quinta-feira, 31 de março de 2005
Um pombo cagou-me em cima por causa disto*
"Todos os escritores brasileiros são de esquerda", disse num jornal um escritor barbudo, Marçal Aquino, que escreve sobre assassinos profissionais baratinhos que trabalham nas estradas mais vagabundas e esburacadas do país (ainda se fosse nas estradas mais atraentes! Caramba! Que mau gosto!) E sim, tem razão: os escritores são de esquerda como os pintores usam boina - porque lhes disseram que é assim mesmo e eles não ficaram pensando muito pra ver se era assim mesmo. Porque, em suma, queriam ter a cara da profissão, queriam se sentir muito escritores. Porque são medíocres. Oh, a pena que têm dos pobres. Oh, as visitas que fazem a presídios...
Todos ouvimos em algum lugar que devemos evitar a construção de personagens unidimensionais e estereotipados na literatura; que todos os personagens devem ser muito complexos, muito surpreendentes. O motivo disso, costuma-se dizer, é que "as pessoas na vida real são multidimensionais e surpreendentes". Mas o que fazer quando os escritores mesmos são uns personagens tão estereotipados, e se aproximam de mim usando boinas e bottoms do PT e falando do quanto resistiram à ditadura?
Os escritores são de esquerda como os pintores usam boina, Alexandre Soares Silva, in revista Atlântico nº1
* É verdade. Quando voltava do quiosque com o Público na mão levei com dejectos de pombo na cabeça. Foi a primeira vez, o que é extraordinário vivendo eu em Lisboa há tanto tempo, mas fico com a clara sensação que o pombo era de esquerda e apoiante de Manuel Maria Carrilho.
A União Europeia explicada em 3 linhas
Francisco Sarsfield Cabral, in DN 31.03.05
quarta-feira, 30 de março de 2005
Saída da casca
Spread the word
As meninas
O Zé Mário Silva (segue link para a lista para ver se caço um de volta já que por lá se anda a actualizar sidebars) acha que este é o melhor quadro de todos os tempos. Se eu digo ao meu pai que há uma opinião que ele partilha com um simpatizante do Bloco, acho que lhe dá uma coisa má.
P.S: Vi-o há um mês.
Apanhados
Nota
terça-feira, 29 de março de 2005
Com estilo
On Style, Susan Sontag, 1965
A questão do estilo é das mais interessantes no debate arquitectónico, simplesmente porque não existe. O que se ensina hoje nas escolas é (ainda) o modernismo, até porque não se descobriu ainda nada melhor para ensinar. E o modernismo ambiciona ser style-less, apregoa não ter estilo, entendido isto como sinal de supremacia arquitectónica, uma pureza livre de modas e tendências. Mas o estilo é tudo e, como nos diz Sontag, defender a ausência de estilo é defender um estilo em particular, aquele que se apresenta como ideal. Voltarei a este assunto.
Para ir lendo: What 'Styles' Mean to the Architect
segunda-feira, 28 de março de 2005
Format c:
Fotogenia
sábado, 26 de março de 2005
Portrait
As mesmas imagens que construirão uma espécie de plano de arranque para a memória futura que se constituirá desses edifícios. A fotografia constrói uma imagem alternativa à arquitectura e, num universo mediático, confunde-se com a própria arquitectura. (...)
Mundo Perfeito, Ana Vaz Milheiro, Mil Folhas 26.03.05
Fez-me lembrar algo que escrevi há tempos:
A arquitectura de facto morre. Ou renasce. Mas será certamente uma experiência diferente. A fotografia é como um adolescente irrequieto. Não é capaz de fazer aquilo que lhe pedem. É demasiado cheia de si. Pedem-lhe para capturar um edifício, para explicar uma obra. Ela, sorrateiramente, finge que é isso mesmo que faz. «Olha», parece dizer, «aqui está o edifício que me pediste». Mas o processo foi subversivo. Pegando na encomenda trasnforma-a para a sua glória. A fotografia tem de ser, antes de mais, uma obra de arte. Não cede a outra forma de arte, se a arquitectura pode ser assim chamada. No duelo entre rivais, a fotografia leva sempre a melhor. É isso que ela pensa, orgulhosa.
