sexta-feira, 18 de março de 2005

Graz

Um amigo estranha a minha reacção (é a palavra do dia, já se percebeu) à arquitectura de Graz. Percebo a interrogação. O problema está no ambiente que se criou à volta da Grazer Schule. Pintou-se a manta de tal forma que se fala numa arquitectura única a nível europeu, num laboratório avant-guarde sem comparação, numa qualidade imbatível. Acontece que isso não é verdade, e esta atitude arrogante própria dos meios pequenos deixa qualquer um de pé atrás. Mais a frio posso dizer que a arquitectura de Graz é muito interessante, mais interessante ainda quando se analisa o contexto. Graz é uma pequena cidade, bastante pequena mesmo se pensada a nível europeu, mas que apesar disso é a segunda cidade da Áustria, cabendo-lhe o papel secundário na rivalidade urbana inevitável. Aconteceu também que o século não começou bem em Graz, tendo sido relegada para um papel meio perdido a nível geográfico, uma espécie de gueto obscuro perto da fronteira com o leste, uma cidade que parece não ter sofrido com a II Grande Guerra, apesar de 9% dos seus edifícios terem sido destruídos e 35% ficarem danificados. Quem visite hoje Graz vê uma cidade que arquitectonicamente salta do sec. XIX para a segunda metade do sec. XX, já pós-Archigram e à beira do desconstrutivismo e da euforia da coisa técnica. A escola de Graz define-se nessa altura e as grandes obras realizadas com apoio estatal dão-se entre a década de 80 e os primeiros anos da década de 90. Vêem-se por isso vários exemplos de construcções neoclássicas, ecléticas, ou mesmo barrocas serem renovadas por intervenções de ferro e vidro, muito contrastantes, muito diferentes, muito contemporâneas. É inegável que o cenário é cativante à primeira vista, e que pode ser mesmo muito atractivo à segunda. Mas quando repetido o fenómeno começa a perder algum do seu encanto e instala-se a interrogação sobre o que sobra depois disso. Objectivamente (se tal é possível) qual é a qualidade ou relevância daquela arquitecura? O pouco interesse que o interior tem face ao objecto exterior contribuiu para essa decepção. Talvez seja apenas uma maneira diferente de equacionar a arquitectura. Talvez o efeito Bilbao que Graz quer ter subverte essa arquitectura, transformando-a num conjunto de gestos dinâmicos que, de tanta dinâmica, se dissipam com o primeiro nevão, lavados para o meio da rua.