ao seu nariz (o da funcionária), num tom de voz que colocava imediatamente qualquer transeunte desprevenido do lado da funcionária indefesa (ninguém deveria correr o risco de ser colocado numa situação destas antes das 9 da manhã, é uma questão civilizacional, se quiserem) «a mim não me ignoram, a mim não me ignoram!», com ponto de exclamação e tudo que eu vi. Perante isto, há três hipóteses académicas.
Hipótese A: O postulado é falso
O postulado «a mim não me ignoram» é falso porque toda aquela situação tinha nascido evidentemente do facto de a senhora ter sido ignorada previamente. Logo, ao confirmar-se que pelo menos uma vez a senhora tinha sido, efectivamente, «ignorada», fica destruída a validade da afirmação inicial.
Hipótese B: O postulado está incompleto
O postulado «a mim não me ignoram» está incompleto porque aquilo que se pode demonstrar é uma variação subtil da afirmação, ou seja: «a mim não me ignoram quando eu estou a fazer uma peixeirada». O facto de estar uma multidão parada a assistir ao desenrolar da cena prova que a senhora não estava a ser ignorada, embora seja pouco prudente fazer o salto lógico daí para a hipótese mais abrangente que a senhora estava a colocar, isto é, o facto de ela não ser ignorada em caso algum, pois isso seria desconsiderar a relevância da «peixeirada» para o facto de ela não estar a ser ignorada naquele momento. Hipótese, repito, pouco prudente.
Hipótese C: O postulado é verdadeiro
Esta é a única hipótese que não faz da declarante uma mentirosa, mas é ao mesmo tempo a que lhe é mais desfavorável. O postulado «a mim não me ignoram» é verdadeiro, ponto final, incondicionalmente. Resta saber porquê. Declarar que «a mim não me ignoram» significa assumir que há dois tipos de pessoas, as pessoas que são ignoradas e as pessoas que não são ignoradas, e que essa distinção é óbvia. Ora, há algumas características que podem conferir a alguém o estatuto de inignorabilidade, como por exemplo a fama ou a deficiência (ninguém ignoraria Cavaco Silva se ele estivesse ali no guichet, como também é mais difícil de ignorar alguém que só tem uma perna), entre outras. A senhora não reunia nenhuma dessas condições à partida (ela tinha, no entanto, algum peso a mais, mas não creio que fosse a isso que se referia), pelo que se poderá admitir a hipótese de ela considerar que ninguém a poderia ignorar devido a uma condição social relativamente oculta, o que revelaria prepotência e má-educação (uma prepotência e má-educação que a peixeirada estaria a provar). Daí esta ser a hipótese menos favorável à declarante.
A não ser, claro, que a berraria «a mim não me ignoram» não é uma constatação de um facto mas um pedido ou uma imposição: ela estava a exigir que não a ignorassem. A ser assim, escolheu o pior caminho de todos: mais vale ser ignorado do que não ser ignorado pelas razões erradas.
Hipótese A: O postulado é falso
O postulado «a mim não me ignoram» é falso porque toda aquela situação tinha nascido evidentemente do facto de a senhora ter sido ignorada previamente. Logo, ao confirmar-se que pelo menos uma vez a senhora tinha sido, efectivamente, «ignorada», fica destruída a validade da afirmação inicial.
Hipótese B: O postulado está incompleto
O postulado «a mim não me ignoram» está incompleto porque aquilo que se pode demonstrar é uma variação subtil da afirmação, ou seja: «a mim não me ignoram quando eu estou a fazer uma peixeirada». O facto de estar uma multidão parada a assistir ao desenrolar da cena prova que a senhora não estava a ser ignorada, embora seja pouco prudente fazer o salto lógico daí para a hipótese mais abrangente que a senhora estava a colocar, isto é, o facto de ela não ser ignorada em caso algum, pois isso seria desconsiderar a relevância da «peixeirada» para o facto de ela não estar a ser ignorada naquele momento. Hipótese, repito, pouco prudente.
Hipótese C: O postulado é verdadeiro
Esta é a única hipótese que não faz da declarante uma mentirosa, mas é ao mesmo tempo a que lhe é mais desfavorável. O postulado «a mim não me ignoram» é verdadeiro, ponto final, incondicionalmente. Resta saber porquê. Declarar que «a mim não me ignoram» significa assumir que há dois tipos de pessoas, as pessoas que são ignoradas e as pessoas que não são ignoradas, e que essa distinção é óbvia. Ora, há algumas características que podem conferir a alguém o estatuto de inignorabilidade, como por exemplo a fama ou a deficiência (ninguém ignoraria Cavaco Silva se ele estivesse ali no guichet, como também é mais difícil de ignorar alguém que só tem uma perna), entre outras. A senhora não reunia nenhuma dessas condições à partida (ela tinha, no entanto, algum peso a mais, mas não creio que fosse a isso que se referia), pelo que se poderá admitir a hipótese de ela considerar que ninguém a poderia ignorar devido a uma condição social relativamente oculta, o que revelaria prepotência e má-educação (uma prepotência e má-educação que a peixeirada estaria a provar). Daí esta ser a hipótese menos favorável à declarante.