Mas não sabe que a arquitectura, mais velha e experiente, já cá anda há muito tempo. A arquitectura parece reduzir-se no positivo, na reprodução. A fotografia parece ganhar o pódio. Não é isso que se passa. A arquitectura manipula o fotógrafo. Este, ao descobrir um ângulo surpreendente com uma luz mágica, exclama em exaltação «eureka!». Como um rato que descobre o queijo na ratoeira. Como uma aranha, a arquitectura teceu a sua teia. A presa é fácil. O objectivo é atingido.
Os anos passam e tornam-se amigos. São hoje cúmplices no mesmo crime. Assumem isso, sem rodeios, como dois velhos que desistem de implicar um com o outro. Para fora vão dando sinais de algum desconforto mútuo. «A arquitectura subjuga-se à imagem», ouvem-se os velhos do restelo, bramindo contra a perda de autenticidade. «Não pode ser, a arquitectura corre risco de vida». No fundo já ninguém se escandaliza. Os níveis de exigência baixaram, baixam continuamente. A pobreza mascara-se e a fotografia redime-a. A arquitectura tornou-se preguiçosa. A fotografia reparte as culpas no cartório. Toda a gente assobia para o lado. «There is nothing to see, there is nothing to see.»
em Ceci n’est pas un bâtiment, 2004
Páscoa
Infelizmente, o texto termina com a crucificação. Ou seja, a história fica a meio. A Voz conclui:
Tenham lá paciência, meus amigos romanos. O sepulcro está vazio e é isso que vale a pena celebrar.
Carlos Alpoim Vieira Barbosa
O senhor Carlos Alpoim Vieira Barbosa tem rodas no lugar dos pés, amortecedores no lugar dos tornozelos, e uma série de outras componentes automobilísticas que eu desconheço no lugar das pernas. Entrevistado pelo jornal da tarde do canal 1, o senhor Carlos Alpoim Vieira Barbosa instruiu-nos, comuns mortais, das falhas do novo código da estrada: «é muito brando com os peões (...) coitadinhos dos peões (...) porque os peões não têm respeito pela circulação automóvel (...) e atravessam nas passadeiras de qualquer maneira (...) os peões são um perigo público (...)» E parece que continuou a falar, mas confesso que por esta altura só imaginava o senhor Carlos Alpoim Vieira Barbosa a dar conselhos aos filhos «quando passares por uma passadeira, acelera, para esses parasitas dos pedestres perceberem quem manda». Minto. Lembro-me bem do que disse o senhor Carlos Alpoim Vieira Barbosa. O senhor Carlos Alpoim Vieira Barbosa discorreu depois sobre o sistema financeiro do mundo automóvel: «e para onde vai o dinheiro das multas?, isso é que é importante saber! vai para os TGVs (isso mesmo, no plural, os TGVs)? ou para os comboios? ou para os transportes públicos? ou pelo contrário, vai ser canalizado para a indústria automóvel?» Eu proponho que as multas por atravessar fora da passadeira vão directamente para o ACP. Por um mundo melhor inicia-se aqui a campanha Peão Zero, destinada a acabar, de uma vez por todas, com aqueles que insistem em andar a pé.
sexta-feira, 25 de março de 2005
Relativismo pessoal
Susan Sontag, A note and some acknowledgments, 1966
Pudor
Religious coolness
Crónica de Sexta-Feira Santa
Uma vez, em conversa sobre o épico emocional Magnólia, sugeri uma possível obsessão religiosa do realizador. Uma rapariga disse logo que não percebia tal observação. "Ora, a chuva de sapos não engana", respondi, como quem aponta o óbvio. "Sapos?", espantou-se a rapariga, "o que é que os sapos têm a ver com religião?". Murmurei uma vaga frase sobre "pragas do Egipto". Mas a moça encolheu os ombros e pensou certamente que existem sempre patetas que vêem imensa coisa em coisa nenhuma.
Esse episódio é recorrente sempre que me acontece fazer uma referência bíblica, três pessoas ficam sem expressão, nitidamente sem perceberem. Mesmo alusões que julgava evidentes, como "filho pródigo" ou "estrada de Damasco", enfrentam um silêncio glacial. Quando explico, protestam: "Mas tu és católico, nós não temos que saber isso." Acontece que não se trata de convicções pessoais: o conhecimento de um módico de referências religiosas (sobretudo bíblicas) faz parte da cultura geral. Recentemente, um amigo trintão contou-me que nunca tinha sequer folheado a Bíblia. Quando fez anos, ofereci-lhe uma Bíblia dos Capuchinhos. Não para o evangelizar, mas para o rapaz perceber melhor, digamos, os filmes de Bergman, as canções de Johnny Cash, os romances de Graham Greene.
Com efeito, sem uma referência religiosa não entendemos parte significativa da cultura ocidental. Já nem digo os clássicos ou os mestres da pintura. Sem perceber o segredo de confissão não se entende Confesso, de Hitchcock (o filme foi um fiasco porque os espectadores protestantes achavam o enredo inverosímil). Sem conhecer o dogma não se entendem as profanações de Buñuel (que construiu A Via Láctea só com esse material). Sem cristianismo, não se entende Eliot, Fellini ou Messiaen (para referir artistas contemporâneos).
Repito não tem nada a ver com religião, tem a ver com cultura. Não é por vivermos o colapso do cristianismo que algumas imagens, metáforas e alegorias cristãs desaparecem da memória. O lastro cultural do cristianismo permanece mesmo que o cristianismo definhe. É por isso que o laico Régis Debray defendeu recentemente que a História da Religião deve ser ensinada nos liceus.»
Pedro Mexia, DN 25.03.05
Dei por mim há pouco tempo a tentar explicar a minha falta de Fé (com maiúscula) usando precisamente este argumento: para mim o cristianismo sempre foi uma questão cultural. Surpreendi-me ao afirmar isto. Não tinha, não tive, consciência desta atitude que percebi, retrospectivamente, ser verdadeira. Foi quando comecei a ser confrontado de uma forma mais consequente com as questões puramente religiosas do cristianismo que percebi que a minha fé era muito limitada. Quem tem uma vida religiosa sabe que esta atitude, reconhecer a limitação da fé, é quase necessária para tê-la. E durante muito tempo vivi bem com isso, pois à minha volta todos proclamavam a sua pouca fé fazendo votos e esforços para vê-la crescer. Ter fé, aliás, é viver para alimentá-la. Mas com o passar do tempo fui perdendo a capacidade para alimentar essa fé ao mesmo tempo que, talvez devido a essa distância, me ia interessando mais pelo contexto e herança cultural do cristianismo. O que me espantou foi a riqueza desse património cultural que desconhecia, pois a educação na fé não passa por aí. Parece um paradoxo, mas não é. A nossa relação com a cultura é sempre filtrada pelo espírito crítico. O que mais nos desperta culturalmente é sempre aquilo que nos desafia e interpela. Ora, religiosamente, a Bíblia não é cultura: é. Todas as passagens são ensinamentos, todas as personagens são exemplos, todas as palavras são literais. A Bílblia, na catequese, é um código de conduta. Um católico reza a Bíblia, não a estuda. Por isso a atitude que o Pedro Mexia bem expõe nesta crónica (a recusa da abordagem à religião como cultura) não é exclusiva dos não-crentes. No caso específico do catolicismo há ainda que ter em conta a (não) relação que os fiéis têm com os textos sagrados. Eu sempre tive uma relação atribulada e, talvez não surpreendentemente, essa relação é mais proveitosa quando me sinto menos crente. Porque ler um texto sabendo que ele é sagrado e quase dogmático torna-se aborrecido. E nasce o perigo (que está na origem desta separação da religião e da cultura) de se considerar que aqueles temas são do foro meramente religioso, esquecendo que aquilo a que nós chamamos de cultura tem uma história construída sobre essas estórias, mesmo quando é para as renegar. Vivemos numa época particularmente sensível à questão da laicidade, mas não devemos deixar que isso sirva para apagar a nossa própria cultura, querendo reescrevê-la à margem do divino.
Não por acaso (certamente) a coluna literária do Pedro Mexia de hoje dedica-se a José Tolentino Mendonça.
quinta-feira, 24 de março de 2005
Just arrived
E a capa é bonita.
It is only shallow people who do not judge by appearances. The mystery of the world is the visible, not the invisible.
Oscar Wilde
da Blogosfera
- O Pedro Mexia, o Francisco José Viegas, e o Pedro Lomba estão Fora do Mundo há um ano.
from Graz (sem acentos)
Nao maltratam os turistas, nao o fazem. Oferecem-lhes a condescendencia de quem tem algo a ensinar aos seus iguais mas que se encontram num estagio anterior do "saber viver". Mantem a cidadezinha banal que habitam com um q.b. de atraccao turistica para que outros mortais possam vir ver como estes senhores vivem. Nao contentes com isso, constroem tudo em vidro para que seja ainda mais facil espreitar para dentro das suas vidas. So as casas onde vivem escapam a essa regra, mas de dia ninguem vive "em casa". De dia vive-se nos locais de trabalho, na universidade, nos cafes. Ao fim de semana so nestes ultimos. E nestes sitios a exposicao e preservada e cultivada.
Sao engracados estes senhores. Sabem ser arrogantes com classe. Por isso podem.
Exoplanetas
O que me espanta é ainda não ter visto um post no Abrupto sobre isto.
m.
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
Ricardo Reis, Odes
Por tua causa percebo que o poeta fala comigo.
quarta-feira, 23 de março de 2005
(in)Capacidade visual
Por isso a arquitectura das últimas décadas é tão banal visualmente, ainda que parte dela se apresente ao consumidor exactamente como o contrário. Os arquitectos perderam a capacidade visual. Temos 40 ou 50 anos de perda constante de capacidade visual. Porque é a arquitectura tão aparatosa? Porque há uma incapacidade para conceber com critérios de ordem susceptíveis de ser reconhecidos pelo espectador: a afectação oferece-se, assim, como sinónimo de artisticidade, quando não é outra coisa que o reconhecimento da impotência para criar. Muitos arquitectos que alcançaram o êxito recentemente parecem actuar como o cozinheiro insensível que abusa das especiarias para que aquilo fique gostoso.
Eu também tenho amigos surfistas
E quem é amigo de surfista durante a adolescência sabe que mais cedo ou mais tarde vai fazer o papel de namorada de surfista. Sim, mais cedo ou mais tarde o amigo de surfista vai ficar durante horas dentro do carro e em intermináveis passeatas no meio dos rochedos à espera que o surfista acabe de subir e descer ondas. Há quem dê em louco. Há quem dê em maricas. E há quem dê em poeta, como é o meu caso (que, segundo o que se diz por aí, é uma mistura dos dois primeiros).
E o que é que faz um amigo de surfista quando entra na casa dos 30? Começa a ouvir música de surfista. Ora, um dos mais renomados representantes da chamada música de surfista é um tipo chamado Jack Johnson – também ele surfista, nascido no Havai. Johnson vem ao Coliseu, no próximo dia 21 de Maio. Escusam de ir tentar comprar bilhetes nos sítios normais porque esgotou. Quem quiser estar durante horas rodeado de rapariguinhas loiras (as verdadeiras namoradas de surfistas) tem de ir à candonga. Não se preocupem com a possibilidade de levarem uma sova por ciúme. A surfística rapaziada estará toda a adorar o homem que faz para milhares de pessoas aquilo que um surfista engatatão (passe o pleonasmo) costuma fazer ao fim da tarde na praia: tocar músicas para conquistar miúdas.
Johnson gravou três álbuns. O último, In Between Dreams, acaba de sair. Confesso: não convence tanto como os primeiros, Brushfire Fairytales e On and On. Ainda ontem, um amigo (talvez o único que não é surfista) disse que se não conhecessemos os primeiros e só ouvíssemos In Between Dreams, provavelmente o disco passar-nos-ia ao lado. Perante afirmação tão certeira, não quis ficar atrás e comentei - enquanto erguia a bica e o rissol - que este podia ser um primeiro álbum de Jack Johnson, anterior a Brushfire. Parece que o talentoso havaiano resolveu voltar a surfar umas ondas antigas quando já estava quase a chegar à praia. (...)»
Quase Famoso Nuno Costa Santos
terça-feira, 22 de março de 2005
Inferioridade cultural
Thomas J. Pritzker, president of The Hyatt Foundation
Only? Let's do the counting:
USA: 8
UK: 3
Japan: 3
Italy: 2
Mexico: 1
Austria: 1
Germany: 1
Brazil: 1
Portugal: 1
France: 1
Spain: 1
Norway: 1
The Netherlands: 1
Switzerland: 1
Australia: 1
Denmark: 1
Pois, only.
Pritzker
Eduardo, para o ano não foge.
Thom Mayne é o main guy da Morphosis.
segunda-feira, 21 de março de 2005
Se perguntarem por mim
Requiem d-moll KV 626
in D minor
Anna Tomowa-Sintow
Helga Müller Molinari
Vinson Cole
Paata Burchuladze
-Wiener Singverein-
Wiener Philharmoniker
Einstudierung: Herbert von Karajan
Wien, Musikverein, Grosser Saal, 5/1986
A música e Deus
O bê à bá dos três acordes
domingo, 20 de março de 2005
Pela janela
sábado, 19 de março de 2005
E fez-se som
Pop Rock
sexta-feira, 18 de março de 2005
Graz
«Tu tens um blogue, não tens?»
Entretanto no post em baixo reacção está escrito reação e ninguém avisou
Reação
Fica na tua que eu fico na minha
terça-feira, 15 de março de 2005
E o silêncio, senhores, o silêncio?
Do ReSoWi (em pé, no átrio)
(Acabei de perder, gracas a este maravilhoso teclado, um post relativamente grande do qual só me lembro da última frase. É esta. Por favor imaginem toda a análise arquitectónica que lhe deu origem.)
segunda-feira, 14 de março de 2005
De Graz
quarta-feira, 9 de março de 2005
A análise que interessa
(...) A diferença entre as pessoas normais que respiram oxigénio e o Mourinho que come vitórias ao pequeno-almoço é que este incute nos seus jogadores uma mentalidade ganhadora que desafia o mito daquele russo que dobrava colheres com o pensamento. Nunca vi nada assim, ou seja, nunca se viu nada assim. Ver um jogador mediocre como o Kezman, que a espaços faz lembrar o Krpan, a acreditar que pode ter melhor rendimento ofensivo que o Eto ou o Ronaldinho é algo só explicável pelo processo hipnótico. (...)
terça-feira, 8 de março de 2005
4-2
19 minutos de jogo e o Chelsea ganha por 3-0. O resultado peca por escasso
E, de repente, dou por mim outra vez ao berros por causa de um jogo de futebol.
No buraco errado
no A destreza das dúvidas
But are light and dark relative?
Paul Klee
Dia internacional da mulher 2
Voltando atrás: Daí algumas acharem que não existe nada mais sedutor do que fazer parte daquele círculo intransponível que é o grupo dos amigos. Daí o “dou-me muito melhor com os homens do que com as mulheres” e o “os meu melhores amigos são homens”. Vivem na ilusão de que o conseguiram. Mas não o conseguiram. Não verdadeiramente. Não é a mesma amizade que une os machos. É sempre um misto de sentimentos amorosos, atracção física e algum companheirismo que fica aquém da amizade de que os homens são capazes entre eles. Não sei se TEM de ser assim, mas a verdade é que as mulheres, no fundo, não querem que seja de outra forma. As mulheres são frívolas. A vontade de agradar domina-as e conduz toda a sua maneira de agir. Não conseguem libertar-se da missão que a natureza lhes conferiu. Seduzir.»
m.
The poetics of space
Será assim tão difícil de perceber?
no Contra a Corrente
segunda-feira, 7 de março de 2005
Dicionário
Notas
- O Silva, a propósito da Salma Hayek e da anatomia feminina, chuta para cima da mesa Seinfeld:
Looking at cleavage is like looking at the sun, you don't stare at it. It's too risky. You get a sense of it and then you look away.
- Justifico a escolha de Paul Klee para a abertura da série O belo e o acessório (sim, é uma série): Klee representa para mim o expoente da arte como paixão quase infantil e irreflectida, virgem das palavras e dos conceitos. Não posso defender esta minha posição porque ela não precisa de defesa, como toda arte não deveria precisar.
O belo e o acessório
The "twittering" in the title doubtless refers to the birds, while the "machine" is suggested by the hand crank. The two elements are, literally, a fusing of the natural with the industrial world. Each bird stands with beak open, poised as if to announce the moment when the misty cool blue of night gives way to the pink glow of dawn. The scene evokes an abbreviated pastoral—but the birds are shackled to their perch, which is in turn connected to the hand crank. (...)
domingo, 6 de março de 2005
A propósito do post anterior
High Fidelity, Nick Hornby
Agarro a oportunidade para falar de mamas (não, não digo nem peito nem maminhas, prefiro a palavra certa). O decote é, provavelmente, o mais complexo dos sinais sociais. As premissas que lança sobre a relação homem-mulher são dúbias e subtis, contrastando com a sua própria natureza. Em condições normais (quando não se trata de uma imposição exterior) o decote é sempre uma escolha voluntária da mulher. Sou capaz de compreender que a relação das mulheres com essa área específica do corpo nem sempre seja a mais pacífica. Ou melhor, nunca seja pacífica. Mas é claro para todos que um decote é uma declaração de guerra. Atendendo à própria natureza masculina, o decote surge como um trunfo imbatível. E isso deve-se a uma regra (preconceito) social que nunca deve ser quebrado: um decote não pode ser olhado. Ele existe para ser visto, está-lhe escrito na cara. Melhor, ele existe para ser notado. Mas em circunstância alguma ele deve ser mirado. Esta frágil linha que separa uma coisa e outra exige dos homens um poder de concentração quase sobre-humano, que suga todas as energias e deixa à mulher terreno livre para operar a seu bel-prazer. As mamas, mesmo quando actuam sem a preciosa ajuda do decote, são a melhor metáfora do jogo do desejo, aqui jogado no olhar. Mas atenção: quando é a própria mulher a subverter o jogo (sobre-expondo as mamas) então tudo o que disse anteriormente deixa de fazer sentido.
A resposta do Bruno
«Porque me preocupa o politicamente correcto, porque estou atento aos sinais, até aos mais compreensivelmente envergonhados, devo dizer que este post não tem quaisquer pretensões estéticas, sensuais e eróticas em torno do corpo da Salma Hayek. (...)»
sábado, 5 de março de 2005
Arquitectos que falam
«Escrever é uma forma de se expor, exceto se você é arquiteto. Para o arquiteto, escrever é uma forma de se esconder. E como eles fazem isso hoje em dia. Dê dez eucaliptos para um bando de arquitetos; um terço fará uma casa, o resto fará papel e lápis pra escrever.
A causa: obras construídas são sacos de pancada, e em geral mais resultado de sua capacidade política do que artística. E para realmente virar um legado, um edifício tem de ser pertinente, confortável, e inteligentemente adaptável, o que o holandês voador chama de manhatamnism, a capacidade do edifício se requalificar em uso sem perder suas características arquitetônicas principais. Ou seja, critérios de projeto que valorizam a arquitetura, mas não necessariamente o arquiteto.
A conseqüência: arquitetos que preferem discutir arquitetura, ao invés de produzi-la; e pior, arquitetos que preferem produzir arquitetura para ser discutida. Em resumo, arquitetos que não gostam de arquitetura.
Arquitetos que não gostam de arquitetura sim, e são muitos; discutir arquitetura é legal, principalmente quando não há nada de bom na TV, mas daí a virar, como virou, objetivo principal de um projeto tem uma grande distância. Arquitetura é pra ser vivenciada. E o tesão do arquiteto deveria ser criar espaços que realmente interfiram, pra melhor, na vida das pessoas. Gostar de arquitetura é gostar de espaços assim.
Toda vez que um cineasta, artista plástico, poeta, chef de cozinha e claro, arquitetos falam que o objetivo de suas obras é suscitar uma discussão eles estão dizendo "eu não gosto do que eu faço". Não admira que as pessoas também não gostem.»
Petição on-line para fazer aprovar as propostas do maradona
Proposta Primeira:
Nenhum Governo de Portugal deveria de ter mais de nove Ministérios, a saber, por ordem decrescente de importância:
Saúde
Finanças
Administração Interna e Defesa Nacional
Administração do Território
Justiça
Educação
Economia, Trabalho e Segurança Social
Negocios Estrangeiros
Mais um de borla para as idiossincrasias de cada Primeiro Ministro.
Proposta Segunda:
Multiplicar por um factor mínimo de quatro o vencimento líquido dos titulares destes cargos. O Primeiro Ministro de Portugal não deveria em nenhuma circunstância ganhar menos de cinco mil contos por mês.»
sexta-feira, 4 de março de 2005
Ah, como foi com não ouvir
InnoCAD
Haus Riegler, 2002
A (o, os?) InnoCAD representa algo que não existe por cá: a arquitectura cool. Uma arquitectura intimamente ligada ao design, à moda, ao sentido fashion. Um apuro estético considerável, uma prática que visa (claramente) desarmar à primeira vista, dislumbrar. Mas não são apenas isso. Ao contrário do que costuma acontecer com este tipo de expressão, a linguagem da InnoCAD não se fica pelo reportório moderno, fazendo incursões muito bem sucedidas pela herança pós-moderna, de onde se destaca a já referida Casa d. E há um sentido de humor que está bem presente, quer na sua obra quer no site. Estes senhores operam a partir de Graz, o que é, acreditem, uma coincidência.
Cieiro
E aí está: um post chamado «Cieiro». Agora pode dizer-se que não há terreno que este blogue não tenha ainda explorado.
quinta-feira, 3 de março de 2005
Imagens
Ainda o alienígena amigável
(...) A julgar por este edifício, pelas fotografias de Marte do Spirit e do Opportunity, e ainda por o "Talkie Walkie" dos air, talvez o fim do concorde não tenha sido o fim de uma época, mas o começo de uma outra mais excitante.
O Fim do Concorde, in JA nº 213
Diz também que o edifício («se tivermos em conta as fotografias») é mais interessante que os renders que o precederam, o que não é habitual em obras deste tipo. Para a semana verificarei (ou não) este facto.
quarta-feira, 2 de março de 2005
Venturi revisitado
Casa d - Hartkirchen, Austria
InnoCAD
publicada na A10#2:
(...) While many modernist houses seem to have flown in from the future to land in thin stilts in the present, Casa d is a blast from the past: the scaly skin of reddish brown asbestos cement panels and the squat form of the building are very reminiscent of the seventies. It is fun to imagine the neighbours getting upset because this kind of thing is no longer considered modern. (...) (Oliver Elser)
Aproveito para fazer referência ao site da InnoCAD. Quando eu for grande quero ter um site assim.
Viciado no raciocínio
Alexandre Borges