A não ser, claro, que a berraria «a mim não me ignoram» não é uma constatação de um facto mas um pedido ou uma imposição: ela estava a exigir que não a ignorassem. A ser assim, escolheu o pior caminho de todos: mais vale ser ignorado do que não ser ignorado pelas razões erradas.
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
A «construção europeia»
Porque se dá o caso de a minha cozinha bloquear grande parte das frequências FM à excepção da frequência do Rádio Clube Português, aconteceu ter ouvido ontem uma conversa sobre o «sim» da Irlanda ao Tratado de Lisboa (ou só «Lisboa», aparentemente) que envolveu Miguel Portas e Jamila Madeira. Do que disse Jamila nada retive, muito menos do que disse Miguel Portas, mas guardei para memória futura a intervenção do moderador, que repetiu, várias vezes, a pergunta «Podemos estar optimistas em relação à ratificação do Tratado de Lisboa?» A falta de preparação do moderador impediu-o de perceber que o «optimismo» de Miguel Portas não seria exactamente o mesmo do seu (para Portas, o cenário «optimista» envolveria sempre o chumbo «democrático» do tratado), mas nem foi isso que me comoveu, foi o facto de estar instituída esta inevitabilidade da «construção europeia», inevitabilidade suficientemente forte para que um jornalista se sinta à vontade de declarar o «optimismo» de toda uma nação, de todo um continente, sobre aquilo que é, na essência, uma opção política. Que o mundo em geral se sinta optimista em relação, sei lá, à irradicação da pobreza, isso eu percebo; agora que a «europa» se deva sentir «optimista» em relação à «construção europeia» já me parece motivo de desconfiança. Afinal, o que é que o tratado vem resolver? Vem resolver alguns «impasses» e criar novos cargos: o de Presidente da Europa Toda (Tony Blair como candidato, parece) e um super-ministro dos negócios estrangeiros, uma figura que ficará condenada à insignificância, certamente. De resto, tudo continuará como dantes: a Alemanha será sempre o motor económico e a primeira a sair da «crise» (e ela já aí está) e Portugal será sempre o bom aluno que quer continuar a receber subsídios. Daqui não resulta uma entidade supra-nacional, como quer «Lisboa»: resulta um conjunto de interesseiros que devem coçar as costas uns dos outros de vez em quando. E já não é nada mau termos alguém para nos coçar as costas quando precisamos.
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
3/1?
O Amos Oz continua com as odds de 3/1 que tinha antes deste post do Eduardo Pitta. Tendo em conta o que se passou no ano passado, é caso para concluir que os tipos da Ladbrokes são totalmente irresponsáveis.
Londres e Telheiras
«O que é que se passa com esta gente? Murakami é uma daquelas modas orientais, como o yoga ou o sushi, que aterram de repente em Londres e Telheiras e nunca mais de lá saem.»
Rogério Casanova goes to the Ladbrokes 2009 Nobel Literature Prize Odds List.
P.S.: O Ondaatje está na lista. Já vos disse que confundo sempre o Ondaatje com o Ondjaki? Também tenho outros problemas, é uma questão de ir passando por aqui regularmente.
terça-feira, 6 de outubro de 2009
Luta de classes
Também há uma luta de classes por fazer no futebol: se este golo tivesse sido do Messi estaria espetado em tudo o que é blogue a armar ao atento. Como foi do Pedro, só aqui o justiceiro é que dá o corpo ao manifesto. Vocês não o merecem:
Descubra as diferenças
Valentim, em Gondomar, oferece frigoríficos. É um cacique. Costa, em Lisboa, oferece bicicletas. É um estadista.
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
DVD
State of Play (um blockbuster sobre relações perigosas na política com um twist a meio e outro no fim competente) tem um casting feminino sexualmente muito subil: Rachel McAdams no papel da jovem inocente (e quase que é mesmo inocente não fossem aqueles olhos), Robin Wright ora Penn ora não Penn no papel da quarentona (e ficamos sempre mais felizes quando o Penn cai do nome), e Helen Mirren, sempre no papel de Helen Mirren, ou seja, por amor de Deus não é suposto sentirmos isto por uma mulher que nasceu em 1945. Nenhuma delas fará capa de revista masculina. Rachel McAdams é demasiado comum; Helen Mirren nasceu antes de 1988; e Robin Wight Penn tem escapado misteriosamente ao rótulo, ela que é loira e tudo. Apesar de tudo, a memória que fica é delas: não fossem elas e o filme estaria entregue ao bocejante Russel Crowe e ao desastroso Ben Affleck, o homem com menos carisma da história do cinema.
